⚠️ALERTA DE GATILHO ⚠️
Uso de bebida alcoólica, agressão verbal
discussão, relacionamento familiar complicado.
A mochila pendurada em seu ombro parecia pesada demais para a quantidade de matéria que continha em seu interior, o par de olhos azuis vagava pelo corredor sem um ponto fixo a qual se concentrar enquanto retornava em passos lentos para a diretoria onde seu pai se encontrava.
Cada passo rumo àquele local parecia tornar as coisas mais complicadas, sua mente lhe gritava para que saísse dali o mais rápido que pudesse sem olhar para trás e aquela sensação incômoda de que algo estava muito errado lhe causava arrepios na coluna.
As risadas que ecoavam juntamente de conversas paralelas não chegavam aos ouvidos de Takemichi que se encontrava preso em sua própria mente, lutando contra si mesmo para deixar o medo para trás e encarar de frente a situação a qual suas ações haviam lhe colocado.
— TAKEMICHI! — O grito lhe faz parar de andar em meio ao corredor e se virar, correndo em sua direção vinha Takuya com a própria mochila nas costas — O-onde você vai?
— Meu pai veio me buscar — contou segurando com força a alça da mochila.
— S-seu pai? — O amigo pareceu engasgar com o ar, os olhos arregalados seguindo para a porta da diretoria não muito distante de onde estavam parados.
— Hunrum.
— Isso tem haver com o motivo de você ter sido chamado na diretoria? — O moreno balançou a cabeça em uma resposta muda — Meu deus… Takemichi, o que você fez?
O garoto abriu a boca e fechou algumas vezes pensando na melhor forma de contar ao amigo, sem que o mesmo surtasse ou ficasse preocupado.
O ranger da porta vindo de trás de si, fez com que o moreno desviasse a atenção olhando para a origem do som e se deparando com seu pai saindo da sala na companhia da megera, segurou a vontade de revirar os olhos e apertou com mais força a alça da mochila, forçando um sorriso ao se virar para Takuya.
— Eu te conto amanhã, pode ser? — sua voz saiu fraca, em um sussurro enquanto seus olhos focavam na expressão do amigo.
Yamamoto resmungou algo incompreensível e balançou a cabeça conformando, os olhos seguiram na direção do patriarca dos Hanagaki com sentimentos que o garotinho não compreendeu e se virou para sair.
— Mais uma vez, obrigado Nakamura-san — Sr. Hanagaki colocou a mão sobre o ombro do filho, dando um aperto no local — Vamos filho.
Takemichi mordeu o lábio contendo qualquer tipo de som que pudesse produzir baseado na dor que surgiu do aperto repentino em seu ombro, um passo para trás fugiu do toque de seu pai e apertou ainda mais a alça da mochila enquanto começava a andar em passos rápidos para a saída do colégio.
Os passos do progenitor atrás, firmes e barulhentos, daquele mesmo jeito que se ouvia em filmes de suspense quando o protagonista estava sendo perseguido pelo assassino que não tinha a menor pressa em acabar com toda aquela situação, que se divertia apenas com o desespero da própria vítima.
Balançou a cabeça afastando aqueles pensamentos, ele não estava em um filme de terror e seu pai não era nenhum monstro.
O percurso feito da escola até às portas da residência Hanagaki durou pouco mais de cinco minutos e foi feito em completo silêncio, talvez se não fosse pela poluição sonora das ruas de Shibuya poderia até ser possível escutar o batimento cardíaco das únicas pessoas no interior do automóvel.
Takemichi passou a curta viagem encarando o tráfego nas ruas, sem olhar momento algum para o patriarca, o cheiro de bebida alcoólica que se fazia presente no interior do carro era o suficiente para que o garoto pudesse concluir o que continha dentro da pequena garrafinha de metal que o mais velho retirou do bolso ao sair de dentro da área do colégio.
O carro foi estacionado na calçada em frente a entrada da residência, Takemichi desceu pegando a mochila na parte de trás do carro e acompanhou o pai em silêncio na expectativa de qual seriam as próximas ações do mais velho.
A porta da sala foi aberta em um solavanco, o barulho assustou o mais novo que saltou para trás se encolhendo antes de entrar na casa, o tênis sendo deixado na entrada junto da mochila.
Os olhos azuis seguiram o mais velho andando de um lado para o outro no espaço livre da sala de estar, andou até ele evitando fazer o máximo de barulho possível.
— Me diga, onde foi que eu errei com você? — As palavras saíram de forma arrastada, demonstrando cansaço, os passos consecutivos interrompidos se virando para Takemichi.
O moreno congelou no lugar ao ouvir as palavras direcionadas a si, o objetivo de chegar até o seu quarto sendo jogado de escanteio ao se virar encarando o patriarca.
Frases e palavras voaram pela sua mente em forma de resposta para a pergunta do outro, memórias que ele não se lembravam estavam na ponta da língua para serem usadas de resposta, ele não podia confiar em si mesmo naquele momento então deu passos para trás parando no centro da sala perto do sofá e um pouco longe do pai.
— É sempre a mesma coisa, eu e sua mãe fazemos o possível e o impossível para te criar bem, lhe dar uma vida confortável diferentes da que tivemos e poder oferecer tudo que você quer — puxou de dentro do bolso uma garrafinha metálica dando um gole nela — E como você agradece? Sendo um completo irresponsável com tudo, não levando a sério nada e fazendo merda atrás de merda.
— E-eu só queria ajudar meu amigo, não fiz nada de errado — respondeu meio incerto, afastando-se do pai por puro insistindo em passos para trás até cair contra o sofá, o tom irritado que era dirigido a si o fazia querer apenas sumir — D-desculpa.
— D-desculpa — o imitou de forma debochada — Desculpas não servem de nada enquanto você continuar sendo esse merdinha que você é… não adianta pedir desculpas, se não vai mudar suas ações ou se acha que fez o certo, porque você não está realmente arrependido.
— P-pai…
— Eu por acaso estou mentindo? — se curvou para frente, para perto do menor, um olhar intimidador — Você sempre pede desculpas, porque não consegue fazer absolutamente nada certo… Tirou notas ruins? Pede desculpas. Quebrou regras? Pede desculpas. Apanhou de valentões na rua? Pede desculpas… quando vai parar de ser essa merda? Fazer isso não vai te levar a porra de lugar nenhum.
Takemichi se encolheu no sofá, abraçando as próprias pernas contra o peito, o lábio inferior pressionado entre os dentes tentando conter qualquer lágrimas que pudesse ameaçar cair, as íris azuis refletindo tamanha decepção que era ouvir aquelas coisas vindas da boca do próprio patriarca.
No fundo ele sabia que aquilo não era uma total mentira, ele sempre buscava refúgio nos pedidos de desculpa por puro impulso era um costume desde que fugiu de Kiyomasa a tantas linhas do tempo passadas, uma espécie de escudo que criou que nunca o protegeu realmente.
— Se você continuar desse jeito vai acabar se dando mal igual aquele bastardo de merda, vai acabar no reformatório ou em lugares piores… você quer ser como ele por acaso? — deu mais um gole na bebida de forma impaciente, murmurou coisa confusas que se infiltraram na mente do menor sem que ele percebesse — Me diz que merda você tem na cabeça para trazer uma aberração como aquela para dentro da escola, eu sempre disse para sua mãe que sua amizade com esses garotos estranhos não eram boa influência e ela ainda teve a ousadia de ficar puta quando te afastei daquele tal de Kakucho quando era menor, tudo péssima influência que você não percebe que te leva para o caminho ruim.
Takemichi ergueu a cabeça encarando seu progenitor com confusão e raiva, as mãos trêmulas agarradas ao tecido da calça.
SEU PAI HAVIA FEITO O QUE?
— Eu não criei ninguém para ser vagabundo e fazer essas merdas, tá me ouvindo Takemichi? — o som da voz de assemelhou a um rosnado.
— V-você que me afastou do Kaku-chan? — sua voz saiu frágil, quebrada.
— Foi o melhor, acredite meu filho — o tom suave não combinava em nada com o olhar que o homem lhe lançava, ou com as coisas ditas anteriormente — Ele era uma péssima influência, te fazia se meter em brigas e você estava sempre voltava machucado quando saia com ele.
— Eu não acredito que o senhor fez isso, você sabia mais do que ninguém o quanto ele era importante para mim… Kakucho era meu único amigo naquela época, única criança que não me julgava ou contrário me apoiava nas minhas decisões — desabafou irritado, o dedo sendo apontado para o pai — Você estragou a melhor coisa que eu tinha.
— Não seja rebelde, Takemichi — o homem grunhiu em tom de aviso — eu fiz isso pelo seu bem.
— Eu não estou sendo rebelde, apenas estou dando a porra da minha opinião coisa que o senhor não quer deixar eu fazer — rebateu, os olhos azuis brilhando em confiança enquanto se erguia do sofá ficando de pé diante do patriarca — Eu não sou a porcaria de um bonequinho que você pode moldar a história da forma que te agrada, você não pode simplesmente acabar com uma amizade minha porque você é paranóico e acha que isso vai ferrar com um futuro que não sabe como vai ser, eu sou a merda do seu filho e não um brinquedo para mostra ao seus amigos… Tenho sentimentos e opiniões muito diferentes das que você quer que eu tenha e não tem nada de errado nisso, mas quando eu mostro realmente o que penso eu sou o "Rebelde"?
— Então agora a culpa de você ser assim é minha? — deu um passo para frente, se impondo ao garoto menor.
“Ainda bem que percebeu desgraçado” Uma voz gritou em sua mente em resposta, por pouco aquelas palavras não foram pronunciadas em voz alta.
— Isso não deveria ser surpresa, porque é sempre assim as coisas no final. Você arrumando alguém para jogar a culpa das suas atitudes ao invés de aceitar que o'que fez não estava nada certo, tendo que arrumar alguém para que você não se sinta que é uma causa perdida— virou o conteúdo da garrafa nos lábios, engolindo antes de voltar a encarar o menor — Mas é exatamente isso que você nega tanto ser que você é, um grande erro que eu cometi.
— Então é isso que você pensa de mim? Que eu sou um erro que o senhor cometeu?
— Não, não é apenas isso que eu penso de você pirralho — se curvou ficando cara a cara com o menor, o mau hálito causado pela bebida fez o rosto de Hanagaki se contorcer em careta — Você quer realmente saber o que eu acho?
— Não, eu não me importo com o que um merda igual você acha de mim — respondeu sem desviar o olhar — Não me importa nenhum um pouco o que um lixo que culpa o filho sem ouvir ele, que briga por ele pedir desculpas ou que gosta de humilhar… Você diz que eu jogo a culpa das minhas ações em ti, quando é exatamente isso que você faz, usando a menor desculpa para se afogar em bebida e descontar seus impulsos agressivos.
As palavras saíram por seus lábios sem que ele se desse conta, sua mente nublada em dor pelas palavras ditas anteriormente, era como se sua consciência estivesse em outro lugar naquele momento enquanto um lado desconhecido seu assumia e dizia qualquer coisa ligada a sentimentos agressivos e ruins que sufocavam seu peito.
— Hanagaki Takemichi… — rosnou o homem, arfando uma risada do filho.
— Virou animal agora para rosnar? — debochou em um tom frio — Eu sei que a verdade dói, saber que é um merda pelo próprio filho deve machucar não sei é mesmo? Poxa uma criança de dez anos mais madura que você deve ser terrível… perceber que é um grandíssimo filho da puta egocêntrico e babaca pelas palavras de uma criança.
O som alto da palma da mão do mais velho chocando contra algo ecoou pela sala, o rosto de Takemichi virou com a força do tapa recebido em sua face e o local atingido parecia pegar fogo enquanto a consciência parecia retornar para mente do mais novo agora só queria chorar.
O sabor ferroso se espalhava por sua boca enquanto os olhos azuis encaravam o mais velho totalmente sem brilho algum, balançou a cabeça em negativa enquanto dava as costas para o patriarca e seguia em direção ao seu quarto em passos rápidos subindo a escada sem olhar para trás.
— Você está terminantemente proibida de sair dessa casa por um mês, só da casa para a escola — A voz do mais velho ecoou por seus ouvidos, entrando por um lado e saindo pelo outro, Takemichi deu de ombros e mostrou o dedo do meio enquanto subia a escada — Vai aprender na marra o que é respeitar os mais velhos.
Subir as escadas pareceu um desafio com a visão embaçada por conta das lágrimas que se negava a soltar, não iria dar o prazer ao mais velho de ver ou escutá-lo chorando por causa daquela discussão, seu patriarca não precisava saber o quanto cada palavra que havia dito ferira o mais novo.
Adentrou o quarto fechando a porta atrás de si trancando-a, as costas deslizando pela madeira até alcançar o chão pela falta de força nas pernas, as lágrimas descendo uma atrás da outra enquanto a mão tampava a boca para não reproduzir nenhum som que fosse.
Sua vontade era desaparecer naquele momento e jamais retornar, não queria olhar na cara de seu patriarca novamente e depois de passar anos lamentando a morte do mesmo no acidente, agora passará a desejar que chegasse mais cedo.
A mão passando pelos fios de forma ansiosa e o pé batendo repetidas vezes contra o chão tentando se acalmar.
Nada daquilo fazia o menor sentido para si, independente de quantos saltos do tempo fez, não se lembrará de passar uma situação como aquela, nenhuma dor física que havia sofrido até aquele momento poderia se assemelhar com a emocional que seu pai lhe causará com aquele tapa.
Mas porque ele estava sendo tão agressivo quando jamais tinha agido dessa forma?
“Você não lembra exatamente como ele era” Aquela maldita vozinha no fundo da mente o lembrou “Seja honesto, você não pode garantir que ele não era assim”
Não, isso não pode ser… Meu pai sempre foi alguém bom, meu herói
“Um herói forjado por si mesmo para que você tivesse a quem se espalhar nas piores horas, às lembranças que você tem do seu pai nem ao menos sabe se são verdadeiras.”
Mas… a bicicleta, o taco de beisebol, os festivais que eles me lembravam...Essas lembranças, elas tem que ser reais.
“Quem poderia dizer com certeza se você vive com dúvidas sobre elas, quando nem ao menos você se lembra com certeza.”
Takemichi afundou a cabeça entre os joelhos, abraçando forte suas penas contra o peito, o grito de dor preso na garganta e confusão em sua mente por uma briga entre dois lados de si mesmo que ele nem ao menos tinha ciência a pouco tempo.
Ele só queria um lugar a qual desaparecer, um porto seguro para poder escapar do tormento de sua casa e de sua própria mente.
A luz do adentrava a janela, os raios iluminando o garotinho que chorava acuado contra a porta do quarto e querendo apenas não estar ali, as horas passando enquanto as lágrimas secavam à medida que nenhuma mais descia.
E quando menos se percebeu, o meio do dia havia chegado, o garotinho afastou os cabelos do rosto erguendo a cabeça e olhando ao redor. Os olhos azuis caíram sobre o relógio, onde marcava pouco mais de doze horas… o horário de está no Dojo.
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Nota da autora;
Esse aqui está longe de ser o capítulo que mais me agrada, tenho que admitir que reescrever ele foi um desafio e que o resultado final não me agradou em nenhuma parte se for sincera, entretanto sei que não conseguiria fazer melhor caso tentasse porque não gosto dessa cápítulo de forma alguma.
Porém ele é necessário para a história e como é graças a ele que acontece minhas três cenas favoritas já planejadas dessa rescritura, eu não posso simplesmente apaga-lo.
O único lado bom que agora eu posso dizer é que nosso próximo capítulo tem... O primeiro contato dos Mitake, o que me deixa super anciosa para escrever, WakaShin que simplesmente me agrada muito e inteiração do Take e do Shinichiro, que aos poucos se torna o meu friendshipp favorito com o passar das ideias que me surgem.
Uma coisa que não posso deixar de avisar é que: essa fanfic contém spoilers do mangá, pode não ter tido presente nesse capítulo, mas haverá frequentemente nos outros ainda mais quando tudo se gira pós acontecimentos do mangá... Acho que pelo plot da história fosse óbvio, mas teve gente reclamando sobre eu falar do morte do Kakucho a dois capítulos atrás então acho bom deixar claro.
Até o próximo capítulo!!!