P.O.V Bárbara Castro
O caminho foi silencioso, Tico e Lincoln estavam incomodados e não paravam de falar. Conseguiram até me arrancar uns sorrisos, mas só de olhar pra cara de Filipe meu humor mudava. Estava nítido que alguma coisa tinha acontecido, afinal, não é muito normal ficar sem falar com seu chefe.
Chegamos no local, e muito mais do que no último show que eu estive presente, o local estava inundado de gente. Era uma arena enorme, e tinham pessoas para tudo quanto é lado, quase como um Rock in Rio. A van passou por dentro do local e fãs gritavam, as vezes nós confundiam com outros artistas, e algumas reconheceram que era a Van de Filipe. Pela primeira vez no dia vejo o sorriso estampado no seu rosto enquanto olhava toda aquela gente, era óbvio que ele fazia tudo isso por amor.
Não consigo em conter também, acho até engraçado quando nós confundem ou gritam incessantemente. A Van para em uma área fechada atrás do palco, e quando saímos consigo ouvir com clareza a voz de cabelinho, abri um sorriso na mesma hora. Não sabia que ele estaria aqui no mesmo festival. Tento espiar de fininho, mas é quase impossível achar Cabelinho naquele palco enorme.
- Já encontro vocês! - Aviso Tico e ele assente.
Ando um pouco entre o pessoal do evento e chego até a equipe de Cabelinho. Tento desenrolar mas o segurança parecia relutante, expliquei que fazia parte da equipe de Ret e que éramos amigos, mas só quando eu mostrei meu crachá ele me deixou subir. Mesmo assim, falou para eu ficar no canto. O centro das atenções é Cabelinho, óbvio. Cantarolo com ele uma das músicas que ele canta, essa eu ouvi ele produzir junto com a ajuda de Filipe lá no estúdio. Sorri orgulhosa. Ele se vira rapidamente pra beber água quando nota a minha presença.
- Tô suado! - Ele me dá um beijo rápido na bochecha - Daqui a pouco vou lá falar com vocês. - Ele da uma piscadinha e volta pro microfone. O cara é foda demais!
Saio do palco satisfeita e me viro para seguir para o camarim do Filipe. Cabelinho sem dúvidas tinha se tornado um amigo, e vê-lo tão bem me deixou bem também. Entro no local ainda sorrindo, mas logo se desfaz quando vejo Filipe de papos com uma loura gatíssima. Ele ri alto e nem parece notar minha presença ali, tento disfarçar mas quando olho para os meninos, Lincoln me lança um olhar de reprovação. Acho que ele já havia entendido o que estava acontecendo. Engulo seco e caminho em direção a eles.
- Essa é a Steff Lima, fotógrafa do Ret. - Tico fala e eu a encaro com mais atenção, percebo a câmera pendurada em seu pescoço. - Ela ficou afastada por um tempo, mas vai voltar pro nosso time. Você vai gostar dela! - Ele mastiga alguma coisa.
- Aposto que sim! - Sorrio duro e me viro para procurar algo interessante pra fazer, olhar os dois de ceninha não estava nos meus planos.
Tentei fuçar o celular, nada de bom. Continuei tentando falar com a minha mãe, desde cedo ela não atendia e agora acabou de me baixar uma preocupação. Na terceira tentativa ela atende e eu suspiro aliviada, ela sempre me conforta quando nem ao menos sabe. Ela disse que estava tudo bem, na medida do possível, e que meu pai estava na mesma. Avisei que mandaria um pix pra ela, e depois de muita recusa, ela aceitou. Não fazia sentido viver tudo isso, se eu não puder ajudá-la da forma que eu posso. Mandei uma boa quantia, havia juntado com a grana que estava guardada desde quando cheguei.
- Família, daqui a pouco o Ret entra! Vamos esquentar esse culto? - Filipe vibra e esfrega a palma da mão uma na outra.
Nos reunimos no centro do camarim e nos abraçamos, Tico fez uma breve oração e aquilo parecia uma tradição entre eles, mas era a primeira vez comigo presente. Eu estava de frente pra Filipe e minha cara não disfarçava o meu incômodo com as mãos dele envolta da tal de Steff. Todos urram no final e o grito de Lincoln me arranca uma risada. Filipe caminha até a mesa e prepara um copão com Whisky e energético e da uma golada.
- Já, Ret? - Steff o questiona e ele da o maior sorrisão, idiota!
- Começar os trabalhos, né pai? - Juro que me esforço pra não revirar os olhos. Aquela intimidade toda entre os dois estava me corroendo.
Novamente tento me distrair, ando de um lado para o outro. Paro um pouco quando Licoln resolve trocar uma ideia, mas nada demais também. Steff puxa a câmera e faz alguns cliques de Filipe e me pega distraída quando tira foto nossa também. Sorrio sem graça para não parecer antipática, mas de fato essa cena toda não estava descendo. O produtor do evento entra no camarim avisando que Filipe já pode subir, e caminhamos todos juntos em direção a porta. Tico sai na frente, e Filipe segura a porta para Steff passar, ele me encara por um milésimo de segundo e passa na minha frente, logo em seguida dela.
Sinto meu coração na boca e o suor na minha mão. A única vez que ele me olhando durante a porra do dia inteiro, é pra ter certeza que eu não vou passar na frente da porra da piranha dele? Minha cara queima de ódio ao ponto de Lincoln me perguntar se estava tudo bem. Assenti sem dar muita bandeira, mas era simplesmente impossível. Ainda pior do que nossa discussão mas cedo, era a indiferença que ele estava me tratando agora. Juro, a minha vontade nesse momento é fazer espetinho de Filipe Ret com molho de Sttef Lima para acompanhar. Ódio!