O Azar É Seu

By MsLittlePool

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Deidara está parado num engarrafamento, pensando em como sua vida é azarada. Sem emprego, atolado em dívidas... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
(Move On) Extras

Capítulo 36

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By MsLittlePool

Eram seis e meia da manhã de sábado quando papai terminou de carregar a van: caixas e caixas de arranjos florais cuidadosamente acondicionadas para a viagem de mais de uma hora até a Fazenda Vermelha. Puxou a porta de correr do automóvel e virou-se para mim, uma estátua ao lado dele. 

— Tem certeza? 

Eu era uma estátua inútil, aliás, como a maioria das estátuas que não se encontram em museus.

Ah, compreenda! As caixas de arranjos florais eram pesadas demais para mim! Ainda mais para alguém como eu, que havia acordado às cinco da manhã de outra noite mal dormida para ajudar sua família com os afazeres de última hora.

Ajudar moralmente, que seja. 

— Estou falando com você, Dei... Tem certeza? 

Era a milésima vez que eu ouvia a mesma pergunta.

A diferença era que agora, prestes a consumar minha decisão, metade de mim queria morrer e a outra metade afundava-se no confortável torpor do  conformismo.

Um enorme avanço, pensei, afundando-me um pouco mais, se há poucas horas eu queria morrer por inteiro. 

— Acho que já discutimos isso antes, pai. — Enfiei as mãos nos bolsos revestidos de flanela, desejando que papai entrasse logo na van e fosse embora, para que eu pudesse, enfim, sair do vento que me fazia bater o queixo.

Mas ele ficou lá parado, como se tivesse todo tempo do mundo para ouvir (de novo) meus argumentos “sem fundamento”. Só podia ser castigo por eu ser tão ingrato! 

Takeshi depositou o dinheiro dos móveis na minha conta e boa parte das minhas dívidas foi quitada.

Sai,  colocando a ideia do Tobi em ação, conseguiu dar o flagra em Kin e Chiisai NoDoi depois de surrupiar momentaneamente os celulares dos dois e enviar torpedos trocados: “Te encontro às quatro, no Arquivo Morto. Tô muito a fim”. 

Às quatro e dez, como Sasori me informou, Sai apareceu no Arquivo Morto, muito vivo e glorioso, acompanhada de todo o corpo diretor.

Kin e Chiisai foram demitidos e a FM Logistic reabriu meu caso em processo de averiguação. “Estou confiante”, disse Sasori.

Mesmo com as boas notícias, eu não conseguia sorrir. Garoto ingrato! 

— Vá indo na frente! — disse papai Kushina. Ela já estava sentada no banco do motorista de seu caminhãozinho (carregado com o restante das flores), e ouvia nossa conversa com franca inquietação. — Te alcanço na estrada. 

Ansiosa para assumir o comando da tropa de decoração que Itachi contratara para o serviço bruto (alocar cada arranjo em seu devido lugar antes de a cerimônia começar), Kushina nem hesitou. Buzinou duas vezes, manobrou e partiu.

Só um coração bondoso como o dela para não se aborrecer comigo, que tinha prometido assessorá-la no comando da tropa, ser seu braço direito.

E ali estava eu, um braço quebrado, atrasando o que já estava com os segundos contados. Quando o caminhãozinho virou a esquina, papai concentrou-se em mim. 

— Dei... 

— Alguém precisa ficar na floricultura. Estou apto para a função, como você mesmo reconheceu outro dia. 

— O problema não é você ficar sozinho na floricultura. É você ficar para trás! Nós já havíamos decidido fechar a loja hoje. 

— Eu não vou ao casamento — repeti, e mudei de assunto: — E você? Está levando os cartões de apresentação que imprimi? Com os novos serviços oferecidos pela floricultura? Hein, pai? — Fiz menção de adverti-lo com um leve chute no calcanhar, mas ele não estava para brincadeira e afastou o pé. — Não se esqueça de deixar um cartão em cada mesa. 

— O que eu vou dizer a eles? — À luz nevoenta do sol da manhã, seu rosto magro encheu-se de uma preocupação exagerada. — Se o Itachi perguntar... 

— Ele não vai perguntar. Não faz questão da minha presença. 

— Como não faz? Ele convidou você! 

— Por educação. Há dois dias. Aliás, há menos de dois dias. 

— Mas você não falava com ele havia oito anos! — arregalou os olhos — Nem sabia que ele estava noivo antes de ver a foto no jornal, que estava namorando o Kisame. Você queria o quê? Ser padrinho?

Aquilo me atingiu como um golpe de foice, ainda que eu não tivesse certeza de que fosse essa a real intenção de papai.

Consciente ou não, ele continuou me atacando enquanto eu massageava as têmporas nervosamente. 

— Ele voltou atrás, filho, é isso que importa. Além do mais, você realmente acha que o Obito... 

— Não fale o nome dele! — estourei. E já estava arrependido. Garoto ingrato! Filho ingrato! Quando é que você vai crescer? Respirei fundo para recuperar o controle — Estou falando sério, pai. Dessa vez é para valer. Ele mentiu para mim de novo. Nada mais me interessa. 

— Mas ele não mentiu. Apenas antecipou o envio do convite. 

— Pai, por favor... Tá frio aqui. 

— Tá certo, Dei. Tá certo — Ele coçou a careca e deu-se por satisfeito por impressionantes trinta segundos. Então recomeçou: — De todo modo, você realmente acha que o Obi... que ele não vai querer entrar naquele carro enorme dele na mesma hora e vir te buscar? 

— É por isso que você vai cumprir direitinho o que a gente combinou. Para todos os efeitos, fiquei na floricultura, vou fechar a loja mais cedo e pegar o ônibus para o Distrito Uchiha. Simples assim. 

— Ah, é? Mesmo? — Cruzou os braços — Tudo bem. Se alguém perguntar, vou dizer que você ficou para trás. Mas e depois? Quando os convidados começarem a chegar, a se acomodar ao redor do tal lago com passarela de madeira, quando todos perceberem que você não vai chegar nunca... eu faço o quê? Conto uma piada? Eu não sei contar piada! 

— Aí você conta a verdade — respondi, com firmeza — Porque será tarde demais. 

Ele ficou me olhando como se eu fosse o Cebolinha anunciando mais um plano infalível para derrotar a Mônica ou fazer da Dentuça sua eterna escrava.

Acontece que, no meu plano, não havia trabalho sujo, o trabalho do Cascão. Por isso não me deixei abater e ainda acrescentei:

— E aquela piada do pato que foi para Nova York é muito engraçada. 

Não esperei por um aplauso. Mas um sorriso pelo comentário espirituoso me parecia adequado.

Ou quem sabe uma reação mais calorosa, o clímax previsível desse teatro de fantoches, o grande momento em que meu bom e velho pai, cansado de sorrisinhos resignados, explodiria numa fúria sufocada e me sacudiria pelos ombros: “Acorda para a vida, garoto ”. Ao que eu responderia: “É a minha vida que está dormindo, pai”. 

Mas, se ele não havia achado graça do comentário, tampouco reagiu com descontrole.

Continuou quieto, muito sério, descarregando uma tensão de dar choque com aqueles mesmos olhos que há dois dias me perseguiam pela casa; às vezes sorrateiros, sombrios, em outras pulsantes, calorosos, como se finalmente decididos a encarar uma  úlcera infectada, mas, por alguma razão desconhecida, desistindo na última hora.

A diferença era notável. Tive medo e me encolhi em minha armadura de moletom. Dessa vez, os olhos não sugerem dúvida. Dessa vez, eu podia apostar, os olhos se afundaram na úlcera sem pena nem dó. 

— Eu levei anos para compreender — disse ele, a voz pigarreada tentando ficar mais firme —, para aceitar que a sua mãe era uma mulher corajosa. 

— Por que isso agora? — contestei — E você chama de coragem o que eu chamo de irresponsabilidade? 

— Corajosa e irresponsável. Ao extremo — disse ele. — Concordo com você. Não existem adjetivos melhores para definir a Yoko. 

— É sério, pai. Qual é o seu problema? 

— Atitudes irresponsáveis também dependem de decisões corajosas — disse ele. — É preciso muita coragem para fazer valer a crença de que a busca pela felicidade justifica qualquer erro. Eu, por exemplo, nunca concordei com isso. 

— Espera, espera! — Ergui as mãos para interrompê-lo. Precisei de meio minuto para articular a pergunta — Está me dizendo que o fato de a minha mãe ter nos abandonado quando eu era recém-nascido para fugir com o Amante Guitarrista foi um ato de bravura? Está dizendo que ela foi feliz? 

— Não, Dei. Sua mãe não foi feliz. Impossível ser feliz sem você. 

— Ah, obrigado — ironizei — Porque juro por Kami, pai... se você espera que eu siga o exemplo dela, sinto muito decepcioná-lo, mas não vai rolar. Prefiro morrer. 

Os olhos azuis me observavam com curiosidade, como se o xis da questão estivesse camuflado no meu rosto, que devia expressar todo o choque e o horror que eu sentia com o rumo que aquela conversa absurda tinha tomado. 

— Está vendo? — disse ele por fim. 

— O quê? 

— É disso que eu tenho medo. De que nessa ânsia de querer ser tão diferente da sua mãe você acabe igual a ela. Não uma cópia idêntica, mas milimetricamente oposta, como um espelho, e igualmente extremista. 

— E desde quando ser o extremo oposto de uma pessoa como ela é algo ruim? 

— Dei, você não entende? A sua mãe correu atrás de uma felicidade inventada, quebrou a cara no fim. Você, o extremo oposto, tem uma felicidade escancarada à sua frente, uma felicidade concreta, real. Não precisa nem correr. Mas está a ponto de perdê-la por se recusar a dar um passo. 

O silêncio que se seguiu ficava mais indigesto à medida que eu finalmente compreendia o que ele queria dizer, mas me recusava a aceitar, meu estômago se revirando de angústia e aflição. 

— Desculpe, filho. Me desculpe por pensar assim. 

— É só a sua opinião, não a verdade absoluta do universo — desengasguei, mais para me convencer. — E opiniões costumam mudar... de acordo com as circunstâncias. 

— É verdade — Esboçou um sorriso para uma última tentativa: — E então? Tem certeza? 

— Eu não vou ao casamento. 

Ele suspirou com pesar e entrou na van, abrindo o vidro do motorista. Cheguei mais perto e me inclinei para olhar lá para dentro. 

— Pendure o cabide do terno no pegador de mão, pai! Você não pode representar nossa empresa de decoração todo amassado. 

— Se mudar de ideia, me ligue. 

— Eu não vou ligar. 

— Talvez as circunstâncias mudem. Nas próximas horas. 

— Não a ponto de os celulares funcionarem lá na fazenda. 

— Ligue para o fixo. 

— Para correr o risco de um Uchiha atender? 

— Deidara... As pessoas boas também erram. 

— Erram tanto que se tornam pessoas más. 

— Só espero que não se arrependa depois. 

Eu me afastei e fiquei olhando ele ir embora. Não tive sossego durante toda a manhã. 

Não uma cópia idêntica, mas milimetricamente oposta. 

Sossego mental, aliás, já que não havia vida na floricultura além dos vegetais nas prateleiras e de mim, a um passo da cova.

Até às três da tarde eu havia sido útil apenas para dois meninos com uniformes de futebol e garrafinhas de plástico nas mãos, suplicando por um pouco de água como se estivesse escrito na minha testa:

“Cuidado. Garoto ingrato diz não à caridade”. 

Pois bem. No auge do mau humor, eu ainda disse “sim” e enchi as garrafas até a boca. Engulam essa.

Com fortes dores de cabeça, resolvi fechar a loja mais cedo. Depois de lutar com as pesadas portas de aço, subi para casa, engoli um Dorflex e me enfiei num banho demorado. 

Não, de jeito nenhum. Não sou um reflexo dela. 

Diante do espelho, liguei o secador de cabelo na potência máxima. 

E se for, qual é o problema? Sou um reflexo mais bonito, olha só para mim.

Vesti roupas confortáveis, tentei me concentrar num romance. Mas as letras escorregaram, iam e voltavam, e quando dei por mim, havia lido o mesmo parágrafo duas vezes e continuava sem saber o nome da protagonista. 

Não uma cópia idêntica, mas milimetricamente oposta. 

Opa, opa! Isso não fazia parte da história. Não da história do livro, melhor dizendo.

Desisti do livro e fui para o piano. Mas meus dedos deslizavam pelas teclas erradas enquanto os meus olhos vagavam até os ponteiros do relógio, e minha mente, angustiada, vagava para mais longe dali, até a Fazenda Vermelha. 

Era irresistível. Eu me rendi à imaginação, tudo que me restava.

De volta ao meu quarto, recostada na minha cama, de olhos bem fechados, imaginei os convidados à beira do lago decorado. Obito entre eles.

Falava com um, falava com outro. Na condição de anfitrião, substituindo o pai do noivo,  tinha trocado o tom brincalhão pelo cordial e elegante, as mãos enfiadas nos bolsos do terno enquanto aguardava o momento de encontrar Itachi nos bastidores da cerimônia e conduzi-la até o altar.

Itachi... Um noivo tão lindo... Como ele devia se sentir faltando menos de uma hora para... Foi aí que ouvi um barulho.

Vrum, vrum, vrum. 

Abri os olhos, assustado. O barulho vinha de fora do quarto. Parecia a ventoinha do meu antigo computador 486 se debatendo na torre de plástico. “Sai da frente que ele vai decolar!”, disse Tobi muitos anos atrás. 

Vrum, vrum, vrum. 

Não, não. Espere. Pela altura do barulho, estava mais para as vezes em que a polícia sobrevoava o Morro Mizukage e eu era obrigado a enfiar algodões nos ouvidos e dizer para mim mesmo que nada de grave estava acontecendo. 

Mas agora eu estava em Konoha. Só me faltava essa, resmunguei. Por que, diabos, a polícia estaria rondando a casa do meu pai? Em plena luz do dia, ainda por cima? Eu não tinha saúde mental para sobreviver a outro tiroteio! 

Apreensivo, corri até a janela e suspendi a persiana. Quando entendi o  que estava acontecendo lá fora, senti-me desfalecer e pensei que fosse desmaiar. 

Era um helicóptero, sim.

Um helicóptero branco com listras vermelhas e hélices enormes espalhando ar para todo lado.

Um helicóptero que de repente estava descendo verticalmente em direção ao campo de futebol, onde as crianças haviam interrompido o jogo para abrir um círculo de pouso no gramado, e agora faziam festa na ventania, tapando os ouvidos com as mãozinhas.

Gritavam e pulavam ao redor do piloto que acabara de saltar da cabine como se fosse um herói de histórias em quadrinhos e não um maluco inconsequente e sem limites. 

Tobi! 

De terno preto. Com os cabelos ao vento. E um megafone na boca. 

— Desça já daí Deidara-senpai! 

Bem depressinha, desci a persiana e fiquei andando desnorteado, de um lado para o outro, completamente surtado por quase um minuto. Depois voltei para a cama e comecei a roer o polegar. 

— Preciso falar com você! Deidara! 

Falar comigo? É ruim, hein? 

— É sério! — disse ele, a voz ampliada mil vezes — Eu não arredo o pé daqui enquanto você não descer. E é melhor não demorar muito ou o Itachi vai caminhar sozinho até o altar. 

Ele só podia estar brincando.

Tudo bem que eu estava chateado com Itachi. Mas daí a desejar que não houvesse ninguém de sua família para levá-lo ao altar? Nem pai, nem irmão? Ele não merecia esse castigo!

Tobi não teria coragem. Ele tinha um parafuso a menos, mas não faria uma sacanagem dessas com o próprio irmão; ele era louco por ele. 

Ou faria? 

— Quer pagar para ver? — O babaca adivinhou meus pensamentos. Filho da...  — Anda, Deei! Deixa de ser infantil. Um minutinho da sua atenção é tudo que estou pedindo, você não vai perder a novela. Nós estamos esperando. 

Nós? Nós... quem? Fez-se silêncio. Então as crianças começaram todas juntas:

— Desce! Desce! Desce! — O megafone entrou no coro: — Desce! Desce! Desce! 

Meu Deus, que vergonha! Que papelão! E eis que eu me vi naquela sinuca de bico.

O que os vizinhos pensariam da minha família sempre tão recatada?

Tenho pena do Minato, coitado. Depois que o filho voltou para casa, desempregado e deprimido, é cada dia um escândalo diferente.” 

Só que... se eu descesse, Tobi levaria a melhor e eu sabia por experiência própria que isso não podia resultar em coisa boa. 

Só que... naquele exato instante, Itachi se encontrava a quilômetros de distância, provavelmente sem fazer ideia do absurdo que estava acontecendo em frente à minha casa.

E se eu bem conhecia sua “enorme”  paciência, quando fosse chegado o grande momento e os violinos começassem a tocar Anywhere, Itachi desistiria de esperar pelo irmão atrasado e caminharia sozinho até o altar, como Tobi havia dito. 

Eu queria chorar, mas não podia me dar ao luxo.

Calcei os tênis, peguei as chaves de casa e voei desesperado escada abaixo a fim de acabar logo com aquela palhaçada pública, ouvir o que de tão urgente ele tinha a dizer (só esperava que não utilizasse o megafone para isso). 

Para meu horror, as crianças aplaudiram quando cheguei ao gramado. Mantive uma distância segura de Obito e do helicóptero atrás dele.

Os curiosos já se amontoavam para o fim de mais um capítulo da Vida Real do Deidara e me olhavam fascinados, como se eu estivesse prestes a saber que havia sido sorteado na promoção da Delta e ganharia um avião cheio de eletrodomésticos e móveis para a casa. Tobi era o famoso que daria tal notícia. 

Em câmera lenta, Obito abaixou o megafone da frente do rosto, revelando-me seu sorrisinho de vitória. Eu o encarei em desafio, empinando o queixo. Cruzei os braços. 

— Anda! — berrei. — Pode falar! 

Mas ele não berrou de volta. Por um tempo, só ficou me olhando maravilhado, como se eu fosse o fantasma do George Harrison.

De repente soltou o megafone e avançou na minha direção. Nem um queniano correria mais rápido. Nem um queniano sem terno. 

— Não! — gritei. Mas era tarde demais. Obito havia abraçado minhas pernas e me erguido do chão num movimento preciso. 

— Me solta! Me põe no chão! — Ele me jogou no ombro feito o saco do Papai Noel e então o mundo virou de cabeça para baixo. Fiquei lá pendurado, socando as costas dele enquanto ele corria e me segurava não apenas pelas coxas, mas por uma boa parte da minha bunda — Me larga, seu safado! Eu vou vomitar! E te matar!

Ele se enfiou comigo na cabine do helicóptero, me colocou no assento traseiro e afivelou não apenas o cinto de segurança, mas outros cabos que, eu desconfiava, eram usados por sequestradores. 

Enquanto isso, eu esperneava na impossibilidade de golpear suas partes baixas, já que aparentemente ele se lembrava de como eu havia me livrado do gerente da Akemi Modas, pois teve o cuidado de proteger o seu pinto.

Então assumiu o assento do piloto, encaixou os fones de DJ na cabeça e acionou o helicóptero. O barulho agora era ensurdecedor. Continuei de qualquer jeito:

— Eu não vou ao casamento! — gritei, sem poder tapar os ouvidos, visto que demorei a soltar minhas mãos dos cabos.  Mesmo assim, não consegui me livrar de todos — Eu exijo que você me tire daqui agora mesmo ou eu vou te denunciar na Delegacia e estou falando muito sério dessa vez, Obito Uchiha! É de se pensar que o senhor tenha conhecimento de que todos esses crimes que teve a capacidade de cometer em menos de dez minutos estão previstos no Código Penal! Constrangimento ilegal, corrupção de menores, rapto mediante fraude e assédio sexual, já que você não mede esforços para passar a mão na minha bunda. Isso sem mencionar os crimes mais antigos, como falsificação de documentos, tipo convites de casamento. Eu vou te denunciar e eles vão te colocar no xadrez. Você vai aparecer em todos os jornais de Londres e aí, oh!, bye bye. Bye bye, Akatsuki! Bye bye, morenos, loiros, ruivos e platinados com óculos de abelha e roupas íntimas da moda! Você não pode me obrigar a entrar nesse troço com você e... espere, o quê...? 

Ele estava me passando os fones de DJ. Peguei os fones e os encaixei na cabeça. Havia uma pequena haste com microfone acoplado na ponta, rente à minha boca. 

— Desculpa — disse ele, a voz saindo nos meus ouvidos. — Me esqueci dos seus fones. O que você estava dizendo mesmo? 

— Como é que é?! — Arregalei os olhos sem acreditar — Você não estava me ouvindo?!

— Ei, não precisa mais gritar! O microfone serve para isso, sabe? 

Falando sério, a culpa era toda minha. É claro que ele não estava me ouvindo. Se já não me ouvia em condições normais, imagina com todo aquele barulho! O que me deixou ainda mais indignado. 

— Eu não vou ao casamento! — explodi com fervor. — Eu quero sair daqui! Eu odeio você! Odeio a sua família! 

Obito me olhou e suspirou. Segundos depois, desligou o motor, tirou os fones e saltou do helicóptero. Abriu a minha porta e, com toda tranquilidade do mundo, soltou o cinto e os cabos que me prendiam, dando-me um pouco de espaço.  Apontou para fora:

— Então vai. 

Ele podia me ouvir, eu podia falar. Mas minha garganta se fechou num nó enquanto eu olhava para ele, estarrecido com a sua atitude inesperada. 

— Enquanto você odiava apenas a mim, tudo bem — disse ele, muito calmo. — Mas se agora você também odeia a minha família... Se você não quer mesmo ir ao casamento do seu melhor amigo... se o Itachi não significa nada para você, então vai embora, Deidara! Pode voltar para casa e continuar inventando motivos para ser infeliz, e para odiar todo mundo que te ama. 

Foi um balde de água fria que me fez tremer por inteira. A maneira como disse aquilo... Diferente do meu pai, não era como se Obito estivesse me acusando num tribunal.

Ele falava com tanta segurança que era como se nem houvesse defesa para mim. Obito era sereno e decidido, o que me parecia muito injusto levando em conta que o criminoso ali era ele, mesmo que, aparentemente, ele não tivesse ciência disso.

Do jeito que me olhava, de cima, parecia ter crescido cinco metros nos últimos segundos. 

— O clã Uchiha não vai mais te encher o saco — Apontou para fora outra vez. — Sai, Deidara. Já perdi muito tempo aqui. 

Não saí do helicóptero. Não me mexi.  Nem pisquei. 

— Eu não odeio a sua família... Não tenho motivos para odiar ninguém nela além de você… É só que... — tentei explicar. — É só que... eu não tenho um terno. 

— O quê? 

— Eu não tenho um terno para o casamento — repeti, e de repente comecei a tremer sem parar — Eu ia comprar um, mas não comprei. 

Ele me encarou por três segundos que pareceram três horas. Depois soltou os ombros frouxamente. E suspirou aliviado. Rá! Olha aí quem também estava tenso! 

— Está tudo bem, lindinho — Segurou meus braços com força até que parei de tremer — Comprei um terno para você. 

Só então reparei que havia uma caixa cinza embrulhada para presente no assento ao meu lado. Quando franzi a testa para o enorme laço dourado, ele explicou:

— Dei uma passada no shopping antes de vir para cá. 

Meu queixo caiu. 

— Você... — olhei para ele — ...deu uma passada no shopping? De helicóptero? 

— Ah, pois é. Desci na Curva do Layka, em frente ao Niko Shopping — Deu de ombros inocentemente, como se as pessoas em Konoha fizessem isso todo dia. “Onde você estacionou seu helicóptero?”, “Tive sorte de conseguir uma vaguinha no P5 do campo C1, e você?” 

— Minha nossa! Quem você pensa que é? Você perdeu o juízo? 

— Desde que você voltou para a minha vida — Afivelou o meu cinto de novo, dessa vez sem os cabos — Agora vamos. O Itachi está esperando. 

Foi Obito fechar minha porta e um garoto gordinho veio correndo na direção dele, dando tchau. Tobi, então, se aproximou da criançada para se despedir decentemente.

Fiquei olhando pelo vidro. Inclinando-se, deu o megafone ao gordinho, que pelo modo como respondeu ao “toca aqui” do Herói dos Quadrinhos, ficou eufórico e correu para mostrar o presente aos amigos. Aos curiosos de plantão, Obito simplesmente deu as costas. Assumiu o assento do piloto outra vez. 

— Desde quando você tem brevê? — perguntei, quando ele se concentrou no painel de controle. 

— Eu não tenho brevê. — Mexeu num botão. 

— Ah, tá bom. Acredito muito... — disse, gargalhando histericamente. 

— Que foi? — ele perguntou, dando uma olhada para trás. — Perdi a piada? 

— Ai, ai, você é tão idiota... — eu não conseguia parar de rir — ...que eu não aguento. 

— Vira esse disco, por favor. É entediante. 

— Como se eu fosse cair em toda mentira que você inventa para me apavorar... Hahaha. 

— Não é mentira — disse ele, muito sério. — Eu não tenho brevê. 

— Não tem graça, Obito. Já saquei qual é a sua! 

— Mas eu não tenho brevê! 

Meu rosto se fechou de repente. 

—  Quê?! — Acima das nossas cabeças, as hélices zuniam cada vez mais alto — Está me dizendo que não tem licença para pilotar um helicóptero? 

— Exatamente — Começamos a subir — Mas só falta um exame. 

Meu estômago gelou. 

— Ai, meu Deus, Tobi, eu quero descer! — Chutei o banco dele. Soquei a porta travada. — Nós vamos cair! Se eu morrer eu te mato! E te processo! 

— Nós não vamos cair, fica tranquilo. Eu sou bom nisso. 

— Eu vou te processar não apenas por isso, mas por todos os crimes que você cometeu! Meu Deus! Você falsificou o convite do casamento! Falsificou a letra do próprio irmão! 

— Eu não falsifiquei convite nenhum. 

— Chega de mentira! 

— É sério! Entrei no quarto da Itachi para perguntar por que você não tinha sido convidado. Ele não estava lá, mas encontrei o convite na escrivaninha, escrito por ele, aparentemente o único que ainda não tinha sido entregue. Então entendi que ele estava na dúvida e resolvi ajudar. Só isso. Depois, claro, ele ficou que nem maluco, procurando o convite. Acabou escrevendo outro. 

Fiquei chocado e, confesso, emocionado com aquela revelação. 

— Agora relaxa, Bombinha, e curte o visual. Está uma tarde linda. 

Não havia uma nuvem no céu de Konoha, que ficava cada vez menor à medida que o helicóptero se distanciava do solo. 

Dava para ver a Avenida Rio Byron, o rio Sanbi  e... Olha lá! O Parque Hayate! E o Monumento dos Hokage! Era a primeira vez que eu andava de helicóptero e, tudo bem, o voo até estava tranquilo. Talvez estivéssemos seguros, no final das contas. 

— Talvez — disse ele — a gente pegue um pouco de turbulência. 

O helicóptero deu um solavanco. 

— AHHHHH! — Pus a mão no coração. — O que foi isso? 

Ele estava rindo. 

— Só um truque para impressionar. 

— Isso não é a exibição da Esquadrilha de Futon, sabe? 

— Ei! — reclamou, ofendido — Você nem abriu o presente que comprei com tanto carinho. 

Um pouco mais calma, puxei a caixa para perto e desamarrei o laço dourado. Ergui o tecido na altura dos olhos e fiquei encantado com o terno mais lindo que já tinha visto na vida. O comprimento, o corte, tudo ideal para casamentos ao ar livre. 

— Dei uma boa olhada nas roupas antes de sair voando da fazenda. Deu um trabalho danado. — explicou.

Vinha com gravata metalizada, carteira de festa, sapatos.

— A vendedora da loja, muito atenciosa, cuidou da combinação. 

É claro que ela era atenciosa. Com Obito jogando charme, de terno e com dinheiro para comprar a loja inteira? Quem não seria atenciosa? Até eu. O mosca-morta. Isso, claro, se eu não tivesse motivos de sobra para odiá-lo até o último fio de cabelo. 

— Karui, o nome dela — me informou,  como se eu estivesse interessado em saber — Veste logo, Dei. 

— Ficou doido? — Guardei o terno na caixa. — Não vou me trocar na sua frente. 

— Mas você não está na minha frente — disse ele. — Tecnicamente. Além do mais... não tem nada aí que eu já não tenha visto ou tocado. Com os olhos, com as mãos e com a boca. 

Estremeci. 

— Eu não posso tirar o cinto de segurança — expliquei, tentando me recompor — É contra a lei. 

— Essa é boa. Quantas leis nós infringimos hoje? 

— Nós, não. Você! 

— Anda, Dei! Estamos atrasados e vamos descer daqui a pouco. 

— Certo — concordei a contragosto. — Mas feche os olhos, pelo menos. 

— Eu não posso fechar os olhos. É contra a lei. 

— Então nem pense em olhar para trás. Porque juro pela Mãe Kaguya, se eu sentir qualquer olhar sobre mim, eu corto sua garganta.

— Vou cantar uma música para me distrair. 

Tirei o cinto de segurança. Não foi difícil me livrar das calças, vestir as meias e passar as outras calças pelas pernas.

Na parte de baixo, Tobi não tinha ângulo para ver. O problema maior foi a parte de cima. Tive de suar para não ficar totalmente nú nem tirar a proteção do ouvido enquanto ele cantava Monteiro e me espiava de vez em quando. 

— Olha pra frente! — reclamei outra vez. — Não tem nada aqui pra você ver!

Eu não podia me ver no espelho para comprovar. Mas podia sentir. O terno tinha o caimento perfeito, como se tivesse sido feito sob medida. 

— E aí? — Ele quis saber. — Gostou? 

— Como acertou o meu tamanho? 

— Foram as minhas mãos. Elas conhecem as medidas do seu corpo. 

Minhas bochechas arderam. 

— Só está faltando... — eu me contorci — … colocar a gravata.

— Pode parar! — disse ele — Esse trabalho é meu! Melhor que isso só puxar a gravata. 

— Coisa que você não vai fazer tão cedo. 

— Tão cedo? — Ele ficou animado — Há salvação para mim! 

— Cala a boca… — murmurei, encabulado. 

— Trouxe umas maquiagens do Itachi. Na mochila, embaixo do assento. Tem um espelho pequeno e uma escova de cabelo. 

Do alto, a Fazenda Vermelha era ainda mais impressionante. As vastas terras se abriam verdejantes e tornavam a se fechar para abraçar o lago cintilante e o casarão gigantesco. 

— Guarde suas coisas na minha mochila — disse ele — E aperte o cinto que nós vamos descer. 

O helicóptero oscilou no próprio eixo antes de tocar o solo do heliporto. As hélices desaceleraram. Tirei os fones,  dobrei o casaquinho no braço. Obito saiu primeiro e ofereceu-me sua mão. 

Dei um impulso desnecessário e escorreguei no metal. Ele me pegou antes que eu caísse, nossos rostos a centímetros de distância. 

— Não me lembro de ter te visto tão lindo — disse ele, os braços ao redor da minha cintura. 

— Obrigado — agradeci, secamente, e me afastei — Vamos? 

— A gravata.

— Ah, claro. 

Eu me virei e joguei o cabelo para trás. 

— Se precisar de ajuda com isso mais tarde, depois da festa... — disse ele, vagamente — Você sabe onde fica o meu quarto. 

— Não vai ser necessário — Arranquei da mão dele minha nova carteira de festa. Minha carteira vazia, melhor dizendo. Sem dinheiro, sem lenço, sem documento. Vesti o terno. — Só me leve até o Itachi.

Ele jogou a mochila no ombro e me conduziu em silêncio pelo estreito caminho que dava para os fundos do casarão. 

— Deidara! — Itachi se atirou em cima de mim assim que entrei em seu quarto, no segundo andar, um espaço enorme e arejado, com decoração rústica e vista para a piscina onde Tobi e eu nos beijamos pela primeira vez. — Graças aos Deuses! 

— Querido — disse o maquiador magricela, puxando Itachi para trás. — Vai amassar o terno. 

Itachi bufou. Virou-se para a equipe de maquiadores, cabeleireiros, costureiras e fotógrafos e disse:

— Está tudo certo, pessoal. Podem sair. 

Eles se retiraram em fila indiana, não sem protestos. Então éramos quatro. Itachi, Obito, eu. E a emoção que fervilhava entre nós. 

— Você está... — Eu me afastei para vê-lo melhor. Seu terno era perolado, com pontos de luz espalhados pelo colo. A maquiagem delicada combinava com o fim de tarde, assim como os cabelos, presos. Ali, diante do noivo mais encantador que minha imaginação nem sonhava em alcançar, uma vida inteira passou pela minha cabeça e meus olhos se encheram de água. — Você está incrível. 

— Meu Deus, Deidara , eu já estava pirando aqui! Ainda bem que o Bito tirou brevê recentemente — disse ele, olhando de mim para Tobi, quietinho ao meu lado. Mentiroso desgraçado! — Quando o Minato me falou que você havia ficado na floricultura, eu fiquei meio triste. Mas depois, quando ele disse que não dava mais tempo e que você não vinha mais, eu me desesperei. A sorte é que o helicóptero do meu pai estava aqui na fazenda, porque... 

— Itachi? — O dr. Fugaku Uchiha em pessoa apareceu na porta, soltando uma baforada de cigarro — Querido, o sol já começou a se pôr... Sua mãe está ansiosa. Ah. Oi, Deidara! Como vai? 

— Já vou descer — Itachi sorriu para ele. — Pai! Fique de olho na Mikoto. Não quero que ela faça absolutamente nada que não seja se divertir no casamento. Mas ela é teimosa. Já subiu aqui umas cem vezes para ver se eu estava bem. Já chorou e tivemos de retocar sua maquiagem. 

O Dr. Fugaku foi embora e eu fiquei olhando o espaço vazio onde ele estava, pensando se era o caso de eu começar a me preocupar. Será que o pirado ali era eu? Depois olhei para Tobi, exigindo uma explicação. Mas foi  Itachi quem começou:

— O Obito não te contou? Você não vai acreditar no que aconteceu! — Os olhos dele brilhavam de felicidade — Suzuki desapareceu, escafedeu-se, fugiu com um fazendeiro que, além de rico, é jovem e está em plena forma sexual. Foi a última coisa que ela disse ao meu pai, pelo telefone. 

— Rikudou! 

— Mas o melhor da história é que cheguei à conclusão de que esse fazendeiro jovem é aquele cara que afastou a Suzuki da briga. Só pode ser. Ela sumiu naquela tarde e nunca mais voltou. 

— O Eiji? — Arregalei os olhos. — O meu primo Eiji? 

— Ele é seu primo? 

— De segundo grau! 

— Você tem um primo de segundo grau? 

— Todo mundo tem um primo de segundo grau! Você tem um primo de segundo grau. Um não, vários — eu disse — Mas o Eiji não é fazendeiro! Muito menos rico! 

— Mas tem cara de mentiroso — assinalou. — E convenhamos, Deidara, que homem aceitaria lambuzar o carro de sorvete se não fosse por alguém? 

Obito intrometeu-se na conversa:

— Se vocês soubessem o que eu já tive de fazer por um certo alguém... — Suspirou, desanimado. — E eu só levo chinelada. 

— Meu pai apareceu aqui todo choroso — continuou Itachi —, com um discurso de arrependimento. Tentei fazer jogo duro, mas acabei cedendo... Ele é meu pai, fazer o quê? Estou de alma lavada. Página virada. 

— Quer dizer que... — comecei, ainda sem acreditar. — Quer dizer que vocês fizeram as pazes antes de o Tobi sair voando para me buscar? Ou seja, você ia entrar no casamento com o seu pai de qualquer jeito, mesmo se o Obito voltasse a tempo? 

— Ahã — Itachi fez que sim — Mas eu disse ao Bito que só casaria quando vocês dois estivessem aqui, nem que fosse de madrugada! — Parecia orgulhoso com essa decisão. — Mas o que aconteceu com você, afinal de contas? 

Eu estava completamente decepcionado comigo mesmo por ter caído, de novo, nas tramoias de Tobi.

“E é melhor não demorar muito ou o Itachi vai caminhar sozinho até o altar”, ele tinha dito. Argh!

Só não me virava e dava um soco na cara dele porque, de certo modo, se ele não tivesse aparecido de helicóptero na frente da minha casa, eu não teria descoberto a verdade sobre o convite e não estaria agora no casamento do meu melhor amigo. 

Tobi apressou a explicação:

— Ele perdeu o ônibus. — Passou o braço nos meus ombros — E não conseguiu carona. Estava desesperado quando cheguei lá. Não foi, Dei? — Ele me apertou. 

— É. Hum. Foi. 

— Não é nostálgico isso? — Ele olhou para mim, depois para Itachi, enquanto eu observava nosso reflexo no espelho (Obito de terno com o braço nos meus ombros, e o meu terno... Minha Nossa, eu estava estonteante!) e pensava que nós até que formávamos um casal bem bonito — Nós três novamente reunidos. Os dois irmãos e o melhor amigo. 

Itachi pegou minha mão e a segurou com força. 

— Deidara — disse ele, a voz firme e decidida. — Quero que você seja meu padrinho. 

— Hã? 

— Você sabe, a Suzuki seria o par do Obito antes de essa confusão com o meu pai acontecer e eu ser obrigado a desconvidá-la do meu casamento e entrar com o Obi, abrindo mão de um casal de padrinhos. Mas agora tudo mudou de novo e, como vou entrar com o meu pai... — explicou — Não me entenda mal. Não quero que você substitua a Suzuki, não é isso. Durante todos esses anos, foi ela que ficou tapando o buraco, a cratera imensa que você deixou na minha vida. 

— Itachi... — Minha voz falhou. — Eu não sei o que dizer, eu... 

— Ele aceita — Tobi respondeu por mim. — Ele aceita ser meu par. 

Itachi me abraçou. De repente, o abraço ficou triplo. Obito aproveitou a oportunidade para deslizar a mão pelas minhas costas, como se eu não estivesse percebendo. 

Obito e eu descemos primeiro e fomos nos juntar aos outros padrinhos, a irmã de Kisame e o marido dela, já posicionados no corredor de entrada, sob a tenda de colunas floridas e plataforma de madeira. O sol se escondia atrás das árvores, jogando cores no lago e sombras na grama, e a brisa, mais fria a cada segundo, trazia o perfume das flores. 

— Somos só nós quatro? — perguntei a Tobi. 

— Sim — Ele me puxou pela cintura. — Só nós quatro. 

Antes que eu tivesse tempo de procurar por papai e Kushina entre os convidados, que aguardavam aos burburinhos nas fileiras de bancos, os violinos tocaram as primeiras notas de Anywhere. Todos se levantaram e se viraram para nós. 

— É a nossa vez — avisou Obito,  baixinho, pegando meu braço e o entrelaçando no dele. 

— Não — cochichei de volta. — Eles se enganaram. Essa é a música do Itachi. 

— O Itachi vai entrar com a Marcha Nupcial. 

— Mas por quê? 

— Você sempre sonhou com essa música do Evanescence, Dei… Itachi achou melhor deixá-la para você. 

— Deixá-la para mim? 

— Você vai entrar duas vezes com essa música — explicou — Hoje, como padrinho. E no dia do meu casamento, quando você for o  noivo — Apertou meu corpo junto ao dele, obrigando-me a andar. — Agora sorria.

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