Acendi o último incenso das quatro caixas compradas um mês atrás.
Hoje era sábado, o último dia do mês e eu tinha acendido oito incensos por dia, durante todo os dias do mês. Eu tinha espalhado eles por todos os cômodos do apartamento, até na entrada do apartamento eu tinha acendido, e, nada tinha mudado.
Contudo, apesar de nada entre Liana e eu tenha mudado, eu ainda mantia as minhas esperanças e a minha confiança de que tudo iria se resolver, e acabei também me habituando com o incenso e aprendido mais sobre ele e outras coisas que Paige me explicou quando eu retornei lá com Jack quando ele foi comprar mais incenso, como desculpa para encontrar a vendedora claro.
Hoje era o dia da festa. Sendo mais preciso, a noite, e em alguns minutos eu estaria lá apreciando a arte que Liana é em toda sua delicadeza e graciosidade. Todos os traços que formavam as linhas do seu rosto e as expressões que mudavam habitualmente, eu amava cada uma delas, desde as mais empolgadas até as mais desanimadas.
Alisei com as mãos a minha camiseta azul escuro de mangas curtas. Me encarei no reflexo do espelho pensando em como seria quando eu chegasse na festa, não pude deixar de sorrir ao imaginar Liana lá.
Ansioso, passei meu perfurme e deixei apressado o apartamento, o mais atrasado que eu consegui porque se eu chegasse cedo demais as coisas podiam se tornar mais difíceis de aguentar. Fui caminhando porque assim, talvez as chances dela chegar antes de eu, se tornassem maiores, ou melhor, completamente certas.
Assim que cheguei na casa do Jordan, havia bastante gente como imaginei que haveria, e como também era esperado eu dei de cara com Jack em menos de meia hora depois de entrar dentro da grande casa.
- Oi, bonito. - Ele disse rindo, me medindo de cima para baixo e estendendo-me um copo com bebida.
- Oi, chegou agora?
- Tem uma meia hora. A Liana ainda não chegou pode parar de procurar. - Eu o encarei. Ele encolheu os olhos.
- Eu sei que está procurando por ela... - revirei os olhos e dei um gole na bebida dentro do copo.
- Enquanto ela não chega, podemos pelo menos sentar? Eu tenho a coluna de um idoso. - Jack perguntou já andando em direção a sala cada vez mais lotada de pessoas.
- Você é um idoso, Jack. - Revirei os olhos parando na mesa de bebidas e enchendo o meu copo com a bebida mais fraca que tinha, eu não queria beber mais do que dez copos, a verdade é que eu nem queria estar aqui, Liana é a única razão capaz de me tirar da cama ultimamente, além da faculdade que também por ter ela era grande parte da motivação.
As horas começaram a se passar e Liana não aparecia, eu já tinha até mesmo perdido a conta das vezes em que revirei a casa de cima para baixo em cada mísero canto e me decepcionei por não encontrar ela.
Estava quase desistindo, enquanto Jack aparecia bebendo, quando ela apareceu repentinamente nos fundos da casa acompanhada pelos dois amigos que viviam com ela para cima e para baixo. De repente ela estava ali, parada majestosa iluminando toda a minha vida, fazendo o meu coração bater e meus pulmões clamarem por ar quando eu senti mais uma falta de ar, algo que se tornava cada vez mais comum quando eu a vi.
Liana estava ali, como a obra de arte que é ela. E eu estava aqui, a admirando como um bom apreciador faz quando encontra uma belíssima e rara obra de arte em meio a tantas outras. E só de admira-la, de poder apreciar cada linha, cada pequeno e delicado traço que moldavam do seu corpo as linhas do seu sorriso, eu me sentia o homem mais sortudo do mundo por ter esse privilégio.
- Não vai falar com ela? - Jack perguntou se sentando ao meu lado no banco. Eu ainda estava perdido admirando Liana ao responder rápido um não.
- Como assim não? Você passou o mês todo esperando por essa festa e as últimas horas andando por toda a casa em busca dela, e, agora que ela está aqui você me diz que não vai lá até ela e lhe falar que esteve esperando por esse momento mais do que ela pode imaginar? - Jack dramatizou, como era de se esperar.
- Eu sei. - O respondi, olhando para a roupa que Liana estava usando, em busca dos roxos em seus braços quando notei ela movimentando eles. Como imaginei que ela faria, apesar de um mês ter se passado, ela ainda estava usando roupas com mangas longas.
Nessa noite, ela estava usando um vestido de crochê de longas mangas e um decote em v pequeno, na cor preta. Os seus cabelos pareciam ainda maiores do que hoje de manhã, haviam crescido bastante desde que eu a conheci, agora as mechas que hoje estavam alisadas, estavam quase alcançando os ombros cobertos dela.
- Então? - Escutei Jack falar.
- Ter ela onde meus olhos podem alcançar é o bastante para mim. Além de que, eu disse que iria ficar longe e, eu não quero quebrar essa promessa até que ela peça. - Eu respondi desistindo de tentar manter apenas Liana no meu mundo porque meu melhor amigo jamais deixaria isso se tornar realidade, talvez não até me colocar na vida da Liana novamente, e como eu queria que isso fosse possível.
- Então é isso? Você vai ficar aqui sentado apenas babando? - Concordei. Ele resmungou e se levantou falando que era o cúmulo do absurdo eu me prestar a este papel e ele ficar ao meu lado de vela sem eu mesmo estar acompanhando, quando ele sumiu entrando dentro da casa eu pude tornar a me admirar mais e mais com Liana.
Ela estava com os amigos e mais algumas pessoas perto da mesa de ping pong, ela como eu havia reparado, não segurava nenhum copo, tinha as mãos livres e as mexia enquanto falava. No momento em que ela sorriu minha mente ficou em branco.
- Oi, Vinnie! - Uma voz feminina exclamou, e antes que eu me desse conta de quem era braços passaram ao redor do meu pescoço.
- Quanto tempo, senti saudades. - Entortei o pescoço me virando para encarar quem era a garota ao mesmo tempo que segurava os seus braços afastando-os sem a menor paciência do meu corpo. Uma garota que eu não fazia a menor ideia de quem era sorriu se inclinando contra o meu corpo mais uma vez.
- Caí fora, por favor. - Esbravejei baixo. Ela abaixou os braços sem entender e me olhou confusa como se eu estivesse falando grego e ela japonês.
- Desde quando dispensa uma boa companhia? - Perguntou cruzando os braços inconformada.
- Desde quando eu te conheço para saber que é uma boa companhia. - Rebati, revirando os olhos, quando os foquei em Liana percebi que ela estava encarando essa cena patética, ou melhor dizendo, o que essa cena patética parecia, e eu me senti muito mal por causar isso a ela mesmo sem a intenção.
- Como assim desde quando me conhece? Vinnie você...
- Me esquece. Eu estou indisponível para você e para todas as outras. - Falei me levantando decidido a entrar na casa antes que mais uma garota aparecesse e eu fosse a causa de Liana ter sua distração destruída, mesmo que, olhar para ela fosse a minha distração eu precisaria me contentar com o que pude admirar dela.
- Indisponível? Você? E por quanto tempo? Uma hora? - A garota perguntou dando risada maldosa e me seguindo em direção a porta. Girei e segurei o braço dela, com cuidado para não machucar, usei pressão nos meus dedos e me aproximei mais dela, surpresa, com a minha atitude e o contato súbito.
- Eu estou indisponível pelo resto da vida. E para você, pelo resto de todas as minhas possíveis vidas futuras. Agora, larga do meu pé ou eu juro que vou te fazer chorar pelo próximos cinquenta anos...- avisei em um tom baixo e cheio de raiva.
A garota saiu correndo. Eu podia sentir o olhar da Liana voltado completamente na minha direção, eu podia advinhar o tipo de pensamentos que estavam cruzando a sua mente, eu queria poder desmentir todos porque eu sabia que nenhum deles chegava perto do que realmente tinha acontecido, mas tudo o que eu fiz foi girar novamente na direção da porta, abrir e entrar antes que eu olhasse ela nos olhos e, tudo nessa noite fosse arruinado.
Encontrei Jack agarrando uma garota. Passei por ele que percebeu na mesma hora e dispensou a garota correndo para me alcançar.
- Ué já cansou? - Me questionou agarrando meu ombro.
- Não. Uma garota apareceu e fodeu com tudo. Achei melhor sair de lá.
- E o que você vai fazer agora? - Dei de ombros.
- Ir para casa.
- Nada disso! Ainda não são nem onze horas cara, não, não e não! Aqui, toma mais uma pelo amor de Deus a Liana acabou de chegar, ainda temos a noite inteira pela frente. - Me puxou em direção as bebidas, e me entregou um copo depois de o encher com bebida. Respirei fundo e tomei um gole, olhando ao redor.
- Jack, por que não fode uma e me deixa sofrer em casa? - ironizei.
- Deixa de ser mimizento, santo Deus! Como quer que as coisas mudem se desiste na primeira pedra que tropeça? - Perguntou revirando os olhos.
- Era uma garota, não uma pedra, Jack.
- Tanto faz. Você transou com mais da metade da faculdade, cruzar com elas ao mesmo tempo que admira a Liana é o mesmo que tentar não piscar por mais de dez minutos, impossível de concretizar. - Ignorei ele, porque não tinha como rebater contra o que ele tinha acabado de trazer a tona. Era verdade o que eu podia fazer. Me sentei em uma cadeira ao lado da mesa de bebidas e dei mais um gole da bebida.
As horas foram se passando e a Liana acabou entrando com os amigos, ainda sem nenhum copo nas mãos, ela parecia tão entediada quanto eu, apesar de conversar e rir dos que os amigos falavam. Eu queria poder tirar ela dessa festa ou dançar com ela mais uma vez, mas quem estava tentando tornar a minha fantasia em realidade era um dos caras do time.
Eu queria socar a cara dele toda, mas, tudo o que eu realmente fiz foi continuar sentado, bebendo refrigerante, admirando ela ao som da música, a voz de Jack e o restante dos rapazes e das garotas ao meu redor em meio à todos os outros mais a frente dançando.
Liana sorriu para o cara que eu não conseguia me recordar o nome e na verdade até achava melhor não recordar. Ela parecia estar gostando da companhia dele, e bem, não era nem preciso resaltar o quão óbvio era que o cara estava gostando ainda mais de estar na companhia dela. Eu sabia muito bem como era isso, a única diferença entre eu e ele era que, eu tinha sentimentos verdadeiros e não apenas a droga de um pau duro que quer só sexo.
- Acha que ela vai dar uma chance para o Jordan? Os dois até que ficam bem juntos. - Jack perguntou sentado ao meu lado fazendo com que eu recordasse o nome e me desse conta de que era o dono da festa.
Eu o olhei irritado.
- Você tá de que lado porra? - O questionei.
- Eu? Nenhum. Eu prefiro em cima do muro. - piscou rindo. Tornei a olhar os dois perto da entrada da sala. Liana estava encostada na parede com os braços cruzados. Jordan se aproximava devagar dela e mexia os braços enquanto falava tentando disfarçar as suas intenções.
Ele aproximou a mão do rosto dela e afastou as mechas do cabelo dela pondo-as para atrás da orelha livre de brincos dela. Liana olhava para ele com uma expressão séria, enquanto Jack me batia tão atento no que estava acontecendo quanto eu que comecei a bater nele para que parasse de me encher a porra do saco.
Jordan segurou o rosto da Liana e aproximou a bosta da boca dele da dela beijando-a, estava prestes a me levantar para não presenciar o desenrolar dessa cena quando Liana segurou o maxilar dele afastando a boca dele da dela, ela o olhou nos olhos com raiva.
Acertei o braço de Jack que gemeu de dor com a força que usei para demonstrar minha felicidade.
Liana disse alguma coisa para Jordan, que em uma rápida resposta se afastou e deixou ela sozinha novamente.
Não pude deixar de sorrir quando ela olhou ao redor e me percebeu encarando-a descaramente.
Levantei o queixo sorrindo de lado, ela me deu as costas o que me fez sorrir ainda mais.
Eu vou reconquistar você boneca.
Pode apostar que eu vou.