Yoru... Seu nome me causava um nojo tão grande que me fazia ter vontade de vomitar.
Levantei forçando um sorriso no rosto, tentando não perceber que minha perna recém estava totalmente virada para dentro, totalmente quebrada.
Ele é forte.
Talvez eu nem ao menos seja suficiente para...
Afastei os pensamentos poucos segundos depois de Yoru estender o braço para agarrar meu pescoço. Desviei para o lado e rolei para longe.
Quando olhei de novo, ele estava olhando para as mãos, as unhas afiadas de cor preta. Ele virou o pescoço na minha direção seus olhos cinzas mas com pupilas de gato... Ou mais para uma cobra sedenta por sangue.
- Preste atenção em mim Tsuki, ainda nem começamos e você fica pensando em outras coisas?
Sua cabeça caiu pro lado, e ele fez uma de suas expressões amarguradas.
- Ou devo me referir a alguém... Muzan.
O seu nome foi pronunciado com nojo nos lábios de Yoru.
Ri, me pus de pé novamente.
- Talvez.
Em um piscar, sua mão cobriu meu rosto, os dedos dele quase tocando minha bochecha, segurei seu cotovelo e o acertei com meu joelho rasgando sua carne. Que... Se juntou na hora... Com o outro braço livre ele mirou um soco em meu pescoço. Me jogando para longe.
Devia esperar isso... Sua regenenação é "quase" absoluta, mesmo que por 0,5 segundos seus ossos demoram para se regenerar mais lento que a pele.
- Tsc.
Recoloquei no lugar meu maxilar quebrado, lambi o sangue que jorava dos meus lábios.
Olhei para meu braço, que mesmo sem receber nenhum impacto estava sangrando.
Então começou...
- Sabe... Eu te dei tudo, tudo que era mais belo no mundo, conquistei feudos em seu nome, te amei mais que qualquer uma de minhas concubinas, te concebi um filho! E você ainda não consegue me amar!! Por que? Me diga o por quê Tsuki??
As palavras "te concebi um filho" ecoavam por minhas memórias.
- Por que?
Dobrei o rosto para o lado.
- Você ainda pergunta...- curvei meus lábios em nojo - você confunde abuso com amor?
Os olhos dele se abriram, sua expressão voltou a duvida.
- Eu te amei de verdade Tsuki, aquela noite... Foi a mais feliz da minha vida...
Ele colocou a mão na boca e desviou o olhar, vi suas bochechas vermelhas.
Respirei fundo tentando me controlar.
- Você me estuprou! Todas as vezes que essa memória passa pela minha cabeça, sinto vontade de vomitar, arrancar a pele que você tocou, onde você me lambeu, onde...
Arranhei meu pescoço afastando todas aquelas... "Carícias".
Seus olhos cairam em tristeza, ele ergueu seu queixo a pele de seu pescoço branco por mil anos sem ver a luz, exposta.
- Mesmo com todos esses anos... Continua a mesma.
- Não, não não diga a mesma -dei um passo a frente negando com a cabeça- Essa é a versão melhor que você está vendo, a garota que te ajudou aquele dia na caverna, está enterrada onde ninguém além de mim mesma pode ver, a que você vê agora. É a que caiu 100 vezes, chorou 100 vezes e se negou a aceitar o que destino decidiu para a vida dela.
Ele riu em deboche, seus olhos cinzas indo dos meus pés a cabeça.
- Vejo que esteve bem por todos esses anos... Graças a seu amante suponho.
Sorri.
- Mais que amantes, talvez... Noivos?
Sua expressão se tornou sombria.
- Se você quiser dessa forma, a farei. Tsuki - Senti mais cortes abrindo e se regenerando por meu peito e braços, enquanto Yoru continuava parado - Mas saiba que depois que eu te matar, irei pessoalmente atrás daquele bastardo.
Demos um passo a frente.
- Se tudo correr como o planejado...- Fiquei em posição de luta, minhas unhas afiadas vermelhas surgindo com um brilho verde na ponta - Esse será seu aniversário de morte, Yoru.
Um chute foi travado no ar, protegi meu rosto enquanto tentava agarrar sua perna, onde ele a cavou em meu ombro me forçando ao chão. A pressão fez a terra rachar.
A lua convidada a participar do de'leite de nossos golpes, nos iluminando com seu brilho.
Mesmo tentando com todas as forças atacar, nunca fui boa em luta corpo a corpo. Se meu poder de cura era verde, o de Yoru era azul enroscada em sua pele branca. E se Yoru era a flecha, eu era o vento de seu impulso, direcionando seus golpes para onde era menos fatal.
Muzan deve estar no fim da luta agora... Pensei arrancando um pedaço de seu kimono preto, certamente de Muzan...
Mais cortes se abriam na minha pele, uns feitos por Yoru... Outros pela luta dos Hachiras.
Ofeguei, olhei para meu peito, a carne viva vindo a centímetros do meu pescoço e indo até meu umbigo. Minha guarda ficou exposta, suficiente para Yoru me acertar em cheio na garganta com suas unhas. Pulei para longe tocando meu pescoço que pingava a sangue.
Religuei a pele e os nervos dos dois cortes fatais.
- Ei, esses cortes não estão sendo feitos por mim.
O encarei.
Sim, não estão sendo feitos por você, e sim... Por Humanos inteligentes que estão dando suas vidas em uma luta contra demônios...
•" - Acha que vai dar certo Tsuki? Mudar os ferimentos do corpo deles pro seu?
Kagaya perguntou deitado, enquanto eu tomava o sangue de Shinobu, Sanemi, e Tanjiro ao mesmo tempo.
Olhei para minha mão, o que os olhos humanos não conseguiam ver, eu via, se espalhando em minhas veias e fazendo parte do meu DNA, o sangue dos Hachiras e protagonistas.
- Tenho que garantir que todos fiquem bem, que lutem o máximo que conseguirem, sem restrição para movimentos.
Coloquei os fraquinhos em um pote vazio, agora estava tudo pronto.
- Mas você também irá lutar, e ele está no nível de Kibutsuji Muzan não está?
Fechei a caixa, a apertando.
- Não se preocupe, eu tenho um plano."•
- Não é da sua conta.
Respondi sendo o mais grossa possível, o suficiente pra ele me empurrar pelo ar por uma cidade inteira.
Ele apertava meu pescoço, suas unhas cravando cada vez mais em minha pele.
Se Muzan soubesse o que ele faria comigo, tenho certeza que não o deixaria para trás para me parar. Mas Yoru é inteligente o suficiente para manipular os próprios pensamentos a seu favor, e inteligente para perceber o controle que Muzan tem sobre seu sangue.
Meu corpo se colidia contra os prédios, minha roupa rasgando a cada impacto meu, contra as casas e castelos.
- Então é assim que vai morrer Tsuki? Hum? Nas mãos de seu único esposo, a quem você mais sente nojo. Se não... Ao homem que você mais queria morto!
Meus dentes rangeram.
Os olhos dele cairam em pena, mão envolta do meu pescoço arrebentava minha traquéia, apertando até sua mão fazer uma volta completa em meu pescoço.
- Eu sei que te tratei mal... Mas era com você, que eu me sentia em casa...
Um pedaço de concreto bateu direito em minha coluna vertebral, escutei-a quebrar. Minhas mãos e pés formigavam. O ar e a terra a nossa volta tremiam por tamanho poder.
Abri um sorriso e ri, mesmo sentindo minha garganta queimar. Fixei meus olhos nos de Yoru, e abri meus lábios pronta pra gritar o que mais queria naquele castelo.
- Vá se FODER YORU!!
Joguei meu pescoço para trás e impulsionei minha cabeça, se não posso usar minhas mãos... Que seja os dentes.
Arranquei um pedaço da carne do pescoço de Yoru. Que uivou de dor, me largando e fazendo-me quicar e rolar contra o chão, minhas costas bateram em o que séria antes uma loja de velas.
Meu corpo doía, não queria nem levantar. Se eu ficasse ali quietinha por alguns minutos agradeceria a Deus pela bondade. Mas meu corpo se obrigou a se levantar uma última vez.
Vamos Tsuki... Está quase lá, já está no fim...
Cacos de vidro estavam espalhados pelo chão, uma mulher gritava de horror. Vendo-me agora, um demônio cheio de sangue e terra, eu estava pelada... Coberta apenas pelo sangue vermelho marrom.
Um tremor balançou a terra, Yoru apareceu na minha frente. Mais puto do que nunca.
- Maldita!
Ele tocou o lugar onde eu o morde-rá, ainda sangrava. Foi mais eficaz do que eu pensava.
- O que?-perguntei em deboche- Achou que lhe daria um beijo?
Mesmo forçando um sorriso, minha visão embaçava. Meus pulmões doíam, minha garganta queimava. E mais do que tudo... O sangue em minha boca era mais amargo que o ferro.
- Vamos acabar com isso...
Pulei para cima do teto, o quebrando. Depois aterrissando nas telhas de uma casa, observei por alguns segundos a lua...Linda como nunca...
Ele estava a minha frente, fechei os olhos por alguns segundos. E posicionei as mãos no selo de pássaro, antes que Yoru uma última vez...
Cortasse o ar com suas unhas... Me partindo ao meio, e me... Jogando para longe.