Quando Soulyan finalmente despertou, ele percebeu que já não estava mais no castelo. Ele estava em um lugar repleto de livros. Observando tudo ao seu redor, finalmente percebeu quem estava com ele no local. A segunda pessoa no local carregava alguns livros para uma mesa de mármore. Soulyan tentou se levantar, e se surpreendeu com o seu estado atual, não tendo tanta dificuldade para se reerguer. Ao Soul percebeu que ele finalmente acordou.
— Pensei que fosse ficar o dia inteiro desacordado. Demorou apenas três horas... Tenho que dizer que sua recuperação é impressionante! — Ao Soul mostrava um olhar de surpresa, enquanto foleava alguns livros.
— Meu ferimento no ombro cicatrizou, pensei que fosse morrer... — Soulyan verificava o seu corpo, estando surpreso com a sua regeneração.
— Você só não morreu por estar acompanhado por um manipulador de aura experiente. Eu sou da classe Grão-Mestre, então curar é apenas uma das minhas especialidades — disse Ao Soul, enquanto mostrava um olhar sério.
— Grão-Mestre? Seria a classe mais alta de manipuladores de aura? — Soulyan se mostrou surpreso com tal informação.
— Existe uma classe superior, mas é impossível que um ser humano normal, consiga atingir. É possível que outras raças como híbridos e imortais consigam chegar nessa classe, mas são poucos — enquanto explicava, Ao Soul selecionava alguns livros na mesa para serem lidos.
Soulyan se sentou próximo da mesa de mármore e logo começou a verificar os livros que Ao Soul colocava em sua direção. Ele se perguntava o que eles estariam fazendo ali, já que eles tinham acabado de lutar violentamente no castelo.
Ao Soul foi em direção à outra estante, escolhendo mais outros livros, deixando Soulyan ainda mais confuso. Ele não conseguia entender o posicionamento de seu adversário anterior.
— O que estamos fazendo aqui? — Soulyan frisava o olhar para o indivíduo.
— Não é óbvio? Você vai estudar e eu vou escolher o conteúdo básico para que você não fique perdido com as informações — explicou Ao Soul, enquanto caminhava com mais doze livros em mãos.
— Estudar? Não tenho tempo para isso, pois preciso encontrar meus aliados! Principalmente Stela! — Soulyan mostrava impaciência em seu olhar.
— Por que me escolheu? — perguntou Ao Soul com seriedade.
— Como assim? — Soulyan estava ansioso com sua situação atual, não entendendo onde o lanceiro queria chegar com aquilo.
— Você perguntou se eu poderia ser seu mestre, se me vencesse. Por que escolheu um inimigo para ser seu mestre? — Ao Soul o fitava com um olhar sério que passava confiança.
— Eu perdi, por esse motivo que estou saindo em busca de meus aliados. Agradeço que tenha cuidado de mim, enquanto estava desacordado, mas preciso ir... — Soulyan estava decidido sobre se retirar, pois via a sua derrota como uma resposta clara de que não estava pronto.
— Não respondeu minha pergunta, jovem... Quero saber por que me escolheu — Ao Soul mostrava impaciência em seu olhar.
— Porquê de todos os usuários de aura que encontrei até agora, você é o que tem a aura mais equilibrada. Mesmo que eu não entenda sobre aura o bastante, eu sei dizer que sua aura sempre está em harmonia pelo corpo inteiro... Eu acho que isso é um ótimo equilíbrio — Soulyan o analisava com tranquilidade.
— Eu não considerei ser um inimigo ou não. Apenas considerei sua aura, pois sei que alguém como você, seria capaz de me treinar — explicou Soulyan, enquanto coçava o seu cabelo bagunçado.
— E você está certo sobre o equilíbrio. Estou realmente impressionado que tenha notado e concluído isso, sem ter experiência ainda — Ao Soul mostrava satisfação em seu olhar.
— Você venceu quando teve coragem o bastante para me enfrentar. Não se importou com a força do seu oponente, mas fez aquilo para proteger seus companheiros... Essa é a principal qualidade de um mestre, que é a de sempre priorizar a vida das pessoas a sua volta — ele explicou, enquanto analisava Soulyan com olhos semicerrados.
— Então... Você será meu mestre? — perguntou Soulyan, mostrando empolgação em seu olhar.
— Sim, mas terá que deixar para encontrar seus amigos quando tiver terminado seu treinamento — ele o fitou com seriedade. Ao Soul sabia que se ele queria ser mais forte, teria que se manter focado em seu objetivo atual.
— Não posso chama-los de amigos... Eu ainda não os conheço o suficiente, mas eles me ajudaram bastante até aqui, como meus aliados. Por terem me ajudado, eu sinto que preciso retribuir o favor, ajudando eles também — Soulyan entregava verdade em seu olhar. Ele sabia que era cedo para confiar nas pessoas ao seu redor, mas mostrava consideração por aqueles que o apoiavam em sua jornada.
Soulyan ficou sério quando ele disse aquilo, pois sabia que seus aliados estavam em perigo. As intenções do rei foram bem duvidosas e estava claro que ele não iria desistir de encontrá-los. Soulyan ficou em um empasse. Mesmo com uma grande oportunidade de ficar mais forte, não sabia dizer o que era correto a ser decidido naquele momento.
Ao Soul pediu para Soulyan pensar com calma. Ele também pediu para que ele só deixasse a biblioteca, quando tivesse entregado a sua decisão. Antes de Ao Soul deixar a biblioteca, ele disse que iria buscar comida para ambos, pois sabia que Soulyan estava precisando recuperar suas energias.
A biblioteca era gigante. Tinha várias estantes, sendo um total de quatro salas, separando o tipo de conteúdo a ser buscado. Às vezes era necessária uma grande escada para buscar os livros das estantes mais altas, sendo assim em todas as salas. Soulyan estava pensando se conseguiria ler tudo aquilo em uma vida. Era um ambiente nobre com detalhes prateados nas paredes e no teto. Todo o piso era composto por cerâmica de cor azul neve, o que deixava o ambiente com um ar de harmonia e de segurança.
Ele começou a verificar os livros que Ao Soul havia colocado na mesa de mármore anteriormente, se assustando com a sua ignorância. Estava sendo difícil de compreender o que estava escrito.
— Não consigo ler nada! Se esse for o idioma Aura que me foi explicado, então terei dificuldades, logo no primeiro livro — gritou Soulyan em surpresa.
— Tem muitas figuras, mas não posso entender o que tem no livro só através disso. Ele vai precisar me explicar — ele frisava o olhar ao folear o livro sobre a mesa, coçando a cabeça em impaciência em seguida.
Depois de alguns minutos, Ao Soul chegou com os alimentos. Ele ficou admirado ao ver que Soulyan estava realmente se dedicando a leitura.
— Vejo que já começou a ler... Então decidiu estudar? Estar em qual livro? — perguntou Ao Soul, enquanto levava a comida para uma mesa próxima a de Soulyan, que já estava arrumada.
— Estou preso no primeiro. Não consigo ler nada que está escrito nesse livro, apesar de saber falar o idioma — Soulyan estava decepcionado consigo mesmo, pois achava que teria esse conhecimento. Sua falta de memória o travava novamente.
— Tenha calma! Eu sei que você é um estrangeiro, só pela sua roupa e pela forma de encarar as coisas. É normal estar perdido em um lugar desconhecido — Ao Soul o encarava com tranquilidade. Enquanto preparava a comida, ele observava os livros que havia escolhido.
— Estrangeiro? — sussurrou Soulyan.
Ele explicou para Soulyan que o idioma Aura era utilizado em todo o mundo. Todos os reinos utilizam, mas existem variações. O idioma Aura era conhecido como "Linguagem das Almas", sendo possível se comunicar com qualquer ser humano de alma pura e impura. Falar com pessoas de outros reinos, exige que a pessoa mude a intensidade de sua aura ao falar, para que ela entenda o nível dos fonemas. Ele explica que não é necessário ser um mestre para controlar a aura ao falar, mas que exige controle básico.
Soulyan parecia entender bem o que ele dizia. Na medida em que ele falava, Soulyan tentava ler o livro que havia escolhido. Ao Soul explicou que o nível de fonema segue a seguinte ordem dos reinos: Reino Independente não exige nível; Reino de Prata exige nível 1 de aura; Nível 2 no Reino de Bronze; Nível 3 no Reino das Trevas e o Reino de Ouro (mais conhecido como Reino do Destino), que é o reino que exige o nível mais alto de fonema, sendo o nível 5.
— Então eu preciso controlar a fluidez da minha aura, para poder mudar o nível de fonema do meu idioma? — perguntou Soulyan com um olhar sério.
— Exatamente, só que no começo é bem difícil para se acostumar. As pessoas costumam ignorar o nível 5 e acabam aprendendo até o nível 3, por terem a certeza de jamais entrarem no Reino de Ouro — respondeu Ao Soul com um olhar inexpressivo.
— Muitas pessoas vivem nesse Reino de Ouro? O que tem de tão especial nesse lugar, para ser tão difícil de entrar? — questionou Soulyan.
— É onde está centralizada a Torre Dourada. É o lugar mais importante do mundo, pois é lá que a história do mundo é guardada e escrita. Eu já entrei no Reino de Ouro, mas nunca tive a oportunidade de chegar próximo da torre — Ao Soul coçava o queixo, enquanto falava da torre. Algo o incomodava naquele momento, mostrando um olhar distante em seguida.
— Você me levaria para esse reino? Eu preciso recuperar logo as minhas memórias, pois sinto que lá é o lugar das respostas — Soulyan estava esperançoso com as informações que recebia.
— Entendo seu ponto, mas é muito difícil de entrar lá. Você teria que ser da família real, ou um cavaleiro real de um dos reinos que citei. As pessoas que nasceram lá, sempre viveram no reino, sendo outra forma de estar no Reino de Ouro — ele frisava o olhar para Soulyan.
— Isso não funcionaria no Reino de Prata, sabendo que o rei é nosso inimigo... Mas você estava no castelo. Você não poderia me ajudar com isso? — perguntou Soulyan.
— Não mesmo. Eu ajudo o Reino de Prata desde o seu surgimento... Pitter Ala é o novo rei, então eu o ajudei quando ele me chamou. Não sou da família real e nem tenho obrigação de fazer tudo o que ele pede — Ao Soul encarava Soulyan com um olhar convicto. Passava confiança em seu olhar — Justamente por ter o rei como inimigo, que não posso te levar para lá como meu acompanhante.
— Entendo, mas... Espera aí! Desde o surgimento?... Falando nisso, eu não tenho noção de tempo — Soulyan sorria torto ao perceber que ainda estava perdido.
Ao Soul explicou sobre o surgimento do Reino de Prata, começando pelo ano que surgiu. O Reino de Prata foi fundado em 888, assim como os outros reinos. Cada um deles surgiu em um mês diferente. A origem dos reinos se deu pela necessidade das pessoas de terem seu próprio território, assim defendendo seus ideais.
Ao Soul também explicou que, os heróis da "Guerra das Engrenagens Infinitas", foram os criadores dos reinos. Cada um tinha uma maneira de pensar diferente, assim como seu estilo de luta. Ele explicou que antes da guerra, havia um reino apenas, chamado de "Reino do Destino". Ele afirmou que o núcleo desse reino antigo é o que hoje é conhecido como "Reino de Ouro". A separação se deu por causa das engrenagens infinitas, mas os detalhes sobre este evento, ele se recusou a explicar.
— E estamos em que ano? — Soulyan pensava sobre o ano que ele mencionou anteriormente.
— Estamos no ano 1012 da Era Unmei. Acabamos de entrar no mês de Otsoga, sendo um período onde os desastres acontecem — respondeu Ao Soul.
— Era Unmei? Espera aí!... Você tem 124 anos?! — perguntou Soulyan, arregalando os olhos em surpresa.
— É a época do surgimento de Unmei, a Deusa do Destino. Os anos começaram a ser contados quando ela apareceu... Dizem que ela vive na Torre Dourada até hoje — explicou Ao Soul — Eu sou um eterno e tenho mais do que 124 anos.
— Então o mundo não tem exatamente 1012 anos! Fico surpreso que seja tão velho em idade, pois tem o aspecto de um homem jovem — exclamou Soulyan — Seu corpo forte e seu rosto bem cuidado, entregam algo diferente.
— Antes de Unmei, era dito que os deuses viviam no nosso mundo. Então era a "Era dos Deuses", não tendo uma contagem certa de anos. Posso te dizer que o mundo teve início nessa Era — Ao Soul estava orgulhoso pela curiosidade de Soulyan, sorrindo em seguida.
— Entendi! Agora eu me sinto mais achado... Agora só preciso saber ler para descobrir o resto por conta própria — Soulyan mostrava confiança em seu olhar, estufando o peito em determinação.
— Então você precisa ler como um Soulardian... — disse Ao Soul, deixando Soulyan espantado com a informação.
Soulyan não havia compreendido a última coisa que ele disse. Ler como um Soulardian era algo que ele nunca tinha pensado em fazer, pois imaginava que tanto humanos como Soulardians, liam da mesma forma.
Ao Soul explicou que os humanos falam e escrevem de frente para trás. O costume de escrever no sentido Soulardian acabou se tornando importante quando se mostrou necessário dialogar e deixar registros para os Soulardians visitantes, assim como os defensores. Os Soulardians falam de trás para frente, por esse motivo que todos os livros dessa Era, seguiam a leitura Aura no padrão Soulardian.
— Agora eu sei por que eu não entendia os encantos de Sabrinna e de Stela. Elas falavam no padrão Soulardian quando recitavam — comentou Soulyan, mostrando satisfação ao compreender.
— Preste atenção nessa frase: "A oacadnuf od onier ed atarp é mu otnemicetnoca oiradnel". Se você ler no padrão humano, vai ficar assim: "A fundação do Reino de Prata é um acontecimento lendário" — explicou Ao Soul.
— Os acentos desaparecem ao falar no padrão Soulardian, mas continua tendo o mesmo significado. Estou começando a entender! — disse Soulyan, mostrando ainda mais empolgação para a leitura.
— Bom... Você já está pronto para começar a leitura dos livros. Vou querer que leia todos os livros que poder em um mês — Ao Soul o encarava com um olhar sério, sorrindo em seguida ao perceber o espanto de seu pupilo.
— Um mês?! Aqui tem livro o bastante para uma vida inteira... Não vou aprender tudo a tempo — Soulyan ficou espantado, encarando em seguida os inúmeros livros existentes nas estantes da biblioteca.
— Tenha calma. Os livros que coloquei na mesa de mármore, eles irão te ajudar a procurar os livros certos... A maioria do conteúdo dessa biblioteca é sobre a história do Reino de Prata. É falado sobre o seu surgimento e sobre os acontecimentos importantes — explicou Ao Soul.
Ele se despede de Soulyan e promete visitá-lo depois de um mês, para avaliá-lo. Soulyan tinha permissão para sair do santuário, apenas para comprar alimentos em lojas próximas. O objetivo é que ele fique a maior parte do tempo focado na leitura. Ele não poderia procurar pelos seus aliados, muito menos permitir que o rei fosse capaz de descobrir a sua localização. Ao Soul iria se certificar de que o rei não o procurasse por um tempo.
Uma carta estava sendo escrita no santuário, sobre a mesa de refeição. Enquanto comia, escrevia uma carta para Oliver Bullet. Ele tinha prometido escrevê-la, assim que chegasse ao Reino de Prata.
Desde a partida dele da Zona 67 do Reino Independente, que ele não dava notícias. Ele então começou a escrever, bastante empolgado, pois ele já tinha conhecimento básico do idioma Aura. Soulyan entregou palavras de consideração para o seu primeiro amigo.
* Carta de Soulyan *
Senhor Oliver, eu finalmente cheguei ao Reino de Prata! Eu consegui aliados em minha trajetória. Estou em uma jornada com um aventureiro chamado Avangard Eustlass, sendo um homem inteligente, forte e misterioso. Tenho também duas aliadas mulheres, sendo elas bem fortes e belas, conhecidas como Sabrinna Tatsuo e Stela Lir.
Sabrinna é bastante marrenta e estranha, já Stela é bastante compreensiva, gentil e confiável. Também conheci um gato bem peculiar, assim como um homem que nos ajudou muito em uma fuga impossível. O Reino de Prata é cheio de surpresas e de desafios! Estou aprendendo muito!
Atualmente eu estou estudando em um santuário, para saber mais sobre o mundo, já que não posso lutar de mente vazia. Graças a esse conhecimento que adquiri até agora, que eu sou capaz de escrever essa carta.
Se cuida, senhor Oliver!
Para entregar a carta, Soulyan precisou deixá-la dentro de uma casinha de pássaro, aplicando sua aura nela, sendo a prova de que foi ele que a escreveu. Nessa casinha de pássaro, um Soulardian visitante iria vir para verificar e levar a carta para o local de destino, assim como descrito na própria carta. Ele seguiu até o espaço externo onde estava a casinha.
Para que o Soulardian entendesse o conteúdo da carta e a levasse para o lugar certo, a escrita precisava ser no padrão Soulardian do idioma Aura. Agora que finalmente tinha escrito a carta, poderia mergulhar nos livros, caminhando de volta para dentro do santuário. Ele estava determinado a estudar, mais pelo treinamento que viria depois, pois Soulyan desejava ficar mais forte o mais rápido possível. Ele tinha a sensação de que estava esquecendo algo muito importante.
Alguns minutos depois, o Soulardian visitou a casinha de pássaro, levando a carta de Soulyan para o horizonte.
🌠Continua no próximo capítulo...
Glossário Soulardian
"Otsoga é o mês de Agosto no Mundo Soulardian. Notem que a palavra está ao contrário."