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S/n Grimes
Três dias depois...
— Vai, junta aí! - pedia meu pai, segurando uma câmera fotográfica. — E... sorriam!
— Pai, isso é mesmo necessário? - Carl resmungou, sentado ao meu lado com Judith no colo.
— Quero ter uma foto dos meus três filhos juntos. Então sim, é necessário. - nosso pai falou. — Depois vou levar pro Aaron revelar. - comentou, batendo a tal foto.
— Aí vai colocar em um porta retrato bem grande em cima da lareira? - meu irmão perguntou de um jeito sarcástico.
— Exatamente. - papai concordou simples, olhando mais uma vez para aquela foto.
— Ele era o tipo de pai que guardava uma foto dos filhos na carteira e mostrava pra todo mundo que parava pra falar com ele. - digo, fazendo meu pai sorrir fraco.
— Vocês sempre foram o meu maior orgulho. - ele disse, sentando entre mim e Carl com Judith nos braços. — Os dois. - me olhou fixamente, tirando um sorriso largo dos meus lábios. — E agora a Judith também faz parte desse orgulho.
— Mais uma Grimes no mundo. - sorri fraco, acariciando o cabelo claro da menina.
Estávamos sentados na varanda, papai tinha acordado disposto a tirar uma foto dos três filhos. Aaron emprestou a câmera que ele usa para tirar as fotos da comunidade e o nosso pai nos obrigou a pousar para a linda foto de irmãos.
Enquanto ríamos, vi Glenn do outro lado da rua.
— Glenn! - chamo pelo homem, o fazendo vir até mim. — Vamos aproveitar o momento fotógrafo do meu pai e tirar uma foto nossa também.
Carl levantou e pegou Judith novamente. Papai parou na nossa frente feliz da vida, mirando a câmera para mim e Glenn, que sorríamos largamente.
— Abra um pouco mais os olhos, Glenn! - papai zoou o asiático, que levou tudo na brincadeira como sempre.
— Eu te amo, asiático irritante. - empurro seu ombro com o meu, desfazendo a pose logo depois que meu pai bateu a nossa foto.
— Eu também te amo, cuidadora de velhinhos. - me empurrou de volta. — Você é a única que não me confunde com um japonês.
— Claro! - levantei os ombros como se fosse óbvio. — Você não era chinês?
— Idiota. - negou com a cabeça, voltando a caminhar pela cidade.
Papai saiu para revelar as fotos e Carl entrou em casa de novo com a nossa irmã. Eu fiquei mais um tempo sentada ali na varanda com os olhos nas pessoas que caminhavam pela cidade.
As coisas estão indo muito bem. A dispensa está bem abastecida, os moradores estão mais dispostos a ajudar e até o Eugene assumiu o seu novo cargo como vigia no portão da frente.
Ri nasalmente e saí andando pela cidade também, vendo Gabriel com um rifle fazendo patrulha e o Morgan perto das placas solares treinando com aquele bastão.
Passei também pela frente da nova casa de Carol, a casa do Tobin na verdade. Vi o homem se despedir da mulher com um beijo rápido e alguns sorrisos. Os dois estão juntos faz pouco tempo, e parecem felizes.
Perto dos portões eu avistei Daryl olhando a moto que havia resgatado do posto na outra noite. Sentada ali perto estava Rosita, os pensamentos da mulher pareciam estar longe.
— Você tá bem? - a tiro do seu transe, sentando ao seu lado.
— Sim, eu estou! - respondeu rápido, balançando a cabeça algumas vezes. — Transei com o Spencer. - ela disse de repente.
— Essa cara significa que foi ruim? - pergunto meio confusa, sentindo a sua desanimação.
— O sexo não foi ruim, mas acordar ao lado dele hoje de manhã foi esquisito. - ela explicou.
— Só tome cuidado. - alerto, realmente preocupada com ela. — Ele é meio estranho.
— Estranho mesmo é aquilo ali. - disse Rosita, olhando diretamente para o caçador a poucos metros de nós.
Bárbara estava encostada na moto dele, puxando conversa com aquele sorrisinho idiota nos lábios. Daryl olhava para mim e Rosita enquanto tentava ser educado, limpando as mãos em um pano velho.
— O olhar do Daryl pede socorro. - a mulher ao meu lado falou.
— Então eu vou lá socorrer ele. - levanto, indo até aquela ruiva sem sal e o meu namorado.
Ao me aproximar, abracei o pescoço do caçador e beijei seus lábios. Daryl ficou encarando minha boca com um sorriso fraco depois que nos separamos, enquanto Bárbara assistia tudo com um leve desconforto.
— Oi! - ela forçou novamente aquele sorriso largo. — Você é a filha do Rick, né?
— Isso. - também forço um sorriso, deixando evidente o quão falso ele era. — E namorada do Daryl. - deixo claro.
— Ah... - ficou séria outra vez, parecia um pouco decepcionada.
— Amor, vamos pra casa? - olho para o caçador, ainda abraçada em seu pescoço.
— Vamos! - ele concordou rapidamente.
Sorri para ele e o puxei para longe, sentindo seu braço pesado me abraçar pelos ombros.
— Daryl! - a voz de Bárbara nos fez parar. — Passa lá em casa hoje à noite pro jantar.
— Eu já tenho planos pra essa noite. - ele respondeu, olhando para mim com um sorriso malicioso disfarçado.
— Tchau, Bárbara! - me despeço da mulher, que finalmente nos deixou ir.
Eu não dei uma palavra durante o caminho até a casa do Daryl. Tirei seu braço dos meus ombros e caminhei na frente com a cara fechada.
O caçador entrou na casa depois de mim, trancando a porta atrás da gente enquanto encarava minhas costas com confusão.
— O que eu fiz agora? - ele perguntou, vendo que eu estava muito calada.
— Eu nem disse nada. - me joguei no sofá com os braços cruzados.
— Mas tá pensando. - se jogou ao meu lado.
— Por que tá tão nervoso? - o questiono, olhando para ele com os olhos estreitos.
— Você viu que eu tava desconfortável ali. - rebateu. — Ela apareceu e ficou puxando assunto.
— Era só ter saído. - digo simples.
— Eu estou tentando parar de ser grosso. - disse pausadamente, com impaciência na voz. — Estou tentando ser mais gentil.
— Sabe com quem você era gentil? Comigo. - abri um sorriso sarcástico. — Sabe o que aconteceu? Minhas roupas e a minha virgindade ficaram na sua barraca.
— Quer que eu seja ignorante então? Tá bom! - deu de ombros. — Se quiser, eu posso continuar sendo muito ignorante.
— Eu quero que você dê um basta na Bárbara e no que ela pensa que vocês têm. - falei com a voz séria. — Devia ir no jantar que ela vai fazer pra você hoje. - me afundo mais no sofá.
— Sério? - me olhou com a sobrancelha arqueada.
— Óbvio que não, Daryl! - elevo a voz. — Você iria pra esse jantar se eu não me importasse?
— Claro que não! - se explicou rapidamente. — Olha, S/n, você tá me deixando confuso.
— A pergunta é bem simples, querido. Eu ou a Bárbara? - com um sorriso sarcástico, eu olhei em seus olhos.
— Eu me declarei por trinta minutos pra você naquele dia, então você já tem a resposta. - ele disse.
— Então você não quer ir no jantar? - pergunto.
— Eu já disse que tenho planos pra essa noite. - seus olhos desceram para os meus lábios.
— E quais são esses planos? - sinto minha respiração ficar um pouco pesada, vendo o homem se aproximar ainda mais do meu corpo.
— Ficar a noite inteira com você. - respondeu baixinho, bem perto do meu rosto.
— O que quer dizer com "ficar"? - retribuo seu tom. — Seja mais específico, Dixon.
— Quero dizer que você vai ser minha essa noite. - ele falou.
— Já disse que eu não sou de ninguém. - deito no sofá, sentindo o peso do seu corpo sobre o meu.
— Sim, você é. - beijou o meu pescoço. — Você é minha. Toda minha.
— Você está sendo um pouco abusivo. - digo, fechando os olhos enquanto arfava.
— E você gosta. - subiu novamente para me olhar nos olhos.
— Sendo assim, você também é meu. - eu disse, sem quebrar aquela troca de olhares. — Só meu.
— Eu sempre fui seu. - Daryl falou, chegando mais perto do meu rosto. — Desde a fazenda. Eu já era seu ali.
— Eu te amo, Darlinda. - sussurro para ele.
— Eu te amo, pequena. - sussurrou de volta. — Não amo muito esse meu apelido, mas te amo. - riu baixinho.
Com um sorriso fraco, ergui um pouco a minha cabeça e colei seus lábios nos meus. Enterrei meus dedos em seus fios pretos e o trouxe para mais perto, abrindo mais as minhas pernas para que ele ficasse entre elas.
— Sem brigar por besteiras agora, ok? - me olhou nos olhos, depois que nos separamos pela falta de ar.
— Eu não garanto nada.
— Garante sim, cala a boca! - grudou novamente nossas bocas, me fazendo rir entre o beijo.
— Vamos fazer isso aqui? - pergunto, sentindo novamente seus beijos descerem para o meu pescoço.
— Não quer riscar mais um cômodo da sua lista? - sua respiração quente e a voz grossa no meu ouvido fizeram todo meu corpo arrepiar.
— Eu acho uma ótima ideia. - envolvo sua cintura com minhas pernas. — Esse sofá é bem confortável.
— Pensei na gente fazer no chão. - ele disse, levantando sua cabeça para me encarar.
— Sério? - abri um sorriso largo involuntariamente. — Eu topo!
O caçador me beijou com mais intensidade e rolou nossos corpos no sofá, fazendo com que caíssemos com tudo no chão. Rindo em cima do seu corpo, as mãos do caçador apertaram a minha bunda.
Poderia dizer que dormi na casa do Daryl essa noite, mas nós dois ficamos bem acordados. Algo que meu pai não precisa saber.
Pela manhã, eu e Daryl nos encontramos com a Denise e a Rosita. A médica quer conferir umas lojas não muito longe daqui, ela acha que pode haver farmácias por lá. Tentamos fazê-la ficar, mas ela insistiu em ir com a gente.
Saímos nós quatro em um carro, um caminho silencioso e meio perturbante. Paramos no meio da estrada quando vimos uma árvore caída, impedindo que seguíssemos em frente no veículo.
Fiquei no carro com Denise, enquanto Daryl e Rosita foram lá fora ver o que tinha acontecido. Vi quando a mulher tirou um saco da mochila de um zumbi preso embaixo da árvore, vindo novamente até o carro.
— O que acharam? - Denise perguntou.
— Garrafas de bebidas. Tá afim de uma? - Rosita ofereceu para a médica, rindo animada.
— Não, obrigada. - a mulher agradeceu, guardando seu facão na cintura.
— É pra depois. - Rosita insistiu, tentando tranquilizar a mulher. — Isso não vai pra dispensa.
— Não. - negou outra vez. — Meus pais é que bebiam. Por isso eu não bebo.
— O carro não vai passar pela árvore. - Daryl falou, vindo atrás de nós. — Vamos a pé. - saiu na nossa frente, jogando uma mochila para mim.
— Espera! - Denise o chamou. — É uma linha reta se formos pelos trilhos. - disse, depois de dar uma rápida conferida no mapa que segurava.
— Nada de trilhos. - o caçador negou. — Vamos pela estrada.
— É o dobro da distância. - Rosita rebateu.
— Vai por onde você quiser. Eu não ando em trilhos. - Daryl resmungou, voltando a andar em linha reta.
— Cadê a parte do "estou tentando ser menos ignorante"? - pergunto, passando a caminhar ao seu lado.
— Pensei que não quisesse que eu fosse gentil com outras pessoas. - disse sem olhar para mim, focado na estrada.
— Depois da noite de ontem, achei que fosse acordar com o humor melhor. - digo, fazendo uma careta para o homem.
Denise veio atrás de nós, enquanto Rosita seguiu pelos trilhos do mesmo jeito. Comecei a me arrepender de não ter ido com ela pelo caminho mais curto depois que minhas pernas começaram a doer de tanto andar.
— Até que enfim. - disse Rosita, vendo nós três nos aproximarmos dela.
Daryl passou direito sem dizer uma palavra, enquanto eu e Denise continuamos caminhando mais atrás com Rosita.
— Não ligue pra ele. - tento melhorar a situação desconfortável. — Daryl é um cara de momentos.
— Tá segurando errado. - Rosita olhou para a médica, que segurava o facão do jeito errado.
— Quem te ensinou a lutar? - Denise perguntou curiosa, fazendo Rosita a encará-la por alguns segundos. — Desculpa, eu não quis tocar no assunto...
— Muitas pessoas me ensinaram muitas coisas. - ela respondeu. — Daqui alguns anos, o Abraham vai ser só um nome numa longa lista.
— Por que o Daryl está tão mal humorado? - Denise mudou de assunto, tentando manter a conversa entre nós três.
— Se souberem, me digam. - eu disse baixinho, olhando para o colete de asas do caçador. — Ontem a gente transou no chão da sala dele. Eu esperava que ele fosse acordar mais animado.
— O Daryl é mesmo muito estranho. - Rosita comentou. — Ela é uma gostosa. - olhou para Denise, enquanto apontava para mim. — Principalmente nua.
— Não é pra tanto. - ri envergonhada, sentindo as minhas bochechas corarem.
— Vocês duas já... - Denise intercalou os olhos entre nós duas, abrindo a boca com surpresa depois que Rosita me lançou um olhar malicioso. — Eu nunca imaginei.
— Foi só uma vez. - explico. — Agora eu e o Daryl estamos namorando oficialmente e a Rosita tá transando com o Spencer.
— É, eu já sabia disso. - a médica falou. — Ouvi o Spencer chamando a Rosita pra jantar com ele.
— Jantar? - ri com um olhar surpreso, enquanto Rosita permanecia com uma expressão séria.
— Ele se ofereceu pra fazer a comida e tudo. - Denise continuou.
— Pra quem não queria um relacionamento sério, você tá indo pelo caminho errado. - volto a olhar para frente. — Devia me sentir ofendida por não ter sido a escolhida? - brinco, fingindo estar chateada.
— Olhem só, chegamos! - Rosita me ignorou, olhando para a fileira de lojas na nossa frente.
Daryl abriu a porta de uma das lojas e nós invadimos o lugar. O cheiro que tinha ali era horrível, mas a Denise estava certa. Realmente existia uma farmácia, com as prateleiras cheias de remédios.
— Se colocarem no balcão, eu posso escolher. - a médica falou, ajeitando seu óculos.
— Não, a gente vai levar tudo. - disse o caçador, entrando na drogaria.
— Tem certeza, porque...
— Relaxe. - sorri gentilmente para a mulher, entrando na farmácia depois de Rosita.
Ouvimos um barulho vindo de uma porta bem ao lado, mas não demos importância. Eu, Daryl e Rosita colocamos todos os fracos dentro das nossas mochilas, nos assustando com o som de vidro se quebrando.
— O que tá fazendo? - Rosita olhou para Denise, que parecia muito assustada.
— Nada. - ela disse com a voz trêmula e ofegante.
Denise saiu da loja e ficou esperando a gente do lado de fora, enquanto nós continuamos enchendo as mochilas.
— Devíamos tratá-la melhor. - comentei, logo depois que a médica saiu.
— Em nenhum momento tratamos ela mal. - Daryl falou.
— Você tá tratando todo mundo mal hoje. - digo, o olhando de relance. — Ela nunca veio aqui fora, tá assustada. Desde que assumiu a enfermaria, tudo que ela vem tentando fazer é ajudar. A gente devia ter mais paciência com ela.
Daryl me encarou por um tempo, mas logo voltou a jogar os remédios dentro da mochila. Quando terminamos, saímos da loja e encontramos Denise sentada no chão segurando um chaveiro escrito "Dennis".
— Mandou bem achando esse lugar. - Daryl falou gentilmente, chamando a atenção da médica.
Denise concordou com a cabeça e levantou, secando as poucas lágrimas que molhavam seu rosto.
— Tentei falar que não tava pronta. - disse Rosita, olhando para a médica com um olhar paciente. — Nós tentamos.
— Eu sei. - ela disse com a voz chorosa.
— Ela tá pronta. - digo, sorrindo fraco para a mulher. — Agora ela tá.
Denise sorriu sem mostrar os dentes e nós finalmente fomos embora daquele lugar.
— Ele era o mais velho ou o mais novo? - Daryl perguntou para Denise enquanto andávamos, adivinhando que "Dennis" era seu irmão.
— Mais velho, por seis minutos. - ela respondeu sorridente. — Meus pais pensaram em Dennis e Denise numa das bebedeiras deles. Engraçado, né? Nada o assustava. - Denise contou, se referindo ao irmão. — Ele era corajoso. E cabeça quente também. Uma combinação perigosa.
— Parece que tivemos o mesmo irmão. - disse Daryl com um olhar meio triste.
Andando ao lado do caçador, entrelacei sua mão na minha. O homem olhou para mim com um olhar grato, e eu apenas sorri.
Chegamos nos trilhos e já estávamos convencidos a seguir em linha reta pela estada mesmo, mas Daryl apertou a minha mão mais forte e seguiu pelos trilhos.
— Por aqui é mais rápido, né? - apontou para a direção que os trilhos levavam, fazendo Rosita e Denise sorrirem junto a mim.
— Vejo que o humor de Daryl Dixon melhorou. - digo com um sorriso largo, abraçando o braço forte do homem.
Fora dos trilhos, Denise viu um refrigerador dentro de um carro. Tinha um zumbi lá dentro, um único zumbi. Ela nos chamou e tentou fazer a gente parar, mas nós seguimos andando.
Eu sabia que ela não ia desistir e acabaria tentando pegar aquele refrigerador sozinha, foi por isso que eu não tentei fazer os outros pararem para ajudá-la. Queria que Denise fizesse aquilo sozinha.
Voltamos correndo quando ouvimos a médica cair no chão com o zumbi em cima dela, mas quando chegamos ela nos mandou ficar longe. Denise o matou sozinha, como eu sabia que ela podia fazer.
Depois de vomitar, ela voltou até o refrigerador e exibiu com orgulho uma lata de refrigerante de laranja. O tal refrigerante que ela pediu para o Daryl trazer dias atrás se encontrasse para poder surpreender a Tara.
— O que foi isso? - Daryl perguntou com aquele seu tom rude, olhando seriamente para a médica abaixada ao lado do carro. — Você podia ter morrido, sabia?
— É, eu sei. - ela concordou, ficando em pé novamente.
— Você me ouviu? - o caçador olhou para ela com impaciência.
— E quem se importa?! - Denise elevou um pouco a voz, dando de ombros. — Vocês podiam ter morrido lutando com os Salvadores, mas não morreram! Quer viver, assuma os riscos. É assim que funciona! - explodiu, falando tudo que veio a sua mente. — Foi isso que eu fiz.
— Por umas latas de refrigerante? - o caçador indagou com a voz mais calma.
— Não. - ela negou. — Só por esta aqui. - levantou o refrigerante de laranja, passando por nós três.
— Fala sério?! Você é sempre tão burra? - Rosita foi atrás dela, a repreendendo.
— Você é? É sério. Você é? Você tem ideia do que aquilo foi pra mim, do que tudo isso tem sido pra mim? - Denise perguntou de volta, parando na frente da mulher. — Eu te pedi pra vir comigo porque você é corajoso como o meu irmão e às vezes me faz sentir segura. - apontou para o Daryl, que a ouvia em silêncio. — E eu queria você aqui porque tá sozinha. - olhou novamente para Rosita. — Talvez pela primeira vez na sua vida. E porque você é mais forte do que pensa, o que me dá esperança de que eu também posso ser.
— No caso, eu sou a única sobrando no bonde, né? - dei uma leve interrompida na conversa. — Não estou me sentindo excluída, se desejar saber.
— Te queria aqui porque você é uma das únicas que não tem medo de ser o que quer. - Denise falou para mim, olhando nos meus olhos. — Seu pai e muitos outros te julgaram por ter escolhido ficar com o Daryl, até o próprio Daryl, mas isso não fez você desistir. E eu também quero ser assim. Quero ter a mesma coragem que você tem de ser quem quiser ser. - ela disse, me fazendo sorrir fraco. — Eu podia ter ido com a Tara. Eu podia ter dito que a amava, mas não disse... porque estava com medo. Isso que é burrice! Não vir aqui, não encarar os meus medos. O que me deixa irritada é vocês dois nem estarem tentando, porque são fortes, espertos. - repreendeu o Daryl e a Rosita, que nem sabiam o que falar. — Os dois são pessoas muito boas. E se não acordar...
Antes que Denise terminasse de falar, uma flecha surgiu do nada e atingiu seu olho. Foi um choque. Daryl correu para segurá-la e a médica caiu morta nos trilhos.
Nós levantamos nossas armas no mesmo instante e apontamos para as árvores, de onde vários homens saíram. Todos muito bem armados, mirando para nós com sangue e soberania nos olhos.
— Larguem as armas agora! - um deles gritou.
Não tínhamos escolha, não depois de ver Eugene ser colocado de joelhos ali na nossa frente por um homem com metade do rosto queimado. O que mais me deixou intrigada foi ver o homem carregar a besta do Daryl, a mesma que acabou de atirar na Denise.
— Tem alguma coisa pra me falar? - o homem com o rosto queimada perguntou para Daryl, que o encarava com raiva. — Vai dar o papo reto? Ou vai bancar o esperto? Não. Você não fala muito.
Três dos homens vieram até nós e pegaram nossas armas, revistando nossas roupas.
— Eu ainda estou aprendendo. - disse o homem, ainda com o olhar fixo em Daryl, se referindo a besta. — Dá um coice danado, mas...
— Eu devia. - Daryl murmurou.
— O que disse? - o homem perguntou. — É sério, eu não ouvi o que você disse.
— Devia ter te matado. - Daryl repetiu, agora, em tom alto e claro.
— É, talvez devesse. - ele concordou. — Mas aqui estamos nós. É uma coisa meio óbvia, né? Quem procurou o quê? Vai ter que acreditar em mim, mas nem era nela que eu tava mirando. Como eu disse, dá um coice danado. - levantou novamente a besta. — Não é nada pessoal. Olha, não era assim que a gente gostaria de negociar, mas vocês meio que deram o tom, não foi?
— O que vocês querem? - eu perguntei, atraindo a atenção do homem.
— Desculpa, amor, eu não sei o seu nome. - ele falava com sarcasmo e superioridade, como fosse melhor do que a gente, como se fosse mais poderoso do que nós.
E talvez fosse.
— Eu sou o D. Ou Dwight, como você quiser. - se apresentou. — E aí? Como é o seu nome?
— S/n. - respondo com a cabeça erguida e nem um pouco intimidada, vendo o sorriso idiota daquele imbecil crescer. — O que você quer?
— Primeiro me diga o nome da sua amiguinha. - olhou para Rosita, me fazendo respirar fundo.
— Rosita. - a mulher se apresentou, deixando o homem satisfeito.
— Bom, S/n e Rosita... - ele disse. — Não é o que eu quero, é o que vocês duas e o Daryl vão fazer. Vão levar a gente até o complexo de vocês. Parece que é muito bonito lá. Daí vão nos deixar levar o que e quem a gente quiser.
— O que te faz pensar que faríamos isso? - perguntei.
— Podemos estourar os miolos do Eugene. - sorriu vitorioso. — Depois os seus. Depois os da Rosita. E por fim os do Daryl. Eu espero que não chegue a isso. Sério. Ninguém mais tem que morrer. A gente só queria matar um. Sabe, pra ficar bem claro que apito a gente toca. E aí? Como é que vai ser? Podem falar.
— Querem matar alguém? - Eugene perguntou. — Comecem com o nosso amigo que está atrás dos barris. Ele sim é um baita bundão e merece mais do que todos nós. - desviou seu olhar dos barris e olhou para Rosita.
O tal do Dwight mandou um dos Salvadores ver quem estava ali, atraindo a atenção de todos. Enquanto olhávamos para os barris, Eugene mordeu a virilha de Dwight, o fazendo gritar de dor.
Abraham iniciou o tiroteio, nos dando a chance de pegar as armas que haviam tirado de nós. Nesse meio tempo, Eugene foi atingido na barriga e os outros recuaram.
— Daryl, para! - grito pelo homem, que pretendia ir atrás dos outros.
Rosita e Abraham estavam ajoelhados nos trilhos, fazendo pressão no ferimento de Eugene. Eu estava parada em pé com os olhos sobre o caçador, que segurava a besta que Dwight tinha deixado para trás, pousando meu olhar sobre Denise caída morta no meio dos trilhos logo em seguida.
Daryl voltou e correu para ajudar Eugene, enquanto eu permaneci parada encarando o corpo de Denise.
— S/n, temos que ir. - a voz de Daryl me despertou, fazendo com que eu o olhasse novamente.
Me afastei do corpo de Denise e ajudei Rosita a carregar as pernas de Eugene. Assim, conseguimos chegar no nosso carro e voltar para Alexandria.
Estávamos todos na enfermaria vigiando o Eugene, quando Abraham chegou dizendo que o meu pai já estava vindo.
— Como ele tá? - o ruivo perguntou, se aproximando da maca de Eugene.
— A bala pegou de raspão, ainda bem que a gente trouxe ele rápido. - Rosita explicou. — Os antibióticos que pegamos vão impedir a infecção.
— Tudo graças a Denise. - digo cabisbaixa, sentindo o olhar triste do caçador sobre mim.
— Você tá bem? - Daryl perguntou baixinho, segurando a minha mão.
— Vou ficar. - forcei um sorriso fraco, apertando mais a sua mão na minha.
Eugene logo acordou, um pouco fraco, mas cociente.
— Eu não quis tentar te matar. - ele disse no mesmo instante, olhando para Abraham. — Só queria achar o momento.
— Você achou. - disse o ruivo, abaixando perto da maca.
— Vai se desculpar por questionar minhas técnicas? - Eugene perguntou.
— Peço desculpas por questionar suas técnicas. - Abraham se desculpou. — Sabe mesmo morder um pinto. E eu falo isso com todo respeito, viu? Bem-vindo a fase dois.
— Não preciso de boas-vindas. - disse Eugene. — Já faz um tempo que cheguei.
Desviei meu olhar dos dois e olhei novamente para o par de olhos azuis a minha frente. Com a mão grossa do caçador ainda entrelaçada na minha, eu a levantei e a beijei.
Daryl me puxou para ele e me abraçou fortemente, deixando um beijo no topo da minha cabeça. Apertei seu corpo e escondi a o meu rosto em seu peito, me sentindo em casa de novo.
Antes de voltar para Alexandria, eu fiz o Daryl voltar comigo para buscar Denise. Abraham nos ajudou a carregá-la até o carro, e assim nós a trouxemos para casa também.
Chamei Daryl para ir comigo até o cemitério da comunidade, juntos nós cavamos a cova da médica e a enterramos. Ficamos parados na frente do seu túmulo, olhando a placa com o seu nome enquanto virávamos uma garrafa pequena de vodka.
— Essa é a última vez que você vai beber isso. - Daryl falou, tomando a última gota da bebida.
— Que pena. - suspirei frustrada. — Tá difícil continuar lúcida nos dias de hoje.
Com aquele chaveiro escrito Dennis nas mãos, o coloquei em cima da sua cova. Deixei Daryl ali e saí andando pela comunidade, vendo Abraham sair da casa da Sasha.
Eu ia passar direito, mas o homem me chamou.
— E aí, quatro ouvidos! - gritou por mim.
— Quatro ouvidos? - franzi o cenho, indo até ele.
— É, porque você fica o tempo todo com aqueles fones. - ele explicou com aquele seu jeito bem humorado.
— Você é mesmo bom em dar apelidos, cenoura.
— Digo o mesmo. - ele riu. — Cenoura?
— Não sei se você já percebeu, mas seu cabelo é laranja. - digo, passando a mão pelo seu cabelo ruivo.
— Sério? - fingiu estar surpreso. — Eu não tinha percebido ainda.
— Você magoou a Rosita. Sabe disso, não é? - mudo de assunto, o fazendo fechar aquele seu sorriso largo.
— Não podíamos ficar juntos. - se explicou.
— Por quê? Você tá gostando de outra pessoa? - o questiono.
— Não é isso, é que... - respirou fundo, tentando encontrar as palavras corretas. — Olha, achávamos que éramos os últimos nesse mundo, mas tem outros. Tem outros homens e outras mulheres. Eu não sou o cara certo pra Rosita, ela merece mais.
— Ela te ama.
— E eu amo ela, de verdade. Mas eu realmente não posso fazer isso, não posso prendê-la a mim. - ele disse, e parecia mesmo estar sendo sincero.
— Parece até o Daryl falando. - ri nasalmente. — E a Sasha? Você gosta dela? - pergunto
— A Sasha? - ele indagou confuso.
— Não se faça de idiota. Todos sabem que você deixou a Rosita por causa dela. - digo.
— Eu gosto muito dela, ela é diferença da Rosita. - ele confessou.
— Ama ela? - pergunto com a feição séria.
— Amar é uma palavra forte. Eu a admiro, gosto de estar com ela, mas eu amo a Rosita. - disse o ruivo.
— Então, por que não ficam juntos? - volto a questioná-lo.
— Eu já disse, não sou o cara certo.
— Abra bem os olhos, cenoura. Rosita é uma mulher bonita, daqui a pouco os homens vão cair sobre ela. - eu disse, sem tocar no nome do Spencer... ou o meu.
— É, eu sei que vão. - balançou a cabeça em concordância.