All the Young Dudes [Livro 3]

By wolfuckingstar

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TRADUÇÃO DA FANFIC ALL THE YOUNG DUDES POR MSKINGBEAN89 PERMISSÃO DA AUTORA PARA POSTAR AQUI. A obra narra d... More

Capítulo 151: A guerra: Julho 1978
Capítulo 152: A guerra: Infiltração
Capítulo 153: A guerra: Home Front
Capítulo 154: A guerra: Outono 1978
Capítulo 155: A guerra: Inverno 1978-1979
Capítulo 156: A guerra: Quartel General dos Aurores
Capítulo 157: A guerra: O bando
Capítulo 158: A guerra: Cativo
Capítulo 159: A guerra: Submissão
Capítulo 160: A guerra: Soldados da Infantaria
Capítulo 161: A guerra: Lua de Sangue
Capítulo 162: A guerra: A história de Moony
Capítulo 163: A guerra: Fim da Primavera de 1979
Capítulo 164: A guerra: Verão de 1979
Capítulo 165: A guerra: Dulce et Decorum est
Capítulo 166: A guerra: Outono 1979
Capítulo 167: A guerra: Inverno de 1979
Capítulo 168: Primavera & Verão 1980
Capítulo 169: A guerra: Outono & Inverno 1980
Capítulo 170: A Guerra: Inverno de 1980 e Primavera de 1981
Capítulo 171: A Guerra: Triage
Capítulo 172: A Guerra: Verão 1981
Capítulo 173: A Guerra: Outono 1981
Capítulo 174: A Guerra: Armistício
Capítulo 175: 1982
Capítulo 176: 1983
Capítulo 178: 1986
Capítulo 179: 1987
Capítulo 180: 1989
Capítulo 181: 1990
Capítulo 182: 1991
Chapter 183: Verão de 1993
Capítulo 184: Verão de 1994
Capítulo 185: Início do verão de 1995
Capítulo 186: Verão de 1995: Grant
Capítulo 187: Verão de 1995: Sirius
Capítulo 188: 'Até o fim'
Out of the blue - Parte 1
Out of the blue - Parte 2

Capítulo 177: 1985

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By wolfuckingstar


I've been loving you a long time;

Down all the years, down all the days.

And I've cried for all your troubles,

Smiled at your funny little ways.

We watched our friends grow up together

And we saw them as they fell.

Some of them fell into heaven,

Some of them fell into hell.

A Rainy Night in Soho, The Pogues.



Remus gostava de muitas coisas em Grant. Seu sorriso, seus cachos loiros impetuosos, seu senso de humor impetuoso e sem remorso. Grant era uma pessoa fácil de se gostar. Mas havia uma coisa que Remus se recusava a tolerar.

Grant adorava futebol. Ele não era um fanático, mas definitivamente tinha mais interesse do que Remus realmente achava necessário. Ele torcia para o Queens Park Rangers - e até havia comprado para si uma camiseta original e um lenço listrado azul e branco. Nunca limitando-se a apenas observar, Grant também jogava e, aos sábados, se juntava a um time de homens gays no sul de Londres.

Foi assim que conheceu Neil Newman - um jogador de futebol alto e bonito, com cabelos espetados e coxas capazes de quebrar nozes - e como Remus conheceu Anthea Luong, a namorada de meio período de Neil.

"Meio período?!" Remus ergueu uma sobrancelha quando Grant explicou. Ele estava amarrando o cadarço das chuteiras, pronto para o treino de sábado e Neil estava vindo buscá-lo.

"Não é tão incomum," Grant piscou para ele, Remus entendeu.

"Mas se Neil é queer--" Remus tentou. Grant levantou um dedo,

"Se atualize, raio de sol - queer é um termo ultrapassado. Somos homens gays e temos orgulho".

Remus revirou os olhos, "Tanto faz. Se Neil é um homem gay, como Anthea se encaixa nisso tudo?"

"Acho que ele deve ser bicentenário."

"Você quer dizer bissexual." Remus o corrigiu.

"Não, ele tem duzentos anos," Grant mostrou a língua. "Sim, Sr. Literal, bissexual."

Remus realmente não podia culpar Neil por isso, já a havia conhecido. Anthea era uma garota muito atraente. Ela era pequena e energética, com longos cabelos negros acetinados e olhos brilhantes. Sua boca parecia um botão de rosa, tinha a pele mais linda que Remus já vira e se vestia como Cindy Lauper, cheia de babados e dayglo.

"Muito prazer em conhecê-lo", ela sorriu, esticando-se na ponta dos pés para beijar o rosto de Remus em saudação. Neil apenas acenou com a cabeça ligeiramente cauteloso - Remus estava acostumado com isso vindo dos amantes de Grant.

"Chá, todo mundo?" Grant ofereceu.

"Nah, é melhor irmos." Neil disse bastante incisivamente, Remus percebeu. "Quero chegar cedo, você não? Para aquecer."

"É assim que você chama?" Anthea mostrou a língua para ele. "Remus, posso ficar aqui com você? Eu tenho muito o que falar com você. "

"Você tem?!" Ele a olhou alarmado. Ele nem sabia que Neil tinha uma namorada até dez minutos atrás.

"Ah, sim, eu disse a Anth como você é bom em astrologia." Grant disse alegremente, vestindo sua jaqueta jeans. Parecia bobo vestir shorts e meias longas, mas tudo relacionado ao futebol era ridículo para Remus.

"Astronomia." Remus o corrigiu, "Coisas muito diferentes..."

"Tudo sobre as estrelas, não é?"

"Bem..." ele realmente não tinha um argumento.

"Vejo vocês mais tarde, rapazes! Divirtam-se!" Anthea acenou para os dois, empurrando-os para fora da porta. De repente, Remus estava sozinho com uma jovem estranha, sem saber o por quê. Ele realmente queria uma bebida.

"Você não tem uma TV." Ela disse sem rodeios.

"Não." Remus concordou.

"Ótimo apartamento, no entanto!" Ela dizia enquanto andava pela sala, olhando pela janela, puxando livros da prateleira e examinando as capas. "Tão legal que você mora em Chinatown, você fala chinês?"

"Er...não...?"

"Eu falo, três línguas, na verdade, chinês, vietnamita e inglês. Inglês é minha língua materna, vietnamita é a língua materna da minha mãe, se você me entende." Ela piscou para ele, "E Neil sempre diz que devo dizer que sei falar quatro línguas, porque falo muito merda." Ela riu uma risada meio feia e estridente, como moedas caindo sobre uma folha de metal, mas ela riu com tanta convicção que foi cativante de qualquer maneira.

"Certo." Remus acenou com a cabeça. "Er... desculpe, você queria saber algo sobre astronomia?"

"Talvez. Eu sou virginiana, e você?"

"Uhh... Peixes, eu acho?"

"Nossos signos se dão bem juntos?" Ela perguntou. Remus piscou.

"Não. Quer dizer, não sei. Quero dizer... como eu disse, isso na verdade é astrologia, não - "

"Neil é de capricórnio e eles não combinam com virgens, eu verifiquei. Eu sempre verifico, mas, você sabe, o coração quer o que quer. Você sabe que eles estão transando? " ela perguntou do nada, "Ele e Grant?"

"Imaginei..."

"Você se importa? Você está vivendo com Grant, não é? "

Remus acenou com a cabeça, embora a tenha corrigido internamente - Grant era quem vivia com ele, não o contrário. "Somos bastante casuais, no entanto."

"Oh, isso é bom," ela acenou com a cabeça seriamente.

"Olha, hum... quanto tempo você vai ficar?" Remus coçou a cabeça sem jeito.

"Só até os meninos voltarem do futebol," ela sorriu, "Tudo bem, não é? Grant disse que gostaria de ter companhia. Ooh, vou te dizer uma coisa, eu adoraria uma xícara de chá. "

"Hum. Ok ... "Ele foi colocar a chaleira no fogo, ainda confuso. O que Grant estava fazendo, deixando-o como babá da namorada de seu ficante?! Como se Remus não tivesse nada melhor para fazer em um sábado. Havia planejado ler o jornal. Talvez ouvir The Archers pelo rádio.

"Sem açúcar, sem leite!" Anthea gritou. "Oooh, posso colocar um disco?"

"Se quiser..."

Ela colocou um álbum do Queen. Remus suspirou para si mesmo. Ele realmente não era um fã, ao contrário de Grant, que ouvia sem parar.

Quando ele trouxe o chá, Anthea estava sentada no sofá, inclinando-se sobre a mesa de centro e bolando um baseado. Ela sorriu para ele, "Gosta?"

"Vá em frente," Remus concordou. Bem, isso era melhor do que nada.

Eles fumaram, beberam chá e ouviram Queen, e Anthea continuou perguntando sobre todos os tipos de coisa.

"Grant diz que você é muito inteligente, com escola particular e tudo."

"É." Remus encolheu os ombros.

"E você sabe tudo sobre constelações e coisas assim. Ei, posso ler suas cartas no tarô se quiser?"

"Não, obrigado."

"Como é que você tem todas essas cicatrizes?"

Ele piscou, pego de surpresa. Ela ainda estava sorrindo lindamente e parecia genuinamente curiosa sobre ele.

"Só tenho muitas cicatrizes." Respondeu, engolindo em seco. "Você gosta de um gim com tônica?" Na verdade, ele não tinha tônica, mas podia fingir que tinha esquecido e apenas tomar gim puro.

"Sim, por que não", ela balançou a cabeça alegremente. Ele se levantou e Anthea o seguiu até a cozinha, ainda falando. "Você não está doente nem nada, então?"

"Não." Disse Remus. "Eu ganhei essas cicatrizes lutando. Algumas delas eu mesmo fiz. "

"Oh, coitadinho." Ela disse, sua simpatia genuína. Ela se inclinou para frente e apertou seu braço gentilmente. "Desculpe perguntar, amor, mas é que hoje em dia todo cuidado é pouco, sabe o que quero dizer?"

"Hm." Ele derramou o gim em dois copos. Sabia exatamente o que ela queria dizer e não queria falar sobre isso. Ou pensar nisso.

Ela não reclamou quando ele lhe entregou um copo de gim puro, apenas bateram os copos e sorriu, "Saúde!" então tomou um bom gole.

Eles voltaram para o sofá. Remus pegou a garrafa.

"Você é muito alto, Remus. Quanto você tem, 1,91?"

"1,88."

"Eu amo homens altos." Ela ronronou.

"Eu também."

Anthea riu de novo com isso, seus brincos de plástico batendo uns nos outros e fazendo barulho. Ela começou a falar ainda mais, contando-lhe coisas bobas e sem sentido sobre si mesma; onde ela estudou, suas canções favoritas da rádio, todos os filmes que ela já tinha visto no cinema. "E eu adoro dançar também, foi assim que conheci Neil, dançando em Vauxhall. Devo mostrar a você? Ok, você tem que me imaginar neste vestido roxo brilhante, certo? E meu cabelo estava mais curto. "

Ela se levantou e começou a dançar ao som da música do disco.


Ooh love,

Ooh loverboy

What're you doin' tonight, hey boy

Set my alarm, turn on my charm

That's because I'm a good old-fashioned lover boy


Remus não precisava imaginar o vestido brilhante; ela era uma dançarina muito boa. Ela balançou e se contorceu com energia sensual, lançando olhares de flerte para ele e sacudindo os quadris. Perplexo e relaxado, Remus descansou no sofá, observando-a. Ela parecia um sonho, bonita e graciosa, mas também avassaladora e indignamente real. Remus se perguntou por que ele sempre acabava preso a tagarelas e por que diabos ele gostava tanto disso.

A música terminou e ela ergueu os braços como uma ginasta que acabava de completar uma rotina perfeita. Remus sorriu, apesar de si mesmo, e aplaudiu.

"Quer dançar?" Ela agitou os cílios de forma sedutora. Remus não conseguiu evitar, o que quer que ela tivesse colocado naquele baseado era mais forte do que o que estava acostumado, e ele estava encantado por ela.

"Vá em frente, então."

Ele não dançou de verdade, mas segurou as mãos dela enquanto ela fazia, girando-a nos lugares certos e deixando-a cair em seus braços, rindo. Ela tinha os pulsos mais delicados, os ossos finos como os de um pássaro.

Quando eles finalmente desabaram no sofá para fumar outro baseado, ela tirou os sapatos e colocou as pernas sobre o colo dele. Grant fazia isso às vezes; eles só tinham um sofá, então era a única maneira de se esticar.

"Você é muito bonito, Remus." Ela disse através da fumaça.

"Ha." Ele respondeu, bebendo o resto de seu gim. Não conseguiria se servir mais sem empurrar as pernas dela, e ele não queria fazer isso, então se contentou com o baseado.

"Você é. Você é muito sexy. "

"Shh." Ele deu uma risadinha. "Quem você pensa que é? Aparecendo no meu apartamento sem avisar e me interrogando. "

"Estou interrogando você?" Ela arregalou os olhos, "Você está sucumbindo às minhas técnicas?"

Remus riu, se dobrando, as mãos nas pernas dela - elas eram tão suaves e macias. Ela estava rindo também, o olhando. Seus olhos eram tão escuros e tão cheios de vida. Ele a queria. Remus percebeu isso de repente, como uma luz sendo acesa - a sala ficou mais clara, o rosto dela mais claro. Puta merda.

Ele terminou o baseado. Ela se contorceu no sofá e fechou os olhos satisfeita. Ele deixou as mãos nas pernas dela - apenas descansando ali, não queria agarrá-la ou qualquer coisa horrível do tipo. Ele só queria... o quê? O que se fazia com uma garota? Mary foi há quase uma década, e não era como se Remus realmente tivesse desempenhado um papel importante na época. Apenas havia se sentido surpreso por ela tê-lo escolhido.

Remus se sentia assim agora também, quando Anthea abriu os olhos e sorriu para ele novamente.

"Desculpe, você queria deitar também?"

"O que?" As costas de Remus se arrepiaram, alarmadas. Eles realmente iriam...?! "Não! Quero dizer... er..."

"Você é tão adorável", ela sorriu, mudando-se de lado e puxando-o para se deitar ao lado dela, "Vamos apenas deitar juntos um pouco, é bom, não é?"

"Hm..."

Ela colocou o braço sobre ele. Seu cabelo preto macio fez cócegas sob seu nariz, e ele não pôde evitar inalar seu perfume. Era quente e meio picante, como cravo ou canela. Ele gostou. Eles continuaram deitados dessa forma por um tempo. O disco havia terminado e estava girando na agulha, estalando.

"O que você acha que Neil e Grant estão fazendo agora?" Anthea sussurrou, sua mão de repente em seu cinto, a palma espalmada contra sua virilha. "Provavelmente nos chuveiros, não acha?"

"Hum." Remus respondeu, sem palavras.

"Você devia ver Neil sem o equipamento, ele é um Adônis. Quer dizer, ele é um idiota, mas você pode esquecer isso quando ele começar a... aposto que os dois estão suados e enlameados do campo. "

Remus tentou regular sua respiração, mas ela continuou movendo a mão, e ele estava achando difícil se concentrar em qualquer outra coisa. Por fim, ela ergueu os olhos para ele e beijou-lhe os lábios com ternura. "Você gosta disso?"

"Sim," Remus respirou, "Vá em frente."

Duas horas depois, quando Anthea estava no banho, Grant e Neil entraram pela porta. Remus ainda estava esparramado no sofá de cueca, corado e completamente atordoado.

Grant olhou duas vezes e depois caiu na gargalhada. Neil parecia chocado. Ele marchou para o banheiro e exigiu que Anthea saísse imediatamente.

"Seu mulherengo!" Grant zombou Remus, dobrando-se de tanto rir.

"Tchau Grant, tchau Remus!" Anthea disse enquanto ela e Neil saíam correndo. Ele estava com a cara fechada em uma carranca e a porta bateu com força atrás deles.

"Bem, então." Grant disse, se recompondo. "Espero que sua namorada não tenha usado toda a água quente."

"Eu realmente não sei por que isso aconteceu." Remus falou, vestindo sua camiseta. "Estávamos apenas ouvindo discos e ela estava falando e então..."

"E então foi a única maneira de calá-la?"

Remus o olhou timidamente, "Acredite ou não, isso não a calou."

Grant levou quase dez minutos inteiros para se recompor.



* * *



Eles compraram uma TV algumas semanas depois disso - Grant brincou que, se Remus estava tão entediado que recorreu a transar com garotas, então seria melhor eles arranjarem algum entretenimento para ele. Ele não viu Anthea de novo, o que foi uma pena porque, sendo honesto, Remus não se importaria de fazer daquilo algo recorrente. Depois que você se acostumava com toda a conversa, ela se tornava muito sexy. Ele não pensou muito sobre o que isso significava, e Grant não insistiu.

A TV era de segunda mão - nenhum deles tinha renda suficiente para comprar uma nova. Haviam conseguido de um amigo de Grant, com a condição de que eles mesmos a buscassem. A casa dele ficava a apenas duas ruas, mas ainda assim representava um problema.

"Você não pode... levitar ela ou algo assim?" Grant perguntou, as mãos nos quadris enquanto eles olhavam para a caixa grande e volumosa em cima da calçada. "Faça um feitiço."

"É contra a lei." Remus explicou. "Em público, de qualquer maneira. Ou na frente de um trou -- você. "

"Pfft." Grant ergueu a mão para tirar o cabelo do rosto suado. "Droga. Sabia que deveria ter aprendido a dirigir. "

A porta do prédio se abriu e um homem saiu, parecendo corado e evasivo. Esse fora o terceiro homem que Remus havia visto saindo dali com exatamente o mesmo olhar furtivo.

"Que lugar é esse, afinal?!" Ele perguntou enquanto olhava para o prédio. Parecia com todos os outros - talvez um pouco gasto. Não havia sinalização externa.

"Sauna", disse Grant, agachando-se para ver se conseguia colocar os braços em volta da caixa. Ele conseguia, mas não havia como erguer a coisa.

"Sauna?" Remus coçou a cabeça.

"Você sabe, uma casa de banho. Onde os homens podem ficar juntos sozinhos e suados. "

"Oh!" Remus ficou boquiaberto, envergonhado.

"Cristo Remus, nós moramos no Soho."

"Eu sei! Eu só... de qualquer maneira, não levante a TV desse jeito, você vai ficar com dor nas costas. Vamos, pegue essa ponta, eu vou pegar essa... um, dois, três, levanta... "

Eles voltaram para o apartamento em cerca de trinta minutos, com apenas uma pausa. Remus foi quem realmente esteve carregando a TV, mas não se importou já que haviam escolhido um dia entre as luas e ele estava se sentindo muito saudável.

Felizmente, Grant era bom com coisas elétricas e conseguiu conectar tudo quando a TV chegou a sala de estar. Parecia estranho; um grande cubo de plástico preto ocupando todo o espaço. Eles acabaram colocando-a em cima de uma caixa em frente à lareira - que nunca usavam mesmo. A antena não era adequada e precisava de um pouco de fita isolante para mantê-la em pé, mas assim que ligaram e a imagem difusa apareceu, os dois ficaram presos a ela.

Remus, que não assistia televisão há anos, se tornou um viciado completo naquele verão. Ficou obcecado nas novelas - EastEnders, Brookside e Coronation Street, mas ele assistia a qualquer coisa; debates na câmara dos comuns, campeonatos de sinuca, comédia, documentários, top of the tops e até uma série terrivelmente perturbadora chamada Threads sobre a ameaça de uma guerra nuclear.

A TV era ligada de manhã bem cedo, enquanto ele vagava pelo apartamento se vestindo ou escovando os dentes e, na maioria das vezes, ele adormecia na frente dela à noite. Grant começou a chamar o aparelho de "o outro homem".

"Eu simplesmente gosto do barulho," Remus disse, "Me faz companhia."

"Você poderia tentar fazer alguns amigos de verdade..." Grant sugeriu. Remus dispensou isso. Ele não precisava de amigos, tinha tudo que precisava.

Numa tarde de domingo, os dois estavam na sala de estar. Remus teve que sair para um trabalho de limpeza que começou às 3 da manhã, então havia dormido a maior parte do dia. Grant estava lendo o jornal e as pernas de Remus estavam em seu colo. Com a mão livre, Grant estava distraidamente esfregando o arco do pé esquerdo de Remus, o que estava deixando Remus sonolento e tonto novamente.

As notícias tinham acabado de terminar e eles aguardavam para saber a previsão do tempo quando, de repente, uma música sinistra começou a tocar.

"Existe agora um perigo que se tornou uma ameaça para todos nós ", disse a televisão de forma ameaçadora. "É uma doença mortal e não há cura conhecida..."

Grant e Remus ergueram os olhos para assistir ao anúncio assustador. Uma palavra gravada em uma lápide enegrecida - AIDS.

"Não morra de ignorância!" A narração entoava.

Uma sensação familiar de vergonha e ansiedade percorreu Remus, uma mistura doentia de emoção que não sentia desde a escola. Ele puxou os pés de Grant, puxando os joelhos até o peito. Se sentia sujo, intocável.

"Cristo." Grant disse, sua voz vazia, sinalizando para Remus que ele estava se sentindo exatamente da mesma maneira. "É o suficiente para nos fazer desistir de transar de vez, não é." Ele balançou sua cabeça.

Remus mordeu o lábio.

"Você está se protegendo, não está?" Ele perguntou timidamente.

"Sim, obviamente." Grant assentiu bruscamente.

Remus o olhou, torcendo a boca. Ele odiava mencionar outros ficantes de Grant, e Grant sempre era muito discreto sobre isso. Não culpado ou às escondidas, apenas discreto. Ainda assim, Remus queria ter certeza.

"Bom. Quero dizer, você está usando..."

Grant se levantou, as mãos nos quadris, claramente irritado.

"Sim, Remus, quando eu fodo com outros homens, certifico-me de que há preservativos à mão."

"Desculpa." Remus corou, olhando para suas mãos. "Não é da minha conta."

"Certo. Não é." Grant respondeu agitado, e foi para a cozinha.

Remus o ouviu encher a chaleira e ligá-la, então sentiu o cheiro de fumaça de cigarro. Ele correu os dedos pelos cabelos, perturbado, e gritou através da parede.

"Eu só... você sabe que eu não aguentaria, se eu não tivesse você."

Silêncio. Passos.

"E você?" Grant perguntou, reaparecendo.

"Eu?!" Remus piscou.

Grant cruzou os braços, inclinando-se no batente da porta.

"Não me trate como uma idiota, eu sei que não sou sua única pessoa. E não foi apenas Anth também. Quem quer que seja que você vê quando sai todo mês. Quando você é... quando você não é você mesmo. "

Remus o encarou com a boca seca. Ele piscou novamente e acenou com a cabeça.

"Eu vou me proteger."

"Não poderia ficar sem você também." Grant disse, despenteando o cabelo de Remus. "Idiota insensível. Quer uma xícara de chá?"

Remus acenou com a cabeça, feliz por eles não estarem brigando, mas preocupado do mesmo jeito. Grant estava certo, é claro. Remus nunca pensou duas vezes sobre proteção com Castor. Bruxos poderiam se infectar? Se pudessem, então haveria uma cura mágica? Remus tinha visto fotos de pessoas com AIDS na América, homens esqueléticos em camas de hospital. Ele estremeceu.

Grant voltou com duas xícaras de chá. Ele entregou uma a Remus, sentou-se ao lado dele, cruzou as pernas e levou a caneca aos lábios, soprando nela. Ele deu um gole e ergueu os olhos, pensativo. "Eu poderia parar."

"Que?" Remus piscou, perdido em seus próprios pensamentos.

"Eu poderia parar de ver outras pessoas." Grant repetiu pacientemente. "Se você quisesse, eu quero dizer. Tudo que você precisa fazer é pedir. "

"Não quero dizer o que você pode e não pode..."

"Remus." Grant ergueu uma sobrancelha, "Eu moro aqui há quatro anos. Você é um idiota às vezes, mas você me faz feliz. "

Remus estava encarando o tapete agora, tentando não entrar em pânico.

Grant largou seu chá e estendeu a mão para tocar a sua, "Eu não preciso de ninguém além de você." Ele disse sinceramente.

"Grant, eu..."

"Eu sei, eu sei," Grant levantou a mão, "Eu não estou esperando que você diga nada de volta, está tudo bem. Eu sei como você se sente, e isso é o suficiente. "

Remus respirou fundo e fechou os olhos. Ele exalou lentamente e desejou que seu coração se acalmasse. Foi uma coisa adorável de se ouvir. Ele nunca, nem por um momento, pensou que fosse se sentir assim de novo - ou que fosse ser tão diferente da última vez.

"Ok." Ele respirou.

"Ok?" Grant inclinou a cabeça.

"Ok," Remus acenou com a cabeça, "Prefiro que você não veja mais ninguém."

"Combinado."




─ ★ ── Notas ── ★ ── 

Analisando os dados do Ministério da Saúde, percebemos algumas características marcantes. Ao avaliar a proporção de aids entre homens e mulheres, notamos um aumento expressivo na população do sexo masculino (2,3 homens com aids para cada mulher). Esses homens, em sua maioria, se declaram gays ou homens que fazem sexo com homens (HSH). Além disso, numa análise de cor, aproximadamente 60% é pardo ou negro. Esses dados nos mostram muita coisa: temos sim uma epidemia, mas ela está concentrada. Trata-se de uma população bastante específica, que desde o início do HIV/aids é bastante vulnerável: gays e HSH jovens, negros e pardos.

A doença, no imaginário de grande parte da população, era a doença do outro. A doença do desvio de comportamento e das práticas nefastas para se conseguir dinheiro (prostituição). Ou ainda daqueles que se drogavam de maneira irresponsável. O moralismo instituído contra esses grupos os deixou, e até hoje os deixa, num grau extremo de vulnerabilidade. E é por isso que ainda são, em grande parte, os maiores atingidos pela AIDs.


A epidemia do HIV está concentrada em jovens gays e HSH negros e pardos. E como acessar essa população? O maior desafio na luta contra o HIV/aids é atingir as populações vulneráveis, que aqui estão representadas pelos gays negros e pardos, além da população trans, invisível aos olhos do Ministério da Saúde. Algumas estatísticas de estudos apontam para a prevalência da infecção pelo HIV em 33% nessa população. Muitas dessas pessoas têm apenas o sexo como fonte de renda, além da já terem sofrido transfobia.

Falar que o HIV é uma epidemia concentrada em gays e HSH já não é mais suficiente. Pelo contrário, é incompleto. A epidemia de HIV/aids infelizmente cada vez mais assume a cor negra.  A exclusão social historicamente sofrida pelos negros e pardos no Brasil é agora escancarada pela epidemia de HIV. Demonstra que, nesse grupo, assim como a população trans, os direitos básicos muitas vezes não chegam e a informação sobre educação em saúde também não.

Para combatermos a epidemia de HIV, o debate moralista que julga hábitos sexuais, escolhas e existências precisa ser ultrapassado. É necessário, para além do entendimento do acolhimento e não estigmatização, entender a epidemia como um problema associado à desigualdade social e que depende da diminuição dessas diferenças para terminar.

É necessária a manutenção do SUS, local onde as políticas de HIV/aids se consolidaram e são exemplo mundial. Lutar pelo não sucateamento dos Serviços de Atendimento Especializado e Centros de Referência.

Texto do site Carta Capital.

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