Oi, meus amores! Volteeeei!
Eu sei, eu sei. Vocês estavam esperando uma atualização de Luz no Fim do Túnel. Mas como eu postei dois capítulos seguidos lá, nada mais justo que eu poste dois aqui, certo?
A próxima atualização é de Luz no Fim do Túnel e aí a gente volta ao normal.
Agradeço de coração todos os comentários e mensagens. Vocês são incríveis!
Espero que gostem deste capítulo. A Sarará tá bem tagarela, então o capítulo tá enorme! Comentem bastante e me contem tudo que vocês estão achando!
Beijo e boa leitura!
*****
A manhã do meu primeiro dia no trabalho amanheceu ensolarada e quente. Já estava no Rio de Janeiro há duas semanas, mas ainda não tinha me acostumado com a temperatura elevada. Passei os últimos cinco dias jogada na cama com um resfriado horroroso, mas graças a Deus, hoje acordei bem o suficiente para ir enfrentar os adolescentes do CIJP.
Ainda era cedo, não passava das seis da manhã, e a Lua ressonava baixinho na cama dela, dormindo o sono dos justos. Quando levantei, ela acordou momentaneamente, mas apenas me olhou e voltou a dormir. Dei uma risada baixa, me agachando ao lado dela para coçar atrás de suas orelhas, antes de ir tomar meu banho.
O apartamento estava silencioso, já que o Gil só dava aula na universidade a partir das 10h, e o João só pegava no trabalho às 9h. De banho tomado, fui até a cozinha para colocar o café para fazer. Sabia que precisava comer alguma coisa, mas eu estava nervosa. Peguei uma fruta e uma barra de cereal e joguei na mochila, que eu já tinha deixado na sala.
Pudim, que estava dormindo no sofá, levantou a cabeça e me olhou por um longo momento, balançando seu rabo lentamente. Sorri para ele, e o chamei para vir até mim, mas fui sumariamente ignorada. O gato do João tinha seu próprio tempo, e não adiantava tentar obrigá-lo a fazer algo que ele não estava a fim de fazer.
Quando sentei no sofá para tomar meu café enquanto assistia ao Bom Dia Rio, ele finalmente se aproximou e roçou na minha perna, antes de ir embora lá para dentro. Sacudi a cabeça com uma risada e continuei prestando atenção nas notícias.
Senti meu coração saltar quando ouvi a voz dela na TV em um comercial de uma universidade. Já tinha visto esse comercial várias vezes desde que cheguei ao Brasil, mas a minha reação era sempre a mesma. Era só ouvir sua voz que minha mente me transportava para momentos maravilhosos que vivemos juntas. Quando ela cantava nos luais. Quando ela cantava para mim quando eu estava nervosa por causa de algum jogo importante. Quando a gente assistia filme na república onde ela morava, e ela deitava no meu colo…
Soltei um suspiro frustrado. Estar de volta ao Brasil, onde aparentemente ela dominava todos os meios de comunicação, era estar constantemente fazendo uma viagem involuntária ao passado. Tudo parecia um gatilho porque ela estava em todos os lugares.
Sacudi a cabeça, tentando desanuviar a mente. Já eram quase seis e meia e eu ainda iria pedalar até o Leblon. Precisava estar dentro da escola às sete.
Minha única aquisição desde que cheguei aqui no Rio foi uma bicicleta azul clara e os acessórios de segurança. Não queria gastar todo o meu dinheiro comprando um carro, então a bicicleta era a melhor alternativa no momento.
Gil e João me convenceram a ficar aqui mais um pouco e procurar um apartamento com calma. Quando fiquei de cama esses dias, tinha começado a bater um desespero porque eu não queria incomodá-los, ainda mais tendo um cachorro grande.
Mas eles nem quiseram me ouvir. Ao contrário, me fizeram uma proposta para alugar o quarto por um ou dois meses e ver o que eu achava. Se depois desse tempo eu ainda quisesse procurar um apartamento, tudo bem.
No fim das contas, acabei sendo convencida e já me sentia em casa aqui. Lua também, já que ela e Pudim surpreendentemente se davam muito bem. Fui até o meu quarto pegar meu celular e dar um beijo na minha filhota e nem me surpreendi ao ver o Pudim deitado no cantinho da cama dela.
Respirei fundo ao sair do prédio, aproveitando a calmaria das seis e pouco da manhã. Coloquei o capacete na cabeça, e comecei a pedalar em direção ao Leblon. Já tinha ido ao CIJP semana passada para assinar meu contrato oficialmente, e já conhecia o caminho.
Quando estava a poucos metros da escola, alguém abriu a porta de um carro de repente, e eu que estava distraída ouvindo música, quase dei de encontro com a pessoa. Consegui desviar no último segundo, mas cheguei na escola com o coração totalmente acelerado.
Entrei no CIJP respirando fundo, tentando me acalmar. Já estava nervosa antes, e agora esse nervosismo tinha triplicado. Mas logo fui recebida pela diretora Amélia, que foi uma simpatia e me deixou totalmente à vontade.
Ela me levou até a sala dos professores e me apresentou a todos. Eu corei, dando um tchauzinho para todas aquelas pessoas, que me olhavam, curiosas. Quando avistei o Igor, namorado do João, suspirei aliviada. Pelo menos um rosto conhecido.
-- Bem vinda, Sarita. -- Ele logo veio me cumprimentar com um abraço. -- Pronta pra enfrentar as ferinhas?
Dei uma risada, assentindo. -- Pronta. Acho que tenho a 6B primeiro.
-- Então bora que eu te deixo lá. -- Igor passou seu braço pelo meu com um sorriso encorajador. -- Ah, peraí, deixa eu te apresentar à Vitória. Ela é professora de educação física dos pequenos. Primeiro ao quinto ano. Vi!
Uma menina loira novinha se aproximou, me olhando com um sorriso curioso.
-- Bom dia, amigo. -- Ela o cumprimentou e ele retribuiu.
-- Vi, essa é a Sarah. Vocês provavelmente vão trabalhar juntas em algumas coisas, apesar das turmas diferentes. A Vi também dá aula de natação infantil também.
-- Prazer, Vitória. -- Eu ofereci uma mão para ela apertar.
-- O prazer é meu, Sarah. Se precisar de qualquer coisa é só falar. -- Ela disse, olhando para o seu relógio. -- A gente pode trocar uma ideia mais tarde, que tal? Agora eu tenho que correr que o sinal já vai bater.
Dando um tchauzinho, ela saiu da sala. Igor me puxou pelo braço e me levou até a sala da turma 6B. Respirei fundo antes de entrar, fazendo uma oração silenciosa por um momento.
Apenas os primeiros dois minutos foram difíceis. Quando falei que tinha jogado na seleção brasileira, todos imediatamente se interessaram e quase se atropelavam para me fazer perguntas, enquanto a gente caminhava até a quadra.
Cinquenta minutos depois, eu tinha vencido o desafio da primeira aula e finalmente parei para beber uma água e comer alguma coisa. A partir daqui seria mais fácil.
Eu tinha duas turmas de cada ano, do sexto ao nono ano, ao longo da semana. E durante a tarde, eu treinava os times de futebol feminino do Ensino Fundamental II e Médio. Era puxado, mas eu estava feliz e satisfeita quando cheguei na escola naquela sexta-feira. Tinha tido uma primeira semana excelente, sem nenhuma intercorrência. Tinha visto algumas rivalidades aflorarem nas atividades, principalmente entre os mais velhos, mas nada muito preocupante.
Dei aula para a turma 9C logo no primeiro horário, e reparei em uma menina que parecia um pouco deslocada quando cheguei na quadra. De uma certa forma, ela me lembrava muito a Juliette, mas eu sacudi a cabeça, rindo de mim mesma. Ela estava tão presente em todos os lugares, que eu já a estava projetando nas minhas alunas, só pode, pensei comigo mesma.
Mas de qualquer forma, me aproximei dela para ver se ela precisava de alguma coisa.
-- Ei, tá sozinha aí por quê? -- Falei com um tom brincalhão, e ela deu de ombros, oferecendo um sorriso educado.
-- Não conheço muita gente ainda. -- Ela respondeu, tímida, e eu sorri.
-- Aluna nova? -- Ela assentiu, e eu ofereci uma mão para ela apertar. -- Professora nova. Estamos no mesmo barco. -- Brinquei, e ela finalmente sorriu, apertando a minha mão. -- Como você chama?
-- Duda. -- Ela respondeu automaticamente, mas arregalou os olhos. -- Maria Eduarda, na verdade. Mas todo mundo me chama de Duda.
-- Prazer, Duda. Eu sou a Sarah. -- Me apresentei e vi o reconhecimento nos olhos dela.
-- Você que treina o time de futebol, né? -- Ela falou com um sorriso mais largo. -- Eu começo hoje de tarde.
-- Isso mesmo. Já joga futebol? -- Perguntei, curiosa com o seu entusiasmo. Ela assentiu.
-- Eu jogava no time da minha outra escola. -- Ela explicou, uma nuvem de tristeza subitamente encobrindo seu sorriso. -- Mudei pra cá há pouco tempo.
Por isso que ela ainda estava deslocada, pensei comigo mesma. Deve ter começado há pouco tempo na escola. Antes que eu pudesse perguntar mais, uma voz interrompeu a nossa conversa.
-- Duda! -- Virei para trás e vi uma aluna negra magrinha vir correndo na nossa direção. -- Menina, peguei o maior trânsito. Trouxe o livro que eu te falei e... -- Ela finalmente notou que eu estava ali, e arregalou os olhos. -- Oi, professora, bom dia. Desculpa o atraso. Você é a professora nova, né?
Dei uma risada, e assenti. -- Sarah. E você é?
-- Alice. Monteiro. Tem outra Alice na turma. -- Ela explicou, rindo, e eu sorri, fazendo uma anotação mental de que, pelo visto, Alice Monteiro era a única amiga da Maria Eduarda, que tinha acabado de se mudar para cá.
-- Então vamos começar, meninas? -- Falei e chamei o resto da turma.
A aula transcorreu sem grandes problemas, mas eu percebi que um grupinho de meninas tinha decidido pegar no pé da Maria Eduarda. Pelo que entendi das provocações, a Duda tinha se mudado de outra cidade, e as outras meninas ficavam zombando deste fato. Tive que respirar fundo algumas vezes para não soltar os cachorros em cima dessas mimadas, e dei graças a Deus quando a aula terminou.
Minha manhã passou normalmente depois disso. Almocei com o Igor, Vitória e Viviane (ou Pocah, que ela dizia ser seu nome artístico), que era professora de dança. O Igor estava sendo um querido, e tinha me inserido na bolha dele naturalmente, e tanto ele quanto as meninas vinham fazendo eu me sentir super à vontade.
Eu pegava as meninas para o futebol do Ensino Fundamental II a partir das duas da tarde, e eu realmente esperava que a zoação não continuasse com a Duda. Sabia que uma das meninas daquele grupinho treinava agora, e a última coisa que eu queria era confusão.
Ofereci um sorriso quando avistei Duda e Alice chegando no campo. Elas deram um tchauzinho em cumprimento, e foram deixar suas mochilas nos bancos na lateral do campo.
Pelo visto Alice começaria hoje também, pois eu não a tinha visto nem segunda e nem quarta esta semana. Chamei as meninas para o meio do campo e pedi para as duas meninas se apresentarem rapidamente para o resto do grupo.
-- Meu nome é Alice, sou da 9C e tô aqui porque minha mãe mandou eu escolher um esporte ou eu ia ficar sem celular. -- Ela brincou e algumas meninas riram. -- Então aqui estou. Nunca joguei futebol na vida, então não me julguem, por favor.
-- Seja muito bem vinda, Alice. -- Eu disse com um sorriso, oferecendo um high five. -- Duda?
Ela corou um pouco e olhou timidamente para mim e depois para o grupo, respirando fundo.
-- Meu nome é Maria Eduarda, mas pode me chamar de Duda. Eu sou da 9C também e acabei de mudar pro Rio, e…
-- Roça! -- Valentina falou alto, tentando disfarçar com uma tosse.
-- Cala a boca, Valentina! -- Alice retrucou imediatamente, mas a menina apenas riu.
-- Valentina, isso não é brincadeira. -- Falei seriamente, mas ela só revirou os olhos. -- Nós somos um time e isso aqui é um ambiente de respeito. Estamos entendidas?
Ela assentiu, e eu toquei no ombro da Duda. -- Pode continuar, Duda.
-- Ah, era só isso mesmo. Eu jogava no time da minha outra escola, então tô animada pra jogar com vocês. -- Ela terminou com um sorriso tímido, e as meninas retribuíram, logo puxando assunto com ela.
Dei graças a Deus e fui preparar os cones para começar o aquecimento de hoje. Tudo correu bem até a hora de começarmos a jogar. Coloquei Valentina e Duda no mesmo time para tentar amenizar a rivalidade, mas não adiantou.
Toda vez que a Duda pegava na bola, Valentina imitava algum animal de fazenda, fazendo algumas das suas amigas rirem. Quando eu vi acontecer pela terceira vez, parei o jogo e chamei Valentina para a lateral do campo.
-- Eu já falei que aqui a gente tem que se respeitar e bullying não é tolerado em hipótese alguma. -- Falei com a voz firme, mas ela revirou os olhos.
-- Não é bullying. É só zoação. Todo mundo se zoa.
-- O que você tá fazendo é ofensivo, Valentina. Eu não vou tolerar isso no meu time. Estamos entendidas?
-- Estamos, desculpa. -- Ela falou sem encontrar meus olhos, e eu sabia que ela não estava nem aí.
Voltamos ao jogo, e Duda foi bater um escanteio, mas acabou pegando mal na bola.
-- Nossa, e ainda tem coragem de dizer que jogava no time da fazenda. -- Valentina gritou para ela. -- É isso que vocês chamam de futebol lá na roça?
Dessa vez a raiva levou a melhor com a Duda e ela quis partir para cima da Valentina. Se não fosse a Alice a segurando pela blusa, ela teria enfiado a mão na cara da outra menina.
-- Enfia essa roça e fazenda e o escambau no meio do teu cu, sua patricinha de merda. -- Duda gritou, tentando se desvencilhar da sua amiga.
Eu corri até a briga e me coloquei entre as duas, afastando uma da outra.
-- Ei, ei, ei, que isso? Qual foi a parte de nós somos um time e nos respeitamos que vocês não entenderam? -- Eu briguei, olhando principalmente para a Valentina, que tinha instigado a briga. -- Valentina, é a tua última chance. Mais uma e você vai pra coordenação.
-- Tá, tá. Desculpa. -- Ela falou, revirando os olhos. Meu Deus, essa menina estava me dando nos nervos.
Virei para a Duda, e senti meu coração apertar quando vi seus olhos cheios de lágrimas.
-- Ei, quer ir beber uma água? Respirar um pouco? -- Sugeri, mas ela sacudiu a cabeça. -- Eu sei que ela tá provocando, mas tenta não ceder. É isso que ela quer e não vale a pena. Tá bom?
Ela assentiu, e eu fui novamente para a lateral do campo, apitando para o jogo continuar. Alice fez um passe para a Duda, que fez um gol lindo, fazendo todas as meninas do time comemorarem, menos a Valentina.
Esta pegou a bola no gol e chamou a Duda, que estava comemorando ainda com as colegas. Eu vi a cena se desenrolar como em câmera lenta.
-- Ei, Duda. Pega essa, já que você é tão fodona. -- Ela falou e imediatamente chutou a bola com toda a sua força. Eu não tive tempo de reação, e muito menos a Duda, que levou a bolada em cheio no rosto, caindo no chão após se desequilibrar.
Saí correndo, preocupada que a Duda tivesse batido a cabeça, mas ela já tinha levantado e estava correndo em direção à Valentina. Graças a Deus eu consegui interceptá-la no meio do caminho. Ela ainda tentou se desvencilhar, mas eu a segurei firme.
-- Duda, por favor. Se você revidar, eu vou ter que suspender vocês duas. -- Eu avisei, e isso a fez parar. Olhei para o seu rosto vermelho de raiva, e novamente foi como se eu estivesse olhando para a Juliette, principalmente com esta tempestade de emoções em seus olhos.
-- Eu quero meter a mão na cara dela. -- Ela falou baixinho, sua voz carregada de raiva, mas eu ouvi, e a fiz olhar para mim para que eu pudesse ver o estrago. Parecia que ela tinha conseguido virar o rosto e a bola tinha pego na sua bochecha e maxilar.
-- Calma, respira, por favor. -- Eu pedi, tocando no seu rosto para virá-lo para a luz do sol. Como ela era bem branquinha, o hematoma já estava aparecendo. -- Você vai ter que ir na enfermaria. Consegue abrir e fechar a boca?
Duda o fez experimentalmente e assentiu. Eu suspirei aliviada. Pelo menos não parecia ter nenhuma fratura.
-- Alice! -- Chamei a amiga dela, que logo se apresentou ao meu lado. -- Leva a Duda na enfermaria pra fazer um gelo, por favor?
-- Claro, fessora. -- Alice concordou imediatamente, e buscou a mão de sua amiga.
-- Depois vai pra coordenação, tá, Duda? -- Gritei atrás delas, que só fizeram um sinal de positivo. Quando elas saíram do campo, eu virei para a Valentina, que ainda teve a pachorra de estar rindo com as amigas.
Tive que contar até dez.
-- E você, Valentina… -- Eu comecei, caminhando até ela. Parecia que a menina desconhecia a palavra limites. -- Você vem comigo pra coordenação.
-- O quê? -- Ela disse, chocada. -- Não vou mesmo.
-- Agora, Valentina. Eu não tô pedindo. Coordenação. Agora.
-- Você tem ideia de com quem você tá falando? Meu pai é dono de metade dessa cidade. Arcrebiano Araújo. -- Ela falou, inflando o peito como uma pomba. Eu revirei os olhos.
-- Não me interessa quem é seu pai. Coordenação. Agora. Não vou falar de novo. -- Apontei para a saída do campo, e quase sorri quando ela passou bufando por mim.
Gritei para as outras meninas para continuarem o jogo que eu voltaria já, e acompanhei a mimadinha até a sala da Teresa, a coordenadora do Ensino Fundamental II. Bati na porta e esperei até que ela mandasse a gente entrar. Valentina espumava de raiva do meu lado, mas eu ignorei. Quem essa pirralha pensava que era para tratar as pessoas assim?
Quando Teresa autorizou nossa entrada, abri a porta e meneei com a cabeça para Valentina entrar. Ela me olhou com raiva, mas passou debaixo do meu braço que segurava a porta.
Expliquei a situação rapidamente para a coordenadora, que imediatamente se dispôs a entrar em contato com os responsáveis de ambas as alunas.
-- Vou lá na enfermaria ver como a Maria Eduarda tá, Teresa. Se ela estiver melhor, já peço para ela vir para cá.
-- Tá bom, Sarah. E você, mocinha, pode aguardar aqui. -- Ela disse para Valentina, que cruzou os braços e sentou na cadeira, emburrada.
Fechei a porta da sala e fui andando pelo corredor, sacudindo a cabeça. Meu Deus, eu já esperava encontrar alunos difíceis, mas a Valentina tinha ultrapassado todos os limites hoje. Eu já trabalhava com adolescentes há três anos e já tinha aprendido a ter paciência, mas essa fedelha hoje realmente me testou.
Cheguei na enfermaria e encontrei Duda e Alice sentadas em uma das duas camas disponíveis, rindo de algo que viam no celular. Duda segurava um saquinho com gelo no rosto que já começava a ficar roxo, mesmo com a compressa.
-- Tá melhor, Duda? -- Perguntei, me aproximando da cama. Ela assentiu, tirando o gelo do rosto. Tinha um hematoma bem na altura do seu maxilar, se espalhando para a bochecha. -- Tá com muita dor?
-- O gelo tá ajudando. Você viu, né, professora? Ela que ficou me provocando. -- Ela já se defendeu e eu ofereci um sorriso. -- Eu não fiz nada.
-- Vi, sim. Não se preocupa que eu tô do teu lado. Mas quando acontece algo assim, o colégio tem que chamar os responsáveis dos dois lados. -- Eu avisei pra ela já se preparar para ver os pais na coordenação.
-- Minha tia vai me matar. -- Ela sacudiu a cabeça, mas gemeu de dor.
-- Tia? -- Perguntei quase involuntariamente, e vi sua expressão se fechar novamente.
-- É… eu perdi minha mãe há pouco tempo. Aí eu e meu irmão viemos morar com a minha tia aqui no Rio. -- Ela explicou, olhando para baixo, mas a tristeza em sua expressão era tão profunda que meu coração se partiu por ela. -- A gente já tá dando trabalho morando com ela e agora mais essa… -- Duda soltou um suspiro pesado.
-- Ô, querida, eu sinto muito mesmo pela sua mãe. Sei como é difícil perder alguém que a gente ama. -- Busquei sua mão e apertei, tentando confortá-la.
Eu sentia meu coração tão apertado, ainda mais agora sabendo que ela perdeu a mãe, que a minha vontade era de colocá-la no colo e protegê-la do mundo. Ela já estava passando por isso tão jovem. E aí além de ter que enfrentar uma escola nova, ainda tinha uma pirralha mimada pegando no pé dela.
Duda não respondeu, mas apertou a minha mão de volta. Vi que Alice passou o braço pelos seus ombros, e dei graças a Deus que pelo menos ela já tinha encontrado alguém aqui que pudesse lhe apoiar.
-- Eu vou lá dar uma olhada nas meninas e achar alguém pra terminar o treino com elas. Se tiver se sentindo melhor, pode ir andando lá pra coordenação e me espera lá. -- Eu falei, e ela assentiu.
-- Eu não vou ser suspensa, não, né, professora? -- Ela perguntou, e pela primeira vez senti a apreensão na sua voz.
-- Fica tranquila. -- Eu sorri, e fui caminhando até a porta. -- E, Duda? -- Chamei antes de ir e ela encontrou o meu olhar. -- Aquele gol foi incrível.
O sorriso dela foi imediato, e eu retribuí, feliz por ter conseguido amenizar um pouquinho que fosse da sua dor. Ela assentiu, a felicidade clara em seus olhos, e eu finalmente saí.
Ainda levei uns vinte minutos tentando achar a Vi para ficar com as meninas, e as deixei treinando tiro direto quando a minha colega chegou.
Voltei correndo para a coordenação, imaginando que a esta altura, os responsáveis das duas já teriam chegado. Quando cheguei, dei uma batidinha na porta e entrei.
-- Desculpa a demora, Teresa. Deixei a Vitória supervisionando as meninas lá. -- Eu me justifiquei, vendo que pelo visto, a tia da Duda já havia chegado e estava agachada na frente da minha aluna, de costas para mim.
Estranhei quando ela deu um pulo e levantou rápido, mas senti o ar faltar quando ela se virou e encontrou o meu olhar.
Meu Deus. Era ela. Juliette. Aqui, na minha frente.
Não, espera. Se Juliette era tia da Duda, então a minha aluna era filha da Julienne. Meu Deus.
Meu Deus.
Meu coração batia descontrolado dentro do peito e eu sabia que estava olhando para ela com olhos arregalados. Ouvi a Teresa nos apresentando, mas não consegui compreender as palavras.
Ficamos nesse transe pelo que pareceu uma eternidade, até que finalmente a Juliette conseguiu reagir.
-- Sarah. -- Seu peito subia e descia com sua respiração ofegante. -- Nossa. -- Ela massageou o peito como sempre fazia quando estava nervosa.
-- Tudo bem, Ju? -- Tentei falar de forma casual, mas tenho certeza que não passou de um sussurro sem forças.
-- Vocês já se conhecem? -- Teresa perguntou, intrigada, e eu finalmente consegui reagir e olhar para a coordenadora.
-- A gente… -- Comecei, e olhei de novo para a Juliette, que me encarava com um misto de emoções nos seus olhos tão expressivos. Não era à toa que a Duda me lembrava tanto dela.
-- Fomos colegas de faculdade. -- Ela respondeu por mim, e eu senti como se fosse uma facada no meu coração. Tentei encontrar seus olhos, mas ela já tinha se fechado novamente.
Colegas.
Nunca pensei que essa palavra pudesse me machucar tanto. Será que ela ainda me odiava, mesmo tantos anos depois?
-- Olha que coincidência boa. -- Teresa sorriu, mas foi interrompida quando a porta abriu novamente e um homem moreno de terno entrou.
-- O que houve dessa vez, Valentina? -- Ele perguntou e a menina apenas cruzou os braços.
Teresa explicou o acontecido para ambos os responsáveis, e eu reiterei a versão da Duda, contando exatamente como tinha acontecido. O pai da Valentina, o tal do Arcrebiano Araujo, deu em cima de mim, mas quase parecia querer pular em cima da Juliette como se estivesse no cio.
Vi como ela estava extremamente desconfortável, e revirei os olhos para ela durante as cantadas veladas que ele jogava. Ela sorriu involuntariamente, e por um momento, parecia que a gente tinha voltado no tempo.
No fim, Valentina foi suspensa por dois dias e a Duda foi liberada. Segui todos para o corredor quando a Teresa nos dispensou e tive que aguentar o Arcrebiano passar pela vergonha de pedir o telefone da Juliette e ser sumariamente rejeitado.
Alice esperava Duda do lado de fora, já com a mochila das duas, e eu sorri, agradecendo a gentileza dela com um aceno de cabeça.
-- Duda, já tá na hora da saída do Bê. Onde fica a sala dele? -- Juliette perguntou, e Duda apontou para o andar debaixo.
-- Terceira porta depois da escada. 2A. -- Ela explicou e Juliette assentiu. -- Posso encontrar com vocês lá no portão? Vou descendo com a Alice.
Juliette sorriu, dando dois beijinhos na minha aluna. -- Claro que pode. Muito prazer, viu, Alice.
A menina ainda olhava para ela com os olhos arregalados, com uma timidez que não lhe era característica, e eu tive que segurar uma risada.
-- O prazer é todo meu. Nossa, sou muito sua fã. Amo suas músicas. -- Ela falou com a voz quase tremendo. Depois deu um tapinha no braço da Duda. -- Não acredito que você não me contou que Juliette Freire é sua tia!
Duda revirou os olhos. -- Justamente por isso que eu não contei. -- Ela deu uma risada e puxou a amiga na direção da escada quando o sinal tocou.
Juliette riu quando elas desapareceram na multidão de alunos, sacudindo a cabeça.
E aí ficamos só nós duas. Eu sabia que precisava dizer alguma coisa, mas não tinha ideia de por onde começar.
-- Ju…
-- Quando você voltou? -- Ela perguntou de repente, me encarando com aqueles olhos tempestuosos.
-- Tem três semanas mais ou menos. -- Eu falei, minha voz apreensiva. Não consegui segurar seu olhar por muito tempo e desviei os olhos, meneando para ela me seguir.
-- Quase um mês… -- Ela comentou, olhando para mim de canto de olho. -- Nem passou pela sua cabeça me procurar? -- Ela disse, mas riu de si mesma. -- Que que eu tô falando? Se você não me procurou em quinze anos, por que procuraria agora, né?
Suas palavras foram como um soco no estômago. Se eu tinha alguma dúvida que ela ainda me odiava, elas foram sanadas agora.
-- Ai, Ju… eu sei que você tem todo o direito de me odiar e…
-- Eu não te odeio, Sarah. Eu nunca consegui te odiar, e olha que eu tentei. -- Ela sacudiu a cabeça. -- Mas você me destruiu quando foi embora do nada. Nem tchau, Sarah. Nem uma mensagem.
-- Desculpa, Juliette. Eu sei que não adianta agora, e aqui nem é o melhor lugar pra gente ter essa conversa, mas eu queria te pedir desculpas do fundo do meu coração. De verdade.
-- É… -- Ela fechou os olhos quando paramos em frente à sala da 2A, passando a mão pelos seus cabelos em um hábito nervoso. -- Sinceramente, eu não tô com cabeça pra essa conversa agora, Sarah. Sério mesmo. E não tô falando isso pra te machucar.
Assenti. -- Eu entendo. Eu soube da Julienne. Eu sinto muitíssimo pela sua irmã. -- Estiquei a mão para tocar no seu braço, mas recuei no último segundo. Juliette olhou para mim e seus olhos se encheram de lágrimas, seu lábio inferior tremendo. -- Ô, Ju…
Desta vez não hesitei em lhe dar um abraço, mesmo estando apavorada dela me rejeitar. Mas logo senti seus braços em volta da minha cintura, e por um momento parecia que nada tinha mudado. Que ainda éramos aquelas meninas de dezenove anos cheias de sonhos.
Nosso abraço foi breve, pois logo escutamos uma criança chamando por ela, e um menino moreno com os olhos azuis mais lindos veio correndo na nossa direção, se jogando nos braços dela.
-- Tia Ju! -- Ele olhou para ela com tanto carinho que eu até me emocionei. -- Não sabia que você vinha buscar a gente hoje.
-- Sua irmã teve um problema no treino, aí saí mais cedo do trabalho. -- Ela passou a mão pelos cabelos dele e sorriu. -- Bê, essa aqui é a Sarah, professora da sua irmã e uma amiga antiga da tia. Sarah, esse é o meu sobrinho, Bernardo.
-- Prazer, Bernardo. -- Falei com um sorriso e ele retribuiu, me mostrando uma janelinha na arcada de baixo.
-- Oi, tia Sarah. -- Ele disse timidamente, escondendo o rosto na barriga da Juliette.
-- Bom, eu preciso voltar lá no campo pra liberar as meninas. Juliette, quando você quiser conversar… -- Eu comecei a falar, mas não soube direito o que oferecer.
Mas ela me surpreendeu e me ofereceu seu celular.
-- Salva teu número aí. Deixa passar um pouco esse turbilhão, que a gente marca um dia. -- Ela ofereceu, e eu assenti, salvando o meu número antes de dar um toque no meu. -- Desculpa qualquer coisa com a Duda hoje. Não tem sido fácil e…
-- Nada do que aconteceu hoje foi culpa dela, não se preocupa. Faz um gelinho no rosto dela esse fim de semana, que logo some o roxo.
Ela assentiu e levantou a mão para dar um tchauzinho, começando a caminhar em direção à saída. Meu coração ainda batia descontrolado no peito, uma angústia enorme se formando.
-- Juliette! -- Chamei, sem conseguir segurar minha língua. Ela virou, surpresa, ainda com o braço em volta dos ombros do seu sobrinho. -- Espero que um dia você possa me perdoar. -- Falei, tentando encontrar seu olhar. Ela apenas me deu um sorriso triste.
-- É… eu também, Sarah. Eu também.
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Terminei a sexta-feira sozinha em casa na companhia de um vinho tinto, da Lua e do Pudim. João foi dormir na casa do namorado e meu primo Gil até me chamou para sair, mas eu não tinha nenhum pique.
Depois de tudo o que aconteceu hoje, o que eu mais queria era ficar quieta no meu canto e ir dormir o mais rápido possível. Com a casa vazia, eu me permiti chorar por tudo. Pela Juliette, pela Duda, pelo meu erro há quinze anos, e principalmente pelo que eu tinha sofrido com o babaca do Lucas.
Pensei no meu pai e como ele nunca aceitaria o fato de eu ter deixado meu marido. Mas ele não estava aqui para me julgar e dar pitaco na minha vida. E por mais que eu o amasse, suas crenças não estavam mais presentes na minha vida há muito tempo para me julgar e fazer eu me sentir culpada.
Ver a Juliette hoje trouxe tudo isso à tona novamente, e eu percebi que sua presença continuava mexendo comigo, mesmo quinze anos depois. Estar perto dela fazia meu coração acelerar, meu ventre se contrair, por mais que eu não quisesse.
Por mais que a minha mente racional - e os ensinamentos do meu pai - gritassem que eu não deveria ceder. Que era errado. Que era pecado.
Mas meu corpo e meu coração diziam outra coisa. Sempre disseram. Ver a Juliette hoje só desenterrou tudo aquilo que eu achei que estava há muito tempo enterrado a sete palmos.
Não que isso fizesse qualquer diferença. Juliette tinha deixado claro que ela não me queria por perto. Eu salvei o número dela, e até mandei uma mensagem para ela, só para saber da Duda - ou com o pretexto de saber da Duda.
Nem esperava que ela respondesse, para falar a verdade. Terminei minha taça de vinho e fui dormir. Queria acordar cedo para correr na praia com a Lua, para poder expurgar de uma vez por todas tudo que aconteceu.
O exercício era a única forma que eu conhecia de extravasar minhas emoções, então era nele que eu iria me escorar. Acordei cedo no sábado e às oito já estava na praia com a Lua. Corremos o calçadão inteiro de Copacabana, antes de descer com ela para areia. Deixei a minha filhota se divertir no mar por alguns minutos, enquanto eu sentava em uma canga na areia, pegando um pouco de sol.
Na volta, passei em um pet shop para ela tomar um banho. Do jeito que ela estava cheia de areia, o Gil e o João me matariam se eu permitisse que ela entrasse no apartamento assim. Mas tudo bem, minha Lua estava feliz e era isso que importava.
Passei o resto do dia arrumando minhas coisas e nem olhei meu celular, e me surpreendi quando o João chegou em casa no fim da tarde dizendo que iríamos sair.
-- Uma amiga minha acabou de mudar pra um apartamento novo e hoje é meio que o batismo da casa, sabe? Vamos, Sarita? Vai ser legal. -- Ele convidou, mas eu ainda fiquei meio assim de ir na casa de alguém que eu não conhecia.
-- Ah, Sarah, vamos? Eu ia ficar de bobeira mesmo porque o meu bombom trabalha hoje. -- Gil incentivou, e eu soltei um longo suspiro. -- Vamos, mulher, quem sabe você conhece o amor da sua vida?
Eu soltei uma gargalhada. -- Tô meio desacreditada disso aí, Gil. Mas tudo bem. Que horas?
João abriu o maior sorriso. -- Agora, ué. Ela marcou às oito, mas eu ainda queria passar ali no seu Zé pra encomendar uns salgadinhos. Bora?
Com isso fui despachada para o banheiro para tomar um banho e me arrumar. Decidi por um vestido leve e soltinho verde claro, que todos sempre falavam que realçava os meus olhos.
Menos de uma hora depois, eu já estava pronta com uma maquiagem leve, um vestido e uma rasteirinha para aguentar a noite quente de março no Rio de Janeiro. João nos levou até o bar na esquina do nosso prédio, e eu aproveitei o tempo que a gente esperava pelos salgadinhos para olhar meu celular, que eu não tinha nem tocado o dia todo. Vi que tinha algumas notificações do WhatsApp, mas até onde pude ver, eram só grupos, então apenas apaguei o alerta na barra de notificações. Resolvi então entrar no Instagram.
Pela primeira vez em muitos anos, a minha curiosidade foi maior e eu busquei o nome da Juliette. O perfil dela logo apareceu e eu arfei em choque com a quantidade de seguidores que ela tinha. Trinta e três milhões de pessoas. Meu Deus.
Respirei fundo e toquei no botão de seguir. Meu coração estava acelerado, mesmo sabendo que ela nem se daria conta de que eu tinha a seguido. Mas para mim, isso era um passo gigante.
As fotos e vídeos dela eram incríveis, e eu passei os dez minutos seguintes rolando pelo perfil dela. Ela realmente continuava linda e exatamente a mesma pessoa espontânea e divertida que ela era aos dezenove anos.
-- Vamos, Sah? -- João interrompeu meus pensamentos, e eu quase dei um pulo da cadeira. João riu da minha cara. -- Calma, mulher. Tá devendo alguma coisa, é? -- Ele brincou e eu dei um tapa no seu braço com uma risada. -- Bora? O Uber tá chegando já.
Vinte minutos depois, estávamos desembarcando em frente a um prédio luxuoso na praia do Leblon. Olhei para cima e vi as varandas amplas e luxuosas e questionei a mim mesma quem poderia ser essa tal amiga do João.
Quando estávamos no elevador, meu primo não aguentou o suspense.
-- Sério, amigo. A gente tá indo na casa de um famoso, né? Porque só famoso tem bala na agulha pra morar aqui, não é possível. -- Gil disse, se olhando no espelho. Eu encarei meu reflexo no espelho, ajeitando meu cabelo, e vi quando João sorriu aquele sorriso bem safado.
-- Então, amigo, sabe a Juliette Freire? Ela mudou pra cá há umas duas semanas. -- Ele falou, esperando atentamente à reação do Gil.
Meu primo não decepcionou e logo soltou um gritinho nervoso, mas eu mal escutei. Meu coração batia a mil por hora no peito, e eu senti toda a cor sumir do meu rosto.
Olhei em volta no elevador, sentindo como se as paredes estivessem fechando em cima de mim. Meu Deus, eu não podia fazer isso. A Juliette não queria me ver nem pintada de ouro, e agora eu chegaria de surpresa na casa dela?
Não. Não. Eu não poderia fazer isso. De jeito nenhum.
-- Ei, Sarah. Calma. Ela sabe que vocês vêm. Não precisa se preocupar. -- João falou com um sorriso, tocando no meu braço. Eu sacudi a cabeça.
-- Eu não posso, João. Você não tá entendendo. -- Eu tentei respirar fundo, mas meu coração até errou as batidas quando a porta do elevador abriu na cobertura.
-- Relaxa, amiga. A Ju é super de boa. Bem gente como a gente mesmo. -- Ele falou, abrindo a porta. O apartamento estava com a porta aberta enquanto uma moça loira cumprimentava alguém dentro do imóvel. -- Carlinha!
João chamou, e eu achei que eu iria desmaiar a qualquer momento. Carla virou e seus olhos se arregalaram quando ela me viu.
-- Meu Deus. É a Sarah. -- Carla falou, cobrindo a boca com uma das mãos. Sua surpresa fez com que a pessoa com quem ela estava falando olhasse para o corredor.
Os olhos castanhos encontraram os meus, e a única coisa que eu consegui fazer foi oferecer um sorriso de desculpas.
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