Naquele mesmo instante surgiu igual a um relâmpago uma figura alta, brilhante como um farol atrás de mim, virei meu pescoço para tentar olhar para ela, mas seu semblante era transparente e parecia que feches de luz também brotavam de suas costas, delineando algo que parecia ser etéreas asas.
Fiquei sobressaltada, nervosa, enquanto ainda escondia Raven, amuada e sem forças, sobre o seu próprio manto que cobria a nós duas. Comecei a me indagar, será que havíamos chamado aquele 'anjo' ou seria alguém com um estado de vibração muito maior que o nosso? Segundo as teorias que aprendi de Selectus... bem, de qualquer forma ele parecia apenas nos observar, sem expressar nenhum sentimento.
Ele mirou os olhos em mim, sem perceber que escondia minha amiga sufocada embaixo dos meus braços.
Nos dirigimos até o portal de maneira desengonçada, ao atravessar o portal as tatuagens de Raven em seu rosto piscaram, como inflamadas, ela sentiu dor novamente, parei por um instante olhando para ela, o anjo ainda permanecia parado, sem reação.
Avancei mais alguns passos, a puxando comigo, e paramos diante de uma enorme escada em espiral, que parecia subir até o infinito. Sem delongas, começamos a subir lentamente o difícil caminho até a superfície.
Senti um alívio pois a cada degrau a imagem do impávido anjo ficava mais e mais longe, e seu brilho diminuía, não sabia se ele ainda me observava nem desejava olhar para trás pois não queria cruzar meu olhar com o dele; e após uma curva da escada espiraloide, já longe dos olhares do 'anjo' Raven se soltou de mim, caiu para fora do manto, tossindo, quase completamente sem ar.
- Ah, não aguento mais! Disse ela dobrando os joelhos e se apoiando sobre as mãos, extenuada, segurando no corrimão da infinita escadaria.
- Não, não se afaste! Eu gritei, horrorizada, percebendo que ela estava ficando translucida e aos poucos desaparecia.
Desesperada, tentei tocar nela e minhas mãos atravessaram as suas, e diante dos meus olhos ela foi, aos poucos, desaparecendo: primeiro as pernas, depois o torso e finalmente seu rosto, quando finalmente os seus olhos tristes e marejados, a sua tatuagem escura e os seus cabelos encaracolados sumiram de minha visão eu desabei no chão da escada; comecei a chorar fechando com raiva meus punhos, ela havia retornado a seu lugar de origem, ao mundo interior, e nunca, NUNCA mais estaríamos juntas!
Naquele momento percebi que estava a poucos degraus de um lugar diferente, uma brilho tênue iluminava mais acima, de forma calma e serena, enquanto no lugar aonde eu estava uma penumbra ainda se fazia; me levantei ainda dolorida e após mais alguns lances de escada se desvelou para mim esse lugar intermediário, era igual ao auditório, sobre uma plataforma havia um lugar que parecia um tipo de enfermaria, aonde pessoas que estavam 'doentes' eram cuidadas.
Atravessei a porta de uma ampla sala, segurando firme o manto rústico Raven, lá haviam camas e servidores que se movimentavam, cuidando daqueles que sofriam.
Olhei ao redor com um último raio de esperança, mas minha amiga guerreira não estava ali também, e senti uma dor profunda no meu peito, foi quando percebi, de repente, um intenso calor que se irradiava do manto dela, o qual eu havia me enlaçado para buscar refugia e no qual havia enxugado minhas copiosas lágrimas.