"Eu sinto tanto a sua falta que mal sobra espaço para sentir outra coisa."
...
Hoje é sexta-feira, falta só dois dias para o casamento.
Bem, talvez eu não esteja tão empolgada igual estava na semana passada. Bryan não desgruda do telefone por causa do trabalho, e estou tendo que aprender a me virar na cozinha.
— Sério, não estou dando conta Bryan. — Eu digo escorada na porta da cozinha.
— Do quê?
— Olha, eu tô fazendo tudo aqui em casa sozinha! Você não me ajuda a arrumar a casa, a fazer o almoço, nem pra lavar a louça você está me ajudando! Não era assim no começo. Só fica nesse sofá, vendo essa porcaria de futebol. —O celular dele toca novamente e ele atende, me ignorando, eu reviro os olhos e volto pra cozinha. Depois de alguns minutos sinto uma mão abraçando a minha cintura.
— Desculpa, amor. Eu vou voltar a te ajudar a fazer as coisas. — Sua boca para em meu pescoço, beijando cada parte do meu ponto mais fraco.
— É sério? Você vai voltar a me ajudar?
— Sim. Prometo. — Eu sorrio e me viro para a frente, ele me dá um beijo demorado e suas mãos vão para debaixo da minha camisa, eu o empurro e lhe entrego um pano de prato.
— Começa pela cozinha então. — Eu dou um sorriso e vou para um outro cômodo. Espero que dessa vez ele não esteja fazendo isso em troca de outra coisa.
*13:25*
Estava acabando de passar o pano no chão quando Bryan me abraça novamente pelas costas.
— O que foi? — Eu pergunto.
— Sabia que é linda? — Ele falou no meu ouvido.
— Você também é. — Eu sorri.
— Vamos sair hoje ás três tudo bem?
— NÃO! — Eu afasto ele de perto de mim. — Eu tenho uma sessão de fotos para fazer às três.
— Amor... Marca pra outro dia, são pessoas muito importantes, e muito ricas também.
— Não ligo se elas são ricas ou não. eu tenho uma sessão de fotos para fazer e não vou cancelar!
— É sério, é importante para o meu trabalho, você tem que ir comigo! — Eu fiquei extremamente puta por ter que cancelar meus planos.
— Tá, eu vou. — Fechei a cara, e escutei ele comemorar descendo as escadas.
*14:52*
— Está pronta? — Ele me pergunta, eu balancei a cabeça em positivo. Vesti a roupa que eu menos gosto hoje, aquela horrível calça que é rasgada de enfeite, uma bota que bate no tornozelo e uma blusa picotada nas costas. A única coisa que eu queria era que aquele jantar acabasse logo. Desci as escadas e vi que Bryan se assustou do jeito que eu estava vestida.
— Sim, vamos logo. — Falei friamente.
— Vai desse jeito? — Ele aponta para a minha roupa.
— Sim, e se você achar ruim eu vou pior. — Ele fez uma careta e entrou no carro, sem fazer a simples gentileza de abrir a porta para mim.
*15:00*
Chegamos lá ás três no prego, e encontramos um casal. Aparentavam possuir uns 35 anos de idade, bem discretos.
A mulher usava roupas sofisticadas, e tinha uma postura perfeita e um jeito elegante. Cabelos negros pendiam até seu ombro, já o homem tinha alguns fios brancos espalhados pelo seu cabelo castanho e trajava um terno preto com uma rosa no seu bolso.
— Bryan, como vai? Essa é sua esposa? — A mulher perguntou com um tom firme.
— Sim, Srta. Cooper — Ele deu um sorriso.
—Olá, muito prazer. — Ela me cumprimenta com uma cara de nojo estampada no rosto.
Será que meu batom está borrado?
— O prazer é todo meu.
— Deveria arranjar uma mulher mais comportada. — O homem fala no ouvido de Bryan, eu obviamente escutei.
Ele sorri para mim e eu retribuo com um sorriso irônico. Nos sentamos na mesa e Bryan segura a minha mão, houve um belo silêncio desconfortável e eu já estava um pouco arrependida de ter aceitado vir com ele.
— Bem, vamos pedir alguma coisa para comermos. — A "Srta. Cooper" que mal conheço mas já não vou com a cara diz, quebrando o silêncio.
— Isso, boa ideia! Garçom! — Bryan chama estendendo a mão, eles pedem o pior prato que havia no cardápio.
— Pode trazer um Polvo á espanhola e champanhe, por favor. - O "Sr. Cooper" pede.
Eles não se cansam de comer animais marinhos? Polvo não. De novo, não!
— Ô garçom! — Eu o chamo. — Pode me trazer batatas fritas com um suco de laranja?!
— Amor... — Bryan solta uma risada forçada, segura no meu braço com um sorriso falso estampado no rosto. — Ela só está brincando, muito engraçada não é? — Um sorriso forçado sai da boca dele. — Eu vou conversar um minutinho com ela ali, eu volto rapidinho. — Bryan me puxa para o fundo do restaurante.
— O que foi?!
— Você tá querendo sujar para o meu lado de propósito, não é?
—Não eu..
— SEJA DISCRETA NEM QUE SEJA UMA VEZ NA VIDA! EU NÃO QUERO QUE VOCÊ FIQUE COM SUAS GRACINHAS.
Aquilo era ridículo. Ele só poderia estar zoando, qual é o problema de eu não gostar de frutos marinhos? Isso não significa que eu não era discreta.
— QUEM TE DISSE QUE VOCÊ MANDA EM MIM? IDIOTA! — Ele passa as mãos no cabelo, já estava nervoso. — Eu não gosto dessas comidas, você sabe!
— Escuta bem... Você vai fazer o que eu mandar, e não importa, isso é o meu trabalho e PONTO FINAL! Meu emprego está em risco, e se eles querem comer, você vai comer quieta nem que eu te faça engolir a força. — Ele me empurra para a parede, machucando as minhas costas. Vi o seu arrependimento depois de ter o feito.
Passei as mãos no rosto e comecei a chorar.
— Amor... Desculpe. — Ele encosta a mão no meu ombro.
— Me larga! Eu tenho nojo de você.
— Eu não queria...
—Você mudou Bryan... Mudou muito. — Eu saio de perto dele e saio do restaurante, eu não sabia se queria que ele fosse atrás de mim. E ele não foi.
Lá fora estava mais frio do que pensava, chovia muito forte mas na verdade eu nem ligava. Seria grata se um raio caísse na minha cabeça e me matasse agora.
Fui correndo sem rumo e encostei na parede de um prédio.
Estava cansada, cansada de tudo isso. Cansada de fazer demais e receber de menos.
Minha cabeça girava, o frio era cortante, e eu não tinha nada para me aquecer. Abracei os meus braços e bem ali me desmanchei em lágrimas, minha visão ficou um pouco turva.
Tudo estava desmoronando. Fragilmente e rapidamente, como um castelo de areia.
— Alice? Por que está chorando? — Senti uma mão em meu ombro, me arrisquei a tirar as mãos do rosto e encarar quem era.
— Estou mesmo louca! — Minha voz saia com custo. Minha pressão havia caído mais do que o normal. Fiquei mais tonta e acabei me ajoelhando sobre as pedras que haviam no chão. O garoto me segurou para isso não acontecer, mas mesmo assim, foi inútil. Senti elas perfurarem a minha perna, mas não me importei. A dor física aliviou um pouco a dor que sentia por dentro.
— Vai ficar tudo bem. — Senti um calor em volta do meu corpo, Edward me abraçava, mas não sei se aquilo se tratava dele.
Aquilo talvez seja minha mente tentando me enganar de novo igual já fez um dia. Mas... Parece que tudo melhorou quando seus braços ficaram envoltos ao meu corpo. Minha tensão baixou, entretando, comecei a chorar mais ainda.
O abraçava mais forte, minhas mãos cravaram em seu moletom e foi tudo ficando escuro pouco a pouco, até eu apagar mais uma vez.