O RETORNO DE JIMIN ao trabalho foi recebido com aplausos, abraços e tapinhas nas costas.
Alguns de seus companheiros Therian de equipe ficaram próximos de Jimin mais do que Jungkook pensava ser necessário, mas a presença dele era um lembrete mais do que suficiente de que Jimin era acoplado a ele.
Ninguém no trabalho iria desafiá-lo.
Eles eram bons agentes e a maioria deles, Jungkook conhecia há anos.
O único que Jungkook cuidadosamente vigiava era o Yoongi.
A forma como ele se movia em torno de Jimin, a intensidade em seus olhos, deixava Jungkook em alerta máximo.
Yoongi nunca negou o que ele queria.
Os rumores da suposta emboscada havia se espalhado pelo departamento como um incêndio, mas Jungkook estava preparado.
Como o seu parceiro não era arrogante, ele nunca iria levar o crédito por algo que não tinha feito.
Como Jungkook suspeitava, Jimin ficou emocionado quando Sparks inventou uma história, especialmente sobre a parte dos atos heroicos que resultaram em Jimin salvando vários cidadãos therians ao custo de seu próprio prejuízo.
Jimin confrontou Sparks em seu escritório com Jungkook, e o assunto da marcação foi silenciado com o caso de seu parceiro.
Era difícil prever o comportamento de Jimin nos dias de hoje, mesmo para Jungkook.
O escritório entrou em modo de privacidade, e Jimin enfiou um dedo na cara de Sparks.
— Não. Eu não vou levar os créditos nessa história, eu me recuso. — Ele jogou uma mão para cima. — Quero dizer, vamos lá. Ficou um pouco espessa, você não acha?
Sparks simplesmente se manteve sentada em sua cadeira, com o seu olhar firme.
— Se tal incidente desse tipo ocorresse, não tenho como duvidar que o resultado teria permanecido o mesmo.
— Mas não ocorreu, — Jimin assobiou.
— Não é nada do que você não tenha feito inúmeras vezes desde que entrou para essa agência, Jimin. Quantas vidas você ajudou a salvar? Quantos criminosos foram levados à justiça? A única diferença é que você está sendo elogiado por isso agora.
Jimin soltou um suspiro pesado.
— Eu não tenho escolha, tenho? Tudo bem. — Ele foi para a porta, então parou. Sua expressão era dura quando enfrentou Sparks. — Oh, e se você realmente quer ganhar nossa confiança, que tal não me injetar mais nada para me fazer esquecer.
Sparks olhou para Jungkook.
— Muito bem.
Com isso, eles deixaram o escritório.
Sparks realmente acreditava que Jungkook não contaria a Jimin o que aconteceu com ele?
Que ela tinha injetado algo para que ele não se lembrasse de seu ataque.
Jimin ficou irritado.
Ainda estava chateado.
Jungkook esperava por um dia calmo, mas com a sua sorte, poucas horas após o início do seu turno, o Destrutive Delta foi chamado para resolver um distúrbio doméstico Therian.
Ao contrário de um distúrbio doméstico Humano, em que um oficial HPF ou dois eram chamados para investigar, um Therian exigia uma equipe tática.
Não havia como dizer se a perturbação poderia se transformar em um Therian feral.
Não era incomum.
E, até o momento em que a equipe chegasse ao local, um ou outro poderia ter mudado, e, na maior parte dos casos, pelo menos um mudava.
Tae levou o BearCat pela cidade, com as sirenes tocando, e as luzes piscando enquanto atravessava o pesado tráfego.
Se fosse qualquer outra pessoa dirigindo o veículo tático gigantesco a essa velocidade, através das movimentadas ruas de New York City, Jungkook teria feito uma oração para que eles pudessem chegar inteiros.
Mas ninguém conhecia estas ruas ou este caminhão como Tae.
Jungkook estava começando a acreditar que Jimin estava certo, ao dizer que Tae tinha sido um piloto da NASCAR em uma vida anterior.
Jimin estava sentado no banco ao lado de Jungkook no BearCat, com todo o equipamento tático, assim como o resto da equipe.
Era bom tê-lo de volta.
Jungkook se perdia vendo o seu rosto sorridente na frente dele em seu escritório.
Tanto que ele tinha passado muito pouco tempo em seu escritório, preferindo não enfrentar Jimin em frente a sua escrivaninha.
— Então, o que temos? — Jungkook perguntou a Maddock.
E foi quando entrou com a cabeça de volta no jogo.
— Os vizinhos ligaram, rugidos e gritos vindos da casa ao lado. É um bairro tranquilo, nenhum registro de distúrbios dessa residência. A casa pertence ao Sr. Dylan Reynolds, um tigre Therian, e a sua esposa Humana, Alicia Reynolds. Recém casados. Nenhum dos dois tem antecedente ou qualquer história de violência. De acordo com o vizinho que fez a ligação, eles parecem muito apaixonados e felizes.
— Até que a lua de mel termine e as garras saiam, — disse Ash, preparando seu rifle tranquilizante.
Eles chegaram à cena em questão de minutos, e a equipe correu para fora do caminhão, com Hoseok ficando para trás para ajudar Tae em sua transformação Therian.
Reynolds sendo um tigre Therian, eles precisavam igualar as forças.
O resto deles usariam as armas tranquilizantes.
Jungkook rapidamente examinou a área antes de virar para o resto de sua equipe.
— Cael e Rosa, interditem a rua. Eu não quero ninguém por aqui no caso de Dylan estar em sua forma Therian. O sargento fica no caminhão de vigilância. Jimin, Ash, Letty, comigo. Vamos entrar.
Hoseok e Tae se juntaram a eles, com Tae se sentando aos pés de Jungkook.
Jungkook esfregou a parte de trás de suas orelhas, recebendo um chuff sensibilizado em resposta.
— Tudo bem, amigo. Você sabe o que fazer.
Tae vaiou e caminhou em direção a casa com o resto deles logo atrás.
Ele parou na porta da frente, e Jungkook bateu com o punho.
Moveu-se para o lado e sinalizou para Ash se aproximar.
Colocou o cilindro da arma para romper a fechadura da porta, e puxou o gatilho.
— Vai, vai, vai! — Jungkook ordenou, correndo para dentro da casa com sua equipe em seus calcanhares.
Eles entraram, com as armas tranquilizantes na mira enquanto inspecionavam a sala de estar.
Tae cheirou o ar e correu.
Jungkook seguiu com Jimin logo atrás, seguido por Hoseok, Letty, e Ash na traseira.
Tae levou-os através da casa, parando na cozinha, sua cauda balançava.
Jungkook levantou um punho e sua equipe parou.
Havia sangue no chão.
Ele bateu em sua lateral, e Tae foi imediatamente para o lado dele.
Jungkook sinalizou para eles avançarem lentamente e, juntos, se movendo pela cozinha, seguindo Tae e o rastro de sangue através da sala de jantar.
Tae cheirou o ar e bufou.
Dylan Reynolds estava na sala ao lado.
Dando o sinal para a sua equipe se apontar, Jungkook levantou a arma tranquilizante e seguiu Tae pela sala.
Não houve ordens para ficar no chão, e nem avisos ou discursos.
Nunca havia quando se lidava com um Therian feral de pé sobre o corpo maltratado do que uma vez tinha sido uma pessoa.
Reynolds rugiu, e as janelas chocalharam.
Seus ouvidos estavam achatados contra a cabeça, a pele coberta de sangue.
Suas presas estavam arreganhadas, suas garras para fora.
— Fogo! — Com a ordem dada, a equipe disparou os tranquilizantes em Reynolds, mas levaria tempo antes que o tigre Therian apagasse, e seria tempo suficiente para ele causar algum dano grave.
Nenhum outro Felino levava tanto tempo para apagar como um tigre Therians.
Reynolds rugiu, e Jungkook sabia o que estava por vir.
— Formação!
Jungkook se preparou, e Ash estava rapidamente ao seu lado, levantando seu escudo junto com Jungkook.
Lentamente, eles se retiraram de perto de Reynolds, saindo da sala de estar e para longe do corpo.
Na sala de estar, Reynolds rugiu, e fez um som estrangulado logo a seguir.
Ele saltou para frente, e Tae o encontrou no meio do caminho, sibilando e cuspindo, passando suas patas gigantes em Reynolds, garras afiadas capturando a pele.
Os dois tigres Therians se levantaram sobre suas patas traseiras, quando se enfrentaram, rugidos ecoando pela casa, o som era ensurdecedor.
Tae tinha que manter Reynolds ocupado até que os tranquilizantes fizessem efeito, e dentro de cinco minutos, Reynolds estava balançando em suas patas.
Segundos depois, ele estava meio de lado, deixando um gemido baixo escapar dele.
Sua respiração se estabilizou, e então ele apagou.
Jungkook se agachou na frente de Tae e o arranhou sob o queixo antes de despentear seu pelo.
— Bom trabalho, amigo. Vá em frente e volte para o caminhão com o seu parceiro.
Tae miou e afastou-se com Hoseok logo atrás.
Jungkook bateu com o dedo no auscultador.
— Sargento, a área está segura. Temos Reynolds.
— Bom trabalho. Jin e Jennie estão vindo.
— Entendido. — Jungkook voltou-se para a sua equipe. — Vamos garantir que Reynolds entre no caminhão. Letty traga a maca.
Letty assentiu e saiu correndo.
Levou Jungkook, Ash, e Jimin para levantar um Reynolds inconsciente até a maca de porte therian.
Letty ficou para trás para garantir a cena do crime, enquanto Jungkook, Ash, e Jimin levavam Reynolds para a gaiola do BearCat.
Tae já estava em sua forma humana, sentado no banco e recebendo o PSTC de seu parceiro.
Quando Jungkook se virou, Jin e Jennie estavam aproximando.
— Ei pessoal. Pronto?
Os dois médicos legistas assentiram e Jin caminhou ao lado de Jungkook.
— Quão ruim é?
— Pelo o que pude ver, muito ruim. — Jungkook sacudiu a cabeça tristemente quando os levou de volta para a casa.
Ele olhou por cima do ombro para Ash e fez um gesto para a porta.
Seu melhor amigo sabia o que fazer.
Ash tomou posição na frente da porta da frente depois de Jungkook, Jin, Jennie, e Jimin entraram.
Ninguém iria entrar com Ash ali, não sem as credenciais certas.
A imprensa adoraria passar por cima de você para obter imagens ou fotos de uma cena de crime.
A última coisa que ele precisava era de outro frenesi da mídia.
Casos com casais Humanos-therian sempre encontravam intolerantes e fanáticos.
Qualquer desculpa para condenar o casal ou um caso ódio em uma tentativa de justificar por que os dois nunca deveriam ter ficados juntos em primeiro lugar.
A senhora Reynolds merecia mais do que isso.
Seja qual fosse à razão de Dylan Reynolds fazer algo tão hediondo, o fato de ter sido um Humano e o outro, um Therian, não desempenhava nenhum papel nele.
Jungkook mostrou a Jin e Jennie o corpo, ou o que restava dele.
Enquanto eles realizaram sua avaliação preliminar, Jungkook se juntou a Jimin na sala de estar, onde seu parceiro estava em pé, na frente da lareira.
Jimin estava olhando para a foto emoldurada em sua mão enluvada.
Era uma foto do casamento de Dylan Reynolds e a sua noiva corando.
Eles estavam se abraçando e rindo.
— Eles parecem tão felizes, — Jimin disse calmamente. — Eu não entendo. Quer dizer, eu entendo. Eu tenho sido um policial tempo suficiente para já ter ouvido falar de tudo, mas uma parte de mim ainda não entende. — Ele colocou a imagem de volta no lugar e apontou para as dezenas de fotos com outros momentos exibidos com orgulho. — Olhe para eles, eles claramente se amavam. Ele a amava. Você pode ver isso em seus olhos. Como ele poderia rasgar ela assim, em pedaços?
Jimin virou-se para Jungkook, com a viseira para cima, permitindo que Jungkook pudesse ver os olhos azuis pálidos de Jimin e a dor neles.
Eles estavam vítreos, e Jungkook colocou a mão no ombro de Jimin.
Não era comum Jimin ficar emocional em uma cena de crime.
— Você está bem?
— Sim, eu, uh… —. Jimin piscou as lágrimas de seus olhos e riu. — Não sei o que diabos está acontecendo comigo.
— Está bem. Não é exatamente um grande primeiro dia de volta ao trabalho. Por que você não volta para o caminhão?
Parecia que Jimin iria protestar, mas ao olhar ao redor da casa, ele balançou a cabeça em acordo.
— Obrigado.
Jungkook o observou sair.
Normalmente Jimin era alegre, contando piadas, provocando Ash, incomodando o seu irmão.
Ele nunca ficava emocional assim, a menos que fosse raiva.
Houve momentos em que Jimin ficava furioso quando confrontado com a injustiça, mas emocional como agora?
Nunca.
Houve ocasiões, quando um caso o atingiu duramente, e um ou mais de seus companheiros de equipe acabou derramando lágrimas, mas nunca assim, ainda no campo.
Todos lidariam com essa a merda de volta ao QG, em privado, cercado por seus irmãos.
Todos eles tinham a sua maneira de lidar com a morte, de lidar com as coisas indizíveis que se deparavam durante o trabalho.
Jungkook foi até a porta da frente e falou calmamente com Ash.
— Ei, você pode manter um olho em Jimin?
Ash assentiu.
— Sim claro. Tudo certo?
— Eu não sei. Estou preocupado com ele. Ele não tem sido o mesmo desde... você sabe o quê.
— Certo. Sem problemas.
— Obrigado, cara.
Jungkook deu um tapinha no peito dele antes de voltar para dentro.
Jin o chamou de onde estava, e Jungkook se aproximou.
— O que você conseguiu?
— Obviamente, nós vamos ter que levar o corpo para o laboratório para análise e confirmação, mas é uma vítima do sexo feminino, trinta e poucos anos. As lágrimas e marcas de mordida são consistentes com a de um tigre Therian. Descobrimos pele do tigre, junto com outras fibras, sobre a pele da vítima. Vamos precisar de amostras de sangue do Sr. Reynolds para executar uma comparação de DNA contra o que encontramos na Sra. Reynolds. Vou informar assim que receber as confirmações.
— Obrigado, Jin.
Jungkook agradeceu a Jennie quando passou por ela, cumprimentou os agentes da CSAs e da Recon que chegaram para vistoriar a cena do crime e começar a investigação.
Dois agentes da Recon assumiram o lugar de Ash, e ele e seu melhor amigo voltaram para o BearCat.
Era hora de voltar ao QG e conseguir algumas respostas de Dylan Reynolds.
Enquanto Reynolds era acordado, examinado e recebia a PSTC, Jungkook trabalhava sobre o caso, montando um arquivo.
Ele usou seu certificado de segurança para criar um novo arquivo de caso sobre a Themis, acrescentando suas notas e descrições do incidente, juntamente com os mapas digitais da área, incluindo a localização do incidente.
Em frente a ele, Jimin estava sentado à sua mesa, com uma carranca profunda em seu rosto, enquanto digitava o seu relatório.
Em um ponto, ele parou de digitar, mas ainda estava olhando para sua mesa.
— Ok. — Jungkook se levantou e caminhou até a porta.
Ele colocou a palma da mão contra o painel de segurança e entrou com o seu certificado de segurança, para deixar a sala em modo privacidade.
Jimin nem percebeu.
Com um suspiro, ele pegou sua cadeira e a virou na direção de Jimin.
Ele sentou-se, pegou a cadeira de seu parceiro, e o virou para enfrentá-lo.
Jimin piscou para ele, e foi só então que ele percebeu que a sala estava em modo de privacidade.
— O que está acontecendo? —, Perguntou Jimin, a cabeça inclinada de lado enquanto estudava Jungkook.
— Babe, eu preciso que você fale comigo.
— Sobre o que?
As sobrancelhas de Jungkook subiram.
Sério?
Jimin estava alheio ao que estava acontecendo, ou ele estava propositadamente tentando evitar falar sobre isso?
Se inclinado para frente, Jungkook pegou as mãos de Jimin.
— Nós precisamos falar sobre o que está acontecendo com você. Você já pensou em ver o Dr. Winters?
Como esperado, isso rendeu uma carranca.
— Eu não preciso falar com um psiquiatra. Se eu preciso falar sobre os meus sentimentos, eu vou falar com você.
— E você sabe que eu sempre estarei aqui para ouvir, exceto que você não está falando comigo, querido. Você está fazendo de tudo, menos falando.
— O que há para falar? — Jimin deu de ombros.
Ele afastou as suas mãos das mãos de Jungkook e as esfregou em suas coxas, seu olhar desligado estava do outro lado da sala.
— Jimin, você foi torturado. Você tem tido convulsões. Você descobriu que seus pais foram assassinados. O que quer dizer "o que há para falar?" Muita coisa, bebê. Há muito que falar.
Jimin lentamente voltou a olhar para Jungkook, seus olhos se estreitaram.
— Você acabou de me chamar de bebê?
— Eu chamei.
— É estranho. Me faz pensar em Dirty Dancing (filme).
— Claro que não. — Jungkook conteve um sorriso. — Como você gostaria que eu o chamasse então?
— Homem Morcego.
— Não vai acontecer.
— Valeu à pena tentar. — O sorriso de Jimin estava desbotado. Ele engoliu em seco. — Eu tive alguns pesadelos. Às vezes é uma repetição do que aconteceu. Os piores são quando muda. Quando não estou naquela cadeira, mas você, ou Cael, e eu estou impotente para detê-lo.
Jungkook se aproximou mais de Jimin.
Ele pegou as mãos de Jimin nas suas novamente, mas não falou, simplesmente ofereceu a sua força.
Jimin baixou o olhar para suas mãos, as sobrancelhas juntas.
— Eu tenho tentado processar tudo. Não o que o Wolf queria, mas o que ele fez… para mim. E eu não me refiro apenas à tortura, quero dizer a incerteza, o medo. Eu odeio as sombras ou os ruídos. Odeio ficar olhando por cima do meu ombro. Ele mexeu com a minha cabeça, e eu odeio tanto isso.
Com a mandíbula cerrada, ele ergueu o queixo, e o coração de Jungkook ficou espremido com a determinação naqueles pálidos olhos azuis.
— Mas foda-se eu não vou deixá-lo vencer. Vai ser difícil, mas estou trabalhando nisso. Eu vou passar por isso como eu passei através de todas as outras situações confusas em que eu me encontrei desde que me tornei um policial. Eu não vou deixá-lo tirar o melhor de mim. Foda-se Wolf. E se eu vê-lo novamente, ele vai ser chutado na bunda.
Jungkook não poderia impedir a sua risada.
Agora sim, soava como o seu Jimin.
— As crises estão me assustando. Eu não vou mentir sobre isso. Mas eu acho que Austen está certo. Eu preciso jogar isso para fora.
Jungkook esfregou as mãos sobre o rosto e ficou de pé.
— Isso é loucura, Jimin. Quem sabe o que está lhe causando? E você tem recusado a procurar atendimento médico. — Jungkook se ajoelhou ao lado de Jimin, esperando que ele ouvisse a razão. — Você precisa ver um médico. Você não quer saber o que está causando isso?
— Claro que sim, mas precisamos descobrir uma maneira de fazer isso sem eu ter que ir ao hospital. Meu instinto me diz que seria uma má ideia.
— Não, Austen disse que seria uma má ideia, e a última vez que verifiquei, nem você nem ele são médicos.
— Há uma razão pela qual ele disse isso. Eu não poderia confiar na TIN, mas confio que Austen não iria mentir para você, não sobre algo assim. Ele pode ser um monte de coisas, mas ele nunca iria traí-lo.
Jimin estava certo sobre isso.
Eles não sabiam muita coisa sobre o que Austen fazia pela TIN, mas Jungkook tinha visto o garoto crescer.
Austen não iria enganá-lo.
Essa conversa estava longe de terminar, mas Jungkook sabia quando era hora de seguir em frente.
Por agora.
Ele retornou à sua cadeira e pegou a mão de Jimin novamente.
— Ok, o que acontece com seus pais?
Jimin franziu a testa.
— Acho que não quero falar sobre isso.
— Ei, olhe para mim. — Jungkook abriu sua postura para que pudesse puxar a cadeira de Jimin para mais perto dele.
Ele estendeu a mão e segurou o rosto de Jimin.
Tinham chegado à fonte da verdadeira dor de seu parceiro.
Não era apenas Wolf; não era o que estava acontecendo dentro de Jimin.
Era sobre os seus pais.
— Eu sei que é estúpido. Eles morreram quando eu tinha cinco anos. Eu lamento a morte deles, eu segui em frente. E não é a mesma coisa ao descobrir que eles foram assassinados, mas no fundo, eu sabia disso. Eu sabia que algo não estava certo. As crianças pegam um monte de coisas, mais do que os adultos percebem. No entanto, apesar de tudo isso, eu ficava me dizendo que eles eram pessoas comuns que levaram vidas comuns, e que apenas estavam no lugar errado na hora errada.
Os olhos de Jimin estavam vítreos.
Ele afastou-se de Jungkook e se levantou, andando pelo escritório.
— Do que você tem medo? — Jungkook perguntou gentilmente.
Jimin prendeu o lábio inferior com os dentes.
Suas sobrancelhas estavam franzidas, e ele esfregou os olhos.
Ele se virou para enfrentar Jungkook, e Jungkook podia ver o quanto ele estava lutando contra suas emoções.
— E se não fossem as pessoas que eu pensava que eram? Meu pai era meu herói. Minha mãe, ela era... —. Uma lágrima rolou pelo seu rosto, e ele rapidamente a tirou. — E se tudo o que eu me lembro deles for uma mentira? E se tudo for uma mentira?
— Jimin...
— Eu estive pensando muito sobre isso. Sobre a TIN, Shultzon, me juntando ao THIRDS. Você não acha que é tudo um pouco suspeito?
Jungkook olhou para ele.
— Do que você está falando?
— É como se tudo o que eu fiz me levou até aqui, até este momento, a esses exatos eventos. Eu não posso explicar, mas eu sinto que há algo maior acontecendo. Meu primeiro caso com o THIRDS, o Pearce estava em causa, que passou a levar-nos ao Shultzon, que dirigia a primeira instalação de Gen Research onde você cresceu, e por alguma razão, Shultzon considerou meus pais uma ameaça grande o suficiente para mandar matá-los. A minha mãe tinha algum tipo de arquivo que ninguém parece saber nada sobre ele. E se tudo está de alguma forma estiver relacionado?
— E se estiver? —, Perguntou Jungkook, já de pé. Ele andou até Jimin e o puxou para perto. — Isso não vai significar que seus pais o amaram menos. Pelo o que eu tenho ouvido falar sobre eles, em relação a você, a partir de Maddock, eles o adoravam Jimin. O que aconteceu com eles, qualquer que seja a razão por trás de suas mortes, você era o filho querido, e eles o amavam.
Jimin fechou os olhos e balançou a cabeça, permitindo que Jungkook o puxasse em seus braços.
Jungkook segurou-o, oferecendo conforto.
Família era importante para Jimin.
Era a única coisa que ele sentia que era tão forte.
Sua família significava tudo para ele.
Assim como ele.
— Você tem medo de descobrir a verdade. Com medo do que isso possa significar para você agora. — Jungkook se afastou o suficiente para dar um beijo na bochecha de Jimin.
— Escute-me. Tudo o que você descobrir, não vai mudar a forma como eles o amavam. Não vai mudar o homem incrível que você é, e certamente não irá mudar o quanto eu, Tony, ou Cael sentimos, nós o amamos. Nós somos sua família, Jimin, e nós vamos estar aqui para enfrentar o que vem pela frente, ao seu lado. Você é o homem mais corajoso que eu conheço. Você consegue fazer isso.
Jimin balançou a cabeça, e um pequeno sorriso surgiu em seu rosto.
— Você está certo.
— Claro que estou. Eu estou sempre certo, lembra?
Jimin riu, e Jungkook roçou o polegar sobre sua bochecha antes de beijar seus lábios.
Era um beijo doce e carinhoso, um que poderiam continuar por muito mais tempo.
Quando ele se afastou, seu coração inchou com a luz vibrante naqueles olhos surpreendentes.
— Aí está você.
Jimin sorriu calorosamente, causando pequenas rugas nos cantos dos olhos.
— Oi.
Tanto quanto Jungkook desejava que pudessem ficar assim durante todo o dia, eles tiveram que voltar ao trabalho.
Como se percebendo seus pensamentos, Jimin assentiu em direção à porta.
— Está bem. O dever chama. Eu estou bem. Prometo.
— Se em algum momento você não se sentir bem, diga-me, sim?
— Sim.
Jimin retomou ao seu lugar atrás de sua mesa, e Jungkook assumiu seu cargo com o modo de privacidade.
Ele tinha voltado sua cadeira ao lugar, quando a voz de Maddock surgiu em seu fone de ouvido.
— Jungkook?
— Sim, sargento.
— Reynolds está pronto para você; sala de interrogatório A7. Envie Jimin até o laboratório de Jin. Ele tem resultados para nós.
— Entendido. No meu caminho. Vou retransmitir as informações para Jimin. — Ele desligou com Maddock e fez um gesto em direção à porta. — Reynolds está pronto para ser interrogado. Jin tem alguns resultados para nós, e o sargento quer que você o encontre no laboratório.
Jimin deu-lhe um aceno de cabeça, e Jungkook se encaminhou para o elevador.
As salas de interrogatório estavam no primeiro andar, perto do processamento.
Cael e Rosa estavam questionando alguns colegas de trabalho, amigos e familiares, sobre os Reynolds.
A informação iria aparecer no arquivo quando terminassem.
Até esse momento, Jungkook deveria ter uma ideia melhor sobre que tipo de homem é Dylan Reynolds, e ao que pôde levá-lo a matar a sua esposa de uma forma tão brutal.
Ao chegar a sala designada para o de interrogatório, Jungkook acenou para os dois agentes de Defesa da Unidade Beta, que estavam de guarda de cada lado da porta, antes de entrar na sala.
Dylan Reynolds parecia bem mal.
Jungkook se sentou em frente a ele.
E estava sendo difícil para Jungkook imaginar o homem como um assassino, ele parecia muito abalado.
Ele claramente esteve chorando.
Seu nariz estava vermelho, seu rosto estava corado, os olhos vermelhos e inchados.
— Dylan, meu nome é Jeon Jungkook. Eu sou o chefe da equipe Delta Destructive, a equipe que trouxe você. Eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas.
— Eu não a matei, — Dylan murmurou.
Ele parecia atordoado, com a cabeça abaixada, sem olhar para nada em especial.
— Por que você não me conta o que aconteceu? — Jungkook pegou seu tablet do bolso de sua calça, logou, e abriu o arquivo do caso, juntamente com o arquivo pessoal de Dylan e de sua esposa.
Dylan era um homem graduado.
Ele estudou arquitetura, tinha um bom emprego, salário excelente, e nenhuma dívida.
Seus pais moravam em Philly, os pais da esposa viviam na Virginia.
Na tela, eles pareciam como qualquer outro casal.
— Eu já contei a mesma coisa para outros quatro ou cinco agentes. Eu não matei a minha mulher.
— Quero ajudá-lo Dylan, mas eu preciso que você me diga o que aconteceu. — Jungkook bateu na tela, colocou o aparelho sobre a mesa, e acionou a gravação. — Do começo.
Dylan soltou um suspiro pesado.
— Ao meio-dia, Alicia me mandou um texto dizendo que não iria para a aula de yoga porque ela não estava se sentindo bem. Eu fiquei preocupado. Liguei para ela para ver como ela estava e se ela queria que eu levasse alguma coisa quando voltasse do trabalho. Ela não respondeu. Eu tentei enviar textos, tentei ligar várias vezes, e-mail, tudo. Comecei a entrar em pânico. Algo estava errado. Eu podia sentir isso.
Jungkook franziu a testa.
— Como?
— Eu só sabia. Senti essa dor profunda em minha alma, e foi ficando pior e pior, até que eu senti que algo estava tentando me rasgar de dentro para fora. E após a crise que ela teve algumas semanas atrás, eu estava aterrorizado que ela estava prestes a ter outro episódio.
A cabeça de Jungkook disparou.
— Crise?
Dylan assentiu.
— Sim. Há algumas semanas, ela sofreu um ataque com convulsões. Eu nunca tinha ficado com tanto medo na minha vida. Liguei para o 911, e eles a levaram imediatamente ao hospital. Os médicos fizeram todos os tipos de exames e testes, mas disseram que os resultados poderiam demorar algum tempo.
Seria possível?
Jungkook empurrou para trás a sensação de mal estar na boca do estômago.
— Dylan, sua esposa era marcada? Vocês dois estavam ligados?
Dylan engoliu em seco antes de concordar.
— Há poucos meses atrás. Na nossa lua de mel. Eu estava com medo. Eu não queria machucá-la, mas ela queria tanto, e devo confessar que queria também. — Ele olhou para Jungkook, a agonia em seus olhos verdes era difícil de ignorar. — Eu teria dado a minha vida por ela, agente Jeon. Ela era tudo para mim, toda a minha vida. — Seu lábio inferior tremeu, e uma lágrima rolou pelo seu rosto.
Jungkook pegou seu tablet na mesa e enviou uma mensagem para Jin, pedindo-lhe para verificar os resultados dos testes de Alicia Reynolds para a marcação que ela recebeu há algumas semanas.
Jin respondeu positivamente.
Talvez fosse apenas uma coincidência.
Exceto que Jungkook tinha dificuldade em acreditar em coincidências, pelo menos recentemente.
Alicia Reynolds era humana, marcada e ligada por seu marido Therian.
Não muito depois de ter sido marcada, ela teve uma convulsão.
Por quê?
O que diabos aconteceu?
Em seguida, havia o fato de que Dylan supostamente atacou sua esposa até a morte.
Ou Dylan Reynolds era um ator excepcional, ou algo não estava certo.
Poderia alguém que tinha marcado o seu companheiro realmente matá-lo?
Havia momentos em que Jungkook temia perder o controle, mas seu medo vinha com a possibilidade de ferir alguém, mas nunca Jimin.
Jungkook iria enfiar as suas garras em si mesmo antes de machucar Jimin.
O pensamento o assustava, e ele estava grato pela batida que o sacudiu de seus pensamentos.
Jimin entrou, e sua expressão era estóica quando ele se inclinou para sussurrar no ouvido de Jungkook.
Alicia Reynolds estava grávida.
Jungkook fechou os olhos por um momento, recebendo a informação antes de concordar com Jimin.
— Obrigado.
Jimin assentiu.
Ele virou-se para sair quando Dylan cheirou o ar.
Seu olhar disparou em Jimin, e antes que ele saísse do ambiente, Dylan voltou seus olhos para Jungkook.
Ele se inclinou para frente, sua voz era calma.
— Diga-me, agente Jeon. Será que você o machucaria?
Jungkook limpou a garganta e afastou o seu tablet.
— Você disse que algo estava errado com a sua esposa. O que aconteceu então?
— Você preferiria morrer a magoá-lo, não é? O pensamento dele em lágrimas seria uma dor física em seu coração, sua metade feral afundando as suas garras em você, como se você preferisse se destruir a prejudicá-lo fisicamente.
— Dylan, — Jungkook insistiu. — O que aconteceu depois?
Dylan apertou os lábios antes de deixar escapar um suspiro de cortar o coração.
— Saí do trabalho mais cedo. Quando cheguei em casa, seu carro estava estacionado em frente, e tudo parecia normal. A porta estava trancada, as janelas fechadas. Quando cheguei aos degraus de casa... Eu rasguei as minhas roupas. Eu não podia... Eu não podia controlar a minha metade therian. Eu fiquei selvagem.
— O que você viu?
— Não foi o que eu vi, agente Jeon. Era o que eu cheirava. O sangue de Alicia. Tanto sangue. O suficiente para a minha metade feral saber que ela estava morta, mas o meu lado humano recusou-se a acreditar. A minha visão ficou afiada, e eu tentei lutar contra isso, mas quando entrei na cozinha e vi o rastro de sangue, eu... Eu me mexi. Eu segui o sangue e me transformei.
Dylan quebrou, lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
Jungkook engoliu em seco, sentindo um nó na garganta.
Dylan poderia estar dizendo a verdade?
O cara estava perturbado, a ponto de perder a linha e o fio tênue de sua sanidade.
Ou era o maior desempenho que Jungkook já tinha visto, ou Dylan Reynolds estava dizendo a verdade, que, em seguida, trazia à tona a questão.
Se Dylan não matou sua esposa, quem o fez?
E porque estavam tentando incriminar Dylan?
Quando Dylan estava um pouco recomposto, o suficiente para falar, ele continuou.
— Eu encontrei o que restava dela na sala de estar. Por uma fração de segundo, pensei em me juntar a ela. — Ele olhou para Jungkook. — Você não tem ideia da perda que se sente, e eu espero que você nunca descubra, Agente Jeon.
Jungkook não podia responder então ele continuou.
— Então o que aconteceu?
— Eu perdi a noção do tempo. Eu estava dormente. Sentindo-me perdido. No meu estado Felid, eu não conseguia pensar no que fazer, então só fiquei ali, em cima dela, lamentando como o animal ferido que eu era.
— Você conhece algum Therian que poderia machucar a sua esposa?
Dylan sacudiu a cabeça.
— Todo mundo adorava Alicia. Ela era a mais doce e gentil pessoa. Ela era terapeuta, e trabalhava com crianças therians no hospital. Essas crianças a amavam —. Ele fechou os olhos e limpou o nariz. — Eles vão ficar devastados.
— Ela estava tendo um caso?
Dylan pareceu ofendido com a pergunta.
— Claro que não. Nós estávamos casados há pouco tempo, e queríamos começar uma família. Ela me pediu para marcá-la. Você, de todas as pessoas deveria saber que não é algo que é feito leviamente.
— Você estava tendo um caso?
— Não, — Dylan respondeu por entre os dentes. — Como você pode me perguntar isso?
— Sinto muito, Dylan, mas eu tenho que fazer essas perguntas. Eu preciso entender o por que.
— Por que eu iria matá-la? Eu não a matei!
Jungkook fez mais algumas perguntas, e ficou satisfeito com as respostas.
Ele disse a Dylan o que aconteceria logo em seguida, mas Dylan não pareceu se importar.
Ele era apenas a metade de um todo agora.
Jungkook se levantou quando Dylan estendeu a mão.
— Agente Jeon, por favor, descubra quem matou a minha mulher. Não me importa o que vai acontecer comigo, mas eu preciso saber. Eu preciso saber quem faria isso com ela. Para nós.
Jungkook engoliu em seco e assentiu.
— O seu advogado irá mantê-lo informado. Vou fazer o meu melhor, Dylan.
Dylan assentiu, colocou o rosto entre as mãos e chorou.
Foi difícil.
Jungkook não teve um caso assim tão mal em muito tempo.
Ele saiu da sala de interrogatório e entrou na sala de observação ao lado, onde Maddock estava com a sua mandíbula forte, apertada.
— Você acha que ele é inocente.
— Eu acho que podemos dar um pouco de crédito em sua história.
— Os registros dentários identificaram que a vítima é realmente Alicia Reynolds. Ela estava grávida de cinco semanas. O sangue de Dylan, a pele, e a saliva foram encontrados no corpo. A análise das garras de Dylan é correspondente com as evidências na pele dela. — Maddock continuou lendo as informações em seu tablet, incluindo a nova evidência recentemente adicionada pela equipa forense. — Embora seu empregador confirme o horário que Dylan deixou o trabalho, os registros telefônicos mostram que ele falou com a esposa minutos antes, ninguém o viu entrar na casa. Jin coloca o momento da morte dela em cerca de meia hora antes de chegarmos.
Maddock olhou para Jungkook, seus olhos escuros à procura de algo.
Jungkook tinha ideia do que era.
— Ele não me parece bem.
Tinha que haver mais.
— Por que ele teria ficado? Por que não correr?
— Talvez ele só tenha percebido o que tinha feito quando ela já estava morta. Poderia ter sido um acidente, e ele está tentando encobrir. Não seria a primeira vez, Jungkook.
— Qual é o motivo? — Jungkook olhou as suas informações no tablet. — Ele contou a mesma versão quando foi questionado pela equipe Recon. Ele era um bom homem que a amava de todo o coração. Eles nunca brigaram. Não havia problemas conjugais, não que alguém soubesse. — Jungkook encontrou o olhar de Maddock. — Ela estava grávida de seu filho, ou não sabia ou estava à espera para lhe dizer. Não há nenhum motivo.
— Ainda. Você realmente acredita que ele é inocente? Ou você quer acreditar que não há nenhuma maneira que um Therian possa prejudicar seu companheiro marcado?
Jungkook engoliu em seco.
— Isso vai contra a nossa natureza.
Maddock apertou os lábios e colocou o seu tablet na cadeira vazia ao lado dele.
— Filho, nenhum de nós sabe do que somos capazes quando estamos sendo empurrados sobre a borda.
Jungkook entrou com o seu certificado de segurança para trancar o painel da porta, isolando a sala.
Voltou-se para Maddock.
— Você acha que eu poderia ferir Jimin?
Maddock franziu a testa para ele.
— Jungkook, eu não acho…
— Eu já fiquei feral antes. Já o feri.
— Aquelas eram circunstâncias atenuantes, Jungkook. Você estava sendo bombardeado com alguma droga. Além disso, as coisas são diferentes agora.
— Porque Jimin está marcado. Isso é o que você estava pensando, certo? Que agora que Jimin está marcado, a ideia da minha metade feral machucá-lo intencionalmente é difícil de acreditar.
— Ah, mas não é, — disse Maddock, inclinado para frente. — Intencionalmente. Vamos dizer que Dylan nunca fosse prejudicar sua esposa intencionalmente. Temos que considerar que algo poderia ter causado nele o estado feral, onde perde o controle de seu meio Therian, e por alguma razão, ele a atacou, em vez de protegê-la.
— Ok —, Jungkook admitiu. — Você tem um ponto.
Não era como se houvesse um monte de informações sobre as marcações Therians.
Cada Therian era diferente.
As suas experiências eram diferentes.
Depois do que aconteceu com ele e as drogas que Shultzon tinha bombeado nele, não teria que dar como certo o que estava lá fora.
E poderia ter havido algo que ocasionou a perder do controle de Dylan de sua forma Therian.
Jungkook havia perdido o controle uma vez.
— Vou pedir para Jin executar um relatório de toxicologia em profundidade no sangue de Dylan, juntamente com uma varredura Therian completa. Eu quero saber se alguma coisa mudou enquanto ele estava em sua forma Therian.
Maddock assentiu.
— Mantenha-me informado.
— E acho que devemos adiar a informação para Dylan, sobre a gravidez de sua esposa. Eu recomendo que ele seja colocado sob observação. Há uma boa chance de que ele poderia tentar prejudicar a si mesmo.
— OK.
Jungkook estava prestes a sair quando Maddock agarrou seu braço.
— Jungkook, eu estou preocupado com Jimin. Ele está agindo como se tudo estivesse bem, mas eu sei que o menino está sofrendo. E me mata saber que ele não está confiando em mim. Ele nunca manteve qualquer coisa escondida de mim. Os últimos meses... Tem sido nada além de segredos.
Jungkook virou-se para Maddock e colocou uma mão em seu ombro.
— Tony, Jimin o ama. Se ele não te disse, é por uma boa razão. Você tem que acreditar nisso.
Maddock sacudiu a cabeça.
Seus olhos se estreitaram.
— Eu não sei por mais quanto tempo ele acha que pode me manter afastado de que diabos está acontecendo. — Ele voltou o seu olhar endurecido para Jungkook. — Se eu não arrumar algumas respostas em breve, eu vou encontrá-las por conta própria. Você tem algumas respostas para mim?
Jungkook franziu a testa, irritado que Maddock pediria tal coisa dele.
— Você está me pedindo para trair a confiança de Jimin?
— O que estou pedindo é o quão longe você está disposto a ir para manter os segredos de Jimin? Quanto você está disposto arriscar? Sua vida, talvez? — Ele pegou no rosto de Jungkook e espetou um dedo em seu ombro. — Porque eu não estou disposto a deixar meu filho morrer por orgulho ou qualquer outra coisa que diabos ele pensa que está fazendo. Sua vida é mais importante para mim do que qualquer outra coisa, mesmo a minha própria. Mesmo que isso signifique que ele possa me odiar para o resto da minha maldita vida. Eu estou disposto a pagar esse preço. E você, Jungkook? A confiança dele vale mais para você do que a sua vida?"
— Sim. — Jungkook engoliu em seco, seu interior Felid rugindo dentro dele em protesto.
Muito parecido com Maddock, seu meio-feral não entendia.
Ele só compreendia a potencial perda de seu companheiro.
Maddock olhou para ele.
Quando ele falou, foi através de seus dentes.
— Explique, antes que eu comece a me perguntar por que diabos foi que Jimin se apaixonou por você.
Jungkook se endireitou.
Ele não estava disposto a recuar, não sobre isso.
— Confiança na família, significa tudo para Jimin. Ele é um homem que vai se sacrificar por aqueles que ele ama, por uma causa que ele realmente acredita. Para ele, a traição de alguém que ele ama seria pior do que a morte. Seu filho não tem medo de morrer. — Jungkook encontrou de frente o olhar de Maddock. — Ele tem medo de ser abandonado. De perder aqueles que são importantes para ele. Quando ele ama, ele ama incondicionalmente. Ele me deu o seu coração, e junto com ele, a sua confiança. Eu não vou trair essa confiança, nem para você, ou para Cael, ou para qualquer um.
Eles ficaram se encarando durante o que pareceu uma eternidade, quando algo nos olhos de Maddock cedeu.
Jungkook estava atordoado pela emoção que viu lá.
Maddock era uma montanha inabalável em forma de homem.
Sempre estóico, sem recuar.
Jungkook nunca tinha visto ele parece tão...
Vulnerável.
Ele nunca tinha visto esse lado de Anthony Maddock antes.
— Eu acho que não estava tão preparado para este dia como eu pensei que estaria.
— Que dia seria esse? —, Perguntou Jungkook, confuso.
— O dia em que os meus meninos não precisariam mais de mim.
A raiva de Jungkook derreteu.
— Não importa o que aconteça, ou quantos anos eles tenham, eles nunca iram parar de precisar de você, Tony. Você é o pai deles, e eles te amam. O fato de que Jimin me ter, e Cael estar com Ash; não significa nem por um segundo que eles não precisam de seu pai. Você sabe disso.
Maddock pressionou os lábios em uma linha fina e deu-lhe um aceno de cabeça.
— Estou feliz por eles, realmente estou. Tudo o que eu sempre quis para eles, era que fossem felizes. E vê-lo com essa dor e não saber o que está causando isso me deixa em lágrimas por dentro.
Jungkook acenou com a compreensão.
— Você está certo. Eu vou falar com ele sobre isso, ok?
— Obrigado. Eu aprecio isso.
Jungkook deu-lhe um sorriso e colocou a mão no painel.
A porta se abriu, e Maddock o chamou.
— Jungkook?
— Sim? — Jungkook virou, e encontrou os lábios de Maddock se contraindo em um sorriso.
— Obrigado.
— Por quê?
— Por me chamar Tony.
Jungkook não tinha sequer percebido que tinha dito.
Ele retornou o sorriso de Maddock.
— Fico feliz.
[...]
Depois de solicitar os pedidos de teste com Jin, Jungkook recebeu Jimin em seu escritório.
— Nós precisamos conversar.
— O que está errado?
— A esposa de Dylan Reynolds foi marcada.
Os olhos de Jimin se arregalaram.
— Merda. — Ele balançou a cabeça, como se estivesse tentando entender. — Mas... isso não faz qualquer sentido.
— E isso não é a única coisa. — Jungkook respirou fundo e soltou o ar lentamente. — Algumas semanas atrás, a sua esposa teve uma convulsão.
Jimin lentamente afundou em sua cadeira.
— Ela estava marcada, e ela teve uma convulsão?
— Sim.
Jimin engoliu em seco.
— Não sabemos o que causou o ataque?
— Eu solicitei que Jin verificasse os resultados dos testes do hospital. Se eles ainda não têm os resultados, ele vai certificar-se de que esse caso obtenha prioridade no laboratório.
Seus olhos se encontraram, e nem precisou dizer uma palavra, para que Jungkook soubesse que estavam pensando a mesma coisa.
Não havia maneira alguma de ser uma coincidência.
O que quer que tenha acontecido com Alicia Reynolds estava acontecendo com Jimin, e a conexão era a marcação.
Jungkook não tinha nenhuma ideia.
Em seguida, havia as circunstâncias da morte de Alicia ser bem assustadora, especialmente se Dylan estivesse dizendo a verdade, Jungkook estava tendo um momento difícil para não acreditar.
— Entendido. — Jimin levantou um dedo e bateu com o auscultador. — Park. OK. Vamos descer.
— O que foi?
Jimin informou.
— Sparks chamou. Está na hora.