Fizeram uma pequena festa de comemoração por eu ter sido promovido. Todos os funcionários da área de produção estavam ali, me recebendo como seu novo chefe. Nunca me imaginei subindo tão rápido de nível daquela forma, mas estava feliz com isso.
Ganhei uma sala maior, um salário maior e também mais trabalho. Tudo que saísse do setor de produção era de minha responsabilidade, deveria passar por minhas aprovações.
Conversei com todos por um bom tempo, fiz um breve discurso e logo depois, Phoebe me arrastou pra que eu conhecesse minha nova sala.
Assim que entramos, meu queixo caiu. Uma mesa enorme com um computador de última geração, cafeteira, frigobar, três sofás como os da sala de Phoebe, uma estante enorme com livros, uma tv de tela plana, uma janela com uma vista privilegiada e o mais peculiar, uma mesa menor, perto da entrada.
- Gostou? - ela perguntou animada.
- Eu adorei! - sorri. - Mas, pra que a outra mesa?
- Pra sua assistente, é claro. - falou como se fosse óbvio.
- Eu não preciso de assistente.
- Ah, querido, vai ver que precisa. Ela chega na semana que vem, mas acho que você pode se virar sozinho por enquanto.
- Depois de ter subido de nível tão rápido, sinto que posso fazer qualquer coisa.
Cheguei mais perto dela, já lhe arrancando um beijo e fui caminhando até encontrar a minha mesa. A ergui, fazendo com que ela sentasse ali e me encaixei entre suas pernas, dando total atenção à sua boca.
- Vinnie... - ela se afastou, ofegante. - A gente não pode.
- Quem disse que não? - sorri de lado.
Sem demora, tornei a beija-la, dessa vez enterrando minhas mãos em seus cabelos. Já sentia a minha excitação crescer e levando em consideração o quão sedenta ela parecia, podia dizer que estava tão excitada quanto eu.
Ouvimos algumas batidas na porta e nos separamos rapidamente, voltando a nos recompor.
- Quem é? - perguntei. A porta foi aberta e Jett colocou sua cabeça para dentro.
- Phoebe, o pessoal da computação quer saber se vocês vão continuar com as buscas agora. - ele disse.
- Ah, claro! - antes de sair, ela me deu um selinho rápido.
Dei a volta na mesa e me joguei na minha nova cadeira. Tão grande e tão confortável que me fazia querer dormir nela.
Jett começou a olhar em tudo, observando cada detalhe da minha decoração.
- Tirou a sorte grande, irmão! - falou.
- Nem me fale... vou até ter uma assistente agora. - ri.
- Ui, cheio das frescuras! - brincou. - Viu como o Henri te encarou? Se eu fosse você, usaria um colete à prova de balas de agora em diante.
- Isso tudo é inveja. Ele não aceita que eu sou melhor. - dei de ombros.
- Não aceita que depois de ter passado tantos anos paquerando a Phoebe, ela tenha ficado com o novato cheio de marra.
- Ele não me preocupa. É só um cara cheio de frustrações. O que tá tirando meu sono ultimamente é essa busca incessante da Phoebe pelo Peter. Tenho medo que isso faça mal a ela.
- Olha, a Phoebe é inteligente, sabe o que faz. Nunca vi aquela mulher se autodestruir por nada, então relaxa.
- Vou tentar. - sorri fraco.
- Bom, melhor eu voltar ao trabalho. Com licença, chefinho! - deu uma piscadela e saiu pela porta.
A manhã foi cheia e eu nunca tive tantas tarefas quanto naquela manhã. Fui até obrigado a almoçar na minha sala enquanto trabalhava. Parece que eu precisaria mesmo de uma assistente.
[...]
A semana se passou e eu sentia Phoebe cada vez mais distraída e por mais que meu trabalho tivesse aumentado, eu ainda tentava nos manter bem próximos, mas já estava ficando cansativo. Ela não pensava em outra coisa que não fosse encontrar o paradeiro de Peter.
Por sorte, nós organizamos o aniversário do Bernard e Phoebe deixou todos os seus problemas de lado pra passar um sábado divertido num parque de diversões com as crianças do orfanato.
Ganhei um gatinho de pelúcia pra ela em uma das barracas e meu coração palpitou ao vê-la se derreter por aquele gesto tão simples.
Depois dali, fomos até o orfanato onde aconteceria a festa de fato. Tinha tudo o que uma criança iria querer numa festa. Nós cantamos os parabéns e depois de Bernard fazer seu pedido, cortamos o bolo.
Eu e Phoebe sentamos no sofá junto com Bernard e começamos a conversar os assuntos mais variados possíveis. Nós três tínhamos uma química inexplicável juntos.
O celular dela começou a tocar e ela logo correu pra atender. O assunto parecia sério e eu já imaginava o que seria. Vi ela desligar e tornar a se aproximar de nós.
- Querido, eu vou ter que ir pra casa porque aconteceu algo importante no trabalho. - ela disse em direção ao Bernard. - Amanhã o seu presente chega e eu venho aqui te trazer, ok?
- A festa não foi o meu presente? - os olhos dele brilharam.
- Apenas um deles. - ela sorriu e eles se abraçaram. - Eu te amo.
- Também te amo, tia Ebe.
- Vinnie, você vem?
- Não, vou ficar mais um pouco aqui.
- Ok. - ela beijou minha bochecha e foi embora.
- O que foi, tio Vinnie? Pareceu chateado. - Bernard tocou meu rosto.
- Não foi nada. Mas me diz, que pedido você fez? - mudei de assunto.
- Eu pedi o que sempre peço. - deu de ombros. - Uma família. - meu coração se apertou ao ouvir aquilo.
- Eu tenho certeza que você vai ser adotado logo, até porque, você é o garoto mais legal que eu conheço. Mas você já tem uma família. Olha todas essas crianças, todas essas pessoas que amam você... nós somos a sua família. - sorri.
- E eu amo vocês! - ele me abraçou bem apertado.
Passei mais um tempo lá e fui embora no fim da festinha.
Quando cheguei em casa, fiquei surpreso por ver Phoebe na sala, sentada em um sofá segurando uma folha em mãos.
- Tudo bem? - perguntei.
- Eles me ligaram achando que tinham encontrado algo, mas era um alarme falso. - falou de forma séria. Tão séria que me fez ter um mal pressentimento.
- Por que você parece tão estranha? - franzi a testa.
- Eu fui procurar uma caneta nas suas coisas, porque recebi as informações por telefone e quis anotar... - ela encarou o papel em suas mãos.
- Não tô te entendo.
- Talvez seja eu que não te entenda, Vinnie. - me encarou. - Disse que ficaria comigo. Que iria morar comigo. Se isso era verdade, por que você comprou um apartamento? - ela virou o papel para mim, revelando ser o contrato da compra.
- Ah... droga... - resmunguei para mim mesmo. - Eu juro que ia te contar.
- Então, você vai embora? - sua voz demonstrava um misto de raiva e desespero.
- Eu... eu não sei... - cocei a nuca.
- Pela data do contrato, você comprou o apartamento no dia seguinte depois de ter me dito que pensaria se iria morar comigo ou não. Você nem parou pra pensar como disse que ia fazer! Ainda me jurou que moraria aqui agora!
- E eu não menti. Eu comprei esse apartamento pra ter um lugar meu, só isso. - respirei fundo.
- Por que precisaria disso? - franziu a testa.
- Quer mesmo saber? Eu não sei se morar aqui vai mesmo dar certo e pelo que estou vendo, não vai. Eu detesto a sua mãe, a minha vida é um inferno com ela e você... - parei no meio da frase.
- O que tem eu? - ela me olhou de relance e cruzou os braços.
- Desde que começou a procurar o seu irmão parece que eu não existo. Eu tô cansado de ser maltratado pela sua mãe e ignorado por você!
- Ok... - desviou o olhar parecendo pensar. - Por que você não vai embora, então?
- O que? - fiquei confuso. - Tá me expulsando?
- Você tem o seu próprio teto, sem ninguém pra te chatear ou 'ignorar'... só vai embora. - seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela manteve a face séria.
- Você não quer que eu vá.
- Você planejou ir embora daqui desde o início, então, pra que esperar? - desviou o olhar e eu pude ver uma lágrima correr por sua face.
- Tá terminando comigo? - agora quem estava com vontade de chorar era eu, mas me segurei.
- Não... você quer terminar?
- Não.
- Tá bom, nós não estamos terminando. Eu só quero deixar você livre pra viver em paz na sua própria casa.
- Eu não quero que você fique com raiva de mim. - sentei ao lado dela e segurei sua mão. - Meu intuito não foi te magoar.
- Tanto faz... - ela afastou sua mão da minha.
- Melhor ir antes que fique tarde. - levantou-se e começou a caminhar em direção à cozinha.
Subi até o quarto, coloquei minhas malas abertas em cima da cama e comecei a organizar minhas coisas lá dentro. Não demorei muito para acabar e logo saí do quarto com as malas em mãos.
- Só pode ser um sonho! - ouvi Soraya proferir quando passei em frente ao seu quarto. - Ei, espera! - ela veio até mim e me parou. A olhei com um semblante sério, deixando claro que não queria conversa. - Finalmente Phoebe tomou juízo? Vocês terminaram?
- Não.
- Então, pra que essas malas? - franziu a testa.
- Vou me mudar pro meu apartamento.
- Mas ela me disse que você tinha decidido morar aqui... - me analisou por alguns segundos. - Brigaram, não é? Já é um começo.
- Com licença. - desviei dela já me sentindo sem paciência.
- Faça boa viagem! - declarou.
Saí de lá sem me despedir de Phoebe, não queria prolongar qualquer que fosse o sentimento incômodo que me apertava o peito.
Alguma coisa não estava certa na minha vida e eu me sentia sufocando cada vez mais, perdendo Phoebe gradativamente. De fato eu não desistiria. Nunca me senti tão amado, tão acolhido e tão completo em toda a minha vida e eu não queria jogar esse sentimento fora tão fácil.
E enquanto eu mirava aquela estrada, uma lágrima silenciosa desceu por meu rosto, reafirmando a minha confusão interior.