O Nosso Fio Vermelho

By imakinox

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"Um fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se... Independentemente do tempo, lugar ou circu... More

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— Quê?! — Eren soltou, totalmente surpreso com tudo aquilo. — Você está brincando comigo, não é?

Antes que Levi pudesse responder, Erwin e Hange entraram eufóricos no quarto, atraindo o olhar do casal.

— Levizinho, meu amor! Como você está? — Hange dizia animada.

— Você está bem? Sente alguma dor? — Erwin quem questionou.

Eren olhava atentamente. Será que Levi se lembraria deles? Engoliu seco, o coração já apertado por estar naquela situação.

— Eu tô bem, a cabeça só dói um pouco — Levi respondeu calmo. — O que aconteceu, Erwin? Só me lembro de dar de cara com um caminhão.

— Levi, você acabou sofrendo um acidente muito grave. Já é um milagre ter saído vivo, a frente do seu carro ficou completamente destruída. — Hange disse ocultando totalmente a parte de que o carro havia sido sabotado, ele tinha acabado de acordar e seria muita informação. — Você se recuperou muito rápido, surpreendeu a todos nós.

— Eren vinha te ver todos os dias e ficava o fim de semana todo com você, esperando que acordasse ou tivesse algum sinal de melhora — Erwin quem disse, se aproximando da cama.

Levi os encarou, confuso.

— Eren? Quem é Eren, Erwin?

Erwin e Hange se encararam confusos.

— Levi... Ele é o Eren, seu namorado — a morena apontou para Eren que estava quieto, do outro lado do quarto. — Você não se lembra?

Levi o encarou, confuso. Namorado? Não se lembrava de absolutamente nada dele, mas as esmeraldas verdes brilhavam de forma tão intensa que se viu preso naquela intensidade por alguns segundos.

— Eu... Eu não lembro — soltou um sopro, levando a mão até a cabeça.

— Como assim, não lembra? — Erwin questionou, preocupado. — Você sabe sua idade? Sua altura? Que chá é o seu preferido?

— Sim, sim e sim — respondeu seco.

— Me responde, então.

— Trinta anos, um metro e sessenta e chá preto. Você sabe disso, não é novidade — revirou os olhos, se ajeitando melhor ao se sentar.

Hange olhou para Eren e para Erwin, os olhos estavam preocupados e atentos, encarando Levi meio temerosos.

— Erwin, vamos comprar alguma coisa? — Hange disse, fazendo um sinal com a cabeça para deixá-los sozinhos.

Logo o casal saiu, indo atrás de um médico para falar sobre o que havia acontecido.

Eren e Levi ficaram sozinhos dentro do quarto em completo silêncio.

— O que foi que tá olhando? — Levi questionou, apoiando as costas na cabeceira da cama do hospital.

— Você... Você não lembra de nada mesmo, Vi? — Eren ainda estava incrédulo.

— O que é Vi? — Levi questionou.

— É um apelido que eu dei para você... — Eren dizia de forma sussurrada e totalmente triste. Suspirou fundo, mas lembrou-se das fotos em seu celular e pegou o aparelho rapidamente, indo até a galeria e pegando uma do dia do aniversário de Ymir. — Viu? Nós namoramos — mostrou várias outras fotos dos dois juntos.

Levi olhou o aparelho, totalmente confuso e com sua cabeça doendo horrores. Olhava as fotos, desacreditado. Viu uma foto do casamento de Erwin e Hange, lembrava-se de alguns momentos apenas, outros eram um breu terrível em sua mente, como se apenas algumas memórias específicas fossem perdidas. Olhou a foto do aniversário da pequena Ymir e lembrou-se da menininha falar "titio Levi", mas não se lembrava de forma alguma de Eren.

O que estava acontecendo? Olhou novamente para ele, mesmo que fossem namorados, por que não se lembraria? Fez um sinal apontando parao celular para que Eren parasse de mostrar aquelas coisas e viu uma aliança prateada no dedo anelar da mão direita do mais novo. Era uma aliança de compromisso linda, fina e bem minimalista. Olhou para sua própria mão, vendo que seu dedo anelar estava levemente marcado, como se usasse mesmo um anel fino ali diariamente.

Por que não se lembrava?

— Garoto — chamou. — Olha, realmente tínhamos algo, mas eu não me lembro de nada... Como isso é possível? — encarava a palma da mão em um costume que há meses não fazia.

A sensação de que uma parte dentro de si estava vazia se alastrava por toda sua alma, sentindo uma solidão incômoda e não soube ao certo dizer o porquê daquilo. Era como se faltasse alguma coisa. Sentiu o peito apertar e engoliu seco.

— Tá tudo bem... — Eren suspirou fundo, sentindo o nó na garganta voltar. — É melhor eu deixar você sozinho um pouco — dizendo isso, ameaçou sair, mas sentiu um toque na sua mão.

Olhou para Levi quase que imediatamente. Olhos azuis cinzentos nos verdes esmeraldas como se avaliassem tudo um do outro. De repente não se lembravam mais que estavam naquele quarto minúsculo de hospital, pois se viam imersos em uma conexão sobrenatural e a atmosfera que os rondava era tão familiar que os segundos pareceram anos.

Levi naquele instante soube que a relação que havia tido com aquele jovem de olhos esmeraldas não era simples e rasa; era profunda, intensa e diferente de qualquer coisa que experimentou na vida. Sentiu o coração bater forte ao se ver perdido naqueles olhos grandes e brilhantes. Pareciam que eram as janelas da alma mais bela e pura do mundo todo e aquele olhar emitia tantos sentimentos que jurava que conseguia pontuar um por um.

Era como se conseguisse sentir o que ele sentia, como se pudesse comunicar-se somente pelo olhar e tinha a certeza que se tentasse, conseguiria. Sentimentos de confusão, tristeza e amor eram emitidos com intensidade através das esmeraldas. O toque nem foi algo profundo, somente algo superficial como um toque no punho e estava tão preso naquela intensidade injusta que sentia-se minúsculo ao encarar aquele garoto.

Ele era lindo, não havia dúvidas. Pele bronzeada, cabelos longos cor chocolate, olhos verdes vivos. Ficou pensando como algum dia havia conseguido chamar a atenção e até mesmo namorar com ele, o pirralho era um baita de um gostoso.

Por mais que não se lembrasse, aquele garoto o atraía de uma forma diferente e intensa demais.

— Qual o seu nome, garoto? — Levi questionou depois de um tempo.

— É Eren — disse, soltando o ar que prendia ao se ver tão perdido e imerso naqueles olhos azuis.

Dizendo isso, saiu, deixando Levi sozinho.

Logo Hange e Erwin voltaram com o doutor responsável pelo caso do amigo, contando o que havia acontecido e Levi foi submetido a uma bateria de exames novamente para checar se algum resultado estava errado ou não. Teve também uma avaliação com o fisioterapeuta para ver o que deveria ser feito e se o caso era grave – agradeceu aos céus que não, mas não conseguia segurar as coisas com a mão direita e achou isso levemente preocupante.

Mesmo estando ocupado recebendo diversas perguntas do médico, fazendo diversos exames e sendo avaliado, não conseguia tirar a imagem de Eren da cabeça e como aquilo o intrigava.

Por que parecia que, de alguma forma, tudo pendia para que esquecesse apenas dele? Não conseguia entender o motivo daquilo. Lembrava de tudo de sua vida, só não lembrava de nada relacionado ao garoto.

Estava confuso com tudo e mais ainda quando ouviu do médico que seus novos exames mostravam que estava tudo certo com ele e com sua cabeça, não havia motivo para o esquecimento apenas de uma pessoa e, na verdade, nunca viram aquilo acontecer.

O médico deixou Levi imerso nos próprios pensamentos e saiu, indo dar as notícias para Eren, que era o único que ainda estava ali.

— Sr. Jaeger, boa noite. Acabamos de realizar os exames e ao que tudo indica está tudo ok. Refizemos principalmente os exames voltados para a cabeça e cérebro e está tudo em perfeita ordem. Não sei o que aconteceu para que ele não se lembre unicamente de você. Pode ser algum estresse pós traumático, não sei dizer. Amanhã ele terá consulta com o psicólogo e começará as sessões de fisioterapia. O horário de visitas está acabando, caso queira se despedir...

Eren apenas concordou e quando foi entrar, o doutor o barrou. — Tenha paciência, esse tipo de situação é bem delicada.

Eren viu o médico sair e entrou na sala, vendo Levi olhando para a palma da própria mão e suspirando pesadamente.

— Hange e Erwin tiveram que ir mais cedo, por conta da gravidez ela precisa ficar de repouso — comentou, chamando a atenção do baixinho para si. — Achei melhor avisar que estou indo embora — comentou calmo.

— Certo... — Levi assentiu com a cabeça.

— Te ver com o cabelo grande sem o penteado habitual é estranho... — Eren soltou um riso nasalado.

— Preciso cortar, mas não consigo segurar as coisas direito ainda com a mão devido as fraturas do braço.

— Eu posso fazer isso pra você — Eren se dispôs.

— Não precisa. É melhor você ir.

— Mas...

— Boa noite, garoto.

Eren nada disse, somente concordou com a cabeça e antes de sair parou na porta, olhando por cima do ombro e suspirou.

— Boa noite.

________

Nas semanas seguintes Eren tentou, mas muito, alguma aproximação com o baixinho. Os médicos não conseguiam entender o que estava acontecendo ou o motivo da perca de memória "seletiva". Levi passou pela psicóloga hospitalar apenas para uma avaliação e a mesma viu que não havia nada de errado, pelo contrário, ele parecia bem resolvido quanto a tudo.

As sessões com o fisioterapeuta não estavam progredindo muito, principalmente quando encontrou grande dificuldade em fechar os dedos da mão direita ou fazer movimentos simples como dedilhar. Já as pernas, conseguiu andar até que rápido na perspectiva do fisioterapeuta e agradecia aos céus que sua regeneração fosse boa o bastante para aquilo. Não andava longas distâncias e também não tinha se arriscado a correr, mas já era o suficiente para se virar sozinho caso recebesse alta.

O máximo que Eren conseguiu chegar foi levá-lo para dar uma volta no jardim do hospital na cadeira de rodas em um fim de tarde. Vez ou outra conseguia uma conversa longa e em uma dessas conversas Levi disse o que Eren já sabia, mas ouviu com toda a atenção do mundo: que ele gostaria de abrir uma loja de chás e ser professor de música, mas não demorou muito e o baixinho ficou quieto novamente, o ignorando ou sendo seco.

Não podia negar, estava ficando cansado. Fez absolutamente de tudo para que ele se lembrasse, mas nada acontecia. Erwin e Hange, Hitch e Marlo tentavam alguma coisa, sem sucesso também.

A data para ir para Shiganshina estava próxima e toda aquela situação estava desgastando-o ao extremo. Não conseguia dormir direito, não conseguia se concentrar no trabalho e estava sem ânimo algum para o que quer que fosse.

Levi ainda continuava internado, mas em um quarto comum apenas para os médicos observarem melhor o quadro e suas evoluções. Por mais que o Ackerman se negasse a aceitar, sempre que estava nas suas sessões diárias com o fisioterapeuta esperava ver o garoto de olhos esmeralda cruzar a porta de vidro e a abrisse para acompanhar a sua pequena evolução – era o horário que Eren saía do trabalho e ia direto, apenas para ficar mais tempo com o baixinho –, afinal, era a única companhia que tinha, já que não era todos os dias que seus amigos iam visitá-lo

A sessão aquele dia não estava correndo muito bem, principalmente quando tentou pela quarta vez apertar uma bola pequena entre os dedos sem muito sucesso e a mesma caiu no chão segundos depois.

— Levi, isso é normal acontecer, mas preciso que leve a sério. Você já está andando e creio que logo receberá alta caso se esforçar.

Levi estava de mau humor e isso estava estampado em seu rosto. Apenas concordou com a cabeça e suspirou fundo, tentando pegar a bolinha mais uma vez. Estava preocupado, se não conseguia apertar uma bola com a mão, quem dirá dedilhar perfeitamente como dedilhava há meses atrás. Sua mão era a parte mais importante de seu corpo, já que o talento transbordava dos seus dedos.

O fisioterapeuta vendo que Levi estava irritado o suficiente ao ponto daquela sessão não ser nem um pouco produtiva, resolveu parar antes do esperado.

— Levi, terminamos por hoje, mas tente relaxar um pouco e desestressar, isso pode prejudicar as próximas sessões — disse preocupado, se levantando. — Você consegue ir até seu quarto sem aquele moço?

Levi parou para pensar. Eren ainda não havia aparecido e ficou sentado ali. Talvez ele devesse esperá-lo, já que não tinha muita coisa para fazer a não ser ficar deitado naquela cama horrível de hospital.

— Vou ficar aqui por mais um tempo — disse. — Pode ir, eu me viro sozinho.

O fisioterapeuta apenas assentiu com a cabeça e saiu, sabendo que o paciente possivelmente esperaria a sua visita diária ali. Levi era uma pessoa reservada e sabia que seu mal humor era devido a preocupação de não ver muitas melhoras na mão direita, principalmente por ser um pianista brilhante e bem conhecido, e sabia que ele estava colocando uma pressão e um peso sobre seus ombros muito pesado por se cobrar demais devido a isso.

Levi ficou sozinho novamente e a cada dia que se passava sentia um vazio crescer em seu peito de forma inexplicável. Apertava e doía, além de fazer com que um nó se formasse em sua garganta toda vez que via o jovem Eren sair ou chegar em seu quarto. Aquele garoto despertava muitas coisas nele e queria – e como queria – resolver toda aquela situação, mas não via como.

A tensão sexual existia e era bem quente. Seu corpo parecia um imã contra o dele, sendo puxado e atraído de uma forma não muito normal e que sabia que seria perigosamente delicioso caso provasse o gosto daqueles lábios que, em algum momento da sua vida, experimentou diversas vezes.

Erwin havia contado toda a história dele com Eren e surpreendeu-se com cada coisa dita pelo amigo, desde a forma que se conheceram até os dias antecedentes o acidente. Pelo que o loiro dissera, se davam muito bem e combinavam demais.

A mesma história foi confirmada por Eren uma outra hora, com mais riqueza de detalhes do que a contada pelo amigo em coisas que somente o casal saberia.

Mas por que não se lembrava disso?

Olhava para a palma da própria mão, perdido em pensamentos e nem viu quando Eren se aproximou e sentou-se no banco ao seu lado.

— Oi, boa tarde — Eren sorriu. — Eu trouxe uma coisa para você — estendeu um copo branco tampado com a logo de um café qualquer. — É chá preto. Você gosta bastante dessa cafeteria.

— Boa tarde — Levi sussurrou de volta, se surpreendendo com o pequeno presente. — Obrigado — pegou o copo, levando até a boca e provando o gosto. Era ótimo. Deu mais uns goles e Eren sorriu de orelha em orelha.

— Acabou mais cedo hoje?

— Sim. Eu não estou muito bem e o fisioterapeuta achou melhor pararmos por hoje... — comentou.

— Você está se sentindo bem? Está com alguma dor?

— Está tudo bem, fique tranqüilo. O chá é ótimo, obrigado.

Eren apenas sorriu, se espreguiçando no banco. Estava tão cansado aquele dia, mas mesmo assim se esforçou para ir até o hospital e ver Levi. O local não era tão distante do seu trabalho e nem da sua casa, na verdade ficava no meio do caminho.

Estava sendo bem paciente. Não tentou beijar Levi uma vez sequer ou tentar toques mais profundos, já que os superficiais por muitas vezes eram quebrados rapidamente; porém, toda aquela situação estava deixando-o frustrado e a ponto de desistir.

— Eu não sei quando você vai voltar para seu apartamento, mas tem algumas roupas suas que eu peguei para lavar... Os pertences que você usava no dia do acidente estão em cima da mesa de jantar...

Levi o encarou com a sobrancelha arqueada. — Você entrou no meu apartamento?

— Sim, você me deu as chaves antes do acidente e eu tive que entrar, você precisava de umas trocas de roupas e eu precisava levar também todas as suas coisas...

— Se você namorasse mesmo comigo, saberia que... — foi interrompido.

— Se eu namorasse, Levi? — Eren parecia cansado. — Na minha cabeça ainda namoramos. Olha esse anel no meu dedo, está vendo? Foi você quem me deu. Está vendo essa pulseira vermelha? Você quem me deu. Quando eu disse que namoramos, eu estava falando sério.

— Tá e você quer que eu faça o que? — Levi arqueou a sobrancelha.

— Me dê alguma abertura! Me diz, você ainda se sente atraído por mim como eu me sinto por você? — Eren se aproximou.

— Isso é coisa de pirralho que... — foi interrompido quando sentiu os lábios de Eren sobre os seus rapidamente, deixando um beijo simples e rápido. — Que porra você pensa que está fazendo?

— Não sente nada? — Eren o encarou.

— Já falei, que caralho — ergueu o tom de voz. — Se a gente já teve alguma coisa antes, que bom, mas agora não dá. Está tudo muito confuso na minha cabeça. Eu me sinto incrivelmente atraído por você de uma forma que não sei explicar, mas não me lembro de nada! Se você era tão importante, eu deveria me lembrar de alguma coisa, não é? Adivinha? Eu não lembro de nada.

Aquelas palavras acertaram Eren profundamente, fazendo-o encarar Levi extremamente chateado.

— Isso não é justo. Eu estou vindo aqui todos os dias fielmente te ver, falar com você, mas parece que você não dá a mínima para isso. Sempre trago algum presente para te agradar, mas você nunca cede. Me dói saber que você não se lembra de nada, pior ainda é saber que iríamos nos casar! Isso machuca, sabia? Você um dia dizer que me ama e no outro não se lembrar... — desabafou sôfrego. Já estava sem forças para continuar com aquilo.

Levi parou no mesmo momento quando ouviu "iríamos nos casar". O quão longe havia ido com aquele garoto? Levou a mão até a cabeça, sempre doía quando estava perto dele.

Casar era um passo muito longo, de fato era. O quão envolvidos estavam os dois a esse ponto?

— Você quer ir até o quarto? — Eren perguntou após um longo silêncio esperando uma resposta que não viria, ficando em pé.

Odiava quando Levi não o respondia, isso o lembrava de uma época difícil que já havia esquecido há muitos anos.

Levi apenas concordou com a cabeça, se levantando após ver o moreno em pé. Eren começou a andar de forma lenta para que o baixinho o acompanhasse. Foram andando entre os corredores em completo silêncio lado a lado, ambos perdidos nos próprios pensamentos.

Logo chegaram no quarto e Levi sentou-se na cama, encarando Eren.

— Erwin e Hange disseram que viriam te ver hoje, vou esperar até que eles cheguem — Eren disse de forma calma, mas a fala carregava certa mágoa.

— Ok.

— A barriguinha já está começando a apontar — Eren comentou animado, lembrando-se da amiga sorridente.

— É verdade — Levi concordou com a cabeça.

Eren soltou um suspiro longo. Levi só conversava quando não era relacionado aos dois ou a ele mesmo, mas se perguntava até quando seria isso. Olhou para o relógio na parede do quarto e por um minuto pensou que o tempo estava passando incrivelmente devagar, se sentindo sufocado em certo momento.

Seu interior gritava que faltava alguma coisa e por mais que estivesse ao lado de Levi naquela cama, não se sentia da mesma forma de quando namorava ele, ou melhor, antes desse acidente.

Lembrou-se que Uri havia contado tudo para Levi algumas semanas atrás e com uma sorte muito grande de uma ligação feita momentos antes, conseguiu avisar o condomínio onde o baixinho morava para proibir permanentemente a entrada de qualquer pessoa que não fosse ele e Eren e que se aparecesse qualquer um do trio que armou contra o Ackerman era para a polícia ser acionada no mesmo momento. Pareceu funcionar, pois Farlan havia ido até o prédio para executar a parte do plano; no entanto, ao ser barrado pensou que poderia ter acontecido algo grave que colocasse sua liberdade em risco e saiu dali antes mesmo da polícia aparecer, sumindo do mapa. Uri sempre os atualizava da situação, aparecendo pelo menos uma vez a cada duas semanas.

— Hum, não sei se deveria falar isso, mas logo estarei me mudando — Eren disse, quebrando o silêncio. — Irei para Shiganshina.

— Entendo. Emprego? — Levi questionou.

— Sim, então provavelmente eu não virei mais aqui e te deixarei em paz, que é o que você quer — falou amargurado.

Levi nada disse, ficando em silêncio. Aquilo havia mexido com ele de alguma forma, mas era tão difícil se abrir, mesmo sabendo que já haviam namorado ou estavam namorando, que seja. Sua mente estava confusa com tudo aquilo ainda e por mais que todos dissessem para que ele desse uma chance, alguma abertura, sabia que não seria fácil.

Nunca era, no fim.

— Escuta, pirralho — Levi começou. — Eu gostaria, mesmo, de lembrar o que quer que seja que a gente tinha. Não sou otário de brincar com o sentimento de outra pessoa a esse ponto, mas não é como se eu conseguisse me abrir contigo ou coisa do tipo e olha que eu já tentei — foi sincero.

— Você nem passou perto de tentar — Eren deu de ombros. — Você está parecendo... — parou de falar, tentando segurar a língua, mas tarde demais.

— Parecendo? — Levi arqueou a sobrancelha. — Parecendo o que, Eren?

— Parecendo você de quatro anos atrás que ficava me escondendo as coisas ou não respondia às minhas perguntas. Eu estou te dando abertura, espaço e tempo. Eu sou muito paciente, mas eu tô me cansando, sinceramente...

— Se você não sabe esperar ou está cansado, a porta é logo ali — Levi apontou, sentindo o sangue ferver.

A culpa não era dele, não mesmo. Não se lembrava porque não queria, mas porque alguma coisa havia acontecido que nem mesmo os médicos podiam explicar. Era uma situação complicada e mesmo que entregar-se para ele fosse a coisa mais plausível a se fazer, era como se algo o bloqueasse depois de tudo; porém, a conexão estava ali, forte e poderosa quase toda a vez que seus olhos se cruzavam.

— É fácil para você falar, não é? — Eren começou. — Você já fez isso uma vez — lembrou-se do passado pela primeira vez há muito tempo.

O perdão, para Eren, significava colocar uma pedra em cima de tudo o que já aconteceu e esquecer. Hoje, mais maduro e mais velho, tinha a consciência de que todos mereciam uma segunda chance, seja lá para o que for. A dor de ver a pessoa que se ama beijar outra era terrível, levando em conta toda a relação que tinham e por mais que não namorassem ou tivessem algo assumido, levava aquilo a sério e sentiu-se traído.

Agora estava acontecendo ali, novamente. Dessa vez não havia traição, mas as palavras cortavam mais do que qualquer coisa seu coração.

— Acha que perdeu seu tempo comigo, garoto? — Levi perguntou, sentindo-se abalado com aquela conversa, mas não medindo nem um pouco as palavras que saíam de sua boca. — Se acha isso, sai daqui e vai viver a sua vida, inferno. Você é novo e tem muita coisa pela frente. Eu não lembro. Não consigo lembrar, não me lembro de você. A vida é assim, nem tudo é do jeito que a gente quer — olhou para a mão direita, fechando-a e vendo uma dificuldade nisso. Talvez a frustração que sentia em relação aquela situação com sua mão estava apenas potencializando toda a confusão em seu interior e estava descontando em Eren.

Eren ouviu tudo atentamente, engolindo seco. Sabia que Levi não falaria algo do tipo e sabia que provavelmente era devido a tudo que estava acontecendo ultimamente, mas mesmo assim não deixou de se chatear.

— Eu te amo muito ainda, Levi. Sei que vai se arrepender dessas palavras — olhou para o baixinho e foi rumo à porta. — Eu espero que você melhore e saia daqui logo. Se você se lembrar sabe onde me encontrar, ficarei aqui na cidade por mais um mês e meio. Vou esperar por você todos os dias, por mais que isso doa de alguma forma.

Dizendo isso, Eren foi para fora do quarto e ao sair viu Hange e Erwin parados no corredor. Aparentemente haviam escutado tudo, pois os olhares estavam preocupados.

Não disse nada, apenas acenou com a cabeça e saiu.

As palavras de Levi haviam o atingido de uma forma muito dolorida. Sabia que aquele não era o Levi que namorou, não era o seu Vi, não era aquele que o mimava, que fazia carinho e dizia coisas que só ele saberia dizer.

Estava tão acostumado a ser alguém que Levi amava que quando tudo aquilo aconteceu sentiu que o tapete foi puxado de seus pés e havia caído de forma dolorida no chão, encarando a realidade. Era bom ter Levi para cuidar, para ouvi-lo, para arrancar risadas gostosas. Sem o baixinho, sentia que algo estava faltando ali.

Faltava algo, na verdade alguém e sabia que era ele.

Perdido em pensamentos foi rumo a sua casa, não tão distante dali.

____

— Levi, você foi muito rude com ele — Hange comentou.

— Vocês namoravam. Ele está sendo muito paciente, sinceramente... Você foi muito grosso sem necessidade — Erwin continuou.

— Eu sei, inferno — Levi disse nervoso. — Eu só não sei como agir perto dele. Me senti pressionado.

— Ele não está te pressionando, Levi — Hange começou. — A relação de vocês era bem... intensa, é, essa é a palavra. Não é algo fácil para digerir, ainda mais levando em conta que você não lembra apenas dele. Acredite, ele está indo bem calmo...

— Você não dá uma abertura, não conversa com ele... Ele não vai ficar te esperando para sempre e eu espero que você não lembre das coisas tarde demais mais uma vez — Erwin disse, bem pontual e direto.

— Tenta conversar com ele, Levi... Se desculpe com ele, tentem recomeçar... Vocês combinam juntos e se completavam de uma forma estranhamente única — Hange comentou. — Não aceito que a relação de vocês termine assim, não mesmo.

Levi suspirou e por mais que soubesse que a culpa não era dele, sentiu-se culpado. Eren estava sempre ali, todos os dias, puxando assunto, conversando, se preocupando, e nunca fez nada em troca, nem uma conversa decente havia tido com ele desde que acordou. Ver o olhar triste do mais novo há minutos atrás o quebrou de uma forma incrivelmente familiar e não soube explicar bem de onde veio aquilo.

Sua cabeça ainda doía, mesmo distante de Eren, somente de pensar no mesmo. O que havia naquele garoto que conseguia sentir tantas coisas diferentes? Levou a mão até os fios negros, apertando-os entre os dedos e suspirando fundo logo após, mais uma vez.

— Se desculpe com ele amanhã. Você foi horrível — Erwin parecia levemente irritado. — Ele não merece isso.

— Eu irei — Levi sussurrou, surpreendendo o casal. — Vocês acham que ele aparecerá? Ele disse que vai se mudar...

— Eu tenho certeza que sim. Fica tranqüilo — Hange deu uma piscadinha.

Porém, Eren não apareceu mais depois daquele dia.

_______

Levi juntava seus pertences que estavam ali no quarto. Havia acabado de receber a notícia que teria alta mais tarde aquele dia e estava levemente animado. As pernas já estavam boas o bastante e até deu pequenos trotes na esteira da ala de fisioterapia, a mão ainda era um pequeno problema, mas continuaria fazendo as sessões e os exercícios diariamente.

Estava de costas colocando algumas coisas em uma mochila e foi interrompido ao ouvir alguém parar na porta do quarto.

— Levi?

— O que faz aqui? — o Ackerman virou-se e se surpreendeu ao ver o tio na porta.

— Vim ver como você estava.

— Estou bem, as flores eram para a minha morte? Obrigado, mas eu detesto rosas.

— Delicado como um coice de mula... — Kenny soltou o riso. — Você recebeu alta?

— Sim, até a tarde eu já terei ido embora.

— Entendo. Você tem carona?

— Não, mas eu me viro. Não precisa dar uma de tio nota dez, nós sabemos que não existe isso — Levi revirou os olhos, cruzando os braços.

— Da última vez que vim você ainda estava de coma... Agora já recebeu alta. Você é tão forte quanto ela... — estendeu um envelope e Levi o encarou, arqueando as sobrancelhas.

— O que é isso? — olhou para o envelope e para ele. — Não fale dela novamente com essa sua boca imunda.

— Isso é a única coisa que sobrou. Eu guardei comigo por todos esses anos, mas achei que era melhor repassar a você depois de tudo isso que aconteceu. Acho que irá gostar. Leve como um presente por ter conseguido alta.

Levi ficou em silêncio, encarando o envelope amarelado. Abriu rapidamente, puxando o retângulo para cima e o que viu fez seu coração se acelerar rapidamente e as lágrimas vieram nos olhos.

Era uma foto dele com sua mãe.

— Onde... Onde conseguiu isso? — Levi questionou com a voz meio falha ao ver aquilo.

— Foi em um dos concertos que fui te ver tocar. Na saída ela pediu para que eu batesse uma foto de vocês dois. Estava guardada esse tempo todo, pois ela havia me dado como recordação e mexendo em algumas caixas antigas encontrei ela e como eu viria aqui, resolvi trazê-la para você, já que você não tem nenhuma foto com ela. Pelo menos não que eu me lembre.

Levi olhou a foto mais atentamente. Ele não deveria ter mais que oito anos, usava seu terno cinza e sua mãe estava com os cabelos ondulados e usava um vestido vermelho com alguns girassóis estampados. Ambos estavam sorrindo. Ela estava agachada na altura dele e se abraçavam.

Aquela foto emitia tanto amor que seu coração se aqueceu no mesmo momento. Não havia uma foto com ela, uma sequer. Lembrou-se que teve um sonho onde via sua mãe em um campo florido e ela estava radiante como nunca com seu sorriso encantador.

Aquilo havia o pegado totalmente desprevenido. Sempre que se tratava de sua mãe abaixava a guarda. Sentia falta dela e como sentia. Daria tudo para tê-la ali naquele momento delicado da sua vida. Eren não havia aparecido mais e seus dedos dedilhavam muito pouco.

Estava tudo uma bagunça total.

Suspirou fundo, tentando colocar os pensamentos em ordem.

— Eu sinto muito por tudo que fiz a você, Levi — Kenny começou, chamando a atenção do sobrinho. — Não tenha um dia que eu não me arrependa das minhas decisões. Eu espero que um dia você seja capaz de me perdoar e que tenhamos uma relação familiar boa. Sei que errei muito e estou longe de ser o coitado da história, mas só te peço desculpas por tudo. Pela forma que te tratei e pela morte dela...

Levi o encarava, mas não veio nenhuma resposta. Talvez o silêncio já estivesse respondendo tudo aquilo que havia dito segundos atrás. Kenny apenas engoliu seco e suspirou fundo, saindo dali. Lidar com Levi nunca era fácil, de fato.

Levi estava perdido nos próprios pensamentos. Totalmente surpreso com tudo aquilo, com a foto, com o fato do seu tio aparecer e surpreendentemente se preocupar e pedir perdão. Por que tudo aquilo estava acontecendo de uma só vez em sua vida?

Eram tantas coisas para assimilar ao mesmo tempo.

Terminou de arrumar a mochila e sentou-se na cama, ainda olhando para a foto. Era antiga, disso não tinha dúvidas. Estava um pouco velha, mas nada que fosse demais. Olhou cada detalhe, tentando se lembrar daquele dia e com muito custo conseguiu puxar em sua memória.

Virou a foto, vendo algo escrito feito à mão em uma letra cursiva redonda e perfeita. Não teve dúvidas: era a letra de sua mãe e leu o pequeno verso que havia ali.

"Irmão, pegue essa foto de recordação do dia em que nosso Levi ficou em primeiro lugar no concurso nacional. Ele ficou muito feliz ao te ver no meio das pessoas e confesso que eu também. Amamos você. Da sua irmã caçula, Kuchel. Ou se preferir o apelido carinhoso que me deu, Olympia."

_________

Mais tarde aquele dia, Levi já estava em seu apartamento.

Marlo havia oferecido uma carona logo que soube que receberia alta e insistiu para que o levasse para comer em algum lugar com Hitch e Ymir – a loirinha estava tão grande desde a última vez que a tinha visto e ficou feliz de ver que a pequena não havia esquecido dele e não desgrudou um minuto sequer logo que o viu e quando desceu do carro aprontou um choro estridente por não querer se separar.

Hitch e Marlo estavam cientes do que havia acontecido entre Eren e ele e se perguntavam se conseguiriam se resolver um dia e torciam para que sim, mas não tocaram no assunto um momento sequer.

Levi mostrou, com muito orgulho e com um sorriso no rosto, a foto que havia ganhado do tio, deixando o casal de amigos surpresos com o quão parecido ele era de sua mãe. Era quase um xerox e Marlo até brincou dizendo que ela havia o feito sozinha.

Enquanto estava se perguntando quem havia deixado tudo limpo em seu apartamento depois de recapitular tudo o que havia acontecido aquele dia e olhava na palma da própria mão procurando alguma coisa ali que não sabia o que era, foi até a mesa da cozinha ao ver uma pequena caixa ali em cima.

Olhou, estranhando aquilo, e viu o logo do hospital logo em cima e a abriu. Eram alguns pertences pessoais, provavelmente os pertences que estava usando no dia do acidente.

Pegou sua carteira que estava lá dentro primeiro e a abriu, vendo se não havia falta de nada ali e viu que não. Pegou também um relógio, estava trincado, mas pelo menos estava ali ainda. Deixou essas duas coisas em cima da mesa e viu uma caixinha menor no canto e a pegou, abrindo-a.

Sentiu um nó na garganta se formar ao ver o que havia dentro e sentiu-se mal instantaneamente. Pegou o pequeno anel prateado que estava lá dentro e se lembrou de Eren quase que no mesmo momento, principalmente quando olhou o interior da aliança fina e vendo o nome do jovem junto com uma data – provavelmente era o dia em que começaram a namorar.

Sentou-se na cadeira, desconsolado. Por que não se lembrava? Por que havia sido um imbecil com ele? Por que não deu abertura? Estava se sentindo tão confuso quanto a tudo aquilo ainda e por mais que soubesse que ele não era uma pessoa qualquer, conseguiu a façanha de afastar uma das únicas pessoas que realmente se preocupavam e o queria bem.

Bagunçou os fios negros, em um nervosismo evidente. Em um ato de impulso, colocou a aliança no dedo e viu que coube ali perfeitamente e mais uma vez sentiu-se a pior pessoa do mundo ao lembrar-se que Eren havia dito que ele já o tinha ferido uma vez e agora tornou a fazê-lo de novo.

Por que parecia que sempre falhava com aquele garoto?

Suspirou frustrado, virando a caixinha com a aliança em cima da mesa e vendo que havia caído um colar e uma coisa vermelha ali. Pegou o colar prateado com um ponto verde no meio bem minimalista e achou aquilo simplesmente perfeito. Vendo aquele ponto lembrou-se dos olhos de Eren inevitavelmente. Deixou o colar ali em cima e esticou o braço para o acessório vermelho e viu que se tratava de uma pulseira muito linda e bem trabalhada. Era trançada em um macramê lindo e de excelente bom gosto.

Sentia algo estranho observando o pequeno acessório vermelho, como se estivesse o chamando e o atraindo de alguma forma e lembrou-se que o garoto de olhos esmeralda usava uma idêntica.

Suspirou fundo mais uma vez e se surpreendeu ao ver que ela não havia sido arrebentada ou cortada de forma brusca e sim retirada da forma correta, sem prejudicá-la. Olhou para o próprio punho, imaginando como ele ficaria com um acessório que não era de sua paleta de cores ali e acabou cedendo à tentação de colocar a pulseira e assim o fez.

O que aconteceu nos segundos seguintes fizeram a mente de Levi trabalhar freneticamente ao ponto da dor latejar de forma alarmante. De repente, diversas imagens de Eren começaram a aparecer em sua cabeça. Coisas que ele não se lembrava, pelo menos não até aquele momento.

O cheiro de flores familiar, o rosto vermelho, o uniforme escolar e as esmeraldas brilhantes. Era claramente a primeira vez que havia o visto. Depois cortou para outra cena, estavam em um terraço e os cabelos castanhos bagunçados voavam conforme o vento batia. Ali haviam se beijado a primeira vez. Mais uma troca, dessa vez em seu apartamento e dormiam juntos, abraçados. Havia sido a primeira vez que tiveram o contato sexual e dormiram juntos. Outra memória, os dois em um dia que estava nevando e as mãos estavam juntas e logo depois cortou para ambos se declarando uma para outro, pela primeira vez.

Era como se aquelas lembranças fossem importantes demais e tudo era passado de forma rápida e com uma riqueza de detalhes absurda.

Ele havia se lembrado. Ele havia se lembrado de tudo. Ele se lembrou de Eren, de alguma forma que não soube explicar como. Olhou para a pulseira, como se ela havia sido o gatilho para tudo aquilo, tanto pela perca das lembranças como por conseguir recuperar de todas aquelas memórias, como se todos os momentos que tiveram juntos fossem conectados através dela de alguma forma.

Precisava falar com ele. Precisava se desculpar. Precisava pedir perdão.

Levantou-se com certa pressa da cadeira, pois também havia o fato de que Eren iria se mudar e não sabia se isso havia acontecido ou não. Precisava ir até onde o garoto morava. Não se importava se conseguiria ir ou não a pé até lá, mas se fosse por ele, iria se esforçar até que o seu limite fosse ultrapassado.

Saiu, afobado e correndo, indo até onde Eren morava.

— Como eu pude me esquecer? — disse com os olhos marejados enquanto tentava, inutilmente, correr. — Me perdoa por isso ter acontecido, pirralho. Eu te prometi! Eu estou indo te encontrar, me desculpe te fazer esperar de novo por mim.

_______

Enquanto isso, no loft de número doze, Yigu parecia agitado.

— Você conseguiu — virou-se para a morena, contente. — Eu jamais imaginaria que esse era o motivo do nó maior. Você acha que as lembranças deles foram conectadas através das pulseiras?

— Sim. Eu tenho certeza. Tanto que quando ele a colocou, ele lembrou-se de tudo. Foi uma promessa que os dois fizeram um dia juntos e ela se cumpriu — ela sorriu.

— Promessas são palavras importantes e com um poder sobrenatural quando feitas de coração — o loiro pontuou. — Graças a elas que estamos aqui hoje.

— Sim — ela concordou. — Estou feliz que tudo deu certo, mesmo quase dando errado — ela sorriu. — Aliás, olhe... — apontou para o fio que tomava cor novamente e o nó que tanto os preocupava estava se desfazendo.

— Ele está se desfazendo, mas não como um todo... — olhou para ela, vendo o olhar decidido no rosto delicado e devolveu o mesmo olhar. — Olympia, está na hora de fazermos nosso último trabalho aqui.

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