Londres; Oxford Street; Sábado; 3:07 da manhã;
O Toyota azul-marinho foi perdendo a velocidade devagar, até que estivesse completamente estacionado na frente da casa branca.
As luzes da varanda estavam acesas, dando uma iluminação precária à calçada e ao pequeno jardim que antecedia as escadas de madeira. Ju olhou tudo através do vidro dando um suspiro. Seu peito estava carregado, e essa não era exatamente uma das suas sensações favoritas.
Tinha uma vontade oculta de fugir, mas o sentimento de evasão era só mais um que estava afogando-a em meio a um mar de sensações. Sentia-se feliz, compreensiva, assustada e arrependida ao mesmo tempo. Acordou de seus pensamentos assim que sentiu a respiração pesada de Bill em seu pescoço. Virou-se para tentar protestar ou simplesmente se despedir, quando ele juntou seus lábios novamente.
Ju permitiu a passagem da língua do garoto um pouco receosa. Não tinha certeza se realmente fizera isso por sua vontade ou apenas por educação. Retribuiu o beijo dele sem a mesma voracidade que ele apresentava. Apenas por retribuir.
A mão de Bill postada na nuca dela foi descendo aos poucos percorrendo até a altura de seu ombro direito, e do ombro até seu decote. Ju partiu o beijo assim que sentiu a trajetória que a mão do garoto pretendia percorrer.
- O que foi? – ele perguntou arfante. Sua voz estava rouca. – Eu fiz algo errado? – abriu os olhos fitando-a preocupadamente. Não podia perder aquela garota.
- Não, não. – Juliette disse em um tom leve, tentando isentá-lo de preocupação. – É, só... – comprimiu os lábios úmidos em uma linha, encarando seus olhos castanhos. – Vamos mais devagar, ok?
O garoto desceu seu olhar para o decote da menina, onde sua mão ainda estava pousada.
- Ah, claro. – falou recolhendo-a rapidamente. – Me desculpe por isso. Acho que eu...
- Se empolgou? – Ju deu uma risada baixa. Suas bochechas ainda estavam mais rosadas.
- É... – ele concordou alternando o olhar das pernas da garota para seus olhos. – Mas eu não tenho culpa. – balançou os ombros. – Você faz isso comigo.
Ju gargalhou, apesar de não saber ao certo se foi por achar graça ou por nervosismo.
- Eu... – falou reticente, retomando a aparência séria. – Eu tenho que ir, Bill. Até mais.
Impulsionou-se para abrir a porta, quando uma das mãos quentes do garoto puxou-a pelo braço, trazendo-a pra mais um beijo. Juliette partiu-o rapidamente, apesar de gentil, e acenou com a cabeça.
- Tchau. – repetiu, com um sorriso cordial.
Bill respondeu ao "tchau" com um tom de voz tão baixo que foi quase imperceptível.
Quando Ju adentrou a casa, Bill largou seu corpo no banco, expirando o ar que estava preso desde o início da festa.
- Mano, há quanto tempo não me sinto assim. – alargou o sorriso, colocando a mão na testa e sentindo-se tonto pelo aroma da garota que ainda preenchia o local.
Londres; Dockland; Sábado; 3:03 da manhã;
Sarah passou a mão rapidamente por sua comoda, derrubando agressivamente tudo que se postava ali. A raiva fluía através do seu sangue, fazendo com que as pontas de seus dedos esquentassem com um simples pensamento. Mas não, não queria pensar. Não queria pensar porque sabia que toda vez que isso acontecesse, o rosto dela lhe viria à mente.
Devia ter suspeitado. Devia ter suspeitado desde o início que ela estava interessada por Bill, claro. Quem iria escolher a estranha suspeita de assassinato ao garoto mais bem humorado da escola? Só mesmo uma louca, insana.
Bill era tudo o que ela não podia ser. Radiante, seguro e de bem com a vida. Como Sarah podia fazer alguém feliz se a felicidade era uma coisa que ela mesma desconhecia? Espera! Quem falou em "fazer feliz"? Não podia se permitir ter esse sentimento novamente. Uma vez já fora o bastante, uma vez já a levará à ruína, a que limites mais poderia fazê-la chegar? Sarah não conseguia nem imaginar. Spike mirava a dona remexer nos cabelos nervosamente. Estava deitada perto da vidraça, e simplesmente não sabia o que interpretar das reações da garota. O máximo que sabia, na verdade, era quando estava na sua hora de passear, ou comer. Bocejou enquanto Sarah começava a vagar a esmo pelo cômodo.
- Péssimo conselho, Spike. – a loira murmurou, caindo sentada na cama. – Péssimo, não podia ter me aconselhado a coisa pior. – ela parou pra ouvir as próprias palavras e deu uma risada fria. Estava seguindo os conselhos de um cachorro, agora? Realmente, a insanidade tinha batido à sua porta. Novamente a música eletrônica invadiu seus pensamentos e se viu parada na porta dos fundos da casa de Lumena. A lembrança de Bill e Ju se beijando avidamente era tão vívida em sua mente que até enojava. Enojava até demais...
Fechou os olhos e viu Juliette sorrir em seu subconsciente.
- SAI DA MINHA CABEÇA! – gritou, caindo de costas no colchão. Iria esquecê-la. Tinha que fazer isso! Essa obsessão por aquela garota já estava a fazendo até perder os rumos de seu objetivo. Tiraria ela da mente, nem que pra isso precisasse da ajuda de seus bons e velhos amigos... A vodka e o uísque. 'Ridícula.' Pensou, dando um sorriso de escárnio com a própria imaginação. Quer saber? Ela tinha um jeito melhor de tirar a garota da cabeça. Afinal, sempre era mais fácil esquecer uma dor com outra.
Estendeu a mão até a primeira gaveta, tirando de lá um álbum de fotos simples e surrado.
Seus olhos ficaram quentes assim que viu a primeira foto, e de uma hora pra outra, Juliette não habitava mais seus pensamentos. Eles estavam em um lugar muito mais distante e sombrio, mas ainda assim, mais seguro. O livro vermelho começou a incomodar Sarah em baixo de seu corpo, e enquanto fitava tão compenetradamente as fotos, uma frase do autor lhe veio à mente: "Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te." Suspirou impaciente.
- Cala a boca, Shakespeare. – murmurou, antes de virar pro lado, fechar os olhos e tentar pegar no sono, sem nenhum pensamento prévio.
Londres; Oxford Street; Sábado; 11:35 da manhã;
Ju estava em seu quarto, encarando o lado de fora da janela, enquanto dobrava uma blusa para colocar na mochila. Passaria dois dias no apartamento de Carla, e por mais que, de certa forma, isso a animasse, não conseguia tirar os pensamentos de Thais. 'O que ela faria se soubesse?' perguntou-se, e assim que completou o pensamento, outro rosto veio a sua mente. 'O que ela faria se soubesse?' Suspirou lembrando-se de seu primeiro beijo com Bill na festa. A sensação de frio na espinha, o asco, o desejo. Tudo misturado em um momento só. Sentia-se angustiada por dentro, como se tivesse ferido alguém. Como se aquele beijo não tivesse sido o certo a fazer. Juliette despertou de seus pensamentos assim que o telefone começou a tocar.
- Alô? – atendeu, ajeitando a blusa dentro da mochila.
- Elas já foram. – ouviu uma voz feminina conhecida do outro lado da linha. Não pôde deixar de sorrir. – Que horas vem pra cá?
- Agora mesmo. – respondeu prontamente. – Pelo menos eu pretendo...
- Seu primo não suspeitou de nada? – Carla perguntou surpresa.
- Não. Mas eu acho que ele suspeitará assim que me vir saindo com uma mochila nas costas. – deu uma risada leve, imaginando a cena. – Terei que inventar uma desculpa pra passar a noite aí.
- Realmente. – Carla concordou receosa. – Detestaria que ele ficasse sabendo...
- Ou que a melhor amiga dele ficasse sabendo. – Ju completou, rolando os olhos. Carla ficou um momento em silêncio. – Mas tudo bem... – disse reticente enquanto seus pensamentos se voltavam à noite anterior. Deu um sorriso astuto. – Eu sei exatamente que desculpa inventar. Só preciso fazer um telefonema...
- Boa sorte.
- Terei. – a garota sorriu, antes de desligar o telefone.
Ju se sentou na cama, dando uma breve olhada pro seu quarto antes de virar seu rosto para sua escrivaninha. Estendeu a mão e digitou o mais novo número em seu celular, pensando que aquela fosse uma desculpa claramente aceitável.
- Alô? – perguntou assim que a pessoa atendeu o telefone. – Bill?
§
- Você vai fazer o quê?! – Gil perguntou horrorizado, deixando a colher que estava usando para comer o cereal ir diretamente de encontro à tigela, fazendo um alto barulho metálico.
Ele e Ju estavam na cozinha. O garoto estava sentado em frente à mesa de madeira e sua reação fez a prima ter vontade de rir, apesar de não tê-lo feito.
- Com o goleiro? Mas você mal o conhece! – protestou, postando-se de pé rapidamente.
- Aí que você se engana, molengo. – ela tentou usar seu melhor tom sério, apesar da risada estar implorando pra sair. – Eu e o Bill temos... Uma conexão muito forte. – pigarreou.
Lembrou-se do momento em que combinava com o garoto que, se alguém perguntasse, Bill diria que Ju passara a noite com ele.
- E você está afim de consumar essa conexão hoje à noite? – Gil colocou a mão na cintura, irritado e incrédulo.
- O que eu e Bill vamos fazer hoje à noite não é da sua conta, molengo. – fingiu estar brava.
- É sim. – falou com a voz aflita e mais aguda. – Sabe por quê? Porque depois quem tem que explicar pra tia que a sua barriga tá crescendo não porque gostou da comida dela, e sim porque vai ser tia avó, SOU EU.
- Eu não vou engravidar do o Bill, aliás, nem vamos transar. – revirou os olhos, fazendo o maior esforço que já fizera para segurar a gargalhada. – pode sossegar esse piriquito ai primo.
- Quem te garante em, dona moça? – o primo estreitou os olhos, deslizando o queixo para frente para aparentar uma expressão rabugenta.
– Eu! Mas se não acredita, pode perguntar pra minha amiga, cartela anticoncepcional. – disse plena, apesar de ter lembrado da porcentagem de eficácia do medicamento.
- Esquece, faça o que você quiser. – cruzou os braços e voltou a sentar na cadeira. – Não irei me opor.
- Obrigada. – Ju suspirou aliviada, dando alguns passos na direção do primo, que não lhe dirigia o olhar. Agachou-se na frente dele, e fitou seus olhos. – Obrigada, Gil. Você não sabe o quanto isso é importante pra mim.
Odiava enganá-lo daquele jeito. Mas não tinha escolha. Era isso ou trair a confiança de Carla, que no momento estava numa situação tão complicada. Gil virou seus olhos magoados para garota, depois suspirou.
- Você gosta mesmo dele, não é? – perguntou.
Ju mordeu seu lábio inferior, concordando com a cabeça sem olhá-lo nos olhos. Se discordasse, ele nunca a deixaria ir.
Londres; Dockland; Sábado; 11:40 da manhã;
João e Bill estavam na garagem da casa do primeiro, tentando tocar algumas músicas de seu repertório sem o auxílio de Sarah, que, como de costume, estava atrasada para o ensaio. Quando o portão foi levantado por alguém do lado de fora, João fechou a cara e Bill abriu um amplo sorriso.
- Sarah! – disse animado ao ver a amiga, descendo do pequeno palco improvisado para vê-la melhor. A garota tinha os olhos rodeados por olheiras e o cabelo bagunçado. Estava mais do que claro que tivera uma péssima noite de sono.
- Você está péssima. – Bill disse, sinceramente preocupado.
- Obrigada pela parte que me toca. – Sarah deu um sorriso seco e jogou-se sentada no palco. João observou os dois.
- Legal. – João disse suspirando. – Então temos aqui hoje dois pólos.
- O que quer dizer? – Sarah resmungou.
- O Araújo está que nem pinto no lixo. – apontou para o garoto com o queixo. Esse, por sua vez, sorria radiante. – E você está que nem pinto na merda.
- Cala a boca, João. – mostrou o dedo médio.
- Queria passar um pouco do meu bom-humor pra você, margarida. – Bill falou, com o tom leve.
- Posso saber o motivo de toda essa alegria? – João perguntou, soltando o instrumento e se sentando ao lado de Sarah.
- Nada. – Bill cantarolou olhando inocentemente pra cima. – Okay, okay. – se deu por vencido, andando empolgado de um lado pro outro. Sarah bufou. – Talvez eu tenha ficado com a garota mais linda da escola. Sarah sentiu um desconforto no estômago, trancando mais ainda seu rosto.
- A Missy? – João sugeriu. – Pensei que tivesse ficado com ela naquele dia em que... – engoliu a fala imediatamente, quando se lembrou do exato dia em que isso tinha acontecido. Olhou para Sarah de soslaio. Essa deu um sorriso sombrio e disse:
- Pode falar em que dia isso aconteceu. Eu não vou ficar chateada. – "mais chateada", ela quis dizer. Sarah sabia muito bem que nenhum dos amigos gostava de falar sobre o assunto. Nenhum deles gostava de falar sobre o assassinato. Mas não os culpava, afinal, ela mesma era assim. Muitas vezes preferia ignorar a existência daquele acontecimento, mas, por mais que tentasse, era impossível. Aquilo tinha estragado sua vida para sempre.
- No dia em que a Ker foi atropelada. – João concluiu, engolindo em seco.
- Sim. Mas eu não estou falando da Missy. – Bill alternou seu olhar de João para Sarah, que estava cabisbaixa. – Desculpe não ter estado lá pra te ajudar, margarida. - estava pesaroso.
- A culpa não foi sua – murmurou.
- A culpa foi minha, na verdade. – João disse chamando repentinamente a atenção dos dois. – Se eu não tivesse bebido até desmaiar, o Bill não precisaria ter me arrastado pra casa, e nós poderíamos ter estado lá.
- Isso não importa mais. – Sarah balançou os ombros, fingindo completo desinteresse. – Eu não ligo.
- Mas então, – João mudou de assunto, virando-se para o garoto. – quem é a vítima?
Sarah girou os olhos com impaciência, enquanto Bill voltava ao seu semblante alegre.
- Ela não é vítima. – Bill respondeu tranquilo. – E ela se chama Juliette Freire. – Sarah prendeu a respiração por um momento.
- Da sala da Sarah? – João apontou e ele consentiu. – Ela realmente é um pedaço... Mas quem diria que daria bola pra você! – riu com gosto.
- Por que seria diferente? – Bill retrucou.
- Ah, calem a boca. – Sarah caiu deitada sobre o palco, sentindo-se extremamente incomodada. – Odeio quando começam com papos fúteis ou infantilidades... É ridículo.
- Qual parte exatamente foi a da infantilidade, Andrade? – João levantou uma sobrancelha. – A parte que eu falei que ela era gostosa ou a parte que eu falei que ela não daria bola pra Bill?
- Aí você se enganou nas duas suposições – Bill disse cheio de si. – Primeiro porque sim, ela não só daria como deu bola pra mim, e segundo porque ela não é apenas gostosa, ela é muito gostosa. Precisava ver ela na festa. – deu uma risada.
- Ridículo. – Sarah revirou os olhos.
- Eu, hein – João disse, encarando-a confusa. – Que bicho te mordeu?
- Eu sei que bicho é esse. – Bill disse com ar de conhecimento. – Se chama "tensão sexual reprimida". Já a minha – sorriu. – Está completamente satisfeita desde ontem à noite. – João deu um assobio de aprovação.
- Cala a boca, porra! – Sarah estourou, surpreendendo os dois amigos. – Vai à merda com essa sua tensão, eu não dou a mínima. – levantou-se rapidamente. – Quer saber? Eu vou embora, não aguento nem mais um segundo falando dessa babaquice.
Andou decidida até fora do portão da garagem, descendo o mesmo rapidamente até batê-lo. Quando o ambiente ficou em silêncio, Bill e João se olharam estáticos e completamente confusos com a atitude da amiga.
- O que será que deu nela? – João perguntou e Bill balançou levemente os ombros, desentendido. Enquanto Sarah andava a passos largos em direção ao Audi, sua cabeça trabalhava em busca de motivos para sua irritação instantânea. 'Estúpida.' Pensou consigo mesma.
Costa Oeste da Inglaterra; Sábado; 12:47 da manhã;
Kerline foi conduzida por Pocah em um carro de aluguel até uma pequena casa na praia. Por mais que a casa não fosse grande, estava obviamente bem localizada e sua decoração era impecável. Conseguia misturar perfeitamente simplicidade e excentricidade em um só lugar. Era amarela com um pequeno jardim em frente, tinha escadas de madeira, uma varanda com duas cadeiras, e por dentro era mais do que aconchegante. Kerline se sentiria melhor se, além da conveniência da casa, o clima também fosse conveniente. A costa oeste estava apresentando ventos fortes e o clima fresco, inadequado para um dia no mar.
- Droga, amor. – ela disse de braços cruzados, olhando as ondas agitadas através da janela. – Devíamos ter pesquisado como estaria o clima, antes de vir. – suspirou. – Agora os seus planos de pegar sol foram todos pro espaço...
- Quem disse que eu tinha planos de pegar sol? – Pocah falou apoiando seu queixo no ombro da namorada, que se arrepiou com seu toque. – Aliás, quem disse que eu não sabia como estaria o clima?
- Você sabia? – ela se virou pra morena, abraçando seu pescoço apesar da expressão confusa.
- Desculpe se eu te decepcionei, Ker. – respondeu encarando os olhos da menina com um olhar terno. – Mas nem sempre faz parte dos meus planos te ver corada, por mais que eu te ache linda quando está assim. Dessa vez, a única coisa que eu queria com essa viagem era te aquecer do frio.
Ao ver a namorada sorrir, não teve dúvidas em beijá-la. Precisavam se recuperar do ano difícil que tiveram, tanto fisicamente quanto emocionalmente. E fariam isso com êxito.
Londres; Greewich; Sábado; 7:32 da noite;
- Ai meu Deus. – Carla disse rindo, enquanto cobria o rosto. Ela e Ju estavam sentadas na sala, e tinham acabado de ver um filme.
Tinham passado a tarde inteira entre filmes e conversas divertidas sobre professores, família ou qualquer assunto banal que não envolvesse relacionamentos. A única hora em que esse assunto ficou próximo de vir à tona, foi quando Ju, acidentalmente, mencionou Bill. De resto passaram o tempo todo rindo e tentando ignorar assuntos que as aborreceriam. Juliette nunca imaginara que pudessem ter tanto em comum.
- Como eu queria ter um homem desses. – Carla prosseguiu sua fala. – Nessa época era tudo mais fácil. O amor era mais sentido com palavras e juras do que com toques. Com certeza preferia ter vivido no século dezoito.
- Ah, não sei. – Ju falou, também com o aspecto divertido. – Tocar a pessoa que se ama é muito bom, aposto que eles morriam de vontade. Além do mais, imagina só, beijar alguém era vulgar! O que eles pensariam de nós, então?
- Que todos viemos da zona. – Carla disse e ambas gargalharam. – Ou coisa bem pior, vai saber.
- Você é muito divertida. – Juliette disse parando de rir. – É fácil entender porque a Thais gosta tanto de você... – parou de falar durante alguns segundos, apenas para tentar assimilar o que sua voz havia dito. Engoliu a seco, sem graça, quando viu que Carla tinha ficado calada. – Desculpe.
- Não é culpa sua. – a garota sorriu amarelo, depois de um momento ponderando. – Na verdade, não é culpa de ninguém. Só dela.
As duas ficaram em um silêncio desconfortável por mais alguns segundos, até que Juliette tomasse a frente:
- Desculpe, mas... – pigarreou. – Pelo jeito que ela te olha, eu não consigo acreditar que tenha te feito algo de mal.
- Às vezes nem eu consigo. – ela riu baixo. – E eu não acreditaria... Se eu mesma não tivesse visto. – respirou fundo, tentando conter algumas lágrimas com a lembrança.
- Sinto muito. Eu não devia ter te lembrado... – Ju desviou o olhar da menina, sentindo o clima desagradável do local.
- Ela comentou algo com você? – Carla perguntou repentinamente.
- Não. Nada. – ela respondeu. – Mas eu nunca perguntei, porque pensei que pudesse tocar em alguma ferida. – observou novamente a expressão nervosa da nova amiga. – Pelo jeito, estava certa.
- São coisas do passado. – Carla tentou sorrir. – Eu não queria te preocupar com uma besteira dessas.
- Não parece ser besteira, se me permite dizer. – retrucou.
- Você é mesmo decidida, não é? – Carla deu uma risada abafada. – Se você não comentar com ninguém... Eu te conto o que aconteceu naquele dia. Verá que Thais Braz não é nenhuma santa. – balançou a cabeça negativamente.
- Nada que possa me chocar. – Ju piscou pra garota, que deu um sorriso frouxo.
- Foi há um ano. – Carla começou a história. – Nós estávamos namorando havia alguns meses e tudo parecia perfeito. Quero dizer... Ela era a namorada que eu sempre tinha sonhado. Linda, gentil, divertida. – fez uma pausa, suspirando. – Estaria mentindo se dissesse que não estava apaixonada... Muito apaixonada. Era sexta feira, e o que eu não sabia era que, ao contrário do que eu imaginava, aquele seria o pior dia de toda a minha vida. Parece coincidência, mas tudo resolveu dar errado de uma vez só...
- Como diria Murphy, - Ju interrompeu com bom humor, tentando diminuir o clima pesado. – Acontecimentos ruins acontecem em série.
- Maldito Murphy. – Carla deu um sorriso fraco. – Mas aqueles foram mais do que acontecimentos ruins... Nós tínhamos combinado de ir... – parou de falar, analisando o rosto curioso de Ju e um pensamento. – A um lugar especial naquela noite. Eu nunca estive tão empolgada com uma saída antes... Acho que no fundo eu tinha a esperança de que algo maravilhoso fosse acontecer. O combinado era que eu passasse na casa dela à noite, já
que o seu carro estava na oficina. Thais nunca foi cuidadosa com aquele carro, e eu sempre achei isso mais um de seus traços divertidos. – riu baixo com alguma lembrança. – Cheguei na hora marcada e subi as escadas do prédio, ansiosa para vê-la.
A porta do apartamento estava aberta, mas eu não estranhei nem um pouco já que ela é o 'Às' da distração. – seus olhos começaram a ficar vermelhos, e gotas de água começaram a se formar próximas à íris. – Eu chamei por ela e estranhei a falta de resposta, por isso segui até o corredor, que estava vazio. O banheiro também. Por fim, fiquei de frente ao quarto, que estava com a porta entreaberta. Chamei e novamente não obtive resposta. Empurrei a porta a fim de abri-la, e preferi nunca ter feito isso. – algumas lágrimas escorreram por seu rosto.
- O que aconteceu? – Ju perguntou com a voz falha, segurando a mão da amiga, no sofá.
- Ela estava lá. – Carla prosseguiu. – Com a Flay.
- Com a Flay? – Juliette procurou o rosto da garota em sua mente, e se lembrou da Kerline já ter mostrado quem era. Não teve muita dificuldade em ver o rosto fino e longo de Flay, e, pela primeira vez, sentiu antipatia dela e de suas feições.
- Ela estava em cima da Thais. – Carla disse tampando o rosto com as mãos.
- Mas talvez tenha sido ela que... – Ju tentou justificar a amiga.
- Não, Ju. – Carla disse, olhando-a magoada. – As roupas delas as denunciavam.
- Que roupas? – Juliette perguntou com as sobrancelhas levantadas.
- Aí que está. – ela voltou a tampar o rosto com as mãos. Carla engoliu a seco, preferindo evitar uma imagem mental.
- Não consigo acreditar que a Thais tenha te feito algo assim... – Ju refletiu antes de dizer. – Não é o estilo dela. Ainda mais com você...
- Mas ela fez. – Carla retrucou. – Ela fez e eu vi. A partir daí as coisas só continuaram a dar errado...
- O que, por exemplo? – a outra perguntou receosa.
- Você faz ideia de em que dia isso aconteceu, Ju? – Carla limpou mais uma lágrima. Juliette balançou a cabeça em sinal negativo, alarmada. – Aconteceu no dia em que a Ivane foi assassinada. O ambiente permaneceu em silêncio, durante vários segundos.
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boa noite luazinhas,
pobi da Sarah, tadinha, engoliu com farinha....
e a thais, traiu ou não traiu?
uma coisa que posso dizer que o meu capítulo fav chegando (nini falando aqui).
não esqueçam que amamos vcs daqui até a lua...
beijo beijo,
att: bia e nini