Abri os olhos quase que desesperadamente e senti uma leve pontada na cabeça, eu estava péssima, pisquei lentamente tentando fazer com que meu cérebro me ajudasse a lembrar os acontecimentos da noite passada, porém, eu estava completamente perdida e sonolenta. Uma luz fina invadia o quarto através de um pequeno corte na cortina, franzi o cenho confusa, eu definitivamente não estava na minha casa, percorri os olhos pelo pequeno cômodo e mordi a bochecha encarando a prateleira carregada de HC's reconhecendo o lugar onde eu, infelizmente havia acordado.
Eu queria me matar, com certeza preferia estar em um banco de praça naquele momento, um pequeno arrepio percorreu meu corpo, eu não estava vestida nas minhas roupas, e sim em uma camiseta velha com um perfume que eu conhecia perfeitamente, e para piorar eu estava sem qualquer roupa intima por baixo. Puxei o lençol cobrindo mais o corpo, o que havia acontecido noite passada? Apalpei a testa em busca de algum sinal de febre, eu estava lúcida, mas não me sentia assim, era como se ainda estivesse em um sonho, ou no pior dos casos havia enlouquecido completamente.
O beijo, as memórias dos meus lábios se encaixando com os de Luke preencheram minha cabeça e senti todo meu rosto corar, eu não me lembrava de nada além do beijo, mas porque eu estava sem minhas roupas, e com a blusa velha do nerd?
A porta do quarto foi aberta e puxei o lençol mais para perto assusta enquanto a figura de Luke me encarava parecendo envergonhada.
--- Emy, você acordou, e-eu acabei me atrasando, se pretende ir para colégio precisa se apressar, podemos pegar a segunda aula ainda.
--- Tudo bem, só, o que aconteceu aqui? – Mordi o lábio envergonhada e apertei o lençol ainda mais sobre meu corpo, Luke coçou o cabelo sem graça e me encarou por alguns instantes parecendo apreensivo.
--- Na verdade nada, eu dormi no sofá, você não se preocupa com isso – Respirei fundo sentindo um alivio quase que imediato --- Você s-se lembra de ontem?
--- Eu vou me trocar – Me levantei sem jeito, eu me lembrava, me lembrava perfeitamente, mas eu queria apenas esquecer, eu havia deixado as coisas entre a gente ultrapassar o limite, Luke assentiu parecendo decepcionado.
--- Minha mãe lavou e secou seu uniforme, você, pode usá-lo se quiser – Ele apontou para meu uniforme bem passado e alinhado em cima da escrivaninha, eu estava muito agradecida por aquilo, odiava repetir roupa sem lavar, e por sorte a mãe dele já havia arrumado tudo.
--- Obrigada – Murmurei sem graça e ele apenas assentiu com um leve sorriso já se afastando para sair.
Me troquei rapidamente praguejando a forma em que eu parecia estar cada vez mais afundando, eu não podia permitir que coisas como aquela continuassem acontecendo, mas toda vez que me lembrava das sensações que Luke me proporcionava eu só queria me entregar mais a aquele sentimento.
Puxei minha bolsa em um canto do quarto e desci as escadas do quarto de Luke até a cozinha onde ele e sua mãe conversavam animados, o que a mãe dele pensaria ao me ver dormindo em sua casa? Eu estava com uma ótima mão para atrair situações desconfortáveis como essa.
--- Emy, bom dia, espero que tenha dormido bem, eu preparei um bolo, tem que comer rápido para não se atrasar – Dália me lançou um sorriso animado e colocou um prato na mesa a minha frente --- Você tem preferência em tomar algo? – Mordisquei o lábio sem graça e neguei, eu estava faminta, mas não queria ficar lá nem por um minuto a mais.
--- Olha, não precisa, eu vou voltar para a minha casa, mas... obrigada por tudo – Dália me encarou parecendo meio chateada e balançou a cabeça.
--- Nada disso, você precisa comer antes – Luke soltou uma risada e murmurou um "ela não vai te deixar em paz".
Me sentei na cadeira pegando uma pequena fatia do bolo quente parecendo recém assado, Luke dançava com os dedos na mesa enquanto parecia imerso em seus pensamentos, eu sabia que estava completamente ferrada como consequências das minhas ultimas escolhas, porém eu me sentia tão bem em relação a elas, e aquilo me fazia fervilhar por dentro, eu não podia estragar tudo, não a àquela altura.
--- Perdemos o ônibus, tudo bem se eu usar o carro hoje? Não terminei de arrumar o meu ainda – Luke colocou sua xicara vazia sobre a mesa e se levantou sacudindo os farelos de bolo de sua roupa.
--- Claro, não pretendo sair hoje, é minha folga, e seu pai, bem, ele nem saiu da cama hoje – Dália pegou as chaves em cima do balcão lançando em direção a Luke que as agarrou com uma expressão melancólica.
--- Acho que já podemos ir – Me levantei afastando a pequena forma de bolo, eu precisava me afastar de tudo aquilo o mais rápido possível.
--- Se cuida mamãe, eu volto assim que a aula acabar – Luke despejou um pequeno beijo sobre a bochecha avermelhada de Dália e me encarou logo em seguida como se me esperasse para sair.
--- Obrigada por tudo – Esbocei um pequeno sorriso e Dália me surpreendeu me puxando para um abraço caloroso.
--- Eu espero te ver por aqui mais vezes menina, é a primeira pessoa decente que Luke trás, ele tem muita sorte de estar com uma menina incrível com você.
Senti meu rosto corar assim que ela me soltou de seu abraço apertado, eu e Luke não estávamos juntos, e nunca estaríamos, mas de certa forma aquilo me deixava sem graça, assim como me lembrar de nosso beijo caloroso na noite passada. Segui Luke que assim como eu parecia extremamente envergonhado para fora de sua casa.
É a ultima vez que isso vai acontecer, murmurei mentalmente enquanto me encolhia no banco do passageiro, eu não poderia continuar permitindo que as coisas entre a gente atravessasse o limite mais vezes, eu tinha planos e coisas a fazer, eu tinha um futuro brilhante, e Luke era um passatempo que não combinava com nada em meu mundo.
--- Eu sinto muito – Luke murmurou depois de um longo silencio.
--- Não sinta, não aconteceu nada – Cocei a garganta e exclamei firmemente, ele me encarou por alguns minutos abrindo e fechando a boca algumas vezes, como se desacreditasse minhas palavras, mas eu possuía a total certeza de que estava fazendo o melhor para mim, e até mesmo para ele, eu não podia dá-lo esperanças de algo que jamais aconteceria.
O caminho até a escola seguiu-se de um imenso silencio, a Emy boba e descontrolada insistia em me dizer que eu deveria ali mesmo declarar que nossos sentimentos por mais louco que parecesse eram completamente reciproco, mas eu continuei a ignorar os olhares de piedade que Luke me dirigia e a me concentrar somente nos planos que possuía sobre James, aquilo sim era algo relevante e que me colocaria em uma caminho certeiro.
Luke estacionou sua caminhonete velha na garagem do colégio e suspirou me encarando com seus olhos verdes que eu sentia que conseguia ler completamente minha alma.
--- E-eu, eu falei sério sobre tudo Emy, eu realmente q...
--- Não faz isso – Fechei os olhos sentido meu coração parar por alguns instantes --- Não é reciproco – Abri a porta do carro me apressando em descer, e antes mesmo que Luke me dissesse mais alguma coisa, adentrei os portões da SFA com um pequeno aperto em meu peito.
Eu estava fazendo o certo, o melhor para mim, e naquele momento apenas eu importava, eu estava determinada, e não podia ceder as vontades do meu coração tolo que insistia em acelerar toda vez que Luke me dirigia um olhar, mas porque eu me sentia tão mal com aquilo?
--- Emy, finalmente te encontrei, chegou atrasada? – Erick se aproximou de mim ofegante com um meio sorriso --- Eu tenho ótimas novidades, consegui uma clínica para Olivia, e bem, os pais dela ligaram hoje de manhã, acho que ela vai conseguir voltar para casa em breve.
--- Os pais dela podem parecer rude, mas se importam muito com ela, mas acho que depois de toda essa confusão ela vai levar um longo tempo para se recompor, posso tentar ligar para ela mais tarde, e talvez fazê-la me ouvir para acalma-la – Segui em direção ao campo de futebol com um Erick animado a tiracolo.
--- Eu ficaria mais aliviado com isso, você é a melhor amiga dela Chermont, é a pessoa mais próxima que ela tem, e eu só, acabei com a vida dela.
--- Você foi burro admito, mas não pode se culpar sozinho, se ela tomasse os anticoncepcionais certo, não teria risco algum de essa merda toda ter acontecido, e os sentimentos de vocês dois sempre foi completamente mutuo – Me encostei na arquibancada fria encarando o campo e Erick engoliu o seco ao meu lado.
--- Estávamos bêbados, foi um erro de duas pessoas completamente desesperadas.
--- Eu sei – Murmurei com as memórias de meu beijo com Luke invadindo meus pensamentos novamente.
Estávamos desesperados um pelo outro?
--- Bem, eu preciso ir, tive que vir hoje fazer provas, faltei muitos dias, o diretor não sai do meu pé – Erick me lançou um meio sorriso e saiu andando em direção ao prédio das salas.
Passei a mão pelo rosto me recompondo e fechei os olhos por alguns instantes deixando com que o vento frio levasse todos meus pensamentos impuros com Luke.
--- Emy – Uma voz conhecida exclamou animada ao meu lado --- Eu queria me desculpar por ontem.
--- James Hill – Soltei um pequeno sorriso e abri os olhos quase que de imediato.
--- Olha, a Helena é insegura, mas eu, tenho certeza das suas boas intenções, e eu estou disposto a mostrar isso a ela, eu não quero mais que ela se sinta insegura com você.
--- Isso é, impressionante – Mordi os lábios e encarei o rosto perfeito de James por alguns instantes, eu queria que ele fosse completamente meu novamente --- Como posso ajuda-lo nisso?
--- Uma social, uma pequena social na minha casa amanha a noite, o que acha? Apenas alguns amigos, música boa, piscina, e diversão, Helena quer comemorar nosso primeiro mês de namoro, e eu pensei em uma pequena festinha, ainda vai haver outra no final de semana, mas quero essa apenas para pessoas próximas.
--- Me parece que estão juntos a mais tempo – Murmurei me recordando das vezes em que mesmo juntos ele a levava para sair.
--- O pedido oficial foi a apenas um mês – Ele coçou a cabeça sem graça eu apenas concordei com a cabeça, seus olhos castanhos me encararam por um tempo parecendo perdido.
--- Eu com certeza vou.
--- Obrigada Emy – James sorriu levemente e em seguida correu em direção ao campo onde vários garotos aqueciam para começar o treino, eu estava começando a obter um sucesso maior em meus planos, eu conhecia James o suficiente para saber que ele estava começando a se interessar por mim novamente.
Me sentei na arquibancada sentindo meus pensamentos sobrecarregados, eu estava cansada e confusa, valia a pena continuar insistindo em James? Eu poderia só conseguir outro garoto bonito e popular, ou, Luke, eu tinha Luke, mas não seria humilhante eu mesma acabar cedendo para o mesmo clichê que eu desprezava completamente? Meus sentimentos por Luke eram apenas consequência da enorme carência que James havia me deixado, era uma fase boba que passaria tão rápido quanto havia iniciado.
Apertei a alça da mochila contra o peito e me levantei da arquibancada caminhando em direção ao refeitório, eu continuaria matando as aulas, não estava com qualquer animo para assistir aos professores escrevendo coisas intermináveis em um quadro. Encarei cartaz brilhante colado na parede ao lado da imensa porta de vidro que levava ao refeitório e torci a boca, eu ainda tinha mais aquilo para me preocupar, o concurso idiota que minha mãe havia planejado, e as inscrições já haviam começado, eu pretendia o quanto antes me preparar, pois possuía total certeza que aquela poderia ser uma das formas da Sra. Chermont de me humilhar na escola com um derrota que nem faria sentido.
Eu era a melhor na passarela, a melhor nas fotos e em qualquer coisa relacionada a moda, e todos da escola sabiam disso, mas não me surpreenderia que minha mãe jogasse sujo, a ideia havia sido dela.
--- As inscrições são no site, já... pode começar – A voz de Luke invadiu meus ouvidos fazendo com que meu coração se acelerasse de forma descompassada.
--- Eu sei – Murmurei praguejando mais uma vez aqueles malditos olhos verdes.
--- Você conseguiu falar com seu pai?
--- Não – Puxei minha bolsa mais para perto e comecei a caminha em direção ao refeitório tentando me esgueirar da companhia de Luke que insistia em mexer com meus pensamentos.
--- Olha eu estou aqui pra você Emy, e eu acho que vou sempre estar, eu odeio me sentir dessa forma em relação a você porque eu sempre soube que jamais poderia dar certo, e eu, e-eu sou ótimo em esconder sentimentos, e eu não iria deixar que nenhum deles saísse do controle, mas, m-mas você me disse coisas ontem a noite, e eu só preciso que me diga que não estava falando sério, e eu vou te deixar em paz, eu sei que não sou nenhum mega popular bonito e rico, e que seus padrões estão infinitamente mais altos, eu só preciso que me diga isso, e eu vou tornar a falar com você apenas quando você quiser e sobre o que quiser, só, foi o melhor beijo da minha vida, e eu jamais, poderia esquecer... – Luke segurou meu braço me impedindo de continuar andando e por alguns minutos eu apenas o encarei ouvindo sua respiração tremula e meu coração completamente descompassado.
Eu não conseguia dizer qualquer coisa a ele, nem mesmo que eu estava mentindo sobre as coisas que disse, eu apenas queria que tudo sumisse para que eu voltasse aos meus planos e não tinha que lidar com seu maldito sorriso com covinhas e seus olhos verdes penetrantes, murmurei um desculpa e soltei sua mão do meu braço saindo o mais rápido que consegui de perto dele, eu sentia todo meu corpo em um interminável pânico.
Mordi as bochechas me encostando em meu armário e parando por alguns minutos para respirar, eu estava vermelha e confusa, eu estava causando mais e mais problemas ao invés de apenas resolver os que eu já possuía.
--- Eu te esperei ontem a noite, mas você sequer atendia o telefone, eu falei com a recepção, liberaram sua entrada novamente – Harry encostou no armário ao meu lado e eu apenas quis gritar para que ele me deixasse em paz, mas ele havia me ajudado de certa forma.
--- Eu tive alguns imprevistos.
--- Você tem que parar de brigar com sua mãe, não posso continuar liberando sua entrada sem o consentimento dela, ela pode abrir reclamação com meu pai.
--- Você a conhece, nada é fácil – Murmurei e Harry me ofereceu um pequeno sorriso, ele era um tremendo asqueroso.
--- Quando podemos sair?
--- Eu tenho uma festinha bem legal amanhã, se quiser pode me acompanhar.
Harry me lançou um de seus olhares perversos como se adivinhasse meus planos e eu apenas fechei os olhos me permitindo respirar calmamente por alguns instantes, eu iria fazer todo o possível para estragar aquela festa comemorativa.