Não havia muito tempo que tinham inventado as Latas de Memórias e foi uma febre. Lá estavam elas, fresquinhas, em todas as máquinas das lojas de conveniência, lotando prateleiras nos supermercados. Havia de todos os tipos e cores. Funcionava assim: cada latinha continha um tipo de lembrança, a pessoa tomava e evocava aquela espécie de memória. Um prato cheio para os saudosistas!
Ocorre que, como tudo que injeta prazer na gente, virou um vício, uma nova droga em circulação. O maior dos impasses era que todo mundo queria viver memórias do que nunca viveu e, desta forma, estavam esquecendo de quem eram, misturando as bolas. Foi um caos. O governo decretou a ilegalidade das Latas de Memórias, o que levou a população em massa a protestar nas ruas, queimar carros e quebrar vitrines. Acabou que liberaram somente para uso medicinal, o que não foi de todo ruim, quando há uma rocha no caminho o rio sempre acha um meio de contornar. Começaram então a traficar as Latas, quem provou não queria mais esquecer do gosto.
Viver outra vida é sempre prazeroso. O gosto da primeira vez é único e difícil de se produzir. Que fim teve? Bem, virou um problema de saúde pública, e foi acrescentado na lista inútil do combate às drogas. O problema de lembrar é não esquecer...