City Lights

By dwrperlman

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Nada é o que parece. Ninguém é quem você pensa que você é. Só as experiências podem te mostrar a verdade, e s... More

Capítulo 1 - O bendito Intercâmbio do Canadá
Capítulo 2 - O Canadá e as Aulas
Capítulo 4 - A noite fora e a Helena

Capítulo 3 - Michael

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By dwrperlman


Meu pai ligou depois do horário da escola pra gente conversar. Acho que isso era legal, quer dizer, foi bacana falar com ele e era bom saber que ele se ligava no fuso horário (porque isso pra mim ainda estava sendo uma merda de se acostumar). E aparentemente estava tudo bem.

Ele tinha feito compras também, então não tinha que me preocupar com isso e de noite com a janta. 

Eu me virava bem até. Deu tudo certo.

A questão é que a mamãe me ensinou a ser diferente nesse sentido. Ela sempre me fez aprender, me dizia que era importante eu ajudar e saber fazer essas coisas pra ser independente e tudo mais, e eu também acho que pra não ser um babaca. Mesmo depois de tudo, quando a gente começou a ter pessoas pra cuidar da casa e das coisas, eu ainda levava isso comigo sabe. Eu fazia porque acostumei a fazer, não via nada demais, e tipo, não era porque eu tinha alguém pra fazer pra mim que mudava alguma coisa. Eu sempre ajudava ou tentava aprender como me virar melhor, porque sei lá, era realmente uma coisa que antigamente eu, meu pai e a mamãe fazíamos como se não fosse nada.

Isso me fez ter uma boa noção de como cuidar de casa e cozinhar e lavar roupas, essas coisinhas assim, e pode ter certeza que estava sendo útil pra caralho pra mim agora.

Pensava se fosse minha madrasta, meu irmão, até mesmo meu pai as vezes no meu lugar. Eles ficariam bem mais perdidos eu acho.

Obrigado mãe.

Eu tentei não pensar no que tinha acontecido na escola e naqueles babacas depois que cheguei aquele dia também, simplesmente por que Spencer estava certo e também não era bom eu ficar cultivando esse estresse. Eu ia explodir alguma hora e definitivamente, não ia ser bom para mim.

Então só me concentrei em uma coisa: nada.

Vi TV, dormi, tentei me livrar do jet lag, comi, joguei, fiz um pouco de academia....

Vida normal.

Só quando acordei no outro dia que fiquei pensando por que é que eu não tinha aproveitado feito alguém "normal". Sei lá, pelo menos se baseando no que dizem por ai, gente da minha idade e gente como eu teria gostado de sair, conhecer o lugar, talvez ter ido em alguma festa, algum bar, saído para conhecer garotas ou sei lá, ir num clube de stripper.

Eu podia ter feito isso, mas não fiz. Ao invés disso fiquei em casa vendo filme e dormindo a maioria do tempo como um velho ranzinza e chato.

O que não era problema. Aceito que talvez eu fosse velho mesmo na alma.

Tinha escola de novo, o que era uma merda porque ainda estava cansado e sei lá, meio puto mesmo não querendo pensar nos motivos, mas fazer o que.

Fiz o meu melhor para ignorar pensar no 'clube dos intocáveis' de novo, que aparentemente eram como chamam os idiotas do time do Shane na escola (pelo menos quando é pela costas deles), e estava cada vez mais ficando amigo do Spencer.

Ele me apresentou os outros amigos dele, ficamos conversando, falando sobre coisas que a gente gostava, e todos eles pareciam pessoas legais também.

Qual é, eu tinha que fazer amigos. Queria fazer amigos. Queria finalmente ter a vida que estava tentando ter desde que a minha mãe se foi.

Eu observava as mesmas coisas de antes apesar: garotas em grupinhos, maquiagens, fofocas, meninos se achando e com a merda das gravatas tortas na roupa...

É, acho que isso é o Ensino Médio.

— Espero que hoje não tenha lição de casa... — Jonah diz.

— Por que? — Eu pergunto.

— Nós vamos no vamos passar na loja de discos e sair por ai — Spencer responde.

— Você pode vir com a gente se quiser Nate

— É! eu e a Anne vamos chegar um pouco mais tarde, eu vou ter que pegar ela na casa dela e ajudar com algumas coisas, mas a gente vai. Seria legal se você fosse.

— É bom para conhecer a cidade — Anna era definitivamente francesa. O sotaque dela era ridiculamente pesado. Ela era uma garota bonita assim como namorado dela era um cara bonito, e eles faziam o casalzinho mais fofo que você imagina. Parecia a branca de neve e a branca de neve versão homem juntos, e estou falando isso de um jeito sem ser pejorativo ou babaca.

— Você foi explorar por ai ontem?

— Não deu... eu tava com jet lag da viagem, ainda estou... nem deu coragem — digo 

— Cara, eu viajei pro Brasil uma vez, quase morri, jet lag é um horror, eu- — Spencer é interrompido.

— OHH, vejo que nossos grupo favorito de maricas fez um amiguinho novo!

— Sai fora, Shane. Sério, to sem tempo pra você e seus babacas hoje

— O que, só vim dizer oi cara, calma Williamzinho.

Percebi que o Spencer e o Jonah foram os que mais ficaram incomodados com a situação, quase meio que sem jeito, e vai saber o porque.

Será que eu deveria ter contado o que aconteceu entre eu e esse filhos da puta? Não sei, nem me preocupei com isso e não deu tempo. E de qualquer forma, sério que aqueles caras pensaram que eu ia querer ser amigo deles? Eu tinha cara de idiota? Talvez se não tivesse visto o que eles fizeram com o garoto ontem e não tivesse feito amizade com o Spencer podia até dar uma chance porque não ia saber de nada, mas mesmo assim. Sério?

E provavelmente nem se eu fosse o maior enganado do negócio acho que seria amigo deles, odeio gente que chega em pessoas como eles. Sei que é errado pensar assim, mas todas as pessoas que chegaram em mim daquela forma, parecendo bons samaritanos que queriam ajudar, eram uns desgraçados que só queriam amizade pelo dinheiro.

— Que é que você quer? — Spencer pergunta.

— Arrrf, tem gente de TPM hoje. Se segura ai idiota, e olha como fala — Dylan começa — E não queremos nada, só viemos... cumprimentar o novo mariquinha. Já chegaram te pegando um boquete de graça né? Não é a toa que se deram bem tão rápido.

Os amigos dele começaram a rir mas mesmo a gente não vendo graça nenhuma eles não ficaram constrangidos, o que pra mim não fazia sentido. Quem é que gosta de rir das próprias piadas quando ninguém te acha engraçado?

— Vai a merda Dylan  — Spencer diz.

— Ei, já disse! Olha como fala, seu pedaço de...-

— Oh — Shane diz cortando eles — calma. O professor chegou. Você não vai querer se meter em encrenca né Spencer?

— Nós falamos com vocês de novo mais tarde — Dan disse e todos eles foram embora.

Será que eles tinham levado pro lado pessoal eu ter recusado ser amigos deles?

Pode ser, não sei...

Talvez eu devesse contar pro Spencer e tudo mais o que aconteceu, mas não... não queria que me julgassem por isso ou sei lá.

— Merda cara, ninguém merece esses idiotas, eu acho q- — Jonah diz.

— Acham que... eles vão mesmo voltar para atazanar a gente?

— Não duvidaria — Jonah responde.

— Tem certeza de que eles só não colocam medo? — Digo.

— Não é muito a cara deles falar e não fazer nada. Tipo, real — William responde.

O professor começa a aula e mesmo eu agora não estando tão interessado mais e estivesse com a cabeça em outro lugar, não tinha muito o que se fazer.

E não tenho medo naquele clubinhos dos intocáveis se quer saber. Não mesmo. Eles que se fodam. Tanto que na terceira aula, quase nem lembrava das ameaças.

— Vamos fazer o que no intervalo? — Jon pergunta.

— Eu preciso ir com a Anna na secretária.

— Ah eu não vou na secretaria não, demora demais. Você vai precisar comprar alguma coisa para comer Nate? — Spencer pergunta.

— Huh, pra falar a verdade, sim. Esqueci de colocar alguma coisa, mas não precisam ir comigo não.

— A gente te leva na cantina e depois vai encontra eles na biblioteca. Fechado?

— Pode ser.

— Por mim e pelo William também, não é amor?

E foi isso que aconteceu.

Foi interessante sair no intervalo, não sei bem o porque. Sei que era um lugar estranho ainda pra mim, mas parecia que eu já estava até acostumando. Todos vestidos iguais, grupinhos espalhados pelo corredor...

Não encontramos os idiotas, feliz ou infelizmente, mas o que no geral foi bom.

— Eu disse que você você exagera Jonah.

— Ah, eu nunca me dou por vencido cara.

Tudo estava bem, estávamos todos despreocupados, até voltarmos para sala junto com os outros. 

Tinha uma bagunça de tinta azul e vermelha para todo lado, quase como se tivessem usado aqueles Sprays. A carteira minha e do Spencer estava todinha manchada. 

Nossas mochilas, cadeira, cadernos... tudo tava pintado de vermelho e azul.

— Ah cara-! — Spencer reclama.

Eu e o Spencer tentamos achar o foco da tinta mas só acabamos manchando tudo ainda mais além de sujar nossas mãos, e tinham mais umas três pessoas na sala, só que estavam fingindo que nada tinha acontecido.

— Eu não acredito!

Jonah virou na mochila dele de cabeça pra baixo e estava tudo encharcado, fazendo cair água pelo chão inteiro como se tivessem despejado um monte de garrafas de agua dentro dela.

— E eles colocaram lacres na nossa mochila! — William e Anna dizem.

— Eu vou quebrar aqueles desgraçados!

— O que foi que você acabou de dizer Sr Wilson? — A professora de matemática diz — E o que está acontecendo aqui?! Senhor Miller, senhor Gilmore, podem se explicar?

— Explicar o que? - Spencer pergunta confuso?

— Olhem para minhas coisas! — E ninguém de nós tinha reparado, mas a lousa e a mesa do professor, inclusive as coisas nelas, tinham tinta azul e vermelha — Vão dizer que não foram vocês?

— Mas não fomos nós, nós nem estávamos na sala! — quase completo com um "caralho" no final,  gritando realmente sério.

— Eu estava esperando um pouquinho mais de vocês dois, principalmente você senhor Gilmore, já que é uma aluno tão novo. Devia se comportar muito melhor.

— Mas não foi a gente, foi o...!

- Quem senhor Miller?

— O Shane e aqueles coleguinhas dele

— Bem, eu não estou vendo eles aqui, e duvido muito que eles tenham mãos e carteiras sujas de tinta e um rastro de tinta pelo chão até eles. Se eles tiverem, ai posso considerar a sua colocação.

E bem nessa hora o sinal bate, e o clube dos intocáveis é o primeiro a entrar na sala. Todos tinham um sorriso cínico e o Dylan ainda acenou com as mãos, como se quisesse realmente deixar claro que tinha ouvido o que a professora disse, mesmo fingindo que não sabia de nada.

— É o suficiente. Vocês dois vem comigo. Rápido. Diga para sala que eu vou me atrasar alguns minutos, ok senhor Wilson?

Jonah acena com a cabeça com um olhar perdido, e eu sabia que ele queria ajudar mas só não tinha muito o que fazer.

A professora leva a gente até a sala da diretora e nós pede para esperar sentados, enquanto ela entrou pra explicar a situação.

— Então, é isso que vai acontecer: eu sei que você quer provar que não foi a gente, mas não perca seu tempo. Elas não vão querer acreditar. O que a gente vai fazer é dizer que foi um acidente, tá bem? Dizemos que foi sem querer, esbarramos no lixo quando fomos jogar a tinta fora e foi isso. Se a diretora perguntar porque não falamos isso para professora, dizemos que foi porque não queríamos que a sala inteira soubesse que somos uns bestas atrapalhados. Entendido? — Spencer diz.

— Tem certeza que vai dar certo? 

— É a nossa melhor chance — ele responde.

— Entendido então.

Ficamos mais um tempo esperando, mas não falamos mais nada. Spencer parecia estar explodindo de raiva.

Eu? Eu estava também, mas eu nunca demonstrava. Achava perigoso. Sem contar que eu ia me livrar daqueles canalhas, ah eu ia, e não queria me dar o luxo de perder tempo remoendo raiva sendo que eu podia pensar em algo para usar contra eles.

No fim, a diretora chamou a gente e deu tudo certo. Aquilo que o Spencer disse colou.

Ela não pareceu fazer muito caso da coisa já que era algo fácil de se resolver, e eu concordava. Pra que abrir um inquérito quando se tem uma confissão?

— [...] Mas vocês dois vão ficar depois da aula até toda aquela tinta toda estar limpa, entenderam?

— Aham

— Da próxima vez que vocês dois aparecerem aqui estarão suspensos por três dias. Nem que se for por terem esbarrado em alguém sem querer e derrubado essa pessoa.

— Entendido — Respondemos.

Ela fez a gente assinar um papel e depois mandou a gente para aula de novo.

Eu estava puto porque tinha perdido mais da metade da aula? Sim. E estava mais puto ainda por que era meu segundo dia aqui e já estava dando motivos para acharem que eu era um delinquente.

O clube dos intocáveis ri baixinho, como se realmente tivessem feito algo engraçado.

Ah, eles iam se ver comigo. E como iam se ver comigo.

Sorte que a aula acabou rápido.

— Então, vamos comer no Mc Donalds e ir direto pra loja de discos? — pergunto

— Acho que sim né galera?

— Acho que eu e a Anne vamos indo então... Até já pessoal

— Tchau — Nós nos despedimos.

— Você vai também não é Nate? — Spencer pergunta enquanto íamos para os armários.

— Vou

Não é como se eu tivesse outra coisa mais interessante pra fazer, o que era bom.

— Ah, droga.

— Cara, como é que eles fazer essas coisas sem ninguém ver!

Demorou um tempo para entender o que estava acontecendo, até ver que o meu armário estava com a porta pichada.

No meu estava escrito "Marica importada" em letras vermelhas e brilhantes, e o do Jonah e do Spencer só "Maricas".

Apesar disso, eles não ligaram muito caso dá pra acreditar? Agiram como se não fosse nada.

Eu? Eu estava puta incomodado com isso. Inferno, por algum motivo parecia que todos os outros e a escola inteira estavam olhando para isso!

— Vocês não... !- — eu começo — Quer dizer, como vocês fazem isso? Como você não ficam não sentem vontade matar esses caras?! — Jogo um livro na merda do meu armário.

— Eu disse Nate, isso não é nada. Até que demos sorte. Eles já fizeram muita gente ser suspensa e já deram muita surra feia na galera.

— Isso é — Jonah concorda.

— Só... ignora. É fácil. Se você dá corda, dai eles levam pro pessoal e vão acabar com a sua vida. Acredite.

E parecia que era só falar nos demônios, para eles aparecerem.

— Awwwnn — Dylan diz enquanto ele e os outros passavam pelo corredor com ele — Combinaram a decoração. Ficou lindaa.

Os outros riem, como se realmente fosse a melhor piada do mundo.

— Nós conversamos depois, otários — E dessa vez não foi o Dylan quem deu um tapa extremamente sem graça na cabeça de alguém. Foi o Dan. E na minha cabeça!

Isso estava me tirando do sério, e não to brincando. Eu vou socar a cara desses desgraçados, eu-

— Nem pensa. É se foder a toa, já disse um bilhão de vezes.

Logo depois o senso voltou á minha cabeça.

Não disse nada, ninguém disse, até terminarmos de arrumar tudo no armário.

No fim, a tarde acabou sendo boa apesar de todo trabalho de tirar tinta e tudo mais.

Eu não me arrependi nenhum pouco de ter saído com os meninos, foi demais. Eu geralmente não gostava muito desse negócio de socializar, mas o que deixava isso legal era que eles eram legais de verdade e a cidade em si era excitante. Eu não conhecia nada ali, tudo para mim era novo.

Nós nos divertimos, comemos, eles explicaram para mim um pouco sobre dos pontos da cidade, o que tinha para fazer em cada um...

Parecia bem legal, tão melhor que LA. Era tudo tão, não sei, diferente, cheio de coisa, como se tivesse uma conversa entre o lugar e eu que só eu parecia entender e perceber.

Quando cheguei em casa era quase de noite, e incrivelmente eu consegui ficar ainda mais exausto. Não sei bem porque, nem fizemos nada demais. Talvez ainda fosse um pouco do jet lag, mas meu deus, eu só queria um banho e cair na cama.

E foi isso que eu fiz.



***



Papai me ligou bem cedinho na manhã segunda.

— Como está indo tudo?

— Huh, bem... eu acho — respondo.

 — Está precisando de algo?

— Não, tudo certo pai.

 — A escola, a cidade... Como é? Está gostando? — ele pergunta gentil e quase animado.

— Hm, eu acho que, sei lá... são excitantes, as duas — O que não era de 100% mentira. A escola era boa de conteúdo e sei que ainda era muito cedo e talvez fosse só impressão, mas parecia que era mesmo. E a cidade também estava parecendo incrível pra mim. 

Tinha uma coisa, não sei bem oque ainda. Mas eu estava gostando de tudo, mesmo. (E sim, morar sozinho também. Acho que principalmente isso)

— Ah, fico feliz que esteja gostando... Tive medo que não gostasse. Sabe como são essas coisas não é, e-... mas, como está se sentindo? Como tem se sentido.

— Ah... bem, eu acho. — digo

— "Ah... bem, eu acho" ?

— É.

— Não é assim que as coisas funcionam entre a gente Nathan.

— Eu sei, mas é a verdade. Se eu estou algo, é bem. E o você?

 — Não joga isso pra mim, mas ainda trabalhando um pouco demais... E estava preocupado com você também.

— Ah... e o resto do pessoal?

— O Ben tá sentindo a sua falta. Sua mãe também.

— Madrasta — eu corrijo da forma mais natural que você possa imaginar — Ela não é minha mãe.

Ouço ele respirar fundo e dava pra imginar aquela cara de merda do meu pai do outro lado da linha, mas ele resolve deixar quieto (o que eu agradeço)  e diz — Planejando voltar quando?

— Pai, não faz nem uma semana que eu estou aqui. Se você queria me ver bastante, talvez devesse ter achado um lugar tão longe.

— Eu só... sinto a sua falta também. Você faz diferença sabia? Apesar de achar que não.

— Eu também sinto falta de ter você perto... De verdade.

— Espero que dê pra gente pensar em algo em breve... sabe, a ideia não é ficar longe. Não é isso... não é isso que eu quero com toda essa coisa.

— Eu também — Mesmo mesmo.

— Bom, preciso ir. Mas se cuida também.

— É, eu também.  E digo o mesmo. Bom trabalho ai.

— Na verdade aqui são quase duas da manhã.

— Bom resto de noite então — nós rimos — Até mais

— Até. Eu te amo Nate.

— Também te amo pai.

Isso me fez pensar um pouco sobre... tudo.

Apesar que não podia me dar a esse luxo agora. 

Nem quero muito lembrar da minha noite de sono também. Só sei que talvez eu devesse considerar levantar mais cedo, porque esse negócio de sempre estar com o tempo contado de manhã era horrível e me irritava.

Eu odiava me atrasar, e no caminho para escola decidi que se os meninos não tivessem algum plano para hoje de tarde ou de noite, eu sairia por ai eu mesmo.

Só para conhecer o lugar sabe.

Eu sei, não parece muito o cara que ficou o primeiro dia todo dormindo e jogando videogame depois da escola mas, era só porque agora eu tinha mais motivo pra estar animado pra conhecer a cidade e me me desestressar e não querer pensar em nada.

Tinha muito sobre mim que...- bem, o que importa é que agora eu poderia ser mais eu do que nunca.

Soa estranho pensar assim mas era verdade. Tinha uma... parte minha que estava gritando de dentro pra simplesmente ser parte de mim de novo.

A parte de mim que via a beleza nas coisas, na vida, no novo.

E isso era algo pra se pensar, melhor do que o Clube dos Intocáveis ou a mamãe e estar longe de casa e assustado e não querendo se deixar sentir solitário.

Eu organizava meu armário separando os livros do dia e deixando eles já mais fáceis, e aproveitei pra colocar algumas coisas lá.

Não tinha encontrado nenhum dos meninos ainda, mas eles provavelmente estavam na sala e eu precisava passar no banheiro ainda antes de ir. Eu estava com sono, uma água gelada no meu rosto sempre ajudava.

Nos corredores e no banheiro não pareceu ter nada de errado num primeiro momento, até que eu percebo um menino encostado na parede parecendo horrível, com o nariz sangrando.

Nunca tinha visto ele antes, mas ele não deveria ter uma idade diferente da minha. Estava de uniforme todo bagunçado.

— Você tá legal? — eu pergunto.

— Yeah.

— Certeza?

Ele balança a cabeça que sim — Pode me dar um pouco de papel toalha por favor?

— Claro — pego e entrego pra ele.

A expressão dele não deixava ele mentir, e no mínimo, esse cara estava sentindo muita dor.

— Obrigado 

— O que aconteceu?

— Nada. Eu... só cai e bati o nariz.

— Parece super condizente com seus machucados...

— Quem é você afinal em? — Ele parece pouco irritado agora.

— Dylan

— O que você sabe, Dylan? — ele começa meio provocado — nem parece ser daqui. Você é novo?

— Uhum... cheguei não faz nem uma semana. 

— Americano. Eu percebi. Você tem um tom de pele que as garotas daqui pagam uma nota para ter artificialmente e não conseguem. E tem um pouco de sotaque também.

— É, eu soube. E quem é você?

— Michael.

Bem quando ele diz isso a porta do banheiro se abre, deixando um barulho alto demais no ambiente quieto.

— Mike?! — Um rapaz loiro diz, parecendo loucamente preocupado — Cara, o que aconteceu? A aula começou e você não apareceu, ai eu-

— Eu tô bem Patrick... pode ir.

— Não parece bem — Patrick, se aproximou dele com cuidado, tentando ajudá-lo com o sangue do nariz — Fica com a cabeça levantada, senão seu nariz vai sangrar mais.

— Patrick, tá tudo bem, já disse.

— O que aconteceu? — ele perguntou, olhando para mim surpreendentemente.

O tal do Patrick era um rapaz bonito olhando desse ângulo. Ele tinha cabelos loiros, olhos claros e era um pouco gordinho, mas tinha um certo charme e só deixava ele mais bonito apesar dele ter tipo, metade da minha altura.

Sua expressão estava preocupada de verdade e querendo ou não, eu percebi que provavelmente estava sobrando ali. Eles deviam ser bastante amigos.

— Eu não sei, quando cheguei ele já estava assim... não vi o que aconteceu  — Respondo, indo tentar ajudar também.

— Eu te disse — Michael começa — eu cai.

— Ah, sei. Caiu. Certo. E eu tenho cara de palhaço — Patrick parece puto.

— Escuta, A Agnes deve estar procurando por você... me deixa em paz

— Eu disse para ela que ia te procurar, não esquenta. E Poha Michael, não acredito que eles fizeram de novo... quer dizer, não dá para segurar um pouco esse seu instinto?!

— Não sou eu quem deveria ter que segurar nada!

— Espera, quem fez isso com você foi... aqueles idiotas do Shane e dos amigos dele? — pergunto

— Não tem nada a ver com eles.

— Mike, conta outra.

— É sério.

— É, sei. — Patrick se vira pra mim de novo — eu sou Patrick aliás.

— Nathan.

— Prazer.

— Eu preciso ir, eu-

Patrick impede Michael de continuar.

— Você não vai a lugar nenhum. Eu vou te levar para enfermaria. E além do mais, seu rosto estava começando a ficar com umas marcas roxas feias demais pra não ser algo sério.

— Não preciso de enfermaria.

— [...] Mike, precisa fazer alguma coisa sobre isso. Não pode deixar eles ficarem fazendo isso com você.

— Você mesmo diz que eu peço por isso...

— Eu não falo sério.

— Então foi o Shane e os amiguinhos dele — eu observo.

— É, mais ou menos... Eliot, Dan e Dylan. Shane estava na porta.

— Odeio esses caras.

— Todo mundo odeia — Patrick diz.

— Por que eles fizeram isso?

— Eles ficam falando coisas sobre a minha mãe... ela trabalha aqui na cantina da escola sabe. Odeio quando falam merda sobre a minha mãe. — Michael explica.

— Cara, eles só são uns completos idiotas — falo — não liga para eles.

— Eu não consigo.

— Acho que eu entendo o porque, mas bem, Patrick está certo. Você precisa ver esse seu nariz.

Ele se rende — Minha cabeça tá girando. E doendo. Muito. Inferno.

—Depois você ainda pergunta porque eu não confio nas coisas que você diz... Você sempre mente Mike, disse que estava bem!

— Você se preocupa de mais.

— Me ajuda a levar ele? — Patrick me pergunta.

— Claro.

Nós dois levamos Michael até a enfermeira e os dois pareciam caras legais, sabe? E eu nem me importei que ia chegar atrasado na aula. Não é como se eu pudesse deixar os dois ali sozinhos. Eu queria ajudar.

Mike acabou aceitando ficar na enfermaria, mas eu e o Patrick quase fomos jogados para fora de lá. Não devíamos estar perdendo aula.

— Obrigado pela ajuda.

— Não foi nada... — respondo

— É, acho que eu nunca vou entender eles... a gente se ver por ai?

— Até mais.

Assim que eu entrei na sala, os olhares dos meus amigos se voltaram todos para mim. Parecia que eu era um fantasma.

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