Chicago, Illinois.
Estados Unidos.
Outubro de 1960.
Deena Jones P.O.V
Abro meus olhos e pisco algumas vezes tentando desembaçar a minha vista. Mexo minhas mãos sentindo que estou deitada em algo confortável e me levanto, ficando sentada na cama.
O quarto é simples com paredes beges com uma cômoda de madeira escura, com um pequeno espelho em cima no qual consigo ver um pouco do meu reflexo na cama. Ao lado da cômoda há uma porta de madeira de onde talvez seja o banheiro.
Ao meu lado estão duas mesinhas de madeira também escura com dois pequenos abajur em cada, no qual apenas um está ligado.
Há uma pequena escrivaninha vazia entre duas janelas que estão escondidas por persianas brancas. Encaro meus pés percebendo que meus saltos foram retirados e passo minha mão pelo o meu rosto, me lembrando do que aconteceu.
Lembro dos homens italianos no bar, o carro preto me seguindo e dois homens me agarrando. Sinto o desespero correr em minhas veias e me levando um pouco tonta indo até a porta.
— Porra! — Esbravejo assim que vejo a porta trancada.
Bato na porra repetidamente tentando chamar a atenção de alguém, mas sem sucesso. Vou até a janela e abro as persianas vendo apenas uma enorme piscina azul acesa e estátuas decorando a área exterior. O céu está completamente escuro com apenas algumas nuvens presentes.
Tento arrastar a janela para cima, mas percebo que elas também estão trancadas. Bufo irritada sentindo lágrimas escorrerem pelos os meus olhos. Não acredito que eu vou morrer assim.
Vou até a porta tentando abri-la novamente e então escorrego ao chão sentindo mais lágrimas descerem e choro ali, completamente sozinha.
— Não sei se tem alguém me ouvindo, mas vocês poderiam pelo menos trazer uma água? Eu estou morrendo de sede e fome. — Digo limpando as minhas lágrimas.
Ninguém parece se importar, como o esperado. Me levanto do chão enxugando minhas lágrimas e bato na porta novamente.
— Seus ratos sicilianos! Mal vejo a hora de James acabar com cada um de vocês! — Grito batendo na porta rapidamente. — Ele virá atrás de mim e todos vocês estarão mortos.
Me afasto da porta passando minhas mãos pelo o meu cabelo e me sento na cama, chorando mais um pouco. Que inferno de vida!
Me deito novamente, abraçando um dos travesseiros enquanto choro copiosamente. Se eu tivesse ouvido James nada disso teria acontecido.
Sinto meus olhos pesarem aos poucos, então pego no sono logo sem seguida.
. . .
Escuto o som da porta sendo destrancada, então abro meus olhos lentamente percebendo a presença de um homem negro usando uma camisa bege e suspensório marrom. Ele me encara rapidamente antes de colocar um prato e um copo em cima da cômoda.
Sinto o pânico correr em minhas veias com a presença do homem, mas ele me encara uma última vez antes de sair rapidamente do quarto.
Assim que a porta se fecha e é trancada novamente, me levanto indo até a cômoda encontrando um prato com torradas e um copo de suco de laranja.
Como tudo rapidamente que ainda está de noite. Provavelmente dormi apenas alguns minutos que pareceram horas. Termino de beber meu suco e encaro a porta do provável banheiro.
Abro a porta lentamente encontrando um pequeno banheiro de azulejos brancos, com uma pia de madeira. Em cima da pia há uma roupa dobrada junto com uma pasta de dente e escova.
Antes que eu possa pegar a roupa, escuto sons de passos no andar de baixo e me aproximo lentamente da porta tentando ouvir algo, mas sem sucesso.
Me afasto da porta voltando para o banheiro e decido tomar um banho no pequeno chuveiro presente ali. Escovo os meus dentes e visto a camisa social cinza que colocaram ali e saio do banheiro, caminhando até a janela.
Deslizo meus dedos pela lateral da persiana e observo o ambiente calmo e vazio da área da piscina. A casa é enorme, provavelmente quem mora aqui deve ser muito rico.
Me viro ouvindo passos perto da porta e entro em alarme. A porta é destrancada e os passos de afastam.
Encaro a porta durante alguns minutos e me aproximo calmamente. Sinto o metal gélido da maçaneta entrar em contato com as minhas mãos e respiro fundo antes de abrir a porta.
Abro a porta observando um corredor escuro com diversas outras portas de madeira. Coloco metade do meu corpo para fora percebendo que não há ninguém aqui.
Saio do quarto fechando a porta atrás de mim e respiro fundo antes de começar a andar pelo enorme corredor escuro. Observo alguns quadros embalados e empoeirados no chão.
Continuo caminhando lentamente até que som do vento cruza uma das janelas de vidro no corredor, me fazendo faltar de susto. Me viro para trás vendo apenas a cortina branca balançando.
Dou de ombros e continuo andando até que paro em uma escada da madeira com um corrimão dourado e empoeirado. O andar de baixo é um pouco escuro, porém iluminado apenas pelo fogo da lareira.
Desço as escadas lentamente e paro assim que chego no andar de baixo. O ambiente é enorme. Uma janela de vidro que ocupa a parede inteira dá visão para a área da piscina. Uma enorme mesa de jantar de madeira maciça é iluminada por um enorme lustre de cristal centralizado.
Do outro lado do ambiente, está a sala de estar com a lareira acesa, uma TV e dois sofás vermelhos. Um enorme tapete marrom está centralizado entre os dois sofás dando um ar de conforto.
Noto um pequeno corredor iluminado por iluminarias que lembram pequenas tochas, onde uma porta está entreaberta e o interior está aceso.
Ando em passos lentos percebendo que a casa ainda está sendo decorada, já que muitos quadros e poltronas, assim como algumas caixas de papelão estão embaladas em cantos aleatórios da casa.
Me aproximo da porta sentindo meu coração bater mais rápido e escuto sons de caixas sendo abertas. Talvez eu devesse entrar? Ou correr?
Minha curiosidade fala mais rápido e eu suspiro abrindo a porta lentamente. A porta range um pouco e eu consigo observar o ambiente com um pouco mais de clareza.
Arregalo meus olhos levando minhas mãos até a minha boca assim que vejo a cena a minha frente. Sinto meu coração bater rapidamente prestes a sair do meu corpo. Dou dois passos para trás sentindo meu corpo inteiro ficar trêmulo.
Em pé, retirando alguns livros de dentro de um caixa de papelão, Michael me encara sem demonstrar nenhuma reação. Seus olhos correm pelas minhas pernas pelo fato de eu estar vestindo apenas uma camisa social, e então voltam para os meus olhos.
Analiso seu corpo vestido em uma calça preta e uma camisa social vermelha. Seu cabelo está preso com alguns cachos caindo em seu rosto. Ele lambe seus lábios e desvia o olhar para os livros em sua mão.
Encaro o cômodo, notando uma escrivaninha gigante de madeira maciça preta com um abajur e algumas caixas de papelão em cima. Atrás uma enorme duas estantes de livro ocupam a parede com um grande quadro de cavalos entre elas.
Encaro Michael novamente sentindo toda a raiva e chateação tomar conta do meu corpo. Fecho minhas mãos em um punho e me aproximo dele em passos largos.
— Qual o seu problema? Eu não acredito que você me sequestrou! — Grito colocando o dedo em seu rosto.
— Eu te salvei. — Passa por mim colocando alguns livros na estante.
— Me salvou? Você me sequestrou! — Grito nervosa. — Por que fez isso? Qual o seu problema?
— Eu precisava te parar antes que você fizesse merda. — Ele termina de colocar os livros na estante e se vira para mim.
— Que merda? Nem direito de andar na rua eu tenho mais? — Me aproximo irritada.
Michael passa por mim deixando o seu cheiro amadeirado pairando pelo ar. Ele se aproxima de sua escrivaninha apoiando seus quadris e suas duas mãos na mesa.
— O que você quer, Michael? Primeiro você me faz sentir especial, depois some por meses, não dá nenhum tipo de notícias, depois eu descubro que você me usou de isca para se aproximar de James. Agora você quer ser o salvador? Vai se foder, Michael! — Grito e ele respira fundo fechando seus olhos e balançando sua cabeça, fazendo alguns ossos se estalarem. — Por que caralhos que você me sequestrou?
— Você já deve saber que os Cosa Nostra estão na cidade, certo? — Ele me encara com seus olhos escuros e eu assinto. — Janet ouviu um deles conversando sobre te sequestrarem, e como eu sei que você não iria ficar em casa, eu decidi te sequestrar primeiro antes que eles fizessem algo e eu não pudesse te proteger.
— E desde quando você se importa? — Cruzo meus braços arqueando a sobrancelha. — Já chega dessa palhaçada, eu vou embora.
Me viro em direção à porta, porém paro assim que ouço a voz de Michael.
— Deena, será pelo menos uma vez na vida você consegue não ser tão teimosa? Os Cosa Nostra sabem que você está sozinha e eles vão te atacar. Se você ficar aqui, eu vou poder te proteger. — Respiro fundo.
— Michael, James deixou homens escoltando a nossa casa. — Me viro irritada. — James vai virá atrás de mim e ele vai matar você!
— Oh, minha doce Deena... ele já tentou outras vezes. — Sorri dando de ombros. — Não se preocupe. Os homens que estavam na sua casa já estão mortos.
— O que? — Grito me aproximando novamente. — Você ficou louco?
— Deena, você não entende que não é seguro você ficar em casa? Os homens que estavam na sua casa foram mortos e não foram por mim. Os Cosa Nostra são mafiosos muito poderosos que não brincam em serviço.
— Que ódio! — Passo minhas mãos pelo meu rosto caminhando pelo escritório. — Onde eu estou? Que lugar é esse? — O encaro.
— Chicago. Essa é a antiga casa da família. — Ele respira fundo cruzando os braços.
— Eu preciso ir para casa, eu não posso ficar aqui!
— A porta está aberta. Se quiser ir, vá! Mas saiba que eu não poderei te proteger caso algo aconteça. — Aponta para a porta.
— James pode me proteger! — Digo confiante e Michael ri mostrando seus dentes perfeitamente alinhados.
— James passará os próximos quatro dias em Nova York, Deena. Você acha mesmo que ele pode te proteger? — Arqueia a sobrancelha.
— Como você sabe que ele está em Nova York?
— Porque eu também deveria estar lá, mas tive que mudar meus planos porque uma certa pessoa estava em perigo, então mandei meu irmão Marlon no meu lugar. — Dá de ombros.
— Você poderia ter ido, Michael. Já estive em perigo outras vezes e não precisei de você para me ajudar. — Rio incrédula. — E pare com esse teatro de que você se importa, porque quando eu precisei de você, você não estava aqui! Então sim! Eu vou embora! — Grito indo até a porta.
Caminho em passos rápidos até a porta. Assim que abro, Michael coloca a mão na porta acima da minha cabeça, a fechando bruscamente. Suspiro irritada sentindo sua respiração na minha nuca.
— Será que tem como você não ser tão teimosa? — Diz calmamente no meu ouvido.
— Me deixe sair! — Digo entre dentes ainda de costas para Michael.
— Não vou deixar que te machuquem! — Diz incrédulo. — Deena, eu sei que você está chateada, mas tem como você me ouvir?
Me viro finalmente, ficando cara a cara com Michael que me encara com seus olhos escuros. Desço meu olhar para os seus lábios assistindo sua língua molha-los lentamente.
— Por que James te odeia tanto? — Sussurro encarando seus lábios.
Michael solta uma risada nasalada e se afasta caminhando até os livros em cima da escrivaninha. Seus olhos me encaram rapidamente antes de sua mão ajeitar sua abotoadura da camisa social.
— Matt me disse que você estava interessada nisso. — Ele diz me encarando.
— Matt? — Grito. — Matt? O Matt está envolvido com você? Eu realmente não posso confiar em ninguém! — Grito novamente. — Aquele falso filho da puta!
— Você deveria agradecer por ter um amigo como Matt, ele te salvou. — Diz calmamente retirando alguns livros da caixa. — Respondendo a sua pergunta: Matt não está envolvido comigo. Eu fui à ele pedir ajuda para te proteger e ele me disse que você estava preocupada em desvendar um passado no qual você não faz parte.
— Todos a minha volta estão sempre mentindo, Michael. Eu estou cansada de ser a donzela em perigo. — Desvio o olhar me sentindo chateada.
— Deena, saber a verdade só vai te destruir. Você mergulhar nesse mundo só vai te destruir até você acabar morta! Ninguém sai dessa vivo, Deena! — Ele joga nos livros na caixa novamente.
— Por que você se importa tanto? É por causa da sua vingança contra James? É por isso que você quer me "proteger"? — Faço aspas com a mão. — Eu sou a única coisa que você tem contra ele, não é?
— Estou te protegendo porque me importo com você. E te garanto que eu tenho muitas coisas para usar contra James, mas você não é uma delas. — Nega com a cabeça.
— Por que eu deveria acreditar em você? — Coloco minhas mãos na cintura.
— Serão apenas quatro dias, Deena. Depois disso você pode voltar para o merda do seu marido em segurança. — Ele suspira olhando para o teto rapidamente. — Depois disso eu prometo que nunca mais entrarei no seu caminho novamente.
— Nem deveria ter entrado. — Retruco. Michael solta uma risada em negação.
— Tudo bem. — Pega os livros novamente indo até a prateleira.
Encaro suas costas largas através da camisa social e respiro fundo. Tudo seria mais fácil se Michael não fosse tão lindo. Estar perto dele me deixa extremamente chateada e com raiva.
— Eu achei uma foto do James com uma Rebbie. É a sua irmã, não é? — Encaro meus pés enquanto cruzo meus braços.
— Sim. — Suspira ainda de costas
— O que aconteceu? — Pergunto baixo.
— Nada que seja da sua conta. — Ele se vira para mim.
— Você é um babaca! — Resmungo.
— Esqueça o passado no qual você não fez parte, Deena. Não se envolva nisso ou você vai acabar morta assim como a sua amiga Annie. — Diz entre os dentes. Arregalo meus olhos.