POV Luna
Invadir o lugar não é uma opção, teremos que entrar pela porta da frente e torcer para a desculpa que Clara inventou funcione. Mas como? Cristal mal consegue falar. Como acreditariam em nós? Podem nem a reconhecer. Droga, se isso for uma armadilha, serão três facções envolvidas contra o que? A polícia e os seguranças do pai da Cristal? Não tem como eles serem mais fortes que nós, mas também temos muito a perder mesmo que vençamos. Pensa Luna, pensa. Pontos negativos: a possibilidade de algum de nós ferir-se é quase certa, chegaremos na cidade com um tiroteio que provavelmente chamará a atenção de investigadores, seremos expostas e a notícia poderá chegar ao pai da Cristal. O qual, querendo ou não, é um homem com um certo poder aquisitivo no país e fora dele. Positivos: teremos um local protegido para ficar até a poeira abaixar, as outras facções saberão da nossa força, terei a certeza de que Clara e Mariana não são confiáveis e conquistaremos um novo negócio.
Quer saber, se for uma armadilha, que seja, mataremos todos que entrarem no nosso caminho. Estou decidida, em dois dias, ou estaremos num lugar seguro como Clara afirmou, ou faremos uma chacina e mostraremos para cidade o que acontece com quem nos enfrenta. A derrota não é uma opção.
— Podemos conversar? — Chiara tira-me dos meus questionamentos.
— Claro, já ia chamar você. — Guardo o celular.
— Não devia ter insistido em acompanhar vocês na venda... Foi mal. — Ela estava envergonhada.
— É, não devia, sabe por quê? — Questiono-a para que entenda como vejo essa situação. — Porque estaria em perigo e uma vez nessa vida não se consegue sair. — Ela sabia a resposta, mas não dava valor a ela. — Não só por isso, mesmo se permitisse você de participar, dentro da facção a única voz acima da minha é a da sua mãe. Por isso, se dou uma ordem no rádio as meninas obedecem sem questionar. Todas ali sabem quando ouvir, falar e principalmente obedecer porque é a vida delas que está em jogo. Sabe o que aconteceria se qualquer uma delas me desrespeitar ou quebrar alguma regra da facção? — Pergunto séria enquanto Chiara olhava-me surpresa. — Elas morrem, sem pensar duas vezes. Somos uma família, mas antes somos uma facção e se elas esquecem disso, se atrapalham a hierarquia ou tornam-se inúteis, significa que não fazem mais parte dela. Doí pensar nisso, mas todas sabemos que o nosso fim é a morte, seja por causa de outra facção, da polícia ou por nós mesmas. Concordamos com isso e demos a nossa lealdade a isso. Acredita mesmo que a sua mãe e eu queremos esse futuro para você? Essa incerteza se a veremos no dia seguinte? Que conseguiríamos dormir com a informação que por um erro ou um dia em que acorde de mau-humor podemos simplesmente perder você?
— Nunca pensei por esse lado. — Chiara abaixa a cabeça.
— Ninguém pensa, não até termos uma pistola apontada na nossa cabeça. Entramos nisso por impulso, vingança, adrenalina, não pensamos antes de já termos ido longe demais para voltarmos. Você é maior que essa vida e como a sua mãe, uma pessoa que te ama mais do que pode imaginar, não vou e não posso permitir que se rebaixe a isso. Consegue entender? — Olho no fundo dos seus olhos a espera da sua resposta.
— Claro, mãe, já consegui o que queria... não vou mais me envolver nos seus assuntos. — Ela possuía um sorriso honesto no rosto.
— Eu te amo filhota. — Abraço-a. — Vou precisar que cuide da sua mãe enquanto estiver fora, ela vai gostar da sua companhia.
— Deixa comigo e não esquece de mandar mensagem, assim não fico tão preocupada. — Ela pede.
— Pode ficar tranquila, devo voltar tarde então não espere acordada. — Despeço-me dela e saio do hospital até a minha moto.
Rádio ligado.
(Luna): meninas, já sai do hospital, onde posso as encontrar?
(Priscilão): estamos na balada secreta em discussão sobre o slogan da promoção.
(Maju): a Luna vai escolher qual vamos usar já que estamos divididas.
(Ivete): é óbvio que ela vai escolher o meu, propaganda de milhões.
(Renata): de centavos isso sim, desiste Ivete.
(Gabi): chega de discutir, quando ela chegar, definimos isso.
(Renata): já perdeu Ivete.
Rádio desligado.
Coloco meu capacete, subo na moto e piloto até o lugar. Uma das meninas esperava-me do lado de fora mascarada e a reconheço pela bandana roxa.
— Oi! Alicia, como está aí dentro? — Pergunto enquanto ela me acompanhava pelas escadas até a sala de reuniões.
— Basicamente discutimos sobre qual slogan é melhor, o da Ivete ou da Renata. Fizemos uma votação que terminou em um empate. — Ela se divertia com a situação.
— Então sobrou para eu decidir, meu deus. — Rio da imaturidade das meninas em alguns momentos.
Chegamos à sala e vejo que elas dividiram o quadro branco ao meio. Ivete estava a direita com os braços cruzados nas costas para manter uma postura mais séria. Junto a ela estava Gabi e Priscilão. Do outro lado estava Renata com uma mão na cintura toda confiante, perecia uma xícara com o nariz em pé. Maju e Alicia logo se posicionaram ao seu lado. Haviam duas frases escritas um de cada lado com as letras mais caprichadas que já fizeram. Isso me lembrava uma apresentação de trabalho de escola e estava na posição da professora responsável por dar uma nota para cada grupo.
— Então quem vai começar? — Decido interpretar meu papel e encosta em uma mesa diante delas.
— A maior da hierarquia vai primeiro. — Ivete começa. — O meu slogan baseia-se na verdade e na emoção para atrair nossos compradores. Por isso criei a frase: "Se divirta com Vita. É rápido, é furioso, é Diavolo. Nada funciona melhor do que uma explosão. Aproveitem nossos produtos, dois pelo preço de um, até as 24 horas de amanhã ou enquanto durar o nosso estoque." — Senti-me assistindo uma propaganda de super mercado enquanto ela falava.
— Okay, minha vez. O meu slogan tem uma base mitológica como o nome da nossa facção, Hell's Angels. Ele é curto, ou seja, é fácil das pessoas lembrarem e fica na cabeça igual aqueles jingles. "Os Deuses criaram Vita, os demônios Diavolo. Se há vontade, há explosão. Todos os nossos produtos pela metade do preço, não perca tempo". — O tom da Renata era misterioso para causar uma impressão de que os produtos realmente fossem místicos.
— Então parceira, qual vamos usar? — Priscilão era a única que ainda tentava se manter séria nessa votação.
— Gostei bastante da primeira parte da Renata por brincar com Deuses e demônios, mas a segunda ficou um pouco vazia, diferente da Ivete que informou o tempo de duração das vendas e usa o dois por um da promoção. A parte ruim do dela é que ficou de fato muito longo para divulgar os produtos e poucas pessoas vão ter paciência para ler esse texto. — Avalio às duas propostas.
— Não entendi, qual você gostou mais? — Ivete pergunta confusa.
— Os dois são bons, mas podemos melhorar. O que me dizem de juntarmos eles? — Apago o quadro e pego um pincel. — Desse jeito: "Deuses criaram Vita, demônios Diavolo. Se há vontade, há explosão. Aproveitem nossos produtos, dois por um, até as 24 horas de amanhã ou acabarem os estoques, na balada Inferninho onde daremos uma festa durante as vendas, nãos percam tempo." — Escrevo em todo quadro e as meninas apoiam a divulgação.
— Uma festa no Inferninho? — Maju pergunta animada.
— Sim, uma despedida, mas não precisam contar essa parte para as outras pessoas. — Respondo simplista.
— Vou ser a D.J. então, toda festa precisa de uma boa música. — Priscilão avisa.
— Comida e bebida é por minha conta e da Gabi, ninguém entende melhor dessa parte do que nós. — Ivete diz orgulhosa.
— Vamos precisar de segurança. Alicia e eu podemos garantir que não terão conflitos no evento. — Maju se pronuncia.
— Beleza, Renata, Júlia e eu faremos as entregas durante a festa. Na entrada daremos uma senha apenas para quem fizer parte do ilegal. Assim poderemos chamar um de cada vez pelo telão até a área privada da balada onde guardaremos os produtos. — Explico como faremos.
— Também podemos criar códigos para não deixar tão na cara as encomendas feitas na entrada, tipo quero cinco explosões e três combos deuses e demônios. Assim os desinformados que perguntarem sobre podemos dizer que são bebidas VIP's. — Renata sugeri um plano que combina com o que organizamos.
— Perfeito, coloquem sobre o código na Deepweb junto do anúncio. Já podem até anunciar e começar a organizar as bebidas, comidas, músicas e a própria balada. Vamos abrir as vendas essa noite com tudo gratuito exceto o ilegal. — Ordeno e libero as meninas para se prepararem.
Rádio ligado.
(Luna): não esqueçam que uma hora antes da festa iremos reunir a Tríade e o M.C. no Inferninho para definirmos o dia e o horário de partirmos.
(Todas): certo, chefe.
Rádio desligado.