𝗦𝗔𝗥𝗔𝗬 𝗣𝗢𝗩
Era um domingo a noite quando estávamos eu e Zule bebendo e jogando conversa fora em minha casa.
Além da Estefânia, eu gostava de passar meu tempo livre junto a Zulema, minha amiga de anos. O que eu gosto na nossa amizade é que nós nos entendemos por mais diferentes que somos.
Santiago já havia trazido Estrella de volta para casa, mas nem o vi. Pedi a Casper para fazer o favor de receber Estrella, para eu não precisar de conversar com ele. O clima entre nós estava pior do que nunca.
~ Você não vai conseguir evitá - lo para sempre. - diz a árabe. ~ Eu nunca vi vocês brigando, é até estranho. Ele era tão calmo, até lerdo.
- Eu sei ma- Meu celular apita repetidas vezes, nos interrompendo.
Em falar no diabo...
Logo vejo na barra de notificações mensagens de Santiago. Penso em nem ler, mas meu olho bate no nome de Estefânia que ali estava no meio da mensagem, tirando o meu desinteresse no que Santiago tinha a dizer.
WhatsApp On
~ Estefânia o nome dela né?
11:03 pm
~ Estefânia estava junto com você no trabalho...
11:04 pm
~ Professora ela não é...
11:04 pm
~ Cuidado com as coisas que você faz perto da nossa filha, Saray.
11:05pm
WhatsApp Off
Meu corpo inteiro estremesse. Minha cabeça girava de tantos pensamentos surgindo em um mesmo segundo em que li aquelas mensagens.
Eu não me preocupava com o que poderia acontecer comigo, minha preocupação era com Estefânia. Não desejava que ele prejudicasse a garota de maneira nenhuma por minha culpa.
Provavelmente Estrella comentou com o pai sobre o dia em que a levei para escola comigo, ou ele a induziu para dizer algo sobre Estefânia.
O ódio de Santiago se instalava em mim a cada segundo, mas quando pensava em Estefânia, um sentimento de culpa tomava conta de todo o meu peito.
~ O que foi agora Saray? - a amiga pergunta um pouco assustada com o misto de reações que tive ao olhar aquela tela de celular.
Não digo nada a Zulema, apenas mostro as mensagens de Santiago. A mulher reluzia fúria por mim ao ler.
~ Quer que eu resolva isso?
- Não Zule, você é extremista demais. Não quero que o pai da minha filha morra, ela o ama. Deixa que eu resolvo.
~ E o que vai fazer? Cortar o pau dele? - ela debocha e eu reviro os olhos para Zahir.
Não consigo evitar de não conter as lágrimas, chorando nos braços de Zulema.
- Zule, você não sabe o quanto eu me sinto enojada por desejar aquela garota... Uma garota anos mais nova que eu, que ainda nem terminou o ensino médio. - digo ainda desabando em lágrimas. - Parece que eu tirei a inocência dela, e agora o Santiago pode estragar a vida dela.
~ Olha para mim. - Zulema diz sério, trazendo meu queixo perto de seu rosto e o segurando forte. ~ Você acha que Estefânia era santa ou completamente pura antes de te conhecer? Tudo o que vocês tiveram foi com consentimento, cigana. Eu sempre vejo o olhar dela quando você passa, a garota está completamente caidinha por você.
- Eu não quero esconder o que amo e prezar pelo o que odeio.
~ Na ficção, as mais graciosas histórias de amor vividas são amores proibidos, qual o erro em viver um amor proibido na vida real? Os amores proibidos são os mais verdadeiros, pelas loucuras que são feitas para estar ao seu lado. Você consegue sentir a intensidade do amor da sua amada por você... Agora engole o choro e toma mais cuidado, viu?
Ela junta nossas testas, seca minhas lágrimas e dá dois tapinhas em minha bochecha.
- Não sabia que você era uma poeta tão profunda.
~ Não se acostuma não. - disse a árabe.
- Zule.
~ Uhm?
- Tu!
~ Tu!!
Por mais fria que Zulema poderia parecer, ela é tão acolhedora para mim, do seu jeitinho claro. É uma pessoa que sabe tudo sobre mim, e soube desde o início o meu sentimento para com Estefânia.
Eu sabia que poderia contar com ela, minha Zule.
Depois que me acalmei, não demorou muito para Zahir ir embora, visto que o dia seguinte era uma segunda - feira. As férias do meio do ano já haviam iniciado, mas nós professores ainda ficamos trabalhando em uma última segunda para dar a recuperação aos alunos, e lançar suas notas.
Resolvo não comentar com Estefânia sobre Santiago, não por mensagem. Não queria encher de minhoca a cabeça da menina. Por mais que ás vezes eu sinta que ela não se importa e não entende a gravidade do que pode acontecer com nós, sempre levando os riscos apenas como uma aventura de ensino médio.
[...]
𝗦𝗔𝗥𝗔𝗬 𝗣𝗢𝗩
Segunda - feira - 12:40
Finalmente aquele dia cansativo de provas havia se encerrado e e eu poderia voltar para a casa. Mas antes, eu almoçaria com Zulema em um restaurante que tem perto da escola, já que nós havíamos combinado mais cedo. Sinceramente, eu estava muito sobrecarregada com o trabalho, problemas pessoais e sair um pouco era o melhor que poderia fazer.
Meus devaneios estavam completamente focados em Estefânia e Santiago, o que eu precisava fazer para proteger minha menina.
Me dirigi para o estacionamento em busca de Zule, para irmos juntas. A mesma não havia saído da escola, então espero a mulher encostada no carro. Quando de repente sinto uma presença ao meu lado, achando que era Zahir, olho para a pessoa e tenho a decepcionante imagem a minha frente.
- Santiago? O que você está fazendo aqui no meu trabalho? - pergunto assustada.
~ Nós precisamos conversar.
- Porra, eu vou precisar tomar uma medida protetiva contra você? Ou quer minha mão marcada no seu rosto novamente?
~ Saray, eu acho que é de interesse seu o que eu vou dizer. Você não vai conseguir uma medida protetiva porque eu vou pegar a guarda da nossa filha.
- hahahaha, e você acha que vai conseguir? - solto risadas debochadas. - Você não tem ideia do que uma mãe é capaz de fazer por um filho.
~ Você não é capaz de fazer tudo por um filho, mas sim por buceta. - ele coloca Estefânia na conversa.
- Não há nada que mostre que sou uma mãe negligente.
~ Talvez. E esse relacionamento? A mãe dessa criança está ciente disso? A mãe da Estefânia. - seu olhar e seu sorriso cínico eram carregados de maldade.
- Ela não é uma criança, puto.
~ Mas Saray, você pode consertar tudo isso. Voltando para mim, eu e você ficamos com a guarda de Estrella e eu ainda posso ter você só para mim. - ele pega em minhas mãos.
- Ah, sai fora! - olho o homem de cima a baixo com desprezo.
~ Saiba que eu não vou descansar enquanto eu não te ver deitada ao meu lado em uma manhã de domingo.
- Então você vai continuar cansado, pois eu não vou voltar para você nem pintado de ouro! Ah, vai dar uma sugada e me deixa em paz.
~ Você me respeita, Saray. - ele diz firme e segura meu braço com força.
Sem pensar duas vezes dou uma cabeçada em seu nariz, visto que era mais alta que o homem. Ele segura o órgão nasal com força, controlando a dor. Ele tira as mãos e sangue começa jorrar de sua cavidade nasal.
Santiago estava claramente furioso, e se aproxima a mim como se fosse agir de volta mas uma voz rouca conhecida interrompe o homem, fazendo com que toda sua atenção fosse para ela.
~ Algum problema, Saray? - vejo Zulema de longe indo em nossa direção. De seus olhos pareciam sair faíscas, tomada pela raiva ao ver Santiago.
Santiago rapidamente vai embora ao ver Zule se aproximar.
~ O que houve? - pergunta a árabe.
- Santiago quer a guarda de Estrella.
~ Hijo de puta... Vamos almoçar, depois a gente resolve isso.