Kim Seokjin
Ambw
Especial de natal
Livre
— Rae Kim!
Seokjin chamou alto da sala de estar.
Um tempo depois escutou passos curtos, acelerados e atrapalhados correndo para perto de si. A pequenina estava descalça e na parte da frente do macacão jeans que usava, tinha manchado de tinta guache vermelha. O cabelo afro solto a fazia parecer um anjinho.
— Oi, papai? — colocou as mãos pequenas atrás do corpo, com a expressão inocente.
— Se lembra do que o papai pediu? — apontou para as peças de quebra cabeça espalhadas pelo tapete.
Rae balançou a cabeça.
— Sim. Era pra guardar depois de terminar de brincar.
— E por que não fez isso? — ele não estava bravo, só queria estimular o senso de responsabilidade da pequena.
— Porque eu deixei pra fazer depois. Fui terminar o presente dos vovós, papai. Olha — mostrou a mão repleta de tinta.
— Acha que consegue lavar as mãos para guardar os brinquedos e depois volta para terminar o presente dos vovós?
— Consigo sim, papai.
— Combinado. Vem, deixa o papai te ajudar a lavar as mãos.
A levou até o lavabo onde a pia era adaptada para a menininha. Colocou sabão vendo esfregar os dedos fofinhos.
— Hoje vai ser natal, né? — perguntou.
— Sim. Por isso precisamos deixar a casa organizada. Vamos receber nossos convidados essa noite. Temos muito a fazer.
— Vamos acender as luzinhas da árvore de natal!
— Sim. Você esperou muito por isso, huh?
— Muitão!
Seokjin sorriu com a empolgação da filha única.
— Seca aqui — pegou uma toalha pequena — O papai tem que terminar de cozinhar, então não vou te ajudar a arrumar a bagunça dessa vez, mas sei que pode fazer sozinha. Depois que fizer, posso te deixar raspar a sobra da massa de biscoito. Combinado?
— Combinado, papai. Tô indo lá.
— Tenha cuidado!
Rae correu para longe.
— Tá bom.
— Qualquer coisa me chama.
— Tá bom!
A criança estava na brinquedoteca que ficava perto da cozinha da casa, excepcionalmente ampla e clara. Assim, Jin podia ficar de olho. Rae tinha tido a ideia de pintar um quadro grande para dar de presente para os avós na noite de natal. Faltava colorir uma parte pequena que ela logo terminaria.
Seokjin havia feito boa parte das deliciosas comidas de natal e um bom tempo depois viu Rae entrar no cômodo, parando perto com olhar ansioso.
— Papai, a Rae fez tudinho e arrumou os brinquedos. O presente dos vovós tá pronto e bonito também.
— Essa é minha menina. Vem cá, faz companhia pro papai, princesa — pegou-a no colo, colocando sentada na parte limpa da bancada de mármore — Sua mãe vai arrancar minha orelha.
— Por que?
— Eu prometi que teria tudo sob controle e olha o seu cabelo, Rae? Cheio de tinta.
A criança fez biquinho.
— A mamãe vai brigar com você por causa de mim, papai?
— Ah, não. Ela não vai, mas também não vai ficar feliz. Olha, aqui o resto da massa pra você raspar. Vou limpar essa bagunça e a gente sobe pra lavar seu cabelo, certo?
— Tá — balançou a cabeça, logo enfiando uma colher cheia de massa de chocolate na boca.
Rae tinha seis anos. Seokjin nunca esqueceria a noite em que pediu a mãe dela em casamento e a mulher contou sobre a gravidez. Emoções em dose dupla naquela noite fria de novembro. Tudo foi melhor desde então. Rae era sem dúvidas o elo que manteve o casal ainda mais unido e apaixonado.
Rae Kim se parecia muito com ambos. Tinha a pele cor chocolate da mãe, os olhos e lábios do pai, mas a personalidade forte e determinada dos dois. Os cabelos tinham um tom escuro e textura crespa, cheios de volume, assim como o da mãe. Outra característica de Seokjin, que Rae tinha herdado, eram os dedinhos tortinhos e a voz doce ao cantar.
Era o que fazia enquanto o mais velho lavava a louça.
Jin não podia evitar sorrir com tal cena; os cantos da boca sujos de massa de chocolate, tinta vermelha no alto das bochechas e cabelo. Ela balançava a cabeça de um lado para o outro cantando lindamente uma canção natalina.
— Você gosta muito dessa música, uh?
— Sim, pai.
— Na época em que seu tio Taehyung lançou essa música, nevava muito. Haviam muitas luzes na cidade e as pessoas faziam bonecos de neve no parque.
— Uau! Eu quero fazer bonecos de neve no parque, papai.
Ele sorriu mais para ela.
— Só se sua mãe deixar.
— Pede pra ela.
— Por que eu?
— Porque ela nunca fala não pra você.
— Na verdade, é o contrário, mocinha.
— Não, não. Você sempre diz que ela não resiste ao seu charme, por isso ganha tudo da mamãe.
Jin ergueu as sobrancelhas sem ter o que responder.
— Quando foi que você cresceu tão rápido? Meu Deus. — secou as mãos no pano de prato — Me da a colher. Chega de massa de biscoito.
Ela obedeceu, entregando a colher suja. Puxou o ar pelo nariz e disse:
— Mmmm! Que cheiro gostoso. Vou encher a barriga hoje! — esfregou por cima da roupa, fazendo o pai gargalhar.
— Vamos subir, fominha. Já que a sua mãe chega do hospital.
Susana trabalhava no hospital central de Seul, era ortopedista. Uma das melhores da cidade e a mulher da vida de Kim Seokjin. Ele não poderia ter tido mais sorte quando a encontrou, mais novo, ainda vivendo nos palcos ao redor do mundo. A mulher foi paciente, amável e empática, esperando por ele. Um romance que durou anos, mesmo com seus altos e baixos, eram felizes. Sempre foram.
— Vou lavar seu cabelo primeiro, preparada?
Ele ligou o chuveiro.
— Eu entro no chuveiro? — perguntou ela.
— Sim.
O fez, ainda vestida.
— Qual shampoo quer usar?
— Hm, o rosa. — apontou com o dedo.
— O rosa — Jin alcançou o tubo — Certo. Vamos começar.
Susana tinha sido paciente ao ensinar o pai de primeira viagem a cuidar dos cabelos de Rae. Por falta de costume, no começo ele não entendeu bem, contudo quanto mais praticou, melhor tornou-se. Finalizou com condicionador, também do rosa, penteado os fios que esticam na água.
— Esse tem o cheiro igual ao da mamãe.
— Tem mesmo. É muito bom. Terminamos aqui, pequena. Agora você se lava e o papai pega a roupa limpa para vestir. Sua toalha está ali, tudo bem?
— Sabe que roupa que é? — perguntou com a mão na cintura.
— Sei. O vestido de princesa. E você tá agindo igual sua mãe, até a pose.
Rae riu da expressão do pai.
Seokjin saiu encostando a porta deixando-a em sua privacidade. Pegou o celular no bolso encontrando mensagens de Susana.
Eu tô chegando, amor. Tudo certo com meus amores por aí?
Sim, tudo certo. Dirija com cuidado, tem muita neve na estrada.
Ótimo. Pode deixar :) Vou chegar inteira.
O vestido lilás que Rae tinha ganhado dos tios, eternos membros do Bangtan Boys, estava posto em cima da cama da garotinha. Eles tiveram a ideia de cada um dar uma quantia, dessa forma o presente seria dos seis.
Jin saiu do cômodo indo para o seu próprio quarto com a esposa. Entrou no chuveiro tomando um banho completo e rápido. Vestiu a roupa recém comprada.
Descalço e de cabelos molhados, foi até Rae que o chamava.
— Oi, meu amor?
— Fecha aqui pra mim, pai. Não consigo.
Tratava-se do ziper lateral do vestido.
— Pronto. Minha nossa, está ainda mais bonita.
— Mas meu cabelo não tá arrumado ainda.
— Sem preocupação, seu super pai vai resolver tudo! Sente-se na penteadeira, princesa Rae. — fez reverência, fazendo cena. Rae entrou na brincadeira curvando-se de volta segurando as laterais do vestido.
Sentou na cadeira de frente ao espelho emoldurado, enquanto o pai pegava tudo o que seria necessário nas gavetas.
— Qual penteado a bela princesa de Seul vai querer?
— Papai, você só sabe fazer dois penteados — franziu os lábios.
— Ah… É. Então qual vai ser?
Rae riu.
— O de sempre, pai.
Ele fez divisões quase perfeitas com muita paciência, depois começou a trançar a parte da frente deixando a de trás solta, assim como sempre fazia. Era um penteado de nível fácil, como gostava de falar.
— Ficou bom, não acha?
— Uau! Surpreendente. — a voz macia de Susana ecoou.
— Oi, mamãe!
— Oi coisa linda. Você está perfeita! — entrou indo até eles, dando um beijo demorado na bochecha da menina.
— Obrigada, mamãe. O papai cuidou de mim. Ele fez um bom trabalho. Tudo em ordem — gesticulou com as mãos.
— Gostei de saber. Isso significa que o papai também merece um beijo?
— Ele merece, mãe.
Susana encarou o rosto perfeito do homem. Mesmo depois de anos, ele envelhecia feito vinho. Esticou o rosto dando um longo selinho.
Rae bateu palminhas, animada.
— Muito obrigada por ter cuidado de tudo, amor. Me desculpa por ter deixado tanta responsabilidade só para você. Prometo que vou compensar depois — sussurrou.
— Não se preocupe, eu dei conta. Correu tudo bem. A gente só precisa se arrumar. Os convidados estão vindo.
— É verdade. E eu tô com cheiro de hospital — Susana fez careta.
—Vai lá, querida. Vou terminar de arrumar essa princesa. O que acha de alguns enfeites, Rae?
— As borboletas de brilho! Eu quero.
Susana observou a cena com um sorriso feliz.
— Já volto. — ela avisou.
— Até já.
— Até, mamãe.
[...]
A casa estava cheia de familiares e amigos. As crianças brincavam perto da árvore de Natal gigante, que tinha sido montada há um mês atrás. A mesa repleta de comidas, enquanto todos conversavam animadamente sobre festas passadas, péssimas experiências na cozinha preparando a ceia e o frio que fazia.
Seokjin segurava a cintura de Susana de forma delicada, na roda de conversa na sala. Ela estava especialmente linda em um vestido vermelho com fenda na coxa. Cabelos soltos e salto fino.
Ela conversava paralelamente com a esposa de Yoongi; Kia. Falavam sobre aulas de Pilates, coisas do tipo. Mas ele não prestou muita atenção por estar ocupado demais pensando em beijar aquele par de coxas.
Jin aproximou os lábios do pescoço dela deixando um beijinho, aproveitando para dar um cheiro na pele quente.
— Tudo bem aí, amor? — virou-se para ele.
— Tudo. Só estou emocionado.
Su arqueou uma sobrancelha.
— Por que?
— Nossa família reunida, os filhos e todo esse momento. Viu como a nossa pequena está se divertindo com o Taehyung, Jimin e JK?
Ambos olharam para o longe a cena cheia de risos.
— Eles são bons com crianças.
— Jin-hyung, Kia e eu vamos buscar o Namjoon e o Hobi. Voltamos logo — avisou Yoongi tirando a chave do carro do bolso — E eu esperando que o Jimin fosse se atrasar.
Jin riu.
— Voltem em segurança.
— Pode deixar — respondeu Kia.
— Eles são incríveis juntos — comentou Susana.
— Mais que a gente? — brincou, fazendo a mulher gargalhar.
— Você não mudou nada.
— Pois é. Fazer 43 anos não me trouxe nada novo além de rugas nos meus olhos.
— Fica ainda mais sexy, sabia? — envolveu os braços em torno do pescoço dele.
— Não me olha desse jeito, tem muita gente aqui. Tô lutando para não te arrastar pra algum canto da casa. Esse vestido é covardia pura — abraçou o corpo curvilíneo.
— Espera até ver o que tem por baixo dele.
— Aish. Meu coração não aguenta mais emoções fortes. Lembre-se de que sou apenas um cara aposentado buscando sossego — falou rindo.
— Eu sei que aguenta — selou o canto da boca dele — Eu te amo ainda mais, sabia?
— Ah, é? Fale mais sobre isso.
— Não me canso de pensar no homem incrível que você sempre foi. Além do talento e todas as outras qualidades populares, continua evoluindo, sendo sua melhor versão a cada dia. Estou tão feliz por passar outro natal contigo e nossa menina. Ter os meninos aqui, nossa família reunida outra vez é uma benção, amor.
As palavras de Susana o emocionaram.
— Sou grato por tudo. Acredite — envolveu o rosto dela com a mão para um beijo.
— Que cena linda! — Ouviu-se Rae falar — Vamos tirar foto, tio JK.
Em seguida, a luz do flash bateu.
— Ah! Meus olhos.
— Dramático como sempre, hyung — comentou Jungkook com sua câmera na mão.
A festa continuou e quem faltava chegou para finalmente trocar os presentes e cear. Su e Jin registraram cada momento de Rae, babando pela criança que não parava de sorrir e brincar com seus novos presentes. No colo dos avós, a pequenina contou sobre sua ideia por trás do quadro que tinha pintado para eles. Taehyung estava orgulhoso, já que era o responsável pelas caixas de tinta e telas em branco na brinquedoteca.
— É impressão minha ou o hyung ficou sem presente? — Jimin perguntou provocando.
Jin deu a língua.
— Ele vai ter presente sim. Mais tarde — sussurrei a última parte.
— Mmmm! — os demais fizeram. O rosto de Seokjin ficando vermelho feito pimentão.
— Aish! Susana, por que você é assim?
A mulher riu sem conseguir se conter.
— Ah, amor. Você fica fofo envergonhado — lhe acariciou o rosto — E o que eu disse não é mentira.
Jin engoliu seco com o olhar que recebeu.
— Eu te amo, mas por favor, pega leve comigo.
— Essa não é minha intenção. — deu uma piscadela.
— Hora da foto em família! — anunciou Jungkook terminando de colocar a câmera no tripé — Vamos todos para este lado aqui… Isso! Vai ficar bom.
Os demais juntaram-se diante da lente; Jin e Susana no meio com Rae no colo, enquanto os outros estavam atrás em suas poses.
— No três, digam "Feliz Natal". Um, dois… três!
— FELIZ NATAL! — o coro cantarolou.
(...)
Uns voltaram a comer, outros foram embora para casa. Susana brincava um pouco com Rae e os filhos gêmeos de Taehyung.
— Eles crescem rápido demais — comentou Tae, sentando ao lado de Jin no sofá, com um copo de cerveja na mão.
— Demais. Parece até que não aproveitei os momentos com ela. Ano que vem ela vai pra escola, Tae — trocaram um olhar — Não sei o que sentir.
— Ela vai se sair bem e você também, hyung. Eu sei que sim. Você é um pai admirável, me inspira com os meninos. Lembra de como entrei em desespero quando a adoção foi concluída? Eu queria tanto ser pai, mas quando chegou a hora entrei em desespero, foi você e a Susana quem me acalmou.
— Os gêmeos são uma benção. Trouxeram luz para sua vida.
— Eles são tudo para mim. Quando a gente parou… naquela época cheguei a pensar que nada poderia voltar a ser incrível novamente, mas estava enganado.
Os amigos de longa data trocaram um olhar e sorriso cheios de significado.
— Vamos assisti-los crescer.
— Eles irão nos orgulhar, hyung.
— Vão sim.
De longe Seokjin recebeu um sorriso de Susana e retribuiu.
— Vocês estão pegando fogo — comentou Namjoon se aproximando ao lado de Hobi e Yoongi.
— O que? — indagou Jin.
— Todo mundo consegue sentir a… energia, Jin-hyung. — falou Hoseok.
— A noite vai ser longa. — Jimin comentou chegando junto com JK.
— Do que estão falando? — perguntou o mais novo, curioso.
— Su e Jin-hyung estão cheios de fogo — contou Namjoon.
— Ah, todo mundo percebeu vocês se alisando o tempo todo.
— Cuidar da própria vida, ninguém quer. Nem sei do que estão falando.
— Ya! E por que suas orelhas estão vermelhas? — disparou Hoseok, rindo.
— Oh, estão bem vermelhas, Hyung — Jimin apontou e riu também.
— No próximo ano vou me lembrar de não convidar nenhum de vocês.
— Como se fosse possível. Se depois do grupo a gente nunca se separou, como fará isso agora? — Yoongi colocou uma mão no bolso.
— Merda. — Jin sibilou fazendo os outros seis rirem.
— A verdade, hyung — começou Jungkook — é que nós deixamos suas noites mais felizes.
Jungkook tinha total razão. Aliás, tudo o que Seokjin precisava para uma noite feliz estava bem ali.
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(N/A) Só uma coisinha simples aproveitando essa semana de natal e o mês de dezembro é especial não só por isso. Também é aniversário dos papais desse especial :)
Desconsidere qualquer erro, por favor. Obrigada.
Espero que tenham gostado e feliz natal 🎄♥️ (atrasado)
Bjos da lolo.