Siena caminha pela trilha que leva até a sua residência situada no vilarejo de Violet Britt, sua casa construída com rochas e com um ar ancestral fica a 1km de distância do centro da cidade, que permite a moça ir e voltar para a casa aproveitando a vista. Siena aprecia o cheiro da relva verde e o barulho dos pássaros que escoltam a sua caminhada, pelo percurso Siena saúda a sra. Fitz que está sempre a costurar, cumprimenta o sr. Kyle que está sentado na varanda em sua cadeira de balanço com seu jornal nas mãos e também os filhos dos Mikys que estão sempre a brincar na trilha. Ali todos conhecem Siena, a professora bondosa e inteligente que eles viram crescer e se tornar mulher, todos estimam sua companhia e juízo, muitos sentiam pena pela perda da jovem, mas ninguém ousava sequer lhe fazer perguntas depois de tanto tempo, mas cooperam em fazer companhia a mulher para aliviar sua solidão.
Siena atravessa o pequeno portão de madeira e segue para a cozinha da sua residência, ali inspira o cheiro do pequeno buquê de magnólias que estava em cima da mesa – ela própria havia feito mais cedo – o cheiro é uma mistura de dias de sol e fim de tarde, que lhe traz muitas lembranças. No seu quintal há uma imensa árvore daquela espécie, o gramado atrás da sua residência está banhado por aquelas pequenas flores indicando meados de Março e toda vez que ela caminha por aquele tapete de flores brancas e rosadas, constantemente se recorda do seu casamento com Charles, parecia que fora ontem, uma linda tarde de primavera com banquetes e amigos festejando, ela sente o cheiro das flores que adornavam seu caminho até o altar, ela já superara aquela fase – ao menos assim pensava – não precisava ser difícil, mas ela insistia em trazer a existência o som dá risada do seu falecido marido quando ela dizia coisas tolas ou a forma como ele a olhava por detrás dos óculos de grau, havia um certo brilho neles. Siena guarda aquelas memórias num cantinho especial no seu coração, aquelas lembranças eram as poesias mais lindas que ela já escutara ou vira. Ela temia um dia esquecer aquelas recordações e pedia a Deus que isso não acontecesse, por isso sempre as recordavam. Suas lembranças são sua companhia nos dias de solidão, que lhe trazem um certo contentamento, deleite e satisfação e elas não poderiam se perder em meio ao tempo.
Mesmo diante da sua grande perda, a jovem não se comporta de forma amargurada como muita gente, pelo contrário, ela é um poço de amabilidade e não murmurou a Deus quando seu mundo desmoronou, isso ela aprendeu no pouco tempo que viveu com Charles, que também fora um jovem muito querido no vilarejo de Violet Britt. O casal era feliz e realizado, amparando a todos que precisavam e moviam toda a cidade a fazerem o mesmo, auxiliavam na igreja do pastor Simon e acreditavam que tinham uma vida longa e feliz. Mas há coisas que acontecem, que não podem ser questionadas, apenas aceitas. Siena aprendeu a valorizar os pequenos detalhes, desde o despertar dos pássaros até um dia de chuva, desde lágrimas á sorrisos. Depois da morte súbita do seu esposo, Siena encontra prazer e alegria em lecionar para as crianças do vilarejo, ela se entregou de corpo e alma em educar e orientar aquelas crianças para o mundo.
Ao espiar o relógio Siena se assusta, faltam dez para quatro, é tão fácil divagar em memórias e lembranças que ela se esquecia da hora, mas precisa preparar o chá e a mesa, a qualquer momento Safira chegaria com as crianças para o chá das quatro, de todas as sextas-feiras. Safira é a sua irmã mais velha, Samantha a irmã caçula, sendo ela a do meio – porém as irmãs mais velhas possuem um laço muito mais forte. Safira permanecia sempre por perto para assegurar o bem-estar da sua irmã, ela ainda sofria em vê-la sozinha ali, mas ninguém conseguia convencê-la a se mudar de Violet Britt.
Siena prepara o chá, coloca sobre a mesa três cestas de bolos e pães que havia feito, ela ama mimar seus três sobrinhos. Quando escuta o barulho da carruagem moderna de sua irmã, corre ao encontro deles. Uma comitiva de crianças desce correndo ao seu encontro.
— Titia, titia... — Gritam todos juntos num alvoroço.
— Olá meus pequenos — Siena responde numa imensa alegria ao avistá-los.
Henrique é o primeiro a alcançá-la, ele lhe abraça quase jogando-a no chão. Roger é o segundo que pula em seu colo para um abraço apertado e Liz é a última a chegar, já que suas perninhas são mais curtas.
— Titia Tiena! — Diz a menininha loirinha de três anos ao se jogar nos braços da tia.
— Que saudade eu estava de vocês. Adivinhem o que titia fez? — Indaga Siena agachada diante deles.
— Biscoito de leite e geleia de cereja? – Pergunta Roger animado.
— Biscoito de leite e geleia de cereja, seus preferidos e de seu irmão, e para essa mocinha linda titia fez pão de mel. — As crianças ficaram tão empolgadas ao abraçarem a tia, que a jogaram no chão, finalmente.
— Já disse para você parar de mimar essas crianças — Diz Safira ao ajudar a irmã a se levantar, elas se abraçam por alguns segundos — Que saudades de você minha irmã!
— É bom ver você também Fifi — Siena profere o apelido de infância da irmã.
Juntas e de braços dados caminham para dentro da casa, onde as crianças já atacam as cestas de pães. Depois de conversas sobre amenidades, Siena percebe que a irmã está inquieta, elas possuem uma ligação tão forte que pelos sinais ela já sabia que Safira queria dizer algo e naquele momento sua irmã batia os dedos na mesa de forma incessante.
— Alguma novidade? — Pergunta.
— Ainda bem que você perguntou, mamãe, papai e Samantha estão vindo, chegam para o aniversário de Henrique e eles tem uma proposta a lhe fazer, então é melhor se preparar.
Siena bufa e revira os olhos.
— Minha resposta é não a qualquer proposta e minha postura com ela será a mesma.
— Vocês duas precisam resolver essa questão.
— Safira, eu só quero paz, estou cansada de tanta intromissão na minha vida.
— Ela só quer...
— Não começa você também Fifi — Interrompe Siena.
— Ouvi dizer que o noivo de Samantha também vem, quem sabe ele não tem um primo! — Safira muda de assunto tentando brincar com a irmã, orando para que a brincadeira surtisse algum efeito.
— Safira... — Alerta Siena levantando a sobrancelha.
— Você não deveria viver neste fim de mundo sozinha Siena, é perigoso e já se passaram quase sete anos, você é jovem demais, precisa se casar novamente e ser feliz.
— Primeiro; Violet Britt é o vilarejo mais seguro de todo o mundo, vocês deveriam saber disso porque viveram aqui desde que nasceram. Segundo; não quero e nem vou procurar alguém para me casar, estou muito bem assim. Não posso ser feliz sozinha?
Siena fica em silêncio por alguns instantes e então finaliza:
— Nem ela e nem papai, vão me convencer a ir embora daqui, aceitem isso e por último; não vou abandonar minhas crianças, eles precisam de mim.
Safira encara a irmã com melancolia, sabia que ela ainda sofria, mas escondia bem, ela queria acabar com a tristeza da irmã, ela é jovem demais para viver o resto da vida em completa solidão.
— Você pode muito bem morar perto de mim e ainda vir lecionar para eles, apenas queremos o melhor para você.
Siena encara a irmã já farta daquele assunto, era sempre a mesma coisa, eles não se cansavam nunca.
— Fifi, entende de uma vez por todas, eu não quero voltar a ser aquela menina que depende dos pais novamente. Não quero isso para mim, estou muito bem assim, acredite! Consigo me cuidar sozinha, Charles me deixou bem, não percebe? Eu não aguentaria viver com a mamãe controlando minha vida e principalmente a frequentar salões de bailes atrás de marido. Meu braço até arrepia — Siena mostra o braço a irmã — Não quero voltar a ser aquela menina insegura. Batalhei tanto para ser o que sou hoje e não posso retroceder.
Safira olha para a irmã com um misto orgulho.
— Você está coberta de razão, em partes. Mas me perdoe por ser tão intrometida e indelicada.
As irmãs deram um sorriso cúmplice e depois disso nada mais precisava ser dito, elas se entendiam apenas pelo olhar. Siena fita seu quintal através da janela da cozinha, ela ama aquela vista mais que tudo, dali ela consegue avistar o caminho enfeitado por flores de magnólia e ao fundo o lago onde as crianças brincam.
— Bom, preciso ir, te esperamos na semana que vem para o aniversário, estaremos com tudo preparado para sua chegada.
— Estarei lá!
Depois de despedir-se da irmã e dos sobrinhos o silêncio retorna, o sol já se punha e com presteza Siena ilumina a casa e trata de arrumar a bagunça. A jovem viúva já se acostumara com a quietude e calmaria de viver só, na maioria das vezes ela evitava pensar em sua solitude, mas todas as vezes que os sobrinhos iam embora, ela se lamentava e algumas vezes chorava na sua cama fria e apática. Ela chorava pelos filhos que não teve e não teria, pela vida que não tinha mais ao lado do marido e dessa forma adormecia, em meio a escuridão, lágrimas e soluços.
Enfim, o primeiro capítulo :)
E aí? O que acharam? Me contem!
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Aviso: Vai ter capítulos todos os dias sim sinhô! Tem muitas emoções vindo por aí...