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Dimitri Belikov
Eu nunca dirigi tão rápido em toda a minha vida. Acho que nunca fiz o trajeto de Helena até Missoula em menos de uma hora e meia. Um caminho que eu geralmente faço em duas horas. Não é para menos, também. Eu já tinha conversado com a Rose em momentos diferentes da vida. Com certeza, a voz dela denunciou tudo e qualquer coisa. Alguma coisa tinha acontecido e eu precisava ir até ela para ter certeza do que tinha acontecido com os meus filhos – e com ela – e tomar decisões que foram deixadas em minhas mãos e da Tasha.
A Tasha estava em Los Angeles de novo. Ela estava voltando para casa apenas nos finais de semana e ainda sim, não era em todos. Alguns outros ela tinha desfiles, sessão de fotos e tantas outras coisas que, honestamente, não sei se quero mais saber. O que fazia essa ideia de ter filhos agora ser ruim. Ela estava atarefada demais, quase nunca estava em casa. Nós só conseguíamos conversar por telefone e algumas vezes o fuso horário atrapalhava muito dependendo de onde ela estivesse. Não vou dizer que me arrependo de ter os meus filhos agora. Depois de tanto tempo... Eu estava mais do que feliz. A Tasha também estava, mas era uma pena que ela não pudesse passar mais tempo por perto.
Não que eu queira que ela abandone o trabalho ou desista de sua carreira porque, finalmente, vamos conseguir ser pais, mas às vezes, eu só queria que ela estivesse mais presente. Também não posso reclamar, porque quando sou eu que preciso viajar, ela não questiona tanto. Fica um pouco irritada por eu não arranjar tempo para viajarmos de férias juntos, mas a verdade é que nós dois realmente nunca tentamos. Foi só agora que ela inventou essa história de uma semana de férias por causa do desfile em Milão. Acho que ela percebeu que com a chegada das crianças, férias e viagens a dois será um luxo que não nos pertencerá mais. Eu realmente não me importava. Amava demais os meus filhos para me incomodar com isso. Algo que é momentâneo, porque eles crescerão e poderemos ir juntos para qualquer lugar desse mundo.
Eu estava aterrorizado de como iríamos de apenas um casal para pais de trigêmeos. Não faço a menor ideia de como isso vai funcionar, se vamos precisar de uma babá, ou duas. O que eu sabia era que já pretendia contar para minha família e pedir para a Vika projetar o quarto das crianças. Eu queria montar um quarto de brinquedos para eles e também precisava de alguém para me ajudar a verificar quais mudanças na casa precisam ser feitas em razão de fazer o nosso lar um lugar seguro para eles. Quem sabe quantas coisas vão precisar ser feitas? Nada podia ser deixado para muito perto do final do ano já que eles estavam previstos para Janeiro.
Além disso, eu estava ansioso para a gestação avançar mais e eu sentir que realmente estava vivendo isso. Que eu vou mesmo ser pai. Eu queria ver a barriga da Rose crescer e se ela me permitir, poder sentir meus bebês mexerem ao menos uma vez. Eu já tinha pensado em começar a enviar mensagens de áudio paraela, assim ela poderia colocar para os bebês ouvirem e reconhecerem a minha voz. Era cedo ainda, eu sei. Eu estava agendando aulas no hospital também, afinal, eu posso ser tio, mas nunca fui pai. Quando meus sobrinhos choravam, eles voltavam para as mães. Eu até cuidava deles, mas nunca passou de vinte e quatro horas. Eu nunca precisei dar banho e com exceção do estrago de uma fralda mal posicionada, nunca as troquei também. Meu trabalho era só olhar e diverti-los. Todo resto era trabalho das minhas irmãs e da minha mãe.
Então, de certa forma, eu estava tão ansioso e preocupado que eu não sabia direito por onde começar. Depois da ligação da Rose, eu descobri o início. Primeiro, eu precisava chegar até ela e saber se, depois de tudo, eu ainda vou ser pai. Vou tentar também ajudá-la. Querendo ou não, Rose é da família. Ela está gerando os meus filhos então não custaria nada eu me dedicar um pouco para ajudá-la. Talvez, ela precisasse de uma carona para casa, ou que alguém fosse buscar os remédios na farmácia, ou de alguém para fazer o jantar, ou simplesmente ter alguém por perto que sabia o que ela estava passando e ela poderia conversar sobre. Bom, e também se o pior tivesse acontecido, seria bom ela ter companhia. Em segundo nenhum passou pela minha cabeça deixá-la sozinha em um momento tão difícil como esse.
Eu não tinha feito nenhum plano especial para o resto dessa noite antes da ligação acontecer. Eu tinha terminado de jantar um penne rápido que eu cozinhara ao chegar do trabalho e tomar um banho rápido. Depois disso, eu iria para a cama, leria um capítulo do meu livro e então dormiria. Além disso, eu não pretendia fazer mais nada. Quando ela ligou, não existiam chances que eu conseguisse dormir pensando no que poderia estar acontecendo com os meus filhos. Como ela acha que eu conseguiria ficar em casa e esperar por notícias? Se eu morasse em outro continente, até concordo que seria muito difícil chegar até ela, mas são só duas horas de viagem. Eu não estava sonolento o suficiente para me negar dirigir até lá. Só tive tempo de trocar as calças do meu pijama por um jeans, calçar os sapatos e dirigir até Missoula.
— Rose. – Eu parei na enfermaria, afoito. Eu já tinha derrubado as minhas chaves no caminho, ao menos, três vezes. Tudo só para me atrasar. — Rosemarie Hathaway. – Completei.
— Quarto 204. – A enfermeira informou apontando para um dos lados do corredor.
— Obrigado. – Disse antes de seguir pela direção indicada, à direita.
O quarto era quase o penúltimo do corredor. A porta estava fechada. O hospital, no geral, era bonito, mas por ser noite, aquele andar estava com a iluminação reduzida. Provavelmente para não incomodar as mães e os bebês dormindo – ou tentando –. Por sorte, eu consegui subir sem muitos problemas. A clínica entrou em contato com o hospital avisando que eu estava a caminho e não tinha muito que ser discutido, eu sou o pai e ela é a barriga de aluguel. Legalmente, eles tinham que me deixar subir. Embora eu não quisesse usar esse tipo de influência, mas sabia que não me deixariam ser acompanhante se eu dissesse que era apenas um amigo.
Felizmente, tudo foi muito pacífico e eu nem precisei informar isso. Muito provavelmente porque eu parecia o estereótipo padrão de um pai desesperado. Não tinha como ter dúvidas, afinal, foi só na metade do caminho que eu percebi que ainda estava com a camiseta do pijamas. Era claro que eu tinha sido arrancado da cama, mas eu não me importava. O casaco moletom no porta-malas disfarçou um pouco. Respirei fundo antes de abrir a porta do quarto dela. Eu não queria acordá-la. Imaginei que ela pudesse estar dormindo pela luz interna também estar apagada. Tinha uma lâmpada no corredor quase na porta de entrada e iluminaria muito o interior, sem dizer que, por ser uma maternidade, tinha algum bebê chorando por ali. O que provavelmente, fariam-na acordar.
Entrei em silêncio. Se ainda estivesse dormindo, não iria acordá-la em busca de respostas, poderia aguardar por ela ou pela médica. Ou até mesmo procurar pela médica, para ter as minhas respostas, isso se tivéssemos alguma. No momento, eu achava mais importante chegar, deixar a Rose saber que eu estava aqui e quem sabe descobrir alguma coisa por ela. E obviamente, saber como ela estava. Eu me importava com ela também, mas se caso ela fosse dormir até a manhã seguinte, eu vou procurar pela enfermeira. Não ia conseguir conter a minha ansiedade por uma noite completa.
Como imaginei, ela estava dormindo. Rose sempre foi baixinha e menor que a minha irmã, Vika. Embora ela tenha toda essa presença e atitude que a faziam parecer muito maior do que realmente é. Deitada na cama ali, ela parecia muito menor. A cama estava quase toda abaixada, a iluminação precária do quarto vinha de uma lâmpada na parede sobre a cama e de alguns monitores que apitavam. Eu não entendia muito, mas sabia que um deles eram os batimentos cardíacos dela. Era mais rápido do que eu esperava, levando em consideração a quantidade de vezes que fui obrigado a fazer o treinamento de primeiro socorros da empresa e o fato de ela estar aparentemente dormindo, esperava que estivesse um pouco mais calma. Eu me questionei se ela não estava acordada e fingindo dormir só para não me dar a notícia que não quisera dizer ao telefone.
A bolsa de soro, conectado ao braço dela, parecia nova. Mas não sei dizer se tinha sido recém-trocada ou se ainda era a mesma de quando conversamos ao telefone. Eu me aproximei com cuidado, observando tudo ao redor e fazendo o máximo de silêncio possível. Com a iluminação precária do quarto e o fato de não ter ninguém me olhando, aproveitei para observar cada detalhe dela. Rose estava cansada, os cabelos um pouco mais bagunçados do que eu me lembrava de já ter visto estavam espalhados por todo o travesseiro. Eu não queria assumir, mas era inevitável perceber que ela é bonita até mesmo dormindo. Seus lábios cheios não estavam pressionados como eu geralmente via quando nos encontrávamos na clínica. Uma parte grande de mim se sentia culpada por ter arrastado a Rose para essa história. Ela é uma menina nova, mal deve ter vivido ainda. Mas cá estávamos nós, em uma maternidade, torcendo e lutando para os trigêmeos estarem bem. Os meus filhos e não dela.
Eu me sentei na poltrona ali perto da janela. A dor na consciência me fez ficar alerto por todo o tempo. Eu nunca me perdoaria se algo a acontecesse por causa da gravidez. Pior, a Lissa nunca me perdoaria e as reuniões em família seriam um verdadeiro inferno. Isso se elas continuassem a existir. Uma coisa eu decidi, se não der certo e, infelizmente, Rose tiver um aborto espontâneo de todos eles, não vamos seguir com o processo com ela. Rose é muito nova para tudo isso e era o que mais atormentava os meus pensamentos. Ela é nova, nunca foi mãe e se algo acontecer, ela pode nunca mais ser. Pior, se ela não puder ter os seus e tiver os meus, pode querer a guarda deles ou nunca querer me entregá-los. Eu não sei o que eu faria se chegássemos a essa situação. Podia não conhecer as crianças ainda, elas não eram nem do tamanho de um grãozinho de feijão, mas eu já os amava muito.
Hoje, a Rose pode não querer ser mãe. Mas no futuro... Não tem como ela ter tanta certeza. Aterrorizava-me pensar em qualquer cenário que ela pudesse tirá-los de mim. Eu não a conhecia o suficiente para confiar nela totalmente ou arriscar dizer que ela jamais faria isso. Lissa e Christian poderiam confiar à vida deles a ela. Eu ainda não estava pronto para apostar a vida dos meus filhos, o futuro deles, a ela. Mesmo que fosse ela quem estava os gerando. Tudo era um risco imenso agora e tudo o que me restava fazer era torcer para tudo dar certo no final.
— Oi. – Rose sussurrou a voz rouca e fraca. Mal tinha percebido que ela tinha acordado. Bem, eu não tinha muita certeza de que ela tivesse acordado realmente.
— Oi. – Respondi esperando que ela continuasse a conversa e me deixasse ter uma ideia sobre seu estado de consciência e, talvez, sobre os meus filhos.
Rose se mexeu lentamente na cama. Imaginei que estivesse ainda sonolenta e despertando. Se ela dormiu depois de me ligar, deve ter descansado no máximo três horas. Ainda assim, eu me levantei para me aproximar da cama. Rose levou uma mão à testa sem nem se lembrar de que estava cheia de fios ligados a ela. O jeito com que ela se moveu me fez pensar que a posição estava bastante desconfortável. Eu não sabia muito bem o que fazer, mas queria ajudar. Não queria pior sua situação, se o problema fosse uma dor de cabeça. Talvez ela precisasse de mais um travesseiro? Ela manteve a mão no rosto e eu refleti se pudesse ser por causa do fraco feixe de luz sobre a cama. Eu poderia desligá-la.
— Rose, tudo bem? – Eu me aproximei um pouco mais e por pouco não segurei sua mão para chamar sua atenção.
— Estou enjoada. – Ela disse se remexendo ainda mais. Agora ela estava sentada e olhando uma forma de sair da cama, mas as grades laterais levantadas dificultavam e davam um aviso claro: não levante.
Eu rapidamente entendi o recado, mas não achei nada que servisse de saco, balde ou qualquer coisa do gênero. Olhei em desespero ao redor antes que ela acabasse vomitando em si mesma ou quem sabe o que pior. Ou ela conseguisse sair da cama sonolenta como estava, quem sabe até pular as grades laterais e cair... Abri o primeiro armário que vi no quarto sob alguns equipamentos, não querendo roubar o lixo do banheiro e agradeci por ter encontrado algo que parecia fundo o suficiente para ela vomitar sem vazar pela cama ou o que for. Deus do céu, eu quase não tive tempo antes que ela virasse para vomitar em qualquer outro lugar que não fosse em mim e em si. Pior, quando ela começou, achei que nunca mais fosse parar. Eu até peguei outro do que pareciam potes de alumínio e coloquei entre as pernas dela, caso precisasse.
— Calma. – Toquei a coluna dela com cuidado e observei se precisaria substituir o pote. — Tudo bem. Está tudo bem. – Disse baixo.
Continuei a carícia na coluna dela com cuidado e aguardei. Tentei não ficar enjoado também. Não acredito que seja fácil para ninguém assistir alguém vomitar sem ficar enjoado também. Em todo caso, tentei ficar o mais firme possível e em prontidão para o que ela precisasse. Pensei por um momento se essa tinha sido a primeira vez que ela passara mal dessa forma e se não, o quão difícil a gravidez podia estar sendo para ela. Especialmente, o quanto ela estava suportando e lutando para não dar indícios da gravidez para o seu colega de apartamento. A não ser que ela dissera, mas pediu para ele não contar para mais ninguém. Eu não sei.
Alguma parte de mim, sabia que se a Tasha e eu não disséssemos que ela podia quebrar o contrato de confidencialidade, Rose não contaria para ninguém até o parto. Acredito até que ela encontraria uma desculpa, uma mentira até para isso. Mas eu também não achava justo. Certamente, isso podia estar sendo um estresse extra para ela. Algo que eu pretendia resolver muito em breve, embora dependesse da resposta que teríamos dos médicos. Afinal, de que adiantava contar sobre uma gravidez se ela não existisse mais? Não, eu não podia pensar sobre isso. Tudo ficaria bem na medida do possível.
— Tudo bem. – Repeti para ela. Como ela podia ter um coração tão bom? Ela tinha feito tudo o que pedimos, coisas até que ela não gostava. Coisas que, refletindo melhor, eu também não achava justo. E cá estava ela, vomitando até chorar e sem reclamar nem um segundo.
A menina tossiu e esfregou a mão livre no rosto, provavelmente, afastando as lágrimas que escorreram com o esforço e desconforto. Rose olhou para o lado constrangida, procurando o que fazer com a pequena bacia que ela tinha preenchido. Sua boca pálida contrastava com as bochechas avermelhadas. Mesmo sob o pouco de luz, consegui ver seu intenso corar. Era fofo, mas também achei triste.
Entendia que era um dos sintomas comuns da gravidez, mas isso também parecia um pouco de vergonha. Não queria que ela se sentisse dessa formar ao meu redor por algo que, de certa forma, era minha causa. Ela tinha se metido nessa história de ser nossa barriga de aluguel porque eu permiti. Se eu não tivesse ido atrás dela na cafeteria, não estaríamos aqui hoje. Rose fez de tudo para me evitar e eu percebi, depois de tanto tempo, minha mão em sua coluna ainda. Retirei rapidamente e tomei uma rápida decisão que me daria segundos suficientes longe dela, assim nós dois poderíamos nos recompor.
— Aqui, me dê isso. – Estendi uma mão para a bacia quase cheia.
Era claro que ela hesitaria. Rose me olhou por alguns segundos antes de me deixar pegar a bacia. Ela parecia fraca, mas o incomodo aparente tinha diminuído. Provavelmente, o enjoo passara. Eu não me atrevi a olhar o conteúdo. Não que eu fosse vomitar também, mas era nojento. Então levei para o banheiro anexo ao quarto e precisei pensar no que eu deveria fazer com aquilo. Se deixar ali na pia ou jogar no vaso sanitário. Eu não sabia se a enfermeira precisava ver ou anotar alguma coisa. Na dúvida, deixei sobre a pia para quando a enfermeira parecer, eu avisar. Lavei as mãos antes de voltar para o quarto e fechar a porta. Rose já tinha se deitado de novo, a mão sobre os olhos de novo me fez pensar se ela iria vomitar de novo. Ou pudesse ser realmente uma dor de cabeça agora.
— Desculpa. – Ela falou tão baixo que eu duvidei ter ouvido. — Isso foi... Nojento.
— Está tudo bem, Rose. Eu vim te ajudar. – Dissera. Minha intenção não era apenas ajudar, eu queria e precisava de respostas também. Mas como eu tinha vindo até aqui e ela estava sozinha, eu podia ajudar. Honestamente, depois de vê-la dessa forma... Algum lugar em mim, doeu. — Você quer um pouco de água? – Ela hesitou novamente. Talvez ainda estivesse enjoada então?
— Não, obrigada. – A hesitação na voz dela me fez pensar que, na verdade, ela queria sim, mas não queria me dar trabalho. Então eu peguei. Não fazia sentido essas necessidades básicas não estarem à altura das mãos em uma maternidade, onde as mulheres poderiam estar sozinhas e de repouso. — Obrigada. – Sussurrou ao aceitar o copo que eu oferecera.
— Como você está se sentindo? – Perguntei e me apoiei contra a grade lateral da cama.
— Fora o enjoo, eu estou bem. – Ela disse e virou o rosto para o outro lado. — Eu sinto muito. – Rose fungou e eu jurei que ela fosse chorar. — Eu vim para o hospital o mais rápido que consegui, mas pelo jeito, não foi rápido o suficiente.
— O que a médica disse? Ela já veio te ver? – Perguntei com uma suavidade que eu não sentia muito, mas não queria fazê-la se sentir pior do que estava. Era claro que não era culpa dela. Meu coração apertado com a possível resposta dela.
— Ela veio uns minutos depois que você me ligou. – Rose esfregou a mão no nariz para se impedir de chorar. — Ela... Ela disse que pelos exames, nós... Vocês... – Ela se corrigiu com um segundo de reflexão. — Perdemos um dos trigêmeos. – Dessa vez, eu ouvi sua voz quebrar e ela se remexeu desconfortável. O nariz vermelho me fez pensar a força que ela estava fazendo para não chorar. Não imaginei que ela fosse sofrer tanto com isso. Até onde eu sabia, ela não queria ter os trigêmeos, mas acho que perder um deles pode ter sido traumático para ela.
— Tudo bem, Rose. – Tentei tranquilizá-la. A médica pretendia falar sobre uma redução seletiva na próxima consulta. Não que eu estivesse feliz por ter que fazer isso, mas se a Rose e ela não se sentiam confortáveis em ter múltiplos, não seria eu ou a Tasha que a obrigaria a carregá-los.
— Ela... Ela me deu alguns remédios para ver se conseguia evitar que eu perdesse os outros dois. – Rose continuou. Entendi porque ela ainda parecia não preocupada. Não estava tudo tão bem assim, eles ainda estavam em risco. — Ela disse que voltaria em algumas horas.
— Tudo bem. – Apertei suavemente sua mão, ainda tentando tranquilizá-la ou nos confortar, porque ela apertou de volta, visivelmente triste. — Tudo bem se eu ficar aqui com você? – Perguntei antes de invadir totalmente sua privacidade.
— Você não precisa ficar. Eu sei que você trabalha cedo. – Rose encarou minha mão ainda tocando a dela. Afastei-me gentilmente. Não queria que ela se sentisse ainda mais desconfortável por minha causa. Eu queria ajudar e não piorar.
— Isso não importa. Eu quero ficar e te ajudar.
Ela me olhou por longos segundo e deu um aceno hesitante, mas acabou aceitando que eu ficasse. Nós quase não conversamos durante a madrugada. Não sei se ela estava em silêncio porque não sabia o que falar ou por precisar dele para descansar ou qualquer outro motivo que ela não quis me contar. Decidi não atrapalhar, mas fiquei observando-a a todo segundo. No primeiro sinal que ela desse por precisar de ajuda, eu estaria ali. Não importava por qual motivo ou horário. Especialmente, porque a náusea não diminuiu e ela, constantemente, se mexia desconfortável até o limite.
Rose não conseguia parar de se desculpar a cada vez que eu precisei levar novas bacias quase cheias para o banheiro. A médica apareceu quando eu fui, pela segunda vez na enfermagem dizer que eu precisava de bacias novas e limpas. Aparentemente, aquele era um efeito colateral dos remédios, mas ela receitara algo para deixá-la mais confortável e evitar que desidratasse mais. Não se passou nem dez minutos e a enfermeira voltou com uma medicação, que para a infelicidade da mulher, foi uma injeção na nádega. Não sei se ela ficou constrangida por eu estar presente enquanto estava nua sob o avental hospitalar – eu não me importava, mas me virei respeitosamente para dar privacidade à mulher – ou por ter chorado pós-injeção. Ao menos, depois disso, ela conseguiu dormir algumas horas até a próxima visita da médica, durante a manhã.
De toda a tragédia dessa madrugada, ao menos, conseguimos uma notícia boa quando o sol nasceu. Aparentemente os remédios tinham dado o efeito desejado – mesmo que no processo tenha feito a vida da mulher terrível – e conseguiram contornar a situação, os gêmeos estavam estáveis por agora. Os exames de sangue dela que foram feitos desde que ela internara até agora o início da manhã, mantiveram um alto e constante nível hormonal. O receio era de que, uma vez em casa, a situação se deteriorasse novamente, então a médica decidiu manter a Rose no hospital ao longo do dia. Eu vi nos olhos dela, quando a médica dissera que ela ainda não iria embora, o pânico. Rose tinha um emprego e um colega de apartamento que ficariam preocupados se ela não aparecesse logo e precisavam de uma satisfação.
— Rose. – Eu a chamei enquanto ela comia um tipo de biscoito de água e sal no café da manhã.
— Hum? – Ela murmurou enquanto mastigava em silêncio e sem muita vontade. Era evidente que ela ainda não estava muito recuperada dos enjoos pelo jeito que comia. Rose, sempre que eu estava por perto, parecia voraz em comer.
— Se você quiser dizer ao seu chefe e ao seu amigo o que está acontecendo. Diga. – Eu disse e a mulher chegou até a parar de mastigar por alguns segundos. Bebeu um pouco do suco para ajudar a engolir.
— Eu achei que vocês fossem querer contar para as pessoas primeiro. – Ela disse confusa. Sim, Rose, eu pensava exatamente a mesma coisa sobre aquele contrato idiota. Nunca tinha sido minha ideia e eu também não apoiava, mas aparentemente, Tasha achava que a mulher pudesse anunciar para os quatro cantos do mundo assim que ela tivesse uma oportunidade. Eu achava uma bobeira. Rose sabia que as crianças eram nossas, ela não faria nada para estragar a nossa surpresa. Não que eu a conhecesse muito bem para dizer muita coisa, mas isso era o que parecia.
— Para os nossos amigos e familiares, sim. Mas eu, como chefe, preferiria que a minha funcionária me contasse a verdade. Acho que você já passou por muito para deixá-los no escuro agora e, eventualmente, você vai precisar de ajuda. Vai ser bom que eles saibam. – Expliquei. A Tasha provavelmente ficará irritada por saber que eu tinha mandado às favas aquele contrato idiota. Ela não estava aqui para ver e sentir o quão complicado estava sendo tudo isso. Para ela, era confortável já que ela estava viajando e trabalhando, para Rose não estava sendo nenhum pouco, então ela poderia se preocupar com menos uma coisa por agora. — Mas se você puder pedir ao Mason para não contar para ninguém, eu agradeceria. – Adicionei, preocupado de que o cara pudesse contar à minha irmã. Seria mais um motivo de briga entre ela e a minha esposa.
— Obrigada. – Rose sussurrou quase aliviada. Definitivamente, aquilo não estava fazendo bem para ela.
Eu me afastei um pouco quando a mulher, suspirando, transferiu toda sua atenção do café da manhã para o celular que esteve na cômoda alta ao lado da cama. Mal eram sete horas da manhã ainda, então eu apostei que ela ligaria primeiro para o cara com quem ela morava. Eu ainda não entendia o relacionamento entre eles. Sei que eles não namoram, ou a Rose não teria feito aquela loucura inesperada no aniversário da minha irmã, também teria dito à clínica a mudança de seu status e a Tasha e eu saberíamos. Então, para mim, era curioso que a mulher se importasse tanto em dar satisfações de qualquer coisa sobre sua vida para o cara. Na verdade, pensando um pouco mais e me colocando no lugar dele, eu ia querer saber onde ela estava ou o que está acontecendo, uma forma de evitar a preocupação e não de controlá-la.
— Oi, Celeste. – A menina sussurrou ao telefone. Então ela optou pelo emprego primeiro. Compreensível. — Então... – Ela começou depois de poucos segundos. Não consegui ouvir o que a outra pessoa disse e também tentei não demonstrar muita atenção na conversa dela, para ela não pensar que eu estava vigiando o que ela diria. — Não, eu não posso ir hoje. – Mais espera. — Não, também não sei sobre amanhã. – Rose afundou na cama enquanto ouvia a pessoa falar. — Não, não precisa me colocar de férias, mas você pode descontar os dias que eu faltar. – Ela disse com desanimo e esperou a pessoa responder. — Não, eu vou repor esse tempo. – Mais espera. — Não. Eu... – Rose me olhou, a hesitação dela foi só uma pequena oportunidade em saber se eu ia desistir ou não de deixá-la contar a verdade. Acenei, concordando que era para ela seguir em frente e dizer. — Eu estou internada na maternidade do Saint Patrick. – Uma curta espera. — É, eu estou, mas não são meus. – Tenho quase certeza que a mulher tinha perguntado se ela estava grávida. — É complicado, mas eu te explico tudo quando voltar. – Rose disse rápido. — Sexta-feira, sim. Estarei ai. – Ela confirmou, mas eu tinha quase certeza que ela precisaria de mais tempo de repouso. Eu estava tentado a convidá-la para ficar na minha casa durante esses dias, assim eu poderia ajudá-la e a senhora Rinaldi também. Seria muito mais seguro, fácil e prático se ela tivesse quem cozinhasse, limpasse a casa e as roupas para ela durante esses dias.
Eu estava pronto para começar a falar alguns minutos depois de ela ter terminado a ligação quando foi a vez do meu celular tocar. Olhei o nome na tela. Era a minha esposa, provavelmente, ligando para me desejar um bom dia como ela sempre fazia desde que começara a viajar há mais de três anos. Eu nem ao menos tinha dormido ainda e estávamos longe de ter um bom dia. Não depois dessa noite turbulenta. De qualquer forma, pedi licença à Rose e sai do quarto para falar com a Tasha. Minha esposa também precisava saber o que estava acontecendo. O que tinha acontecido durante toda a noite.
— Oi. – Eu disse assim que fechei a porta do quarto e aceitei a ligação.
— Bom dia, Dimka. Tudo bem? – Tasha usou a voz gentil de sempre e eu tive certeza que ela não fazia nem ideia do que estava acontecendo.
— Tudo bem e você? – Devolvi e percebi o quão cansado eu estava. Consequências de passar a noite toda acordado e preocupado, e ter trabalhado o dia anterior inteiro.
— Tudo bem. Você nem vai acreditar na notícia que eu recebi hoje de manhã! - Tasha começou empolgada. Eu me encostei contra a parede ao lado da porta. A enfermeira, no balcão ali perto me lançou um olhar preocupado e curioso. Ainda era a mesma mulher da madrugada. Ela vira o quão difícil foi a noite inteira. — A Vogue Rússia me convidou para fazer umas fotos.
— Parabéns, querida. – Eu disse, mas não consegui demonstrar a mesma empolgação que ela. Não depois da noite que eu tivera.
— Você não ficou feliz? – Tasha percebeu. — Não quer ir comigo visitar sua mãe?
— Eu não acho que vai ser bom nós estarmos muito longe de Montana agora. – Eu disse, sem saber como contar para ela mais essa notícia. Tasha e eu já tínhamos passado por tantas negativas das candidatas à barriga de aluguel, mas ainda não tínhamos passado por uma situação de aborto. Eu tinha ficado firme na frente da Rose, porque ela precisava de mim, mas agora com a minha esposa ao telefone, suspirei deixando a informação me atingir.
— O que? Por que? – Tasha brigou com alguém que estava fazendo barulho ao fundo. Tão cedo e ela já estava trabalhando?
— Você não checou suas mensagens hoje? – Perguntei um pouco ofendido. Ela sabia de um novo compromisso de trabalho, mas não se preocupou em olhar as mensagens que diziam respeito aos nossos filhos?
— Não tive tempo ainda, Dimka. – Ela disse e eu ouvi portas ao fundo batendo de novo. Eu não me atrevia a perguntar onde ela estava e com quem estava, porque eu sabia que não ia gostar da resposta. — Mas eu vou olhar agora, eu devo estar atrapalhando o seu trabalho também.
— Eu não estou na empresa, Tasha. – Respondi. Não era nem oito horas da manhã ainda, isso porque a nossa diferença de horário era só de uma hora. Como ela podia achar que eu já tinha chegado à empresa? Tentei tranquilizar a minha cabeça e meu coração vendo a paisagem na janela ali perto. Eu estava estressado, mas não era culpa dela.
— Não? Onde você está, Dimitri? – O silêncio ao fundo me dizia que ela estava desconfiada e enciumada. O tom afiado tinha feito tudo ainda mais óbvio.
Eu tinha saído algumas noites com o Ivan e ido à casa da Rose durante a ausência da Tasha. Tivemos momentos irritantes de ciúmes e desconfiança seja por eu ter ido tomar uma cerveja em um bar ou visitar a nossa barriga de aluguel. Eu era obrigado a acreditar que todo esse tempo que ela passava ao lado de homens, nunca tinha acontecido nada. Mas eu não podia sair uma ou outra noite com o meu amigo ou a minha irmã que já parecia o fim do mundo. Essa era a maior briga entre a minha irmã e ela. Vika tinha certeza que ela me traía. Assumo que em dias como esse, eu também desconfiava. O que me deixou ainda mais estressado em pensar que eu tinha arrastado uma mulher com o coração nobre o suficiente para nos ajudar a sermos pais sendo que o meu casamento estava dessa forma caótica.
— Estou na maternidade com a Rose. – Eu estava exausto e nenhum pouco pronto ou a fim de amenizar qualquer coisa agora que ela demonstrara que não tinha nem procurado saber o que estava acontecendo em sua vida privada.
— Por que? O que aconteceu? – Tasha pressionou e o bater de porta voltou só para me dar mais dor de cabeça. — Ela não podia ter ido sozinha? Ela viajou até Helena para ir a maternidade com você?
— Não, Tasha. Estou em Missoula. – Respirei fundo. Meu cansaço aumentou minha irritação e a dor de cabeça. Ainda mais por saber que, baseado nas perguntas dela, isso precedia uma crise de ciúme ridícula. "Ela não podia ter ido sozinha? Ela viajou até Helena para ir a maternidade com você?" ecoou na minha cabeça e eu esfreguei a minha testa me amaldiçoando por, na vez que as coisa estavam dando certo, simplesmente não estavam mais. Que merda de perguntas foram essas?
— Dimitri...
— Nós perdemos um dos nossos bebês. – Eu a cortei antes que ela começasse com o ciúme inútil e infantil. Se ela ao menos tivesse algum motivo para estar enciumada... Eu estava ajudando a mulher que estava carregando os nossos filhos. Não era como se eu estivesse em um Motel.
— O que? – Aguardei por qual seria a reação dela. Tasha sempre me surpreendia. Eu nunca sabia quando ela ficaria extremamente triste, ou brava, ou até mesmo não ligaria para o assunto. Mas eu me arrependi quase no mesmo segundo que eu dissera a notícia sem nem prepará-la. Tinha sido maldoso e cruel. — E você me conta isso assim?
— A Rose tentou falar com você ontem à noite, você viu? – Suavizei o meu tom. Não era culpa dela, repeti na minha mente. Tasha estava dormindo quando as coisas começaram a dar errado. Eu estava pronto para me desculpar por ter sido um escroto e dado uma das notícias mais tristes das nossas vidas dessa forma tão abrupta e irritada. Mas eu desisti.
— Não. Eu estava descansando, você sabia que eu tenho uma sessão de fotos agora de manhã. – Ela disse irritadiça, a reação que eu esperava.
Suspirei. Claro, sempre o trabalho em primeiro lugar. Eu nunca entendi direito essa batalha dela entre manter seu trabalho, profissão e também ter filhos. Estava claro que os dois juntos não estava funcionando. Ela quase nunca encontrava tempo para ir comigo às consultas da Rose, dos nossos filhos. Agora que perdemos um dos bebês, eu sabia que o nosso cronograma ficaria bagunçado e inconstante por um tempo. No entanto, eu tinha certeza que se ela falasse para a agência que a indicou para a joalheria do senhor Mazur, eles – talvez – entenderiam que a Tasha precisava ficar em Montana por um tempo. Tenho quase certeza que nenhum deles se oporia em adiar um pouco essas fotos se soubessem que nós tínhamos conseguido seguir com o processo da barriga de aluguel, que ela já estava grávida e demandava um pouco de atenção.
Bom, eles só não nos entenderiam se não tivessem filhos. Ou não se importassem com eles. Ou não tivessem um coração. Nós tínhamos acabado de passar por uma perda, duvido muito que eles se oporiam a ela voltar para casa. Até mesmo sua assistente. Seria questão de falar com a mulher e tenho certeza que ela cancelaria toda sua agenda por alguns dias e remarcaria sem muitos problemas.
Eu sempre achei que a Tasha usava o trabalho como uma válvula de escape por não conseguir engravidar, pela dificuldade de encontrar uma barriga de aluguel e continuar com o processo. Eu pensava que uma vez que o processo desse certo, ela começaria a diminuir o ritmo. Não que eu quisesse que ela parasse de trabalhar e nem desistisse da carreira, porque eu sei que ela se sentiria miserável e também não achava justo pedir algo como isso para ela. Mas eu achava que precisávamos diminuir um pouco o nosso ritmo de vida, precisávamos nos reconectar e nos preparar para quando as crianças chegarem.
Eu mesmo já tinha conversado com o Ivan que precisaria delegar alguns trabalhos para os departamentos, porque eu queria estar presente para os meus filhos e não queria deixar a responsabilidade de criá-los apenas para a mãe. Só precisava de um planejamento e tempo de execução e tudo daria certo, mas para isso acontecer, primeiro eu – ela, no trabalho dela – preciso querer. Era isso que significava ser um casal; fazer tudo juntos, dividir as responsabilidades, as dificuldades, os problemas e felicidade, era ajudar, se preocupar com o outro e não apenas ter uma aliança no dedo, um documento assinado, dormir ao lado e sexo. Esses eram possíveis encontrar com qualquer mulher por ai, mas um relacionamento de verdade... Era raro. E eu sentia que estava me desencontrando com a minha esposa.
— Eu preciso ir, Tasha. – Eu disse sem paciência e magoado com como toda essa situação se desenvolveu. Magoado comigo e com ela. Nós tínhamos um problema para resolver antes dos nossos filhos chegarem ou nada daria certo. Hoje, agora, eu não tinha cabeça e nem disposição para discutir sobre isso. Sem mencionar que essa era uma conversa que nós tínhamos que ter pessoalmente, não quando estávamos irritados e em estados diferentes. — A gente conversa de noite.
— Dimitri, espera. – Ela falou com urgência. — Eu sinto muito.
Desliguei a ligação e encarei a paisagem de novo. Não sabia mais o que pensar. Só levou alguns segundos para eu decidir não pensar em mais nada agora. Tudo o que tinha acontecido até agora tinha arruinado a minha semana toda. Acho que a única coisa que ainda me dava alguma paz de espírito é que eu tinha duas crianças para cuidar. De resto, estar cansado e estressado era um péssimo momento para eu continuar a refletir sobre o meu relacionamento. Tasha e eu sempre resolvemos os nossos problemas ou, ao menos, tentávamos quando ela voltava de viagem, mas honestamente...
Quando o assunto é nossos filhos, eu não gosto que ela não se importe ou que, uma vez que ela esteja longe de casa, não aparente se importar com nada sobre eles. Era como se o trabalho a consumisse. O trabalho também me consumia, mas eu pensava neles o dia inteiro. Era uma merda não ter intimidade com a Rose, porque eu gostaria de perguntar a todo segundo como eles estavam. Imagino quão difícil será no futuro quando ela já estiver visivelmente grávida, como farei para pedir atualizações, fotos ou vídeos sem parecer um esquisitão.
— Tudo bem? – Rose sussurrou quando eu voltei para o quarto. Ela tinha se deitado de novo e me olhava preocupada. Espero que ela não tenha conseguido escutar a minha conversa. Não queria dar motivos para ela pensar que as coisas não estavam bem em casa e ela ficasse em dúvida sobre a segurança das crianças conosco no futuro.
— Nada que você precise se preocupar. – Eu disse suavemente e me aproximei. — Quer que eu feche? – Apontei para as cortinas abertas que deixavam o sol iluminar o quarto. Ela parecia sonolenta e seria ótimo que conseguisse dormir mais um pouco agora já que a madrugada tinha sido caótica.
— Dimitri... – Ela me chamou. Sua voz doce e gentil me vez parar no meio do caminho com uma sensação quente no estômago. Ao menos, nesse tom, eu sabia que ela não estava se sentindo mal. O que era uma boa coisa e uma vitória já que, aparentemente, ela não tinha vomitado o café da manhã. — Vai para casa descansar. Você não dormiu nada.
— Não vou sair do seu lado. – Disparei, para ela não ter dúvidas de que não importa o cansaço que eu sentisse e nem a dor de cabeça por ter passado a noite em claro, eu não pretendia sair dali por nada. — A não ser que você não me queira aqui.
— Eu não quero te atrapalhar. Você sabe que no contrato não diz nada que você tem que ficar, me ajudar ou até mesmo ter vindo até aqui. Eu só achei que vocês deveriam saber o que estava acontecendo. – Rose se sentou e me observou fechar as cortinas.
— Você fez o certo, Rose, não me atrapalha e não faço por obrigação. – Voltei para perto da cama e me apoiei nas barras laterais para ela ver que eu realmente estava falando sério. — Até prefiro estar por perto caso... Bem, caso isso se repita ou você precise de alguma ajuda.
— Eu... Eu não acho que vou ficar muito mais tempo no hospital.
— Eu sei, mas acredito que vai precisar de repouso. – Eu nos dei alguns segundos de reflexão, mais para eu tomar uma decisão que a Tasha não me apoiaria nenhum pouco. Honestamente, eu não me importava nenhum pouco agora. Tudo o que eu queria era que os meus filhos continuassem bem e ali dentro. — Tenho um quarto de hóspedes em casa, eu gostaria que você ficasse conosco por um tempo.
— Não. – Rose disse sem nem pensar por um segundo na proposta. Eu esperei por algo a mais, mas ela só agradeceu depois da negativa. Refleti o que eu poderia dizer depois disso, no entanto a conversa se encerrou ali, com a mulher se acomodando de volta na cama e eu, sem entender absolutamente nada da mudança de humor daquela conversa, tomei posse da poltrona.
Achei por bem ficar quieto. Pressioná-la mais por algo que ela não queria, não era uma boa escolha por agora. Quem sabe até a alta hospitalar, eu consiga conversar com ela de novo. Eu a assisti dormir alguns minutos depois disso. Seu rosto carregado por causa da minha proposta suavizou ao passar dos minutos em que ela descansava. Rose parecia menos miserável de quando eu a vi de madrugada. Não posso dizer que ela se parece muito com a menina do churrasco. Ela claramente estava mais cansada agora, um pouco mais irritadiça. Eu queria muito poder fazer algo para ajudar. Talvez, se eu propusesse pagar metade do processo em breve, isso ajudaria? Ela poderia tirar uns dias do trabalho para descansar melhor. Talvez, eu pudesse oferecer uma viagem para ela de presente, não sei. Gerar trigêmeos... Gêmeos, não devia ser fácil.
A mulher mal tinha dormido trinta minutos quando a enfermeira veio avisá-la que a médica havia permitido que ela tomasse um banho rápido. Rose havia pedido por isso quando a médica viera ainda de madrugada. Imagino o quão mal ela podia estar se sentindo após as crises de vômito e ter sangrado. A enfermeira desconectou todas as coisas que estavam ligadas à mulher e disse que voltaria em vinte minutos para reconectá-la e esperava que até lá, Rose já estivesse na cama. Se a mulher for como a minha esposa, em vinte minutos ela não teria nem entrado sob o chuveiro ainda.
— Tudo bem? – Perguntei quando a enfermeira saiu. Levantei-me para ajudá-la a sair da cama, mas com certo receio que ela pudesse me afastar de novo. Especialmente, porque eu sabia que ela estava nua sob o avental hospitalar. Tenho certeza que ela gostaria de se cobrir, mas nós éramos adultos o suficiente para encarar aquela situação de forma madura.
— Uhum. – Ela murmurou, mas não rejeitou a minha ajuda, possivelmente para fazer menos esforço. Era o que nós todos precisávamos agora, que ela repousasse e nos deixasse ajudar para evitar mais uma tragédia.
Rose se esticou por alguns segundos. Consigo imaginar o quão dolorida ela pode estar se sentindo por ter ficado tanto tempo na cama. Ela também resmungou algo sobre a injeção na bunda estar dolorida, eu ri disfarçadamente. Nós chegamos àquele momento constrangedor de que eu não sabia se deveria oferecer ajuda ou se ela precisava que eu ficasse por perto durante o banho caso algo acontecesse, mas não perto suficiente para ela se sentir desconfortável e nem eu vê-la nua. Esse era um limite que nenhum de nós dois estávamos dispostos a passar. Se a Tasha ficara enciumada apenas por eu ter vindo acompanhá-la, imagina se soubesse sobre isso? Eu não tive que fazer nada, porque uma vez que a mulher levantara e testara que conseguiria andar sem problemas, ela soltou a minha mão.
Foi estranho, na verdade. Estranho porque eu tive uma sensação incompreensível de abandono e rejeição. Não que eu quisesse que a Rose dependesse de mim, muito pelo contrário. Ela não depender de mim, significava que ela estava melhorando, sentindo-se bem, mais forte. Além disso, eu não pude deixar de reparar no calor e maciez de sua mão e a sensação de formigamento que deixara para trás. Alguma coisa nisso tudo, no toque, calor, formigamento, me fez tremer e olhá-la. Rose não parecia ter tido os mesmo pensamentos e sentimentos que eu. Eu me senti um idiota por ter quase congelado no meio do quarto enquanto refletia esse monte de sensações, observava a mulher caminhar até o banheiro e fechar a porta. Enlouqueceu, Dimitri?
— Hey, Camarada. – Rose voltou a abrir a porta do banheiro. Se não fosse pela diversão na voz dela, eu quase entrei em ação para ajudá-la. — Se você não quiser mesmo ir embora, deveria descer e comer alguma coisa. – Sorri e acenei. Pelo menos, ela não estava me mandando embora. — Eu estou bem, pode ir tranquilo. Nós estamos. – Ela acenou para baixo, para os meus bebês.
Fui tomado pelo alívio e por uma felicidade que eu não esperava. Se ela se sentia bem, significa que estava melhorando. Então eu corri até a cafeteria para buscar, no mínimo, um café e diminuir o que a falta de uma noite sem dormir trouxera, cansaço e dor de cabeça. Aproveitei aqueles minutos para dar uma olhada no meu celular, os e-mails que eu estava negligenciando e sobre a reunião que eu estava prestes a perder. Digitei um e-mail rápido para a Alberta para avisar o que tinha acontecido e com um pedido que ela cancelasse qualquer compromisso que eu tivesse para hoje e talvez amanhã também. Depois de passar a noite em claro, eu não tinha condições nenhuma de trabalhar. Não conseguiria lidar com nada mais importante que os meus filhos.
Quando voltei para o quarto, quase os vinte minutos mais tarde, o perfume de sabonete foi a primeira coisa que me chamou a atenção. Não que antes ela estivesse cheirando mal, mas certamente, Rose sempre estivera perfumada quando eu estive por perto. Algo nisso, me trouxe uma sensação de conforto também. Não era o mesmo perfume que ela usava, mas era algo bom. Os cabelos compridos dela estavam molhados e ela tinha vestido uma camisola hospitalar limpa. Definitivamente, parecia outra mulher. O banho havia revigorado a energia dela e Rose parecia quase pronta para ir para casa.
— Como você está se sentindo? – Perguntei para puxar alguma conversa e porque eu me importava.
— Melhor agora... Depois do banho, sabe... – Ela riu, envergonhada. Era um tipo de resposta que as pessoas usavam para flertar, mas que ela não teve intenção alguma em usá-la comigo. Se ela não tivesse corado, eu com certeza não teria percebido. — Ontem quando tudo aconteceu, não tive tempo para isso. Eu estava me sentindo... Suja.
— Mas não estava. – Eu a confortei. Para a noite infernal que ela tivera, estava ótima, na verdade. — Você parece melhor... De saúde... Agora. – Eu queria ter dito que ela estava bonita também, mas não achei apropriado ou ela poderia pensar que eu, educadamente, dissera que ela estivera feia até aquele momento. O que era uma grande mentira. Ela parecia doente, cansada, mas não feia. Acho que seria quase impossível que ela um dia ficasse feia. Acho que no fim, eu deveria ter dito, porque era a verdade e porque poderia animá-la um pouco mais. Toda mulher gosta de um elogio educado.
— Eu me sinto melhor. Adoraria ir para casa. – Ela disse e se mexeu na cama, deitando-se. Uma careta surgiu, provavelmente pela dor da injeção. — Eu odeio esse lugar. – Rose disse, dando uma olhada ao redor. Olhei também. Não era um quarto desagradável, mas não acho que o fato de ela "não gostar" do lugar seja por causa da estrutura.
— A médica veio enquanto eu estava fora? – Perguntei, na intenção de distraí-la caso seus pensamentos estivessem rondando os motivos pelos quais ela não gostava do lugar e também para saber quando ela poderia ter alta. Quanto antes ela puder sair daqui, melhor seria. Eu só esperava voltar nesse lugar para visitar e ter certeza que era aqui que eu queria que os meus filhos nascessem. Embora, eu preferisse que eles nascessem em Helena, mas se de repente, Rose entrar em trabalho de parto estando em Missoula, seria seguro que ela tivesse uma boa opção por aqui também.
— Ainda não. Só a enfermeira. – Rose levantou a mão para me mostrar que já estava de volta com os fios conectados em sua mão e uma nova bolsa de soro pendurada.
— Quando a médica vier, então, nós perguntaremos quando você vai poder ir para casa. – Dei um sorriso reconfortante para ela. Eu entendia o quanto era ruim ficar ali.
— Você sabe que não precisa ficar comigo. – Ela murmurou, provavelmente pensando que, na verdade, eu quem queria ir embora. Rose deveria aceitar que todo o tempo que eu tiver a oportunidade de estar perto dos meus filhos sem parecer um esquisitão ou stalker, eu ficaria.
— E eu já disse que só vou embora quando você me mandar ir ou quando você for também. – Devolvi, gentilmente. Talvez assim ela aceitasse de uma vez por todas.
Nós nos encaramos quase em desafio. Rose querendo me deixar saber que eu podia ir embora à hora que quisesse e eu mostrando que se ela quiser que eu vá, era melhor dizer com todas as palavras. Ainda assim, talvez, eu teimaria mais um pouco até convencê-la do contrário. Ela suspirou com um sorrisinho divertido e se acomodou nos travesseiros. Eu me aproximei da cama, arrastando a poltrona até ali, com cautela. A mulher já tinha demonstrado um pouco de desconforto quando eu me aproximava muito. Eu tinha observado essa mesma esquiva quando estivera em seu apartamento. O Adrian, o Mason e até mesmo o Ivan, podiam ter flertado, ela ria, mas sempre tinha uma distância. Eu não ia abusar da sorte.
— Rose, seja honesta comigo. – Pedi e ela me olhou com atenção. Retribuí tentando identificar toda e qualquer mísera desculpa que ela pudesse me dar.
— Sim?
— O quanto você não quer ter os gêmeos? – Perguntei com um aperto no coração, tentando novamente a mesma conversa. Esperando que ela fosse realmente honesta comigo. Talvez, depois dessa noite em que passamos mais tempo juntos, ela se sentisse mais a vontade para falar sobre, diferente de uma semana atrás. Não queria perder mais nenhum dos meus filhos, mas não queria fazê-la sofrer ainda mais por passar mais sete meses por algo que ela não queria. Já estava sendo difícil o suficiente e, talvez, se ela não quisesse, nós poderíamos fazer alguma coisa para ela se sentir menos miserável e odiar menos os meus filhos até eles poderem nascer. Eu não sei. Só queria poder fazer algo para ajudá-la.
— Eu não queria ter perdido nenhum deles e não quero perder ou tirar qualquer um dos dois que estão aqui. – Rose apoiou uma mão na barriga. — Eu não queria ter engravidado de tantos, mas depois que aconteceu... Não queria passar por isso por uma escolha nossa. – Acenou ao redor. Isso que ela dizia era passar por um aborto? — De vocês. – Ela se corrigiu, porque tinha deixado claro no dia do contrato que ela não queria se envolver no que dissesse respeito a abortos. Honestamente, eu também não, por isso me doia tanto pensar em passar por essa redução seletiva, mas não posso ser egoísta em negar se for da vontade dela ou indicação da médica. — Isso foi uma fatalidade, eu não provoquei nada para perder o seu bebê.
— Ei, calma. – Eu a impedi de ir por esse caminho, porque não era o que eu tinha em mente. Não era o que eu estava tentando saber. — Eu não disse que você causou isso, não te culpo, Rose. Na verdade, eu me preocupo com o seu bem estar. Preocupo-me que você siga com os gêmeos e isso te faça mal.
— Eu assinei um contrato, Camarada. – Rose sorriu daquele jeito que sorríamos quando não tínhamos opções a não ser aceitar o que nos foi imposto e mesmo assim, faríamos da melhor forma possível. — Não importa como eu me sinto, eles vem primeiro.
—
[Nota Final]
Calma, acabou. Por agora.
Rose vai ter um descanso por uns dois ou três capítulos, prometo. Mas nós vamos ver as coisas mudarem. Aliás, acho que já estamos vendo um pouco e eu não diria que é apenas por "pena" pelo que a Rose está passando. Ou vocês discordam?
O que acham? Que o Dimitri veio só pelos filhos ou ele pode ter tido um tanto de consideração pela Rose também? Tem uns lapsos que ele se cobra que as crianças são deles e a Rose não tem nada a ver com a família, né? Mas vocês acham que vai continuar assim?
Como vocês acham que vai ser daqui para frente entre eles dois? Entre ele e a Tasha? Ainda acham que o relacionamento deles é tão perfeito assim?
Enfim, conversem comigo.
A gente se vê nos comentários!