Hey, bebês
Esse capítulo é um complemento do anterior, contado no ponto de vista da Billie.
Espero que estejam bem e que aproveitem o feriado. Amo vocês ❤️
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Olhei para o celular, bufando ao ler o nome do Rossini na tela.
Nem mesmo estando de férias o homem me deixa em paz.
Desliguei, voltando a falar com a minha namorada, mas antes que pudéssemos recomeçar o assunto, o celular toca mais uma vez.
— Vá atender, pode ser sério — Lynn segura na minha outra mão, me olhando com os olhos castanhos brilhando.
Seus olhos tinham o mesmo brilho de quando ela chorou mais cedo e eu entrei em um debate comigo mesma se eu a deixava sozinha ou não.
Quando a vi chorar, mesmo que não soubesse o porquê e mesmo que eu não soubesse o que fazer para lhe ajudar, senti meu coração se quebrar. Eu queria dizer as melhores palavras, lhe dar os melhores conselhos, mas tudo o que pude fazer foi abraça-la e sussurrar que tudo ia ficar bem.
Me quebrava o coração vê-la daquela forma, porque era algo que eu não estava acostumada.
Eu estou acostumada com a Lynn feliz, a Lynn raivosa, a Lynn muito raivosa, a Lynn amorosa. Mas não estou acostumada a vê-la triste. Foi algo que aconteceu poucas vezes depois que começamos a nos encontrar.
Mesmo quando ela foi parar no hospital, ela não parecia triste, só cansada...
Mesmo quando eu rebaixei seu trabalho, dizendo que sua galeria era um quartinho sujo, ela não chorou. Ela me xingou, me empurrou, mas não derramou uma lágrima.
Eu não como reagir, não sei o que fazer.
— O nosso almoço deve demorar mais um pouco. Não precisamos correr — minha namorada completou, apertando minha mão.
Olho para o celular, o vendo tocar mais uma vez e mais uma vez, atrapalhando nosso momento.
Não tive outra escolha a não ser levantar derrotada. Quanto mais rápido eu falasse com Justin, mais rápido voltaria.
Ele não ia me deixar em paz. Eu o conhecia.
— Fique aqui, eu já volto —
— Pra onde eu iria? — me aproximo, juntando nossos lábios rápido e sorrindo entre o nosso beijo.
Meu sorriso logo se desfez, quando eu saí de perto dela e tive que atender ao chamado de Justin.
— Eu estou de férias — é a primeira coisa que eu digo, a única reação dele foi rir.
— Boa tarde, Billie. Como você está? Eu estou muito bem — ele é sarcástico, tirando mais um pouco da paciência que eu ainda tenho com ele.
— O que você quer, Justin? Estou ocupada — passo a mão no rosto, olhando de relance para a mesa que eu estava sentada com Lynn, franzindo o cenho ao ver um dos funcionários falando com ela.
Eu o reconheci pelo uniforme, porém, a conversa que eles tinham não parecia que conversavam sobre o cardápio.
Evelynn parecia ansiosa, nervosa e eu quase andei até lá, se não fosse pela voz do Rossini.
— Me ouviu? Você ao menos está me escutando? — suspiro, pedindo para ele repetir.
Quanto mais rápido essa conversa acabar, mais rápido eu voltaria para Lynn.
— Você precisa aparecer nas redes sociais. Seus fãs precisam saber que você está bem. Não é porque está de férias que não pode fazer seu trabalho — reviro os olhos, respondendo apenas com um "okay".
Justin continua falando.
— Há mais de três semanas que você publicou uma foto, e aqueles stories que você mal aparece não é suficiente... —
— Eu já entendi — o interrompo — Preciso aparecer, dizer aos fãs que eu não morri. Preciso ir... —
Vou rápido em direção à mesa, parando de andar aos poucos quando pude ver o rosto do homem que conversava com ela.
Não era um simples funcionário.
Quando Lynn passou mal a primeira vez, e eu soube o motivo de sua recaída, me prontifiquei de saber quem era seu ex. O que fazia? Onde estava?
Não encontrei muita coisa sobre ele, o cara havia sumido de redes sociais. Mas achei um Facebook antigo cheio de fotos dele e de Lynn que provavelmente nenhum dos dois lembravam da existência. Afinal, quem usa Facebook hoje em dia?
Mesmo as fotos sendo antigas eu o reconheci. Era ele. Blake estava ali.
— Se gritar, vai ser pior. Vai atrair uma atenção ruim para você e sua namorada... Por favor, Eve. Só me escuta — ele estava ameaçando minha namorada?
Me aproximo mais, ouvindo melhor a resposta que Lynn deu. Que me fez ficar um pouco confusa.
— Faz semanas que você aparece na minha casa. Invade minha privacidade e meu espaço. Eu já disse através do meu irmão diversas vezes que eu não quero falar com você. Então, por que não me deixa em paz? — Blake me vê ali.
O homem mudou muito de alguns anos para cá. Pelo o que eu pude ver pelas fotos. Antes, ele parecia um hippie. Cabelos grandes, roupas largas, o que me fez perguntar enquanto eu via as fotos o que Lynn tinha visto nele.
Agora o cabelo já estava curto, ele parecia um pai de família e me olhava como se não quisesse confusão.
— Eu só quero me desculpar, por tudo... — Lynn saberia que ele estava falando comigo se ela não estivesse olhando para os próprios dedos, mas ela não sabia e o interrompeu.
Eu deveria dizer que eu estava ali, mas de alguma forma, eu estava travada no lugar.
— E eu não quero ouvir suas desculpas depois de tanto tempo. Eu já te esqueci, Blake. Já estou com outra pessoa que eu amo, você deveria fazer o mesmo — ela diz cansada.
Eu posso ajudar. Eu poderia ajudá-la com isso se ela já está cansada do assunto.
Mas ela não me pediu ajuda. Lynn ao menos me contou que estava tendo problemas com o ex, isso quer dizer que... Ela não quer minha ajuda.
— O que eu quero dizer é que... —
— Ela já falou que não quer falar com você, então, você pode deixá-la em paz — levanto minhas mãos para interrompe-lo de se aproximar.
Lynn finalmente levantou o olhar, olhando ao redor e percebendo que as pessoas estavam prestando atenção na nossa interação.
Blake não pareceu se intimidar, ele queria continuar ali, queria falar com minha namorada a qualquer custo.
Mas ela não estava pronta, ela não queria. Ele não entendia.
— Eu preciso repetir? — não quero gritar, não quero fazer um escândalo e trazer mais atenção para a mesa.
Porque não era isso que Lynn iria querer. Não é essa a forma de defesa que ela quer. E eu sei disso.
— Eu não vou desistir de tentar falar com você, Evelynn — agora ele falou com minha namorada, saindo da mesa derrotado.
Respiro fundo, me sentando no lugar de antes e guardando o celular na minha bolsa.
Lynn não me olhava, com medo. Mexendo nas próprias mãos como se já não tivesse tirado todo o esmalte das unhas.
— O Rossini só queria dizer que mesmo de férias eu preciso trabalhar
Você sabe, compor, não deixar os fãs sem conteúdo nas mídias sociais — conto o que meu chefe queria, sorrindo.
Mesmo que o sorriso fosse forçado e mesmo que minha namorada ao menos olhasse para mim.
— Billie, eu... —
— Com licença — Lucy se aproximou, colocando o prato em nossa mesa — Volto logo — ela sorri, saindo para pegar mais suco e talvez mais uns dois pratos.
— Só... vamos almoçar — continuo com meu sorriso, tentando mostrar que estava tudo bem.
Lynn assentiu, pegando o garfo e dando a primeira garfada.
— E então? Como está? —
— Muito bom, muito bom mesmo — e foi a única conversa que tivemos pelos próximos longos minutos.
Comemos em silêncio.
Eu não sabia o que falar e estava perdida em pensamentos.
E Lynn também estava.
— Vamos dividir — ela diz quando vê a conta chegando, arregalando os olhos com o preço.
— Eu vou pagar tudo. É seu aniversário —
— Mas é a primeira vez que a gente sai que eu realmente tenho como pagar, então me deixe pagar pelo menos a metade — nego, pegando a conta dela.
— Aqui, Lucy. É no débito —
— Você é muito teimosa — minha namorada cruza os braços.
— Eu aprendi com você — respondo, dando de ombros.
Não demorou muito para o nosso almoço acabar finalmente. Enquanto esperava Lucy voltar, falamos sobre alguns assuntos aleatórios, agora nunca deixando a conversa morrer.
Isso até irmos para o carro e o silêncio voltar.
Já estamos sozinhas e eu sei que o momento que ambas tanto temiamos chegou.
— Billie... — quem começou foi ela, mas eu a interrompo, a incentivando a continuar..
— Então, seu ex namorado estava indo até você constantemente? — pergunto.
Ligo o carro, prestando atenção na estrada, não querendo desviar. Os longos minutos em que pensei durante o almoço fez com que eu tomasse uma decisão sobre o assunto.
Não importa o que Lynn falasse, minha decisão já estava tomada e por isso, segui até seu apartamento, para deixá-la. Mesmo que o que eu quisesse mesmo era levá-la para a minha casa.
Assim eu poderia abraça-la, dizer que tudo ia ficar bem e talvez fazer um sexo gostoso em comemoração ao seu aniversário.
Mesmo querendo, não foi esse o caminho que eu segui.
Minha namorada não me respondeu, pelo o contrário, ela abaixou o olhar, como se estivesse se sentindo culpada por tudo.
— Lynn... Eu ouvi tudo o que falaram. Eu entendo... Você ficou com medo de me contar e eu entender de forma errada. Afinal, seu ex estava indo no seu apartamento sem eu estar por perto. Mas não precisa se preocupar, eu nunca fui do tipo paranóica, sinto um pouco de ciúmes, mas eu entendo que a culpa não foi sua —
Isso é verdade.
Eu tenho ciúmes, eu fiquei com ciúmes quando vi Blake implorando pela atenção da minha namorada. Mas não sou paranóica, não sou louca de culpa-la por algo que não é sua culpa.
— Você entende? —
— Eu sou sua namorada, não posso esperar que me fale cada coisa que você faz —
Eu sentia seu olhar em mim, sentia que ela não acreditava nas minhas palavras.
— Pode me contar quando foi o primeiro encontro de vocês? Quero dizer, a primeira vez que ele foi até a sua casa? — mudo minha pergunta, já que não foi exatamente um encontro, Lynn fugiu dele a todo momento.
— Quando você saiu para a turnê, uma ou duas semanas depois, ele apareceu. Eu vi que era ele pelo olho mágico e não atendi — ela suspira — Mas ele continuou aparecendo, cada vez com mais frequência. Meu irmão falava com ele, mas ele não o ouvia e continuava aparecendo — ela seca uma lágrima que rola por sua bochecha.
Paro o carro em frente ao seu prédio, segurando em sua mão e esperando que ela continuasse a falar.
— No começo, eu não contei porque pensei que não fosse nada, afinal ele só aparecia e depois ia embora, mas com as visitas frequentes eu pensei que era hora de falar com você. Então, a turnê ficou mais difícil para você, mais cansativa e eu não queria te perturbar com meus problemas —
— Lynn... Você pode contar. Não importa o quão cansada eu estivesse, eu sempre teria tempo para te ouvir — ela assente, se deitando no meu ombro — E depois? Por que não me contou? — entrelaço nossos dedos, usando a outra mão para brincar com nossas mãos juntas.
— Zayden acha, ou ele achou, que o motivo de eu não querer ver o meu ex é porque eu ainda sentia algo por ele. O que não é verdade, eu não sinto nada pelo Blake, eu só... Fiquei com medo que você pensasse o mesmo que ele —
— Eu não penso — nosso assunto termina, mas continuamos do mesmo jeito.
O silêncio não era mais tão constrangedor e tão pesado. Agora ele era confortável.
Pelo o que eu entendi, Blake queria se desculpar. E provavelmente depois disso ele iria pedir para voltar com ela.
Eu não sei o que pensar. Não sinto medo, não sinto ciúmes. Eu não sinto nada.
Eu só sei que ver Lynn chorar acabava comigo.
— Você precisa subir. Aqui não é um bom lugar para eu estar estacionada. Espero que tenha um bom dia, que aproveite o restante do seu aniversário — ela me olha rápido saindo do meu ombro e negando.
— Bil, por quê? Eu quero que fique comigo —
Ela iria chorar de novo.
— Por favor, não chore... — segurei seu rosto.
— Me desculpe, por não ter falado e por... —
— Está tudo bem — a interrompo — Eu já falei que entendo, Lynn. Não vou brigar com você por causa disso — paro de dizer, suspirando.
Lynn me olha esperançosa, seus olhos brilhando pelas lágrimas e droga... Eu odiava vê-la daquela forma.
— Eu acho que você precisa de um tempo... — ela arregala os olhos — Não! Calma, não um tempo de nós, do nosso namoro. Um tempo pra você — me explico rápido.
— Eu não entendo —
— Você e Blake tiveram uma história, uma história longa e bonita que terminou de um jeito conturbado. Você precisa pensar no que vai fazer agora. Se vai deixar ele falar. Se afastar ele é o melhor para a sua saúde mental. Eu não posso decidir por você. Nem eu e nem seu irmão, então... Acho que o melhor é que tire um tempo para você, para pensar, refletir. Eu vou estar aqui para apoiar sua decisão. Eu só quero que pense bem e decida o que acha melhor para você — beijo sua testa, segurando em seu rosto para beijar seus lábios.
Lynn sorriu, secando as lágrimas.
— Eu te amo — ela murmura, me beijando mais uma vez.
— Eu também te amo, muito — retribuo seu beijo — Me ligue se quiser chorar, me ligue se precisar de alguma coisa, me ligue se só quiser ficar em silêncio. Mas me ligue, tudo bem? — ela assente.
Nos despedimos mais uma vez com mais juras de amor e beijos molhados. Eu a vi sair do carro, entrando no prédio, a observando e tendo certeza que ela atravessaria a rua com cuidado e entraria no prédio em segurança.
Quando Lynn sumiu do meu campo de vista, eu pude finalmente deixar que tudo o que aconteceu me atingisse.
Blake voltou, ele quer Lynn de volta. Eu vi a maneira que ele olhava pra ela. Vi seu desespero.
Ele a quer de volta.
Eu apoiaria todas as decisões de Lynn, mesmo se sua decisão for voltar com o ex que um dia a deixou.