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By _BluelionS_

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"De olhos fechados, o que consegue ver, Athy? (...) Se for a escuridão, saiba que essa é a minha vida sem voc... More

Prologue;
Blackie
Jardim
Colapso
Não se esqueça de mim
Espero que não tenha se esquecido
Debute
Perfect
Sintonia
Sentimentos Conflitantes
Biblioteca
Desire
Dream
Fantasia
Salted Wound
Broken
Adeus sem Palavras
Bad Dream
Deep End
Carry You
Monstro
Hurts Like Hell
Rejection
Madness
Despedidas
Arlanta
Secrets and Lies
Fúria Estrelada
Genesis
Huale
Preparações
Especial Um
Especial Dois
Especial Três
Rivalidade Amigável
Encantos
Presentes
Terma
Travessuras e... Phantom!
Slip Away
Where Do We Go From Here?
Ponto de Partida
Fuga
Lucius
Querida Marionete
Vida Longa ao Imperador
Núcleo
Aonde você está, Athanasia?
Remembrance
Fallout
Breathe.
Love Changes Everything - EXTRA IJEKIBEL
My Love
Forgetting You
Hope
All I Want
Revolution
The Downfall
Closing In
The World We Made
Recover
Because It's You
Raindrops

Revelações

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By _BluelionS_

TW: Violência;

Lucas observava como Cabel tossia incessantemente contra aquele chão. Quando ele chegou, travou completamente ao observar como o Príncipe chorava curvado sobre o mármore. E quando tentou movê-lo, ele gritou pedindo para parar.

Era como se o Príncipe estivesse dentro de uma ilusão infinita, chorando com medo de sofrer mais do que já sofria. Ele resmungava palavras desconexas, mas que Lucas sabia que todas elas eram interligadas à Calvin - o autor de todos os problemas que Cabel tinha.

O mago não sabia o que fazer, então simplesmente se sentou ao lado de Cabel e apertou-lhe a nuca, pondo um feitiço de dormência para que ele então pudesse descansar daquele ataque de pânico que tinha.

Athanasia observava tudo com um choro silencioso, sentindo-se incapaz de poder ajudar o seu amigo na pior das situações.

"Ele vai ficar bem?" Athanasia indagou em um sussurro fungado, vendo como Lucas pegava Cabel com cuidado em seus braços para começar a andar rapidamente para a sala dos curandeiros, sendo seguido por ela.

"Ele teve uma crise de pânico. Provavelmente, alguma lembrança ou objeto acarretou essa situação..." Lucas suspirou, abrindo a porta da sala medicinal com magia.

Logo os curandeiros os encaravam, surpresos e curiosos, para então voltarem ao trabalho correndo desesperados para alcançarem os convidados. Eles imediatamente levaram o Príncipe adormecido para uma cama, sendo tratado de quaisquer problemas físicos que tinha.

"Crise de pânico... Nunca pensei que um rapaz tão brilhante como Cabel poderia ter algo assim." Athanasia apertou os lábios, chorosa, aproximando-se para agarrar uma das mãos de Cabel com as suas.

"Nunca saberemos se uma pessoa tem problemas, se só vemos a parte boa dela." O mago sentiu seu paladar se amargar ao proferir aquela frase, sua mente tornando a trazer aquelas lembranças idiotas que comprimiam seu coração em dor. "Príncipe Cabel pode aparentar ser feliz, mas não sabemos o que acontece por trás."

E com aquelas palavras de Lucas, Athanasia se lembrou de como Cabel era maltratado por Calvin em plena luz do dia, sem que o Imperador Arlantino demonstrasse arrependimentos sobre tais atos. O homem parecia considerar o Príncipe como um saco de pancadas, assim como ela viu. E assim como o próprio Cabel admitiu ao declarar seu amor à Ijekiel a ela telepaticamente, com magia.

"Você está certo... Nós nunca... Sabemos." Ela afirmou hesitante, olhando de soslaio o mago ao seu lado.

Só então Athanasia percebeu como estava próxima de Lucas, mas não sentia-se intimidada e inferior àquela presença que ele exalava. Pelo contrário, parecia até mesmo acolhedor ter alguém como o mago do lado.

"Você se machucou?" Lucas quebrou o silêncio ao apontar para a mão livre dela, a que estava enfaixada. O olhar preocupado dele estava vibrando, com receio de algo ruim ter acontecido com ela e ele não tê-la protegido.

"Ah, isso... é apenas uma queima-"

Lucas então pegou a mão de Athanasia num súbito impulsivo, mas com extremo carinho e cuidado. Ele desenrolou a faixa e olhou a vermelhidão da queimadura que tinha na pele sensível da Princesa. Depois olhou para os olhos dela, percebendo que a tocava sem permissão.

"Posso?" O mago perguntou num tom baixo e carinhoso, prestes a usar sua magia para curar a pele dela.

Athanasia suspirou e assentiu, deixando que ele cuidasse de seu machucado.

Durante o processo, Athanasia então olhou para sua mão que segurava a de Cabel, e viu como ele a apertava em um enlaçar firme - mesmo ressonando, demonstrando que estava profundamente em um sonho e o aproveitava sem se lembrar da realidade. Por algum motivo, a Princesa sempre estava calma ao ter aquela demonstração física de afeto com o Príncipe, sendo capaz de não sentir sentimentos negativos contra o mago que agora lhe tocava a mão machucada.

"Pronto." Lucas disse quando terminou de usar sua magia na queimadura de Athanasia.

A Princesa então voltou a encarar o mago, percebendo que o rosto dele estava próximo de sua mão. Ele estava prestes a deixar um selar onde antes havia a queimadura, e incrivelmente ela se arrepiou de forma visceral quando sentiu a respiração e os lábios quentes dele tocar-lhe a pele daquela região.

"O-Obrigada..."

Percebendo que Athanasia lhe dava uma brecha para se aproximar um pouco mais, Lucas sorriu com os olhos e manteve a mão dela contra a sua, sentindo o calor tão bom que transpassava em sua palma.

"Como se machucou?"

"No chá." Ela respondeu, puxando a mão timidamente.

A mente de Athanasia então se alertou ao lembrar-se de que Lilian não havia retornado mesmo depois de Lucas ter aparecido para acudir o Príncipe perturbado. Ao prestar atenção com mais cautela naquilo, o coração dela doeu. E ela demonstrou nervosismo, soltando-se de Cabel para poder virar as costas e sair dali.

Mas, antes que realmente o fizesse, Athanasia olhou para trás, vendo como as orbes escarlates de Lucas a encaravam, preocupado e magoado por seu afastamento.

"Por favor, cuide dele por mim. Eu irei procurar por Lily."

E foi então que ela saiu em passos lentos e desesperados pelo corredor - precisava respeitar o próprio corpo ainda frágil pelo trauma -, sem ter um destino definido de verdade. A realidade é que ela queria ir para os aposentos da babá, porém a direção que ela correu foi totalmente a contrária.

Athanasia resolveu ir até o escritório de seu pai, onde saberia encontrar uma informação precisa sobre a babá desaparecida. Bom, este era seu plano, até ouvir uma voz abafada vindo do outro lado da porta trancada do escritório Real.

"Lilian!" Era Félix, parecendo desesperado demais para o coração de Athanasia, que agora retumbava medo dentro de sua caixa torácica.

Athanasia abriu a porta em um impulso sem se preocupar com formalidades, apenas desejando saber o que acontecia.

E então soube.

Lilian estava caída no chão diante do Imperador Arlantino, e ela chorava incessantemente, presa a um choque terrível enquanto encarava Calvin - este que estava tão chocado quanto.

Félix parecia rosnar para aquela cena; suas pupilas quase ocupavam todo o espaço de sua íris cinzenta, de tão irado que ele estava. Parecia prestes a utilizar sua magia para que sua espada aparecesse, mas a mão de Claude o impedia, como um alerta para que não se movesse.

Como Félix poderia desobedecer a ordem de seu Imperador? Por mais que Lilian estivesse ali, jogada no chão aos prantos, Claude apenas o impedia de cometer algum erro, como tentar assassinar Calvin. Mas suas veias pulsavam de ódio para matar aquele Arlantino, mesmo que soubesse que seria impossível devido ao escudo que ele utilizava ao redor de seu corpo.

Athanasia se inclinou para levantar Lilian e se tornar o apoio dela, conforme encarava-lhe os olhos chocados. Um incômodo dominava seu peito ao sentir aquele misto de emoções envolvendo as orbes oceânicas de sua babá.

"Lily..." Athanasia sussurrou gentilmente o apelido da ama, tentando trazê-la de volta daquele choque, mas não pareceu funcionar. "O que você fez?! Atreveu-se a machucar e incomodar a minha mãe dessa forma?!" E cuspiu as perguntas em direção ao Imperador Arlantino, encarando o homem de forma hostil. Essa atitude acabou sendo o suficiente para acordar Lilian do transe.

"P-princesa!" Lilian exclamou desesperada após aquelas palavras rudes e ameaçadoras que Athanasia dirigiu à Calvin, esperando pelo pior.

"Responda-me, Imperador Calvin!"

O Arlantino pareceu despertar, piscando várias vezes para recobrar seus sentidos e manter a postura rígida diante os outros. E ajeitou suas vestes ao mesmo tempo em que pigarreava.

"Não fui capaz de compreender sua pergunta, jovem Princesa."

"Ora, então irei lhe explicar. Minha ama veio correndo procurar ajuda para socorrer meu noivo, e desaparece. E então, quando a encontro, ela está chorando e ajoelhada perante ao senhor. O que fez a ela?!" Athanasia berrou raivosa, ignorando até mesmo os honoríficos que deveriam ser utilizados para o homem à sua frente.

Claude, que ainda segurava o braço de Félix, estava quieto apenas observando a situação. Ele encarou surpreso a forma como Athanasia agia em pura ironia e autoridade, sem se preocupar com as consequências que viriam quando terminasse. Entretanto, no fundo, ele parecia se divertir com a forma que ela protegia Lilian inconscientemente naquele momento.

O Imperador Obeliano já tinha conectado os pontos do que estava ocorrendo, mas nunca pensou que se tornaria uma situação tão desagradável caso Lilian e Calvin se encontrassem novamente. Mais importante que isso era sua filha agindo de forma protetora e arisca ao estrangeiro. Isso era uma boa diversão.

Félix respirava fundo para se controlar, agradecendo por Athanasia ter aparecido para socorrer Lilian e enfrentar o homem, pois se não seria ele mesmo a fazê-lo. Pouco se importava se sua vida entraria em risco, mas faria de tudo para proteger aquela mulher trêmula nos braços da Luz do Império.

"Tal pai, tal filha." Claude sussurrou com um sorriso travesso sendo escondido pelas mãos em frente à boca.

O ruivo o encarou, incapaz de compreender aquelas palavras, já que o loiro parecia feliz demais ao observar aquela cena.

Você não é capaz de perceber, Claude? Esse homem é um monstro... ele merece a morte, e você simplesmente ri. - Félix praguejava seu Imperador em pensamentos, pouco se importando com a educação que normalmente tinha.

"Para uma Princesa, está sendo bem atrevida ao se dirigir a mim desta forma." Um sorriso de escárnio irrompeu nos lábios de Calvin na intenção de intimidar Athanasia, o que acabou não ocorrendo. Ela apenas continuou ali, firme, encarando-o com nojo e repreensão.

"Acho que o senhor que deveria saber o seu lugar, desde que está em meu reino e perante ao meu pai, O Imperador. Além de estar cometendo o crime de intimidar os funcionários do meu Castelo e também de tentar me inferiorizar."

"Princesa, por favor..." Lilian suplicou em sussurros trêmulos, implorando para que ela parasse.

Athanasia, dessa vez, respeitou em um suspiro, acalmando a raiva que borbulhava dentro de seu peito.

"Porém, a pedido de minha ama, eu prefiro não continuar com esse assunto. Ao invés disso, eu gostaria de me despedir." Athanasia gesticulou a mão rapidamente para um guarda, que respondeu em prontidão e correu até ela. "Por favor, leve Lily até seus aposentos. Certifique-se que ela entrará no quarto e guarde a porta para que nenhum convidado... tente entrar." Ela finalizou com desgosto olhando Calvin da cabeça aos pés.

Em um aceno, o guarda se mexeu para segurar Lilian com cuidado nos braços e ajudá-la a andar.

"Não será necessário um guarda qualquer a fazer isso." A voz rouca de Claude fez com que o funcionário parasse no mesmo instante. "Félix. Acho que será bom você fazer isso. Tenho confiança e certeza de que irá proteger Lilian."

O ruivo agradeceu mentalmente, mas se manteve quieto com aquela ordem do Imperador Obeliano. Ele apenas acenou em confirmação, antes de se afastar prontamente de seu posto em passos apressados.

Sem palavras para serem ditas entre Félix e Lilian, o cavaleiro carmesim a pegou no colo sem esforço ou reclamações da morena. Em uma olhada para trás, ele se despediu de Claude, com seus olhos brilhando em agradecimento. E o loiro apenas sorriu de canto com aquilo.

"Athanasia, fique. É bom você ter vindo, assim eu posso me livrar mais uma vez do trabalho extra." A Princesa então obedeceu o pedido de seu pai, virando-se para eles uma vez mais. "Agora, podemos continuar." Claude ajustou a postura na cadeira, olhando intensamente para a Princesa ainda parada em pé. Ela não tinha nenhuma intenção de ir para sua respectiva cadeira. "O que acha de explicar a ela, caro Calvin?"

"Com todo prazer, Claude."

Athanasia sentiu um arrepio na espinha quando o Arlantino sorriu vitorioso. Foi então que ela soube que o que viria daquele homem não era nada bom.

⋨⍟⋩

Quando finalmente chegaram ao destino, Félix pôs Lilian de volta ao chão com cuidado para que ela não se desequilibrasse. Um suspiro involuntário escapou de seus lábios ao notar o quão afetada a mulher estava, mesmo depois de ter passado um tempo da sala de reuniões para os aposentos dela.

"Obrigada, Félix." Lilian agradeceu após alguns segundos em silêncio, sem mover um centímetro para entrar em seu quarto. Ela mordiscou os próprios lábios para impedir o choro de vir, não querendo se mostrar fraca em frente ao homem mais uma vez. "Você já... pode ir."

Entretanto, Félix não tinha intenção alguma de ir embora. Deixá-la sozinha sem conforto não estava em seus planos de forma alguma. Então ele apenas soltou uma risada nasalada, pondo uma mão sobre o ombro dela, onde apertou levemente, indicando que não faria isso.

"Então... ao menos aceita um pouco de chá?"

"Ficaria lisonjeado em receber uma xícara de chá da senhorita Lily."

Lilian soltou uma risadinha envergonhada, abrindo a porta para que Félix entrasse.

O cavaleiro curioso observou cautelosamente cada mínimo detalhe daquele cômodo, surpreendendo-se por ser tão bem rico em detalhes. Achava até mesmo engraçado isso, já que Lilian era apaixonada em quaisquer coisas bonitas, sejam essas caras ou não. Era algo que a mulher carregava desde a adolescência, quando se conheceram.

"Por favor, sente-se um pouco enquanto eu vou esquentar a água."

O cavaleiro negou no mesmo instante e tornou a se aproximar o quanto podia de Lilian, indicando que não iria relaxar agora.

"Sir Félix?" Ela o chamou, sem graça.

"Eu devo ir com a senhorita. É meu dever neste momento protegê-la." Ele sorriu carismático para ela, sem notar suas próprias palavras. "Não irei me perdoar caso algo aconteça, Lilian."

"Ora, não seja bobo! Estamos no Castelo de Sua Majestade, o que mais poderia ocorrer?" Era uma pergunta boba, mas que naquele momento nenhum dos dois parecia ter a resposta certa.

Lilian sabia que o Imperador Arlantino e seu filho estariam novamente em Obelia, mas nunca pensou em cruzar seus olhos com aquele homem novamente. Sempre tentou ao máximo impedir que isso ocorresse, mas acabou se perdendo quando Athanasia pediu-lhe para chamar ajuda, que nem mesmo se deu conta de que Calvin estaria lá dentro.

Ao se lembrar daquilo, o coração de Lilian pareceu tremer de medo por conta dos olhos cianos estrelados que perturbaram sua mente. Ela sentiu seu próprio corpo vacilar novamente, mas diferente da outra vez, Félix estava lá para ampará-la.

"Senhorita Lily! Você está bem? Eu posso chamar um curandeiro caso esteja doente..."

Lilian havia se esquecido de como Félix era gentil consigo. Desde quando tinha sido enviada a Arlanta, eles não mantiveram um contato direto, apenas em eventos que Claude dificilmente se forçava a ir. Mas que não era nada mais nada menos do que troca de olhares rápidos antes de retornarem aos próprios afazeres outra vez.

Houve também quando ela fugiu, encontrou Diana e logo se tornou sua companheira de honra. Lilian poderia dizer que essa época foi a melhor de sua vida, pois ela sentia que podia ser feliz novamente, agora ao lado de uma mulher tão bela como a dançarina que encantava seu coração todos os dias com sua generosidade.

"Eu estou bem. Apenas... Más lembranças retornaram à minha mente." Ela sorriu desconfortável. Mesmo agora, após vinte anos depois de ter escapado das garras de Calvin, ainda era capaz de sentir-se dessa forma só de olhar naqueles olhos desagradáveis. "Peço perdão, Sir Félix... Acredito que não conseguirei sair deste quarto tão cedo." Riu forçado na tentativa de apartar o clima tenso que ali se instaurou.

"Não se preocupe, senhorita Lily. Ao invés disso, aceite minha companhia enquanto está deprimida. Assim como éramos antigamente."

"Antigamente... Eram bons tempos." Ela sussurrou nostálgica.

FLASHBACK ON

A morena suspirava a cada segundo que se passava, jogando o corpo na grade do salão de festa. Era mais uma das vezes que era obrigada a participar de tais eventos com sua família, simplesmente por ser uma das jovens elegíveis do Império, após ter sido apresentada à sociedade. Entretanto, aquela barulheira incômoda não era de seu feitio, mas sim um quarto amontoado de livros apenas para desfrutar daqueles universos infinitos e agradecer sua sorte por saber ler.

Mas, ali não tinha seus livros para fazê-la descontrair daquela noite chata, apenas a paciência que aos poucos esvaia-se a cada minuto contado.

"Senhorita Lily?" Uma voz suave e gentil pescou sua atenção, fazendo-a olhar para trás, entediada. Acreditava ser mais um daqueles filhos de nobres que adoravam dar em cima dela. "Sou Félix Robane, filho da casa Robane." E não era que estava certa? Não podia esperar algo desses adolescentes com as emoções à flor da pele. "Posso me juntar à senhorita nessa varanda, se não lhe for incômodo?"

Há várias outras para ir, por que logo nesta? Está tão interessado em mim assim, ruivinho?

Uma risadinha sarcástica escapou dos carnudos da jovem moça, que se preparava para dar-lhe um fora e mandá-lo embora, mas ele parecia ter percebido e sido muito mais rápido.

"As outras estão ocupadas, caso queira confirmar. Quero apenas sair daquela multidão de nobres, assim como fez." Félix riu com a careta chocada que Lilian fez, como se tivesse sido pega no pulo. "Eu acertei seus pensamentos?"

"Apenas... Ande logo. Não estou a fim de conversas fúteis." Ela bufou, voltando a observar a paisagem iluminada pela lua acima de ambos, pronta para ignorar qualquer palavra que aquele Lorde dissesse.

Félix debruçou-se na grade assim como ela, seus olhos seguindo-se para os guardas que andavam ao redor do salão em ronda de segurança.

De canto de olho, ele fitou a morena cautelosamente, que não pareceu perceber o olhar.

"Eu acabei notando a forma como a senhorita foi rude com alguns dos nobres antes de vir para cá." Ele confessou sem dificuldades, dando um sorrisinho quando notou a garota se remexer de forma nervosa com a afirmação. "A senhorita é bem esquentadinha."

"Você... Quem você pensa que é!?" Lilian exclamou irritada, apontando um dedo na cara de Félix, que apenas riu sem se preocupar. "E ainda ri!"

"Peço perdão caso eu tenha lhe ofendido, senhorita Lily. Se eu fosse você nessa situação, faria a mesma coisa. Também possuo um pavio muito curto para esses nobres repletos de segundas intenções."

"Isso foi o quê? Alguma forma de puxar um assunto comigo ou apenas para me irritar?"

Félix acenou em uma confirmação descarada, rindo ainda mais de como Lilian ficou desacreditada com aquilo.

"Antes era só para puxar assunto mesmo, mas gostei de como ficou por conta disso."

"Eu não queria dizer, mas estou louca para encher sua cara de tapas!"

Félix não respondeu dessa vez, apenas deu um sorrisinho confiante e voltou a observar a paisagem, respirando fundo.

Lilian fez o mesmo logo em seguida, sentindo seu coração ainda acelerado pela vergonha que aquele garoto a fez passar. Um bico involuntário apareceu em seus lábios, o que acabou chamando a atenção do ruivo novamente.

"Pfft... Eu vim aqui com um propósito, entretanto." Ele disse após tossir falso por alguns segundos, fungando para continuar sua frase. "Gostaria de oferecer-lhe minha companhia toda vez que algo assim ocorrer. Podemos ser o ombro amigo um do outro, o que acha? Não gostamos de eventos barulhentos como este."

"Sua companhia..."

FLASHBACK OFF

"Sua companhia..." Lilian sussurrou com um sorrisinho bobo no rosto, as memórias percorrendo por sua mente como um calmante.

Félix não parecia muito diferente, também afetado por aquelas memórias importantes, que igualmente o preencheram. Ainda se lembrava de como a morena era temperamental, mas sempre o utilizava como escudo nos bailes para que os homens não se aproximassem. Foi realmente uma época boa para ambos, onde brincaram como duas crianças.

"A senhorita Lily mudou muito." Félix bufou uma risada divertida, zombando dela, que apenas inflou as bochechas em resposta.

"Mas é claro, eu tinha que me tornar a esposa perfeita..."

Mas então, o sorriso dela morreu gradualmente ao se dar conta das próprias palavras. Ela engoliu seco, sendo assombrada novamente por aquelas lembranças amarguradas.

Félix a abraçou instintivamente, nem mesmo percebendo que ainda estavam próximos um do outro daquela forma. Era apenas... costumeiro.

O ruivo não gostava daquilo. Da forma que ela mudou após ir para Arlanta e depois vê-la em um estado tão deplorável sussurrando frases sem nexo. A forma como Lilian olhava ao redor assustada com qualquer barulho... Essa não era a garota que ele conheceu num evento, e que ficou tão próximo em poucos meses.

Entretanto, ele não poderia fazer nada diante daquela situação, a não ser apenas observar de punhos cerrados com raiva, desejando fazer Calvin em pedaços por tratá-la tão mal.

"Deseja se sentar, senhorita Lily?" Félix sugeriu com um sorriso consolador, tirando-a do transe momentâneo.

Lilian acenou em confirmação freneticamente e foi levada com cuidado e a passos lentos para o sofá, onde ambos sentaram-se sem mais palavras para dizer.

Félix a encarou cautelosamente, procurando algum resquício negativo pelo rosto belo dela, mas não encontrou. Suspirou aliviado, já que nunca foi bom em consolar os outros dessa forma.

"Você também mudou, Sir Félix. Antes era mais brincalhão, mas aprendeu com o tempo e se tornou mais maduro."

Os olhos oceânicos esbanjaram diversão e zombaria ao encarar os cinzentos de Félix. Ele fingiu uma careta indignada ao ouvir tal frase. Lilian riu, seguida do ruivo que não foi capaz de aguentar.

"Está... zombando de mim, senhorita Lily? Por acaso quis dizer que antes eu era um cafajeste?"

"Eu não disse essas palavras, mas caso queira entender assim, não irei contrariá-lo." Ela gargalhou novamente com a reação exagerada do ruivo, pondo as mãos na boca para impedir que continuasse sua crise de risos.

Félix não podia admitir aquilo, mas sentia falta daqueles momentos que os dois tinham antes de tudo acontecer.

"Desde que me tornei oficialmente o braço direito de Sua Majestade, eu fechei os olhos para muitas coisas e acabei focando apenas nele, negligenciando os outros ao meu redor, principalmente você. Não fui capaz de protegê-la quando eu prometi que faria."

Félix se levantou do sofá para então ajoelhar-se frente a Lilian e demonstrar seu mais profundo arrependimento naquele momento.

Os olhos de Lilian arregalaram-se em choque e surpresa. Ela gesticulava seus braços de forma desesperada, não sabendo o que falar diante o ato do ruivo.

"Me perdoe por isso."

"Não precisa se desculpar, Sir Félix!" Ela exclamou desesperada, levantando-se também para impedir que ele continuasse com aquilo. "Eu agora sou apenas uma empregada, não tem porquê se ajoelhar e pedir desculpas!"

"A senhorita Lily não é somente uma empregada." As mãos de Félix foram de encontro com as de Lilian, apertando-as com gentileza. "Para mim, nunca será." Ele levou as costas da mão dela até seus lábios, deixando um singelo selar ali.

Lilian suspirou surpresa, ela sequer esperava que o homem tomasse tal atitude tão de repente assim. Seu rosto queimou de vergonha, e ela não soube o que responder naquele momento para tornar a situação menos embaraçosa do que já estava. Apenas permitiu seu coração retumbar apaixonado pelas ações do ruivo, cobrindo suas íris oceânicas com suas pálpebras a fim de esconder os sentimentos que aos poucos afloravam, tanto de Félix, quanto de si mesma.

⋨⍟⋩

Minutos antes...

Athanasia vagava pelo corredor, dessa vez sem destino algum vindo em mente.

Ir embora?

Amanhã à noite?

Mas... não era muito cedo?

Quando ela perguntou o motivo, foi simplesmente para ser respondida pelo tom asqueroso que Calvin usava em seus deboches...

"Seu pai aceitou que eu a levasse para Arlanta, pois acabei descobrindo que Vossa Alteza rejeitou várias vezes a ajuda do mago Real Lucas." O Arlantino riu, parecendo feliz por ter vencido uma grande batalha.

Claude simplesmente suspirava e acenava em negação, totalmente derrotado com o peso que aquelas palavras entregavam.

No primeiro momento em que Athanasia escutou aquilo, ela ficou indignada por como Calvin tentava de tudo para forçar aquela união. E logo desejou enfrentá-lo mais uma vez.

Mas, então, sua mente foi tomada pela imagem de Cabel machucado dois anos atrás, como também no dia de hoje. Logo em seguida veio a crise de pânico que ele teve; e de como ele tinha seu pescoço avermelhado – o que com certeza era coisa do Imperador insano.

Ela não podia impedir aquilo.

Se Athanasia rejeitasse... o que aconteceria com Cabel? Só de pensar na forma que o Príncipe estaria por uma decisão sua, calafrios percorriam por todo seu corpo, fazendo-a logo decidir o que fazer.

"Tudo bem. Eu irei! Mas eu gostaria de perguntar... o motivo do meu noivo ter o pescoço machucado, como se tivesse sido enforcado por alguém."

Athanasia olhou no fundo dos olhos de Calvin, procurando por medo ou arrependimento. Mas não encontrou. Pelo contrário, o que viu foi apenas escárnio e ironia, sendo cuspidos em uma risada falsa.

"Ora. Meu filho deve ter se metido em uma briga com algum garoto, que azar o dele." Calvin zombou, dando tapinhas em seus próprios joelhos pela gargalhada que dava. Aquilo chegava a dar arrepios em Athanasia, que apertava os lábios em ira, tendo conhecimento de que tudo aquilo que ocorreu com Cabel era culpa daquele homem.

E agora a Princesa perambulava sem saber para onde ir. Iria para a sala dos curandeiros, onde Cabel era cuidado por Lucas; ou para os aposentos de Lilian, onde Félix a protege? Talvez... Cabel estivesse em uma situação mais necessitada de companhia, ela achava. E também havia Lucas, a quem ela prometeu que voltaria.

"Ora... pare de pensar nesse garoto. Só de lembrar daqueles olhos, sinto arrepios." Ela murmurou, batendo no próprio rosto para afastar aqueles pensamentos.

Estava decidida, deveria ver Cabel e contar a ele o que viu no escritório de Claude.

Seus passos foram firmes e confiantes pelos corredores, a fim de encontrar seu noivo mais uma vez. E quando abriu a porta e o viu, dessa vez acordado - mas grogue pelo sono -, sorriu feliz por saber que ele não tinha nenhum sintoma de crise.

"Bel!" Athanasia chamou em alto e bom som antes de correr para abraçá-lo, pulando naquela cama para ter mais impacto. O Príncipe resmungou surpreso, seus braços abertos nas laterais da Princesa sem saber se retribuía aquele ato de afeto ou simplesmente mantinha-se ali, estático. "Você está bem? Está melhor? Tem algo que eu possa fazer por você?!"

A chuva de perguntas que Athanasia fazia a Cabel eram tantas, que chegava ao ponto de deixá-lo tonto, murmurando coisas incoerentes enquanto encarava o mago recostado na parede da sala.

O Príncipe apenas se limitou a abraçá-la de volta, sentindo o cheirinho de rosas que ela tinha, acalmando-o o suficiente para esquecer-se do que aconteceu antes de desmaiar.

"Eu estou bem, Athy..." Cabel murmurou envergonhado, afastando-se o suficiente para ver o rosto choroso dela. "Não chore, por favor..."

"Como pode pedir isso?! Você passou mal! Seu pescoço está vermelho! Seu pai te fez isso? Você não me disse nada!" Ela deu tapinhas fracos na perna dele. Ele se encolheu e choramingou de dor, pedindo-a para parar. Mas ela apenas continuava, emburrada demais com as atitudes que ele tinha.

"P-princesa, isso dói..."

"Athanasia." Lucas pela primeira vez se pronunciou, chamando-a pelo nome e sem se importar com as formalidades. Pelo contrário, ele se aproximou o suficiente para que pudesse agarrar gentilmente o braço que estapeava a perna de Cabel, forçando-a a parar com aquilo.

O corpo de Athanasia se arrepiou com o contato firme que Lucas proporcionou contra sua derme frágil, fazendo-a suspirar em reflexo. Ela olhava dentro das íris escarlates do mago, esperando seu corpo rejeitar aquilo – que felizmente não aconteceu, graças à Cabel que raciocinou rápido e agarrou o braço livre dela, ativando sua magia de purificação inconscientemente.

Eu não sei como isso funciona direito, mas... parece ajudar esses dois. Cabel pensou, retirando sua perna com cuidado do lado de Athanasia, para que ela não tivesse a reação de bater em si novamente.

"O que foi?" Athanasia indagou perdida, intercalando seu olhar entre a mão de Lucas em seu braço e o rosto sério que ele mostrava.

"Cabel foi machucado. Aconselho que não seja bom estapeá-lo por enquanto."

Cabel curvou as sobrancelhas em confusão, pois não tinha como Lucas saber daquela informação, apenas caso ele tivesse visto.

"V-Você viu...?"

"Sim."

Athanasia olhou para a perna do Príncipe, tomando coragem para se soltar do aperto dos dois garotos e levantar o suficiente o pano que cobria as pernas de Cabel. E quando fez isso foi apenas para se assustar e ver o roxo que jazia ali.

"P-por D-Deuses..." Ela arregalou os olhos, horrorizada, incapaz de controlar as lágrimas que agora preenchiam todo seu campo de visão. "V-você até suportou me carregar... I-isso n-não é justo..." Resmungou enquanto se curvava sobre o colo de seu noivo, chorando baixinho.

Cabel simplesmente se limitou a levantar seu braço e acariciar as madeixas douradas, sorrindo fraquinho. O Príncipe acabava sentindo-se culpado por fazê-la chorar, quando antes era só ele que fazia aquilo por si só.

Mas, desde quando se encontraram há dois anos, Cabel foi capaz de perceber o quão gentil Athanasia era, independente de ser uma Princesa. A garota simplesmente se importava com todos, independente de onde vinham ou de como agiam. Até mesmo quando a Princesa Hualana e seu cavaleiro estavam lá para levar Ijekiel embora; quando as duas discutiam, Athanasia apresentava irritação, porém o que via exalando de sua essência era a diversão na mais pura forma.

E o Príncipe apenas ficava sem palavras por ver alguém tão inocente estar agora, junto dele, lamentando de seus machucados e dores internas.

"Obrigado, Athy." Cabel a chamou carinhosamente pelo apelido uma vez mais, agradecendo com a voz embargada sem se importar com as lágrimas que agora percorriam por sua face. "Eu sou um garoto chorão, Athy."

Lucas pigarreou ao lado com uma careta toda vez que escutava 'Athy' ser pronunciado pelo Príncipe. Estava claro como o mago se incomodava com aquela troca de afeto que ele queria estar tendo com sua Princesa.

Cabel logo entendeu o olhar do mago em sua direção, e afastou levemente os ombros de Athanasia com um sorriso amistoso.

"Obrigado pela atenção de vocês dois." Cabel agradeceu com um sorriso para Lucas, ganhando em resposta um sorriso que mais parecia uma careta. "Eu me sinto bem melhor."

"Isso é muito bom!" Athanasia disse animada, embora seu coração doesse só de lembrar como aquele Príncipe estava alguns minutos antes por causa do pai. E pensando naquele homem, ela se lembrou também da forma como viu sua babá jogada aos pés dele antes de chegar ali. "Agora que me lembro... Quando fui procurar Lily, eu a vi ajoelhada aos pés do seu pai."

"Ajoelhada?" Cabel estreitou as sobrancelhas, seu olhar de preocupação para com aquela gentil empregada logo se fez presente. "O que meu pai fez com a senhorita Lily?!"

"Eu não sei, mas..." Athanasia olhou para Lucas durante alguns segundos, percebendo que ele também parecia não entender. "Seu pai parecia bem desconfortável ao olhar para ela. Parecia que os dois se conheciam. Mas Lily estava muito abalada. Félix a levou para seus aposentos, pois papai não me deixou acompanhá-la, já que queria me dar uma notícia."

Lucas respirou fundo ao escutar aquilo. Ele sabia o que isso queria dizer, não precisava nem esperar ela explicar ao Príncipe. Afinal, ele havia recebido a notícia de que ela iria embora para Arlanta antes mesmo dela saber.

"Então você já..." Cabel iniciou, sabendo do que se tratava. E nem mesmo precisou terminar sua frase, já que Athanasia acenava em confirmação para ele, ciente do assunto. "Entendo. Deve estar sendo ruim para você, ser obrigada a ir para longe de Sua Majestade Claude."

"Eu... Sim. É muito difícil, mas eu estarei fazendo o meu melhor." A Princesa respirou fundo e fechou os olhos, sorrindo dolorido. "Eu irei sair agora, Bel."

"Para onde você irá?" O Príncipe indagou preocupado, segurando as mãos de Athanasia para impedi-la de ir.

"Eu irei conferir Lily... Não fui vê-la para perguntar sobre o que aconteceu até agora." Ela olhou mais uma vez para o mago, pedindo-o com o olhar para que ele cuidasse novamente de Cabel. E sorriu gentilmente quando ele acenou em uma confirmação. "Fique aqui descansando."

"Não! Eu irei também! Isso é algo que envolve o meu pai, então eu quero ter conhecimento disso."

"Você está machucado." Lucas constatou o óbvio, impedindo Cabel de se levantar quando tentou.

"Você pode me curar, não pode?" O Arlantino indagou com olhinhos de filhote abandonado, esperando por uma resposta do mago. Lucas no mesmo instante estalou a língua no céu da boca, demonstrando uma irritação repentina.

O foco de Lucas foi para cada cantinho da sala, tentando não responder Cabel com aquele pedido idiota. Mas foi impossível manter-se firme quando seu olhar acabou caindo sobre Athanasia, cúmplice da olhadinha abandonada do Príncipe.

"Tsc. Só dessa vez." Lucas, por fim, deu-se por vencido, estendendo a mão sobre a perna machucada de Cabel, deixando sua magia em um tom avermelhado fluir por todo aquele local, causando uma sensação de alívio instantâneo na região.

"Isso é... bom. É diferente de qualquer outro curandeiro que já me curou." Cabel admitiu em um suspiro.

"Então isso já acontece há muito tempo." Os olhos analíticos de Lucas percorreram a face do Príncipe, vendo como ele se encolhia ao ouvir aquilo. Logo o mago recolheu a mão, terminando o seu feitiço de cura. "Levante sua cabeça. Eu irei curar seu pescoço também."

Cabel obedeceu sem pensar duas vezes, sentindo o alívio também agora por onde seu pai antes havia apertado. Sua garganta havia ficado um pouco dolorida por conta daquilo, mas agora não havia nenhum resquício de que alguma agressão havia acontecido realmente. Era como uma ilusão dolorida aplicada, que só poderia ser dita como real caso Lucas comprovasse aquele ponto.

"Está feito." A voz de Lucas acordou Cabel daqueles pensamentos, acabando por fazê-lo sorrir em agradecimento ao mago.

Logo então o Príncipe olhou para Athanasia e se levantou, estendendo a mão para que ela pudesse segurar com cuidado a sua e então pôr-se de pé outra vez.

"Lucas, por favor, nos acompanhe também."

O rapaz em questão olhou para Cabel de olhos arregalados em realização com aquele pedido, claramente vendo como o Príncipe estava tentando de tudo para ajudá-lo a se aproximar mais uma vez de Athanasia. E ele não podia negar... Foi impossível esconder um sorriso agradecido dos dois que o encarava, limitando-se apenas a tossir e acenar com a cabeça em confirmação, envergonhado por demonstrar felicidade por algo tão idiota como aquilo.

⋨⍟⋩

Cabel balançava a mão de Athanasia entrelaçada à sua para lá e para cá, como uma criança passeando pela primeira vez, animado por cada canto que ia. Entretanto, ele apenas fazia aquilo porque estava nervoso para o que poderia descobrir. No fundo, sabia que mexeria muito com seu emocional.

Talvez seja uma premonição? Era o que o Príncipe pensava ao sentir aquele sentimento desconhecido tomar conta de seu âmago.

Quando chegaram em frente aos aposentos de Lilian, Athanasia estreitou as sobrancelhas ao perceber que não havia guardas ali e muito menos Félix. Ela se lembrava que havia pedido para que a porta do quarto fosse protegida até que ela chegasse.

"Lily, você está aí dentro? Acho que Félix já foi embora, já que eu não o vejo em lugar nenhum..." Athanasia falava enquanto entrava sem nem bater, perdendo a fala no momento que viu a cena dos dois ali, estáticos enquanto olhavam em sua direção. "Céus!" A loira soltou surpresa, ficando tão envergonhada quanto Lily ali agora.

Cabel não estava muito diferente, já que acompanhou a Princesa porta adentro e acabou vendo a mesma cena que ela. O Príncipe não teve uma reação definida naquele momento, olhando com cara de taxo as mãos de Lilian sendo seguradas tão intimamente pelo cavaleiro ruivo, que a beijava os nós dos dedos.

"Estou indo embora." O Príncipe anunciou, pronto para dar meia volta na porta e sair correndo com a vergonha que começava a explodir por seu rosto, mas foi segurado pelo colarinho por Athanasia.

"Nada disso!"

"Athanasia~!" Ele choramingou e tentou se soltar dela, mas acabou por falhar.

"Vocês tem uma boa situação para nos explicar, Félix e Lily." Athanasia riu, puxando Cabel sem esforço algum para dentro do quarto. Ambos foram seguidos por Lucas, este que sorria malicioso para o cavaleiro ruivo. Já Félix, ele se encolhia a cada encarada que recebia da Princesa irada.

Naquele momento, Athanasia nem parecia ter sido a paciente há dois anos desacordada. Parecia ter assumido a força da coragem ali mesmo por se sentir traída pelo casal pego no flagra.

"Vocês nunca me contaram que tinham este tipo de relação! E agora, eu pego Félix dando beijos em você! Eu estive com você por dezessete anos, não acredito nisso!"

"Princesa, não é o que você pensa-"

"É O QUE EU VEJO!" Athanasia interrompeu Félix de forma brusca. De seu rosto parecia escapar fumacinhas de raiva por aquilo. "Eu não acredito nisso." Ela então colocou as mãos na cintura, batendo o pé no chão, e encarou o Príncipe envergonhado ao lado. "Você acredita, Cabel?"

"Eu não-"

"POIS É! Nem eu." A garota bufou e cruzou os braços. "E você, mago Lucas, acredita?!"

"Sim-"

"POIS É! EU TAMBÉM NÃ-QUE?!" Athanasia tossiu e olhou várias vezes para Lucas, emburrada.

Mas então percebeu que Cabel estava triste, e lembrou o que os levou até ali.

"...Vocês não irão escapar de mim mais tarde. Agora precisamos resolver outra coisa." A frase da Princesa chamou a atenção de Lilian, que a encarou curiosa, esperando que ela continuasse.

"E o que seria, Princesa?" Lilian perguntou, soltando-se de Félix e indo até a loira.

"Acredito que Félix já saiba disso. Meu pai e o de Cabel resolveram que seria melhor eu ir para Arlanta, para que eu pudesse me recuperar desses anos perdidos. O Imperador Calvin disse que seria também até mais seguro, já que ele é capaz de controlar quem entra e sai em seu escudo mágico." Athanasia suspirou, recuperando o ar para continuar. "De qualquer forma, você teria que vir comigo, Lily..."

Só de pensar naquela possibilidade de entrar novamente nos domínios de Arlanta, Lilian estremeceu. Se não fosse por Athanasia pedindo a ela, nem mesmo chegaria perto daquele lugar. Ela não tinha nenhuma outra opção ali agora...

"Porém, eu irei pedir para que papai ordene Hannah e Ces a irem comigo."

"O quê?" Lilian olhou para a Princesa desacreditada em suas palavras. "Ah, entendo! Hannah e Ces irão me acompanhar, certo?"

"Não." Athanasia desviou o olhar de Lilian, para que não pudesse ver o choque na face da morena. "Após ver o quão debilitada ficou ao ver o Imperador Calvin, eu preferi tomar a decisão de que você não irá me acompanhar à Arlanta."

"Princesa, eu não posso abandoná-la!" Lilian exclamou, segurando as mãos de Athanasia em puro desespero. "Eu não me importo com mais nada além da senhorita, apenas deixe-me acompanhá-la, ou eu apenas irei sentir este fardo caindo sobre minhas costas!"

"Senhorita Gentil, por favor, acalme-se." O Príncipe finalmente se pronunciou, aproximando-se da mulher com receio e medo de prosseguir.

De forma hesitante, Cabel pegou uma das mãos de Lilian que estavam presas na de Athanasia, sentindo um choque instantâneo percorrer por seu corpo, deixando-o atordoado.

"O quê-"

E então, lembranças que não pertenciam à ele preencheram sua mente. Lembranças do dia em que uma mãe foi obrigada a abandonar seu filho em um Castelo condenado ao sofrimento.

Uma jovem senhorita segurava as mãos de um homem ruivo. Ambos pareciam apaixonados o suficiente para se casarem. Era como um amor à primeira vista.

A menina agradecia aos seus pais por terem permitido que ela se tornasse a mulher daquele Imperador de outro Império, dizendo a eles o quão apaixonada estava.

Com isso, logo o casamento público deles veio. E então ela se tornou a esposa do Imperador.

Ela estava tão feliz com aquele feito, de finalmente poder estar ao lado daquele que amava, que não se deu conta de que uma jovem mulher albina, com uma criança ruiva no colo, encarava aquela cena com desgosto.

"Ele não te ama, sabia? Ele fez isso comigo também. E com as outras... As seduziu para que pudesse se casar com as mais bonitas. Mas só são lembradas durante a noite, na cama do Imperador." Era o que a albina dizia, com um sorriso malicioso no rosto.

A garota não queria acreditar, mas era como se algo a empurrasse a aceitar aquela mentira porca. Aquilo aos poucos a fez perder o encanto que sentia no homem sempre que o via com outras mulheres, que também eram suas esposas.

O ano se passou em um piscar de olhos, e a morena logo descobriu estar grávida. Aquele era finalmente a ponte que ela poderia percorrer para alcançar seu amado de volta!

Isso era... o que ela pensava.

Ao contrário de seus pensamentos apaixonados, tudo que recebeu foi desprezo e nojo do homem que amava. Ele jogou em sua cara como não precisava de outra criança, pois já possuía um herdeiro. De que ela precisava abortar para que tudo voltasse ao normal. Mas ela não aceitou.

Ela continuou firme até o fim, sobrevivendo naquele lugar amaldiçoado, do qual um dia acreditou ser a vida dos sonhos.

"Eu falei para você... Ele nunca te amou. Nunca vai te amar, Lilian."

"Não... Eu... Ele foi tão gentil comigo..." Essas eram as tentativas de contra-argumentar contra a albina, que sorria maliciosa ao segurar a criança no colo.

"Ele fez o mesmo comigo, acredite! Eu entendo você e posso te ajudar em descartar esse... monstro."

Mas Lilian não aceitou. Ela suportou até o dia em que a criança nasceria, aguentando toda a dor calada em meio ao choro silencioso.

Foi quando o choro da criança ocupou todo o quarto e ela pôde suspirar aliviada, agradecida por finalmente a dor ter acabado e dado à luz ao filho que ela amou, do início ao fim.

Mas aquele momento único se pôs ao fim, no momento em que a porta de seu quarto se abriu e de lá, aquele homem entrou desesperado, olhando para todos os lados antes de encará-la e ver o bebê preso em seus frágeis braços.

"Deixe-me segurá-lo." O Imperador pediu, frágil e suave, ao se aproximar alguns passos. Ele parecia até mesmo encantado com a cena que via.

Entretanto, Lilian simplesmente se afastou com medo, ignorando a dor que seu corpo recebeu ao se movimentar.

"Nunca." Ela apertou o corpo do bebê adormecido ainda mais contra seus braços, tentando protegê-lo daquele que ela não amava mais.

Foi uma situação rápida demais para ser raciocinada, mas tudo que ela pôde sentir foi seu rosto virado para o lado enquanto uma ardência aos poucos fazia-se presente em sua bochecha. Aquele foi o ápice para que ela pudesse suportar.

Sem muita insistência, o Imperador foi embora, abandonando-a naquele quarto, perdida no próprio choro enquanto agarrava a criança no colo.

"Eu... Não posso mais aguentar isso..." Ela sussurrou para si mesma em meio aos engasgos de choro, olhando para o rosto de seu filho. "V-vamos fugir, pequenino. P-para longe daqui, certo?"

Ela foi capaz de fugir.

Mas não com a sua criança.

Quando o Imperador soube de sua tentativa de fuga, a criança foi levada para longe enquanto ela era forçada contra o chão pelos guardas do Império, gritando e pedindo para que o guarda que levou seu filho voltasse e o devolvesse a ela.

O bebê chorava, implorando pelo colo da mãe cada segundo que se afastaram. Até mesmo quando eles estavam a metros de distância, ela podia ouvir o ecoar dos berros do recém nascido... até não ouvir mais.

"O que... o que fizeram com meu filho?" Ela indagou temerosa, ao ver o mesmo guarda aos poucos retornar com um sorriso no rosto.

"Sua Majestade cuidou bem dele. No dia seguinte, a carcaça dele será jogada para os cachorros comerem, não se preocupe." O homem zombou, gargalhando ao ver como Lilian arregalou seus olhos ao escutar aquilo.

Lilian tentou se soltar, desesperada para tentar conseguir uma resposta vinda daquele homem que uma vez amou, mas não foi capaz. Seu corpo foi arrastado para fora dos Castelos, e ela foi jogada no chão frio sem cuidado algum por aqueles guardas.

"Larguem-na para morrer de frio. Sua Majestade ordenou que ela desaparecesse."

E com aquelas palavras, Lilian decidiu-se.

Mesmo com seu coração estilhaçado pela perda daquele que mais amou, por mais que fossem pouco tempo que havia passado com o ser que havia acabado de nascer, ela viveria por ele. Fugindo daquele lugar tenebroso, que para sempre iria temer, só de pensar em retornar...

Aquelas memórias eram como um quebra-cabeça sendo encaixado aos poucos na mente de Cabel, que raciocinava o que acontecia lentamente. Ao segurar as mãos de Lilian, ele pôde ver o passado terrível que ela sofreu, e que agora entendia o motivo dela ter agido daquela forma com seu pai, mais cedo.

Mas... o Príncipe tinha uma dúvida. Algo que ele sempre se perguntou e sempre procurou às escondidas de Calvin, pois sabia que o homem causaria um escândalo caso soubesse.

"Senhorita Lilian, a senhorita já foi uma das concubinas de meu pai?" Foi uma pergunta frágil e até mesmo difícil de ser dita por Cabel, mas ele engoliu sua própria saliva e encarou profundamente aquelas orbes oceânicas da morena à sua frente, exalando confusão por sua pergunta.

"...Sim?"

A boca do príncipe secou no mesmo instante, e as lágrimas queimaram por detrás de seus olhos, esperando apenas mais um pouco da confirmação que aos poucos fazia-se em sua mente, para que pudessem cair como cachoeiras infinitas de suas orbes cristalinas.

"Você é... a minha mãe?"

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