Caro leitor, lembre-se que essa fic é uma adaptação, todo direito reservado a autora original.」
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"Nós viajamos pelos mares, montamos em estrelas, vimos tudo de Saturno a Marte, por mais que pareça que você tem meu coração é astronomia, somos dois mundos separados..."
~◇~
Jimin foi pescar com o barão de Renable e alguns outros cavalheiros por algumas manhãs seguidas.
Também sentou-se na biblioteca de Renable em várias ocasiões com um pequeno grupo de cavalheiros para falar de política, assuntos internacionais e livros. Jogou bilhar mais de uma vez com os que também gostavam do jogo. À noite, jogava cartas, já que apenas os convidados mais velhos tinham disposição para tal. Participou o mínimo possível dos eventos mais animados da festa, sem parecer mal-educado. Passou sozinho o máximo de tempo que conseguiu - eram momentos raros e preciosos. E contou os dias, quase as horas, até poder voltar para casa.
No entanto, havia um único evento do qual não ia conseguir escapar, embora pelo menos houvesse sido marcado bem para o finzinho da temporada festiva, como o momento culminante. Haveria um baile grandioso - ou ao menos tão grandioso quanto um evento no campo permitiria - para celebrar oficialmente o noivado entre a Srta. Magnus e sir Lee Changho. Um grupo seleto de vizinhos fora convidado, já que os vinte e quatro convidados hospedados na casa e os dois anfitriões não poderiam encher devidamente um salão de baile.
- Boa parte dos convidados para o baile tem apenas uma leve pretensão aristocrática - explicou lady Renable a Jimin, um dia ou dois antes do evento. - No entanto, eles gostam de ser convidados, e sentimos que é nosso dever ser condescendentes uma ou duas vezes por ano. Espero que não ache a companhia insípida demais.
- Acredito que posso confiar em seu bom gosto em relação aos convidados, assim como em tudo o mais, senhora - afirmou Jimin, erguendo tanto as sobrancelhas quanto o monóculo.
Por que se desculpar por algo que não poderia ser evitado? E por que se desculpar apenas com ele? Por que se desculpar, afinal? Se tinha algo pelo qual Jimin seria eternamente grato era pelo fato de os Park's não ficarem pedindo desculpas um ao outro eternamente.
Para o alfa, bailes nunca foram a definição de bom entretenimento, embora precisassem ser tolerados às vezes. Aquele era um desses momentos. Já que dificilmente poderia se trancar em seu quarto com um livro, Jimin se vestiu com o cuidado habitual, permitindo que o criado passasse mais tempo do que o usual amarrando seu lenço de pescoço, aí desceu para o salão de baile na hora determinada. O alfa reservou a primeira dança a lady Elrick e a segunda a lady Renable, e torceu para que depois disso pudesse se recolher discretamente ao salão de jogos.
Enquanto seguia ao ponto onde Mowbury estava parado - com uma expressão constrangida, se não absolutamente infeliz -, Jimin reparou nos ômegas mais jovens, todos ostentando o que tinham de mais vistoso, as joias cintilando sob a luz das velas, plumas balançando acima dos cabelos com penteados elaborados - talvez um estratagema deliberado para se distinguirem dos vizinhos menos vistosos da propriedade, que já haviam começado a chegar.
- Lembrei a Jihye que nasci com dois pés esquerdos - disse Mowbury -, Mas ela insistiu para que eu aparecesse aqui e dançasse com alguém. Convidei Jungkook, o Sr. Jeon. Ele foi casado com meu primo, você sabe, e sempre o considerei uma pessoa decente, embora Eunji e Elrick pareçam não gostar dele, não é? Bailes são uma coisa cansativa, Bewcastle.
O ômega estava do outro lado do salão, conversando com três outros ômegas e um alfa. Jimin reconheceu o reverendo e sua esposa e presumiu que as outras duas ômegas fossem a mãe e a irmã mais velha dele. O Sr. Jeon com certeza fora abençoado com toda a beleza da família, pensou Jimin. A esposa do reverendo era de uma beleza comum. E a irmã mais velha era totalmente sem graça.
O Sr. Jeon estava usando um conjunto de festa na cor creme, com bordados no colete e pedrinhas cintilantes combinando, nas extremidades das mangas curtas da blusa. A calça era cintura alta e as botas de cano alto na cor preta. Os fios curtos dava pequenas voltas no fim do comprimento, e estavam bem escovados até brilharem. Seu lenço eram o único enfeite que o ômega usava, além da bengala numa das mãos enluvadas. Não usava joias, turbante ou plumas. A roupa em si não poderia nem de longe ser classificado como última moda. E fazia com que a aparência dos outros convidados parecesse absurdamente exagerada.
- Então o Sr. Jeon concordou em lhe conceder a primeira dança? - perguntou Jimin.
- Sim. - Mowbury fez uma careta. - Prometi não esmagar os dedos dos pés dele. Mas caso eu o faça, o Sr. Jeon apenas rirá de mim e me dirá que seus dedos precisavam mesmo ser aplainados ou algo parecido. Ele tem espírito esportivo.
Kitredge, cujas formas corpulentas estavam claramente se rebelando dentro do espartilho, havia se juntado ao Sr. Jeon e estava sendo apresentado à família dele. Por um momento, a mão gorducha e cheia de anéis dele pousou no cóccix do ômega. Os dedos de Jimin se fecharam ao redor da haste do monóculo de festa, todo cravejado de pedras preciosas. O conde removeu a mão dali quando o Sr. Jeon mudou de posição ligeiramente para sorrir para ele. O ômega assentiu e Kitredge se afastou.
A segunda dança fora prometida, imaginou Jimin. Ele deixou o monóculo cair, pendurado na fita de seda.
[...]
Jungkook sempre gostara de dançar. Mas nem sempre gostara de bailes - pelo menos não nos últimos anos de seu casamento. Jongsu começara a fazer objeções quando ele se dispunha a dançar com outros cavalheiros, embora Jungkook tentasse argumentar que o principal objetivo de um baile era dançar com uma variedade de parceiros. Ele não poderia dançar a noite inteira com o ômega.
A boa etiqueta não permitiria. Além do
mais, Jongsu gostava de ficar no salão de jogos, ou conversando com os amigos, e ele sempre acabava preso no dilema de tomar chá de cadeira por vontade própria ou desagradar seu marido. Jungkook achara o casamento um desafio muito maior do que imaginara. Apesar da aparência extraordinária, Jongsu sempre fora um alfa muito inseguro - em relação a si e a ele também. E com o tempo foi se tornando cada vez mais possessivo e dependente.
Jungkook o amava profundamente, mas era difícil não se ressentir da falta de confiança do marido. Jungkook chegara a temer ter deixado de amá-lo pouco antes do fim, quando as acusações de Jongsu haviam se tornado mais nocivas e até mesmo ofensivas. Mas aqueles dias difíceis, infelizes, estavam acabados e esta noite ele era livre para aproveitar todas as danças se desejasse - e se recebesse convites suficientes dos cavalheiros.
Jungkook riu durante a primeira dança, guiando Jihoon pelos passos da quadrilha e resgatando-o mais de uma vez quando ele seguiu desajeitadamente numa direção, enquanto todos os outros cavalheiros deslizavam graciosamente na outra. Jihoon agradeceu profusamente depois e chegou a se arriscar a beijar a mão do ômega. Jungkook seguiu com alegria para a segunda dança, com um suado conde de Kitredge, e guiou a conversa com firmeza para longe do viés coquete no qual ele vinha insistindo na última semana.
Quando o conde manifestou o desejo de levá-lo pelas portas francesas até o jardim, a fim de aproveitarem a noite fresca por alguns minutos, o ômega lhe assegurou que ficaria desolado caso perdesse um único passo de uma única dança durante um baile tão esplêndido. Então Jungkook dançou com o Sr. Ronaldy Culver - finalmente aprendera a distingui-lo do irmão gêmeo - e com o Sr. Cobley, um dos fazendeiros arrendatários de Seung, que havia lhe proposto casamento três vezes no último ano e meio.
Durante todo o tempo, o ômega riu e conversou muito. Percebeu com certa satisfação que Lia fora convidada para todas as danças e que até mesmo Lissa, que não suportava dançar, fora persuadida a ir duas vezes à pista de dança. Jungkook sorria com prazer e carinho sempre que via Misha e sir Lee Changho juntos. Embora eles não fossem de forma alguma exagerados em suas demonstrações de afeto, sem dúvida pareciam se dar muito bem. Estavam felizes juntos. A felicidade era um bem tão raro... Jungkook torcia para que, no caso deles, fosse duradoura.
Sempre nutrira grande estima por Misha, que era pouco mais do que uma criança quando Jungkook se casara com Jongsu. O ômega lembrou que, no dia seguinte, voltaria para casa. Que glória seria, mesmo que em diversos aspectos a temporada festiva houvesse sido agradável e a maior parte dos convidados simpáticos. Mas três deles não foram nada simpáticos, e aquilo fizera toda a diferença. Houvera uma tensão terrível entre Jungkook de um lado e Eunji e Siwoo do outro, desde o dia do piquenique.
Eles o haviam evitado sempre que possível, embora todos os dias Jungkook tivesse se mostrado determinado a encurralá-los em algum lugar para lavar qualquer roupa suja que ainda restasse. Mas era difícil encontrar um momento de privacidade numa casa cheia de convidados, durante uma temporada festiva... ou talvez ele não tivesse usado de todo o seu empenho. E além de tudo o duque de Bewcastle o convidara para ser seu amante - e então o presenciara sendo humilhado pela cunhada e pelo cunhado, bem como testemunhara sua exibição de rancor, irritação e indiscrição logo depois.
Na verdade, foi tudo muito perturbador. Jungkook mal podia esperar para voltar para casa. O ômega nunca, nunca, nunca mais permitiria que o arrastassem de casa para participar de qualquer evento que envolvesse a aristocracia de modo geral, e Eunji e Siwoo em particular. O duque não foi incluído em sua decisão, já que não havia a menor possibilidade de que os dois voltassem a se encontrar algum dia. E Jungkook ficaria eternamente grato por isso.
No entanto, durante todo o tempo que passou no salão de baile - a cada segundo -, ele estava consciente da presença do duque de Bewcastle, a aparência muito severa e imaculada, e sem dúvida satânica, sob o paletó preto de gala, os calções de seda até os joelhos, com colete prateado, meias e camisa branca, todo de linho e rendas. O alfa também parecia estar desprezando cada mortal com quem se via sentenciado a passar a última noite daquela temporada festiva que parecia não ter lhe dado prazer algum.
Provavelmente o consternava se ver forçado a dividir um salão de baile com pessoas que de forma alguma chegavam perto da elevada posição dele - embora todos ali pudessem alegar deter certa posição social. A mãe de Jungkook e Lissa eram um exemplo disso. O duque dançou com Eunji e depois com Jihye antes de seguir para o salão de jogos.
Mas Jungkook, que o observava com relutância enquanto tomava seu lugar na pista com Ronaldy Culver para a terceira dança, ficou perplexo ao vê-lo voltar ao salão de baile, hesitar, a expressão aborrecida e arrogante, e então se adiantar e se inclinar sobre a mão de Mevis Page, a filha magricela e sem graça de um falecido capitão da Marinha, que até então havia ficado o tempo todo sentada ao lado da mãe.
Ninguém nunca dançava com Mevis, que além de não ter a melhor das aparências, infelizmente também não tinha uma personalidade forte que pudesse compensar sua carência de beleza. Jungkook se flagrou com sentimentos divididos. Por Mevis, é claro, sentia-se sinceramente encantado - a Srta. Page teria algo realmente importante para contar durante o próximo ano ou dois, ou talvez até mesmo pelo restante de sua vida. Mas ao mesmo tempo era irritante - e perturbador - ver o duque se comportando de modo tão diferente do normal.
Jungkook realmente não queria encontrar nele nenhuma qualidade que o redimisse. Mas aparentemente o alfa percebera a moça tomando chá de cadeira e se dispusera a resgatá-la. O Sr. Fontain, outro arrendatário de Seung, convidou Mevis para a dança seguinte. Ela pareceu quase bela, as bochechas com um toque de rubor radiante. Depois da terceira dança, o duque de Bewcastle desapareceu no salão de jogos e Jungkook sentiu-se livre para relaxar e se divertir.
Dali a dois dias já não teria de pensar nele nunca mais. Nunca mais precisaria voltar a olhar para aquele rosto frio e arrogante. Nem teria de ficar se lembrando o tempo todo da proposta desonrosa que o alfa lhe fizera e que, por um único e vergonhoso momento, o ômega se vira decepcionado por não ter sido um pedido de casamento. A mera ideia de se casar com ele...
O alívio pela ausência do duque não durou muito. Depois da quarta dança, Jungkook estava voltando para perto de sua família quando o Sr. Matew Buchan e o Sr. Antony Culver o detiveram para trocar algumas palavras. Um deles provavelmente o convidaria para dançar, pensou Jungkook. O ômega torcia para que alguém o convidasse. A dança seguinte seria uma sequência de valsas. Jungkook tinha aprendido os passos durante o período em que frequentara a temporada social de Londres, embora nunca tivesse dançado com ninguém além de Jongsu.
Queria muito que alguém o convidasse para dançar uma valsa ali. Então de repente sentiu um toque no braço e, quando se virou, flagrou-se encarando os olhos prateados do duque de Bewcastle.
- Sr. Jeon - ele chamou -, Se não houver prometido a próxima dança a outra pessoa, gostaria que dançasse comigo.
O alfa o pegara completamente de surpresa. Mesmo assim, Jungkook se deu conta de que poderia simplesmente recusar. Mas se fizesse isso, daí não poderia dançar decentemente com mais ninguém. E aquela seria a única valsa da noite.
Que aborrecimento, que aborrecimento, que aborrecimento, pensou. Quinhentas vezes que aborrecimento!
E ainda assim seu coração estava disparado, os joelhos ameaçavam ceder sob o peso do corpo e ele estava quase ofegante, como se tivesse acabado de correr mais de um quilômetro sem parar. E, deixando todas as outras considerações de lado por um momento de insensatez, o duque era um alfa muito, muito belo. Aquela era a última noite da temporada festiva na casa de Jihye. Seria o último encontro de Jungkook com o duque de Bewcastle. E a próxima dança era uma valsa.
- Talvez o senhor não valse? - perguntou o alfa. E é claro que o ômega ficara encarando o duque boquiaberta, como um peixe fora d'água.
- Valso, sim - respondeu, abrindo o leque e abanando o rosto quente -, Embora já faça um longo tempo desde a última vez que valsei. Obrigado, Vossa Graça.
Jimin ofereceu o braço ao ômega e Jungkook pousou a mão sobre a manga dele e permitiu que o duque o guiasse até a pista de dança. De repente o ômega se lembrou de que o alfa dançara com Mevis e ergueu o olhar para encará-lo com certa curiosidade. E viu que o duque o encarava de volta, os olhos fixos nos dele. Eram como olhos de lobo, pensou Jungkook.
- Achei que o senhor fosse me evitar esta noite a todo custo - comentou Jimin.
- Achou? - perguntou ele, as sobrancelhas arqueadas, o tom arrogante.
Ora, não havia resposta para aquilo, havia? Assim, Jungkook nem tentou responder, apenas esperou que a música começasse. O que havia acabado de pensar? Que ele era um alfa bonito? Bonito? Por acaso ele estaria maluco? Jungkook levantou os olhos para o duque de novo.
O nariz dele era pequeno demais. ligeiramente redondo e lhe conferia personalidade ao rosto, tornando-o mais belo do que seria com um nariz perfeitamente moldado. Como narizes eram coisas tolas quando se parava para pensar a respeito.
- Eu o fiz rir... de novo? - perguntou o duque.
- Na verdade, não. - Jungkook riu alto. - Foram apenas meus pensamentos. Estava pensando como narizes são coisas tolas.
- Com certeza - retrucou ele, com uma expressão indefinível nos olhos.
Então a música começou e o duque tomou a mão direita de Jungkook em sua mão esquerda, daí pousou a mão direita ao redor da cintura do ômega. Jungkook pôs a mão livre sobre o ombro dele alfa - e teve de se controlar para não arquejar de novo. O duque com certeza o estava segurando na distância correta. Mas naquele momento, o ômega compreendeu subitamente por que muitas pessoas ainda consideravam a valsa uma dança um tanto indecorosa.
Quando valsava com Jongsu, Jungkook jamais se sentira íntimo daquele jeito. Não conseguia se lembrar da sensação do calor do corpo do marido no ato da dança, ou do seu cheiro. O coração dele estava disparado de novo, embora ainda não houvessem começado a dançar. Então começaram.
E em poucos instantes Jungkook se deu conta de que nunca valsara de verdade até então. O duque dançava com passadas firmes e longas e o rodopiava com firmeza ao redor da pista, de modo que a luz de todas as velas se confundia num único borrão. Até esta noite o ômega jamais havia sabido o que era valsar. Não de verdade. Era um enlevo sensual. Luz, cores, perfumes, o calor dos corpos, o cheiro, a música, o piso liso e levemente escorregadio, a mão na cintura dele, a mão segurando a dele, o prazer ao sentir a leveza do próprio corpo e o movimento - tudo era puro encantamento.
Jungkook levantou os olhos para o rosto do alfa e sorriu, por um momento sentindose absoluto e despreocupadamente feliz. O duque o encarou de volta e, sob a luz cintilante das velas dos candelabros acima, Jungkook achou que pela primeira vez a expressão nos olhos do alfa era cálida. Infelizmente, o encanto não durou muito tempo. O alfa havia acabado de rodopiar com ele na direção de um canto próximo das portas francesas quando Jihoon veio da direção oposta - e errada! - girando desajeitadamente com Jihye.
O duque de Bewcastle puxou Jimin junto ao peito - no que depois ele percebeu ter sido uma tentativa corajosa de protegê-lo do desastre, mas ainda assim o gesto veio tarde demais. Jihoon pisou com força no pé esquerdo do ômega, e nenhum dos cinco dedos escapou. Jungkook se apoiou no outro pé enquanto o duque passava o braço com firmeza ao redor de sua cintura, e prendeu a respiração quando começou a ver estrelas de tanta dor e a vista foi ficando escura. Jihye deixou escapar uma exclamação de lamento e lembrou a Jihoon que havia avisado a ele que estavam dançando na direção errada. Jihoon se desculpou profusamente, muito infeliz.
- Avisei a Mel que não sei valsar - reclamou ele. - Ela sabe que eu nem sequer danço, mas insistiu para que valsasse com ela. Peço sinceramente que me perdoe, Jungkook. Eu o machuquei?
- Esta é uma das perguntas mais tolas que já ouvi, Jihoon - disse Jihye em um tom ácido. - É claro que o machucou, seu grande atrapalhado.
- Acredito que logo a vontade de gritar vai passar de vez - comentou Jungkook. - Enquanto isso, é melhor eu continuar a contar lentamente... quarenta e sete... quarenta e oito... Mas não se preocupe, Jihoon, meus dedos estavam precisando mesmo de uma aplainada.
- Meu pobre Jungkook - falou Jihye. - Devo levá-lo para seu quarto e chamar uma criada?
Mas Jungkook apenas acenou, rejeitando a oferta, cerrou os dentes e tentou não chamar atenção para si. Por que aquele tipo de coisa sempre acontecia com ele, mesmo quando estava inocentemente cuidando da própria vida?
Jihoon seguiu trotando adiante - na direção certa desta vez - com Jihye ao seu lado. Jungkook se deu conta de que ainda estava com o corpo grudado à lateral do corpo do duque de Bewcastle. A dor ainda não cedera. Ele prendeu a respiração de novo. Então o alfa se abaixou, tomou-o nos braços e saiu com ele pelas portas francesas. Foi um gesto rápido e preciso, admitiu Jungkook, ainda com os olhos arregalados de choque.
O ômega duvidava que muitos convidados tivessem reparado na colisão e no que se sucedeu - ou em sua fuga para o jardim nos braços do duque de Bewcastle. No entanto, se alguém houvesse percebido aquele último movimento...
- Ai, meu Deus - comentou Jungkook -, Isso está se transformando em um hábito, que ômega normal teria sido erguido nos braços por um alfa duas vezes em quinze dias?
Jimin andou com ele no colo um pouco além das portas e finalmente o pousou sobre um banco de madeira que circundava o tronco enorme de um carvalho antigo.
- Mas dessa vez, Sr. Jeon - disse ele -, A culpa foi inteiramente minha. Eu deveria ter sido mais ágil ao perceber a aproximação de Jihoon. Algum dano mais sério foi causado ao seu pé? Consegue dobrar os dedos?
- Dê-me um momento para parar de berrar silenciosamente - pediu ele -, Para chegar ao número cem. Aí tentarei mexê-los. Acho que quando Jihoon era menino, toda vez que havia aulas de dança ele corria para se esconder em algum lugar com um livro de filosofia grega... em grego. Jihoon realmente deveria ser proibido de ficar a menos de três quilômetros de distância de qualquer salão de baile. Mas o pobrezinho pareceu tão chateado também, não foi? Noventa e dois... noventa e três... Ah, ai!
O duque de Bewcastle havia se apoiado num dos joelhos, bem diante de Jungkook, e agora desamarrava a os cadarços o descalçava. O alfa estava lindo. E parecia prestes a pedi-lo em casamento. Era estranha essa capacidade de sentir uma dor excruciante e, ao mesmo tempo, achar uma cena extremamente divertida.
Jungkook mordeu o lábio.
[...]
Jimin não era médico, mas acreditava que não havia nenhum osso quebrado. Também não havia nenhum inchaço perceptível no pé do Sr. Jeon, embora ele o estivesse mantendo rígido e sentindo muita dor, conforme dava para perceber por sua respiração entrecortada. Jimin pousou o pé ainda com a meia em sua palma, segurou o calcanhar com a outra mão e ergueu o pé levemente, dobrando um pouco os dedos para testar sua funcionalidade antes de abaixar novamente o calcanhar.
Jungkook apoiou uma das mãos sobre o ombro dele e apertou. Jimin notou então que o ômega estava de olhos fechados e cabeça abaixada. A princípio, Jungkook fez uma careta e mordeu o lábio com mais força, mas quando ele repetiu o movimento com o pé, o ômega foi relaxando aos poucos.
- Acho que vou sobreviver - Jungkook disse um instante depois. - Quem sabe até consiga voltar a dançar algum dia. - Deixou escapar uma risadinha... um som baixo, alegre e sedutor.
O pé dele era pequeno e delicado, quente na meia de seda. Jimin o pousou sobre o sapato e Jungkook continuou a levantar o calcanhar e a flexionar os dedos por conta própria. Depois de algum tempo, ele retirou a mão do ombro do alfa.
- O que não consigo entender - disse ele quando Jimin se levantou, cruzou as mãos nas costas e baixou o olhar para o ômega -, E por que Jihoon veio a esta festa. Ele é alheio às coisas mundanas, é um rato de biblioteca e não tem nenhuma inclinação social... ao menos não com os ômegas.
- Acho que ele pensou que fosse uma reunião de intelectuais - comentou Jimin.
- Ah, coitadinho - Jungkook lamentou enquanto voltava a calçar o sapato. - Imagino que Jihye tenha achado que uma temporada festiva como esta faria bem a ele... assim como ela achou que seria bom para ele dançar esta noite. Ela provavelmente o iludiu desde o início, mas sem jamais mentir diretamente. Jihoon não deve nem ter percebido, ou talvez tenha esquecido que a irmã caçula havia ficado noiva recentemente e que Jihye estava disposta a dar uma de suas famosas festas para ela.
Jimin não disse nada. Alguns lampiões haviam sido acesos do lado de fora, para conforto dos convidados que desejassem um pouco de ar fresco, longe do salão de baile abafado. Um deles projetava a luz sobre Jungkook, fazendo seus cabelos cintilarem. Então o ômega levantou os olhos para Jimin com uma expressão travessa... e seus olhos sorriram.
- Ah, meu Deus - deduziu ele -, Foi Jihoon quem convidou o senhor. O senhor também achou que seria uma reunião de intelectuais? Achou, não é? Eu havia me perguntando por que o senhor aceitara vir, já que Jihye disse que não era do seu feitio ir a lugar algum além de Londres e de suas propriedades. O senhor deve ter ficado horrorizado ao descobrir seu erro Pobre... duque.
- Presumo, Sr. Jeon, que nenhuma pergunta que acabou de fazer não seja retórica, certo? - comentou ele, os dedos de uma das mãos encontrando a haste do monóculo e envolvendo-a. Jimin não estava acostumado a ver pessoas rindo dele. E não conseguia se lembrar de algum dia já ter sido motivonde piedade.
- Mas o senhor possui algum traquejo social... valsa bem - continuou Jungkook, cruzando as mãos no colo e inclinando a cabeça ligeiramente para o lado enquanto continuava a olhar para o alfa. - Extremamente bem, na verdade.
- É possível ser um rato de biblioteca, termo usado pelo senhor, e também ser
dotado de traquejo social, Sr. Jeon. Felizmente não me escondi de minhas aulas de dança. Aprender a dançar corretamente, a dançar bem mesmo, é parte essencial da educação de um cavalheiro.
Jimin nem era tão rato de biblioteca assim. Embora se considerasse um alfa letrado, não tinha tempo para manter a cabeça enfiada nos livros. Havia preocupações mais práticas com que lidar no dia a dia. Quando menino, nem sequer gostava de ler.
- Sempre adorei a valsa mais do que qualquer outro ritmo - comentou Jimin com um suspiro melancólico -, Embora raramente tenha dançado quando morei em Londres. E agora o pobre Jihoon esmagou minhas esperanças de dançar esta noite.
- As valsas ainda não terminaram - lembrou Jimin. - Continuaremos a dançar se achar que consegue.
- Meu pé já está como novo - disse Jungkook, mexendo os dedos uma última vez dentro do sapato. - Eu deveria ser grato por Jihoon pesar apenas uma tonelada, não duas.
- Então vamos valsar. --Jimin estendeu a mão para ele. Jungkook pousou a mão na dele e se levantou.
- O senhor deve estar arrependido por ter me convidado - disse Jungkook. - Os desastres parecem me perseguir mesmo quando não posso ser culpado por eles.
- Não estou arrependido - retrucou Jimin... e cometeu o erro de não seguir imediatamente para o salão de baile com Jungkook.
O lampião balançava levemente sob a brisa, fazendo luz e sombra brincarem sobre a figura de Jungkook. De repente, o ar entre eles e tudo ao redor pareceu crepitar ligeiramente.
- Vamos valsar aqui - sugeriu ele.
- Aqui fora? - Jungkook ergueu as sobrancelhas, surpresa, mas logo riu baixinho. - À luz dos lampiões e sob as estrelas? Que incrivelmente românt... Que delícia! Sim, vamos fazer isso.
Que romântico, fora o que o ômega estivera prestes a dizer. Jimin fez uma careta por dentro. Nunca fora romântico. Não acreditava em romance. Mas aquela não fora uma sugestão prática, pensou enquanto envolvia a cintura de Jungkook novamente, pegava a mão dele e o guiava mais uma vez nos passos da valsa.
A relva não era a superfície mais adequada para se dançar e aquele gramado em particular não era perfeitamente plano. E também não era exatamente adequado dançar sozinho com o ômega daquela forma. Embora não estivessem longe da casa, embora as portas do salão de baile estivessem abertas e os lampiões acesos, como um convite proposital aos convidados para saírem ao ar livre, Jimin sabia que não deveria estar ali a sós com o ômega, longe das vistas da mãe de Jungkook e do restante da família dele.
Mas ele se deu conta do quanto aquele pensamento era absurdo quase no mesmo instante. O Sr. Jeon, é claro, era viúvo, e estava mais perto dos 30 anos do que dos 20. Não havia nada nem remotamente impróprio no que estavam fazendo. Mesmo assim, Jimin estava plenamente consciente de que estar a sós com Jungkook, valsando, era mais do que ligeiramente perigoso. Os dois dançaram e rodopiavam em silêncio enquanto a música do salão de baile os envolvia - e, depois de alguns minutos, Jimin se flagrou pensando que a relva era a superfície perfeita para ter sob os pés e as estrelas, o teto perfeito.
Os aromas noturnos de relva e árvores eram muito mais inebriantes do que todos os perfumes do salão de baile combinados. E o alfa tinha o parceiro de dança perfeito nos braços. Jungkook não seguia os passos rígido e corretamente. Ele seguia o comando de Jimin, relaxado em seus braços, e sentia a magia da noite com ele.
Park o puxou mais para si, deste modo ficava melhor para guiá-lo sobre a superfície irregular do gramado. Então pôs a mão do ômega em seu peito e o manteve ali com a própria mão. E então de algum modo o rosto de Jungkook de repente se perdeu nos babados do lenço de pescoço do alfa e os cachinhos curtos estavam roçando em seu queixo.
O corpo do ômega, macio e quente, estava colado ao dele, as coxas tocando as dele e movimentando-se em perfeita harmonia. A valsa, pensou Jimin, era uma dança completamente erótica. Ele teve noção clara da excitação sexual que sentia. Fazia tanto tempo... A música não parara. Mas, de algum modo, a valsa findou. Eles ficaram imóveis por um tempo que pareceu interminável, até que Jungkook inclinou a cabeça para trás e o encarou.
Naquele momento, a luz do luar iluminava mais o rosto dele do que o lampião. O Sr. Jeon, pensou Jimin, era adorável de um modo absolutamente etéreo. Ele segurou o rosto do ômega entre as mãos e deixou os dedos deslizarem pela maciez dos seus cabelos. Então correu os polegares pelas linhas das sobrancelhas, pelos malares, pelo queixo. E aí o polegar encontrou os lábios dele, passeou pelo lábio inferior e buscou a umidade na parte interna e macia. Jungkook tocou a ponta do polegar de Jimin com a língua, sugando-o para dentro da boca. Era cálida, úmida e macia.
Jimin recolheu o polegar e o substituiu pela própria boca. Mas apenas brevemente. Ele afastou a cabeça alguns centímetros e encarou aqueles olhos iluminados pelo luar.
- Eu o desejo - disse ele.
No momento em que falou, Jimin teve consciência de que o ômega poderia quebrar o feitiço com uma palavra. E parte do alfa queria que ele fizesse exatamente isso.
- Sim - disse Jungkook num sussurro. Ele encarou o alfa com olhos lindos, sonhadores, as pálpebras ligeiramente cerradas.
- Venha para o lago comigo - disse ele.
- Sim.
A valsa continuava a tocar alegremente. Os sons de vozes e de risadas que escapavam do salão não cessavam. Os lampiões continuavam a oscilar na brisa. A lua estava quase cheia. E projetava sua luz de um céu límpido, juntamente à luz de um milhão de estrelas.
Enquanto Jimin tomava a mão de Jeon Jungkook e o guiava até a fileira de árvores, pela margem relvada do lago mais além.
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Até 🦋