Victor
Tem alguém chorando ?
Abro os olhos e vejo que não tô no meu quarto, impossível não sorrir com as lembranças de ontem a noite .
O relógio na mesa de cabeceira indicam 2:45
Escuto uma fungada baixinho
Viro pro outro lado da cama e tá vazia .
Me sento e vejo a Babi sentada contra a parede abraçando os joelhos e chorando baixinho .
Pego minha calça no chão e visto indo até ela
— o que aconteceu ? - sento do lado dela
Ela ergue o olhar pra mim, seus olhos estão marejados e seu nariz vermelho de tanto chorar .
Forço ela a ir um pouco pra frente e me sento a trás dela. Seu corpo se encaixa no meio das minhas pernas e eu a abraço forte .
— me conta o que houve ?
— eu... tive um pesadelo - ela funga - com o acidente .
Deslizo meu polegar fazendo carinho no seu braço.
— quer me contar como foi o pesadelo ? Isso pode te ajudar .
— ele ... ele tava lá sem vida no chão e minha ...- ela se aproxima mais do meu corpo - minha mãe tava lá gritando que a culpa era minha .
Porra
— eu sinto muito por isso - beijo a lateral da cabeça dela - sua mãe tá errada e sempre teve. A culpa não foi sua .
Ela fica quietinha
— talvez devesse falar com seu pai e voltar pra terapia. Pode te ajudar a conviver com o luto .
Ficamos na mesma posição até ele se acalmar por completo .
— desculpa te acordar- ela sussurra
— tudo bem, sempre que precisar pode contar comigo
🫀
Bárbara tá extremamente quieta hoje .
O pesadelo mexeu com ela .
Coloco uma das minhas mãos debaixo da mesa e começo a fazer carinho no joelho dela .
- não vai comer ?
— tô sem fome - ela força um sorriso e encosta a cabeça no meu ombro.
Deve ser horrível ter que reviver a morte da pessoa que você mais ama no mundo, e pior ainda escutar alguém que devia te apoiar colocar a culpa em você. Dizer que devia ser você .
Bárbara definitivamente não merece a mãe que tem .
— vou no banheiro - ela sussurra e sai do refeitório.
— tá tudo bem com ela ? - Carol chama minha atração
— não, mas vai ficar - Bárbara é forte, vai aprender a lidar com tudo isso.
🫀
Babi
Impossível não sorrir ao ver a foto.
Bernardo não parou quieto até nosso pai escrever ele na aula de karatê.
O problema é que ele era péssimo e vivia apanhado, demorou muito pra ele pegar o ritmo .
Passo o indicar pelo seu sorriso na foto .
O primeiro troféu
—- pensei que ele nunca ia ganhar nada - a voz do meu pai ecoa atrás de mim- ele era péssimo
— é ele era- sorri - lembra aquela vez que uma das meninas deu uma restrita nele ?
— como esquecer - ele ri - você puxou a maria-chiquinha dela " não bate no meu irmão sua feiosa"
Gargalhei ao me lembrar da cena .
O braço do meu pai passa pelo meu pescoço e eu dito a cabeça no peito dele .
— acho que devo voltar pra terapia - sussurro
— isso seria ótimo princesa - ele beija minha cabeça
— pai ? - chamo
— oi ? -posso sentir sua animação só por eu ter chamado de pai
— senti sua falta - confesso
— eu também- ele me abraça com força.