Lavínia: nesse dia
"Vamos tomar quantos açaís até você me dizer como descobriu meu endereço?" - Perguntei antes de levar uma colher cheia até a minha boca.
"O Arrasca me disse com uma facilidade que eu fiquei até surpreso." - Ele respondeu revezando o olhar entre mim e a orla cheia de gente.
"Eu sabia que se alguém ia vacilar essa informação, ia ser esse uruguaio."
Gabriel deu uma risadinha gostosa e soltou o pote de açaí na mesinha antes de dizer: - "Queria eu saber disso também, tomei meia hora de sermão do coringa a toa."
Ri fraco antes de perguntar arqueando a sobrancelha: - "E qual é a sua desculpa pra aparecer aqui? Que você estava passando na Barra da Tijuca e coincidentemente olhou pro meu prédio e decidiu me ligar?"
Gabriel riu com os lábios num tom vermelhinho por causa do açaí. Foi difícil não ficar olhando quando ele disse: - "Essa é uma boa desculpa, mas eu tava passando a uns 100 quarteirões mesmo e vim até aqui quase em horário de pico só porque eu queria te ver."
Olhei pro resto de açaí no meu pote pra não olhar pra Gabriel quando admiti:- "Isso é muito bom, porque eu também queria ver você."
Parecendo surpreso, ele deu uma risadinha baixa e apoiou as mãos na aba do boné que estava virado pra trás. Lembrei de uma coisa que quando eu descobri tive vontade de contar pra ele: - "Sabe o Caio?"
O sorriso de Gabriel congelou e ele suspirou ao murmurar - "Hum?"
"Me esqueceu e tá apaixonado pela Débora agora, acho que ele tem fetiche em mulher comprometida." - Gabriel deu um sorrisinho de canto:
"Ele tá muito é querendo uma surra e não sabe pedir." - Dei uma pequena gargalhada e Gabriel ficou de pé me chamando pra levantar.
Gabriel: nesse fim de tarde
Eu não tinha a menor ideia de como ao olhar pra Lavínia as minhas palavras sumiriam e o discurso que eu vim o caminho inteiro ensaiando seria tão difícil de falar quanto chinês.
Mas vê-la tão perto de mim, sorrindo desse jeito que a covinha fica evidente, contando animada sobre tudo que eu pergunto, e de vez em quando a brisa da praia vem mais forte e trás o cheiro doce indecifrável pra mim quase como se me desse um presente.
"(...) Mas e os jogos?" - Lavínia perguntou depois de terminar de contar sobre como andavam as coisas na faculdade dela.
Dei um sorrisinho e parei de andar quando respondi: - "Cê sabe como estão, cê assiste que eu tô ligado."
Lavínia murmurou alguma coisa e virou o rosto pra praia: - "O sol já tá se pondo."
Quando ela voltou a andar e passou na minha frente, eu dei alguns passos mais rápidos para acompanhá-la. - " Eu fiquei mó feliz quando vi que tu tava me assistindo."
Ela voltou a me olhar mordendo um sorriso. Disse baixo: - "Papo reto?"
Meu coração acelerou pela oportunidade de começar a falar algumas das coisas que eu vim falar: - "Papo reto. Eu... sinto muita falta do apoio que você me dava pra tudo." - Lavínia mexeu as sobrancelhas mostrando que estava surpresa. - "É foda pra mim quando eu tô correndo no campo, paro de repente e olho pra arquibancada, e tem uma multidão inteira cantando pra mim... mas não tem você pendurada na barreira sorrindo. Sabe? Vestida numa camisa minha com o meu nome, com aqueles colares, sorrindo e gritando que tem gol do Gabigol." - Lavínia olhou pra mim e depois pros próprios pés caminhando devagar sem rumo. - "Saber que independente da minha performance você não vai aparecer pra me dar consolo ou pra comemorar junto... essa parte é a mais difícil de acostumar."
Comecei a ficar nervoso pensando que tinha dito alguma besteira porque ficamos uns segundos em silêncio e ela não dizia nada. - "Falei merda, pra variar?" - Perguntei.
"Não! Não, claro que não. Eu... gostei muito de saber disso." - Sorri feliz e Lavínia continuou: - "Eu achei que na verdade você ia me zoar porque eu te assisti."
Ri fraco e ela me acompanhou: - "Eu pensei nisso, mas preferi te mandar a real que eu curti pra caralho." - Lá sorriu e parecia feliz. - "Quer uma?" - Perguntei me referindo ao cara mais a frente no calçadão que vendia rosas. Lavínia fez que não com a cabeça mas eu dei de ombros já me aproximando do vendedor enquanto dizia: - "Mas eu quero te dar uma."
Lavínia colocou uma das mãos nos bolsos da frente do short e me olhou tentando tirar os cabelos castanhos que caíam no rosto dela por causa do vento. Percebi que ela parecia um pouco envergonhada mas quando o rapaz estendeu as cinco rosas pra mim, Lalá deu o sorriso mais bonito que eu vi hoje.
"Pra você, amor." - Lavínia não segurou o sorriso de novo e eu estava com certeza sendo o cara com o sorriso mais idiota no Rio de Janeiro inteiro.
"Do que cê tá rindo assim?" - Ela perguntou depois de pegar as rosas.
Vamos, Gabriel, é a sua chance.
"É que eu devo tá parecendo um cara mó apaixonado, mas não tem problema. É o que eu sou mesmo."
Lavínia piscou os olhos algumas vezes e riu sem graça ao dizer: - "Beleza, por essa eu não esperava."
*Desculpa por ontem não ter finalizado a maratona, eu não consegui. Vou tentar fazer outra algum dia dessa semana pra compensar.
*As vezes eu me supero escrevendo capítulos felizes.