Any Gabrielly
Fechei a última mala em cima da cama de Josh e me joguei ao lado dela respirando fundo.
Eu finalmente havia terminado de separar tudo o que eu levaria para essa viagem.
Pelo que Josh me contou, não será uma coisa rápida, então eu tinha que estar preparada. Duas malas grandes e uma menor com minhas maquiagens e meus outros produtinhos.
Beatriz havia surtado quando eu contei como tudo funcionaria para ela, disse para eu aproveitar muito essa viagem.
Também surtou quando eu contei o que Josh havia feito na jacuzzi dias atrás.
Eu ainda não acreditava.
Mas foi bom. Muito bom.
Segundo ela, estamos mais do que juntos, apenas não assumimos isso para nós mesmos.
Eu na verdade tinha medo de assumir alguma coisa e ele negar até a morte. Eu não entendia direito o humor de Josh.
Hoje por exemplo, saiu de casa sem trocar uma palavra direito comigo.
Passei quinze minutos sentada olhando para a porta tentando me lembrar se eu havia feito ou falado algo de errado.
Mas eu não havia feito nada.
Ontem inclusive fomos dormir juntos, abraçados enquanto assistíamos um filme de terror. E ele ria a cada susto que eu levava.
Evitei ficar paranoica demais pois eu tinha muitas coisa para acertar antes de anoitecer.
Como iremos sair de madrugada, eu tinha que deixar tudo pronto e tentar descansar um pouco antes de sairmos.
Além de que eu também iria para o piquenique com minha avó.
Levei minhas malas para a sala, junto as que Josh também já havia deixado prontas.
Depois tomei um banho rápido e me arrumei. Iria almoçar com Joalin antes de ir para a clínica.
Joalin estava empolgada com a história do casamento, só nesses últimos dias já preparamos quase todos os detalhes da decoração e agora ela queria marcar uma degustação para o buffet.
Obviamente isso só seria trabalhado depois que a viagem terminasse, mas eu gostava de ver ela animada com tudo isso.
Não podia me esquecer de levar as coisas de Júpiter também, ele ficará com ela enquanto estamos fora.
Peguei minha bolsa e também peguei a caixa onde estavam os potinhos de ração e água, ração e petiscos, também alguns brinquedos de Júpiter.
Peguei o gato com meu braço livre e saímos do apartamento.
Fiquei fazendo carinho nele o tempo todo até chegarmos na casa de Joalin, Júpiter é tão tranquilo e gosta tanto de ficar perto de nós que me impressiona.
Joalin recolheu as coisas dele e o deixou dentro de casa antes de irmos para um restaurante no centro da cidade.
- Ansiosa pra passear pela cidade do amor? - ela perguntou divertida enquanto esperávamos nossa comida.
- Bastante, tem muitos lugares que eu quero visitar...
- Se Josh não ficar enfurnado dentro de um escritório todos os dias já será uma vantagem! - ela me lembrou desse fato.
- Bom, se isso acontecer, eu vou conhecer a cidade sozinha! - rimos.
- Conversei com minha mãe sobre a degustação, ela disse que quer participar. Algum problema?
- Jamais! Será bom ter mais opiniões! - sorri.
- Ótimo, vou avisá-la e marcamos para quando vocês voltarem! - concordei.
Nosso almoço não demorou muito para ser servido, então almoçamos enquanto Joalin me mostrava em seu tablet todos os orçamentos de salão e decoração que ela já havia feito.
Não posso negar que a ideia do casamento me deixava animada, mas ao mesmo tempo eu tinha medo de sofrer mais ainda com tudo isso.
Depois de quase duas horas de conversa e uma sobremesa deliciosa, Joalin foi para a loja de Taylor e eu fui para a clínica.
Agradeci a Deus pelo sol maravilhoso que estava hoje. Por mais que o clima não fosse um dos mais quentes, o sol brilhante e o céu muito azul deixava o dia esplêndido.
Assim que cruzei o jardim, avistei minha avó e Alex mais para a frente, perto do bosque com muitas flores.
Caminhei até lá e beijei a bochecha de minha avó, recebendo um abraço apertado em seguida.
Meu coração transbordou nesse momento.
- Eu jurei que ia estar chovendo hoje! - ela comentou, nos fazendo rir.
- Pois eu rezei muito a noite passada para que o céu estivesse tão lindo como hoje! - ela sorriu para mim.
- Como estão as coisas para a sua viagem querida?
- Nossas malas já estão prontas e praticamente tudo certo, vamos sair de madrugada hoje.
- Se cuidem viu e aproveitem muito!
- Pode deixar vovó, te ligo sempre que eu puder! - ela sorriu.
- Alex me ensinou como fazer chamadas de vídeo, agora pode ter certeza que vou falar muito com você! - rimos.
Sorri mais ainda ao ver o brilho restabelecido em seus olhos.
Automaticamente eu tive a lembrança de anos atrás, quando estávamos brincando em um parque, fazendo um piquenique como esse.
Eu acredito que ela sairá daqui e nosso próximo piquenique será em um parque.
Minha avó vai melhorar.
Ficamos o resto da tarde e começo da noite toda ali, minha avó falava empolgadamente sobre as experiências de vida dela, Alex também contava sobre alguns casos esquisitos e engraçados de pacientes que ele já havia cuidado.
"Can I just stay here?
Spend the rest of my days here?"
A alegria crescente em mim era inexplicável, eu me sentia fora dessa atmosfera.
Me sentia nas nuvens, um uma realidade onde todos os sonhos se tornaram realidade. Onde doenças não existem e a maldade não tem lugar.
O meu maior sonho é que minha avó se recupere cem porcento.
Ajudei Alex a organizar tudo por ali antes de entrarmos, afinal o sereno já estava caindo e não seria bom ficarmos mais ali.
Eu não queria ir embora, queria ficar ali para sempre. Não queria que essa atmosfera acabasse tão cedo.
- Sabe Vovó, eu tenho medo de estar fazendo a coisa errada. - confessei, olhando para meus dedos, enquanto ela arrumava seus quadros em um armário.
- Sobre o que minha filha? - me olhou compreensiva.
- Sobre Josh... - nossos olhares se encontraram e ela se aproximou de mim.
- Sei que vocês se desentenderam, mas se o amor de vocês for maior do que qualquer coisa que vocês passaram, vocês vão ser felizes juntos!
- É disso que eu tenho medo... - suspirei.
- Não tenha medo do amor pequena! - ela sorriu - Antes do seu avô morrer, nós tivemos muitos momentos bons, felizes, mas nem sempre foi assim. Tivemos nossas indiferenças e muitas vezes eu pensei que não o amava. Também tentei negar para mim mesma que eu o queria. E foi a pior escolha da minha vida, pois só eu sei o quanto eu sofri longe dele. Mas nosso amor foi mais forte, nós superamos tudo e quando finalmente aceitamos o que sentíamos um pelo outro, foi como um conto de fadas.
- Vocês dois eram tão felizes juntos né... - ela assentiu.
- E você vai ser feliz assim também meu amor! Se não for com Josh, será com a pessoa certa! Você ainda é nova, tem tempo para ter novas experiências. Acredite na sua felicidade, permita-se vivenciar tudo durante essa vida, o que tiver que doer, vai doer, independente se você quiser ou não, mas basta você aceitar a situação, em vez de tentar negar a todo momento. Toda dor pode ser superada um dia, esquecida não, mas superada sim!
- "Não há nada com que você não aprenda a conviver!" - relembrei do que ela já havia me falado uma vez. A vi sorrir.
- Exatamente! - ela abriu os braços e eu não demorei para a abraçar.
- Eu te amo tanto vovó!
- Eu também te amo minha princesinha! - beijou minha testa - Sempre vou amar, independente de onde eu estiver! - meu coração apertou.
Isso não devia soar como uma despedida.
Permanecemos abraçadas por mais um tempo, esse era o meu lar. E eu não queria sair dali.
Porém eu tive que aceitar que o horário de visitas já havia acabado e ela teria que descansar, afinal havia se esforçado além da conta hoje.
Me despedi mais uma vez dela, relembrando das ligações que iríamos fazer e então deixei a clínica.
Entrei no carro e respirei fundo.
A dor de pensar na possibilidade de perder alguém é horrível.
Eu tinha que parar de pensar nisso logo.
Josh Beauchamp
- Eu queria entender que porra está acontecendo! - bufei e joguei minha cabeça para trás, fechando os olhos.
- O que está acontecendo é que você está mais que apaixonado pela mulher que dorme com você todos os dias! - Nicolas disse exatamente o que eu não queria ouvir.
- Eu não posso estar apaixonado por ela! - isso era mais uma afirmação para mim mesmo.
- Por que você tem medo de se apaixonar?
- Eu tenho medo de me apaixonar por ela! - corrigi.
- Por que? - insistiu.
- Eu não sei... Passei os últimos anos todos tentando superar ela e agora nós estamos dormindo juntos. Que porra!
- Espera... Vocês estão dormindo juntos mesmo? - perguntou surpreso e eu assenti - Eu acabei me perdendo nessa história de vocês, me atualiza! - pediu.
- Eu vou te demitir se não me ajudar! - disse sério.
- Minha função é fazer os cálculos de lucro, não de ser psicólogo do amor! - passei as mãos em meu rosto, frustrado. - Vamos ficar um bom tempo em Paris, por quê não deixa essa casca grossa aqui e se abre pra ela?
- Eu não quero me abrir mais! - ele revirou os olhos.
- E você acha que vai ser fácil ficar com ela todos esses dias em Paris? - arqueou uma sobrancelha.
- Já estamos juntos a meses, não vou perder o controle apenas na viagem! Depois que o contrato estiver assinado vai faltar pouco para acabarmos finalmente com tudo isso.
- E eu espero muito que até lá você abra bem esses seus olhos! - o encarei.
Antes que eu pudesse responder alguma coisa, o telefone tocou.
- Sim? - perguntei a Nour.
- Irina Mitchell informou que estará na empresa em duas horas, quer uma reunião com o senhor pois tem algo importante a falar!
- Tudo bem! - disse sem muita opção.
Coloquei o telefone no gancho novamente e apoiei meus cotovelos na mesa e meu rosto em minhas mãos.
Puta que pariu!
- O que? - Nicolas perguntou.
- Irina Mitchell. - disse apenas e ele compreendeu.
- Lembre-se que está comprometido com Any Gabrielly! - se levantou e apontou o dedo para mim.
Bufei.
Nicolas saiu de minha sala e eu comecei a planejar o que iria falar para ela.
Eu não podia me deixar levar por essa mulher mais uma vez.
Irina Mitchell, uma modelo e dona de uma empresa no ramo de maquiagens.
Nos conhecemos em um evento em Nova York...
Impressionante como Nova York sempre me trouxe problemas.
Não quero detalhar muito essa história pois não é algo que eu quero recordar, mas não foi uma coisa muito boa.
E se Any souber disso, tenho certeza que nunca mais irá querer olhar na minha cara.
Droga, eu tinha que parar de pensar no que ela pensa de mim ou não. Não posso me entregar a uma paixonite.
Estava tão envolto nos pensamos e no que deveria falar para ela, que nem percebi a hora passar.
Somente me dei conta quando Nour avisou a chegada da mulher.
Bebi um pouco de água antes dela entrar na sala, eu precisava manter uma postura rígida.
Ela não podia me dominar novamente.
- Olá Josh! - disse com a voz mansa, por um momento eu quis fechar os olhos ao me lembrar de tudo o que já ouvi dela..
- Olá, Irina! - ela sorriu abertamente e sentou-se em minha frente, deixando a bolsa na cadeira ao lado e arrumou os cachos de seu cabelo.
Ela era impressionantemente parecida com Any.
- Bom, creio que sua secretária avisou que eu gostaria de conversar com você. - assenti - Estou com uma proposta nova para o nosso ramo de trabalho e... Acho que seria uma boa ideia trabalharmos juntos. Sabe, formamos uma boa dupla.
A maneira como ela tentava ser o mais sensual possível me irritava.
- Não tente jogar suas investidas para cima de mim, sabe que estou muito bem comprometido!
- Também sei que sua noiva é muito semelhante a mim... Tentando suprir uma carência, querido?
Fechei os olhos, o apelido que somente Any poderia dirigir a mim.
- Sabe que não Irina, minha história com Any começou muito antes de eu conhecer você, então se fosse para suprir alguma carência, tenha certeza de que era no lugar de Any! - disse a verdade. Ela praticamente me fuzilou.
No fundo eu sabia que havia me envolvido com ela somente para tentar superar os sentimentos que eu tinha por Any.
O que foi completamente errado.
E falho.
Vi ela ficar séria e suas bochechas tomaram uma coloração mais avermelhada.
- Ok, se não vamos baixar a guarda, teremos que conversar assim mesmo! - ela mexeu em sua bolsa, pegando algo ali de dentro.
Me entregou um pendrive e uma pasta com alguns modelos do que ela estava planejando.
Deixei toda e qualquer relação pessoal de lado, agindo profissionalmente e analisando os arquivos do pendrive e as folhas em minha frente.
Ela me explicava detalhadamente cada ponto do projeto. Era algo realmente interessante, mas eu não sabia se seria realmente bom para a minha empresa.
Para a dela obviamente sim. Eu precisava de mais opiniões sobre isso.
Bati os olhos no relógio e vi que já passavam das sete da noite.
Eu precisava descansar antes da viagem.
- Irina, vou enviar isso para a gestão e conversamos direito sobre isso após uma análise mais aprofundada. Eu preciso ir para a casa agora!
- Tudo bem, compreendo! - ela sorriu e arrumou suas coisas - Iria lhe fazer um convite para jantarmos, imagino que esteja com tanta fome quanto eu! - ela arqueou uma sobrancelha e eu praguejei-me mentalmente por ter concordado sem pensar direito antes.
- Na verdade eu preciso ir para minha casa, tenho algumas coisas para arrumar ainda. Irei viajar.
- Oh, sem problemas! Podemos passar em algum lugar comprar algo para jantarmos e eu lhe ajudo a finalizar as malas! - ela sorriu e eu a encarei - Vamos Josh, esqueça o passado! Não é como se eu fosse agarrar você a qualquer momento. Além de tudo, somos bons amigos.
- Não deveríamos!
- Temos um vínculo, isso é impossível apagar ou esquecer! Éramos jovens e tomamos a decisão errada por estarmos no começo da nossa carreira... Creio que se fosse nos tempos de hoje teríamos ido até o final!
- Não Irina, não iríamos! Foi um erro e você sabe que não foi certo tudo o que fizemos!
- Sua noiva não sabe, não é?
- E nunca vai saber se depender de mim! - ela assentiu.
- Prometo que não conto! Agora vamos, estou faminta!
Ela se levantou e saiu da sala, xinguei por suas costas e a segui.
Maldita mulher insistente.
Nunca torci tanto para Any ficar um bom tempo fora de casa.
Sabia que ela iria ver a avó e depois acho que ela iria pegar algumas coisas para a viagem com Taylor.
Espero que isso demore o suficiente até que que Irina vá embora.
Any Gabrielly
Taylor havia me lembrado das coisas que estavam em sua loja e eu precisaria ir buscar. Então pedi ao motorista que fosse direto para lá.
Passamos um tempo conversando e ela disse que me enviaria um roteiro bem planejado para que nós pudéssemos aproveitar Paris quando não estivéssemos em reuniões.
Era por volta de nove horas quando o motorista me deixou no apartamento, sentia meu corpo implorar por um banho relaxante e alguma minutos de sono.
Como iríamos sair de madrugada, acreditava que poderia dormir por um tempo antes de irmos.
Entrei no apartamento e parei ali mesmo, ouvindo risadas altas. A de Josh e de alguém que eu não reconheci.
Uma mulher.
Caminhei até a sala de jantar e avistei Josh e uma mulher com cabelos cacheados, pele morena e muito bonita, sentados conversando e bebendo.
- Oh, você deve ser Any! - ela exclamou assim que me viu.
- Sim, você é? - vi sua feição confusa ao notar que eu não a conhecia.
- Irina Michell, também sou modelo e futuramente serei sócia de seu noivo! - ela sorriu olhando para Josh, que agora estava sério olhando para a taça de vinho em sua frente.
- Imagino que se conheçam há um bom tempo... - ela assuntiu, Josh me olhou assustado.
- Ah sim! Somos bons amigos tem alguns anos!
- Ótimo, vou deixar vocês conversarem então! Com licença! - sai dali antes que me afetasse mais.
Além de estar estranho comigo, ele estava trazendo suas amigas para a casa.
Burra Any, você é uma burra por acreditar que ele podia criar algum sentimento por você.
Entrei no quarto dele e fui em busca de uma roupa confortável para o voo. Já queira deitar com a roupa de sair para evitar atrasos.
- Any! - ouvi a voz dele entrando no quarto. - Caralho!
- O que foi? - Perguntei confusa.
- Te chamei para comer e você ignorou, precisava desse show na frente dela? - revirei os olhos.
- Eu não escutei, desculpe! E não estou com fome agora, fique despreocupado! - voltei a procurar minhas roupas.
Na real eu estava com um pouco de fome sim, mas o orgulho falou mais alto.
- Por que está assim? - ele colocou as mãos na cintura e me olhou sério.
- Eu quem te pergunto! - disse um pouco alterada - Esses dias estavamos super bem naquela jacuzzi, dormindo juntos e o caralho a quatro, agora você mal conversa comigo e me trata como se eu fosse indiferente! Sei que não deveria ter sentimento, mas então não tivesse me deixado acreditar que você também estava sentindo algo!
- Any... - não o deixei falar.
- Sua amiga está te esperando, vou tomar um banho e sua cama vai estar livre caso queira trazer ela para cá! - passei por ele e fui para o outro quarto.
Eu estava esgotada.
Sabia que era demais ter essa reação mas eu não queria mais guardar tudo apenas para mim.
Doeu ter que me despedir de minha avó hoje.
Doeu saber que ele não sente nada por mim.
E dói mais ainda saber que sou apaixonada por ele e talvez eu nunca seja correspondida.
Deixei que a água quente caísse por meu corpo e relaxasse cada um dos meus músculos.
Minha cabeça doía e eu sabia que deveria ter comido alguma coisa, mas eu não daria o braço a torcer.
Eu não tive uma boa impressão dela, meu alerta apitou e eu sabia que não era coisa boa.
Eu nunca erro em relação a isso.
Terminei meu banho e me vesti, precisava descansar.
Ainda conseguia ouvir a voz azeda vindo do andar de baixo e me perguntei se ela realmente não iria passar a noite aqui.
Josh é um idiota.
Filho da puta.
Úrsula que me perdoe!
Deitei na cama e liguei a televisão, deixando o volume um pouco alto, apenas para eu não ter que ouvir risadas nem conversas dos dois.
Estava tão esgotada que acabei adormecendo em pouco tempo, sem escutar mais nada.
Acordei tempo depois com o celular despertando.
Fiquei alguns minutos ainda deitada, respondendo as mensagens de Bia.
Ela estava me desejando uma boa viagem e que era para eu mandar fotos de todos os momentos. Também pediu para fazermos uma chamada de vídeo quando eu tivesse algum tempinho tranquila.
Por fim, me levantei e fui para o banheiro lavar o rosto para espantar o resto de sono que eu ainda tinha.
Saí do quarto em direção a cozinha, eu precisava comer algo.
A porta do quarto de Josh estava fechada e não vi resquícios nenhum da mulher por aqui.
Creio que ela realmente foi embora.
Coloquei a comida que estava na geladeira em um prato e em seguida coloquei no microondas.
- Eu disse que deveria ter comido conosco. - ouvi a voz rouca dele e nem fiz questão de o olhar.
- Não queria comer olhando para a cara dela! - disse apenas e peguei o prato de comida quente.
Me sentei em uma das cadeiras do balcão ali e comi enquanto Josh preparava um café para ele.
- Irina não tem nenhuma relação comigo a não ser a profissional!
- Ótimo, pelo menos não vou ter que ver ela saindo do seu quarto. - respondi grossa. Ele bufou.
- Da pra parar de me responder assim?
- Acho que voltamos para a etapa de onde não deveríamos ter saído, querido! - arqueei uma sobrancelha e voltei minha atenção para a comida.
Estava sem paciência para as mudanças de humor de Josh.
Se ele pensa se que pode me tratar com indiferença e depois vir como se nada tivesse acontecido, ele está muito enganado.
Não vou mais aceitar que ele me trate dessa maneira sem fazer algo da mesma forma.
Terminei de comer e deixei meu prato sobre a pia, peguei uma barrinha de chocolate no armário e subi para o quarto novamente.
Escovei os dentes e peguei as últimas coisas que deveria colocar na mala.
Fiz um último check-up e estava tudo certo.
Fechei minha mala e me sentei no sofá. Senti falta de Júpiter em meu colo agora.
- O motorista já está nos esperando, está pronta? - ele perguntou vestindo o moletom.
- Sim! - me levantei e peguei as malas, saindo do apartamento com Josh me seguindo.
Não queria viajar com ele nesse clima, estávamos bem. Mas mudamos da água pro vinho e agora sinto que essa atmosfera vai ficar assim por algum tempo.
Infelizmente.
Colocamos as malas no carro e eu senti o sono aumentar no instante em que prendi meu cinto.
Iriamos em um dos jatos particulares de Josh, então teríamos alguns minutos até chegar no local de onde sairíamos.
Mas eu aguentaria firme, para dormir somente no voo.
Josh estava fazendo alguma coisa no celular, eu encostei minha cabeça no banco e fiquei olhando para a janela.
A cidade praticamente vazia, apenas alguns lugares abertos, afinal são quase três e meia da manhã.
Chegamos na pista e de longe avistei o jato que nos levaria, um dos seguranças que estava ali comentou que Nicolas já havia partido com sua esposa.
Levaram nossas malas para dentro e então um dos seguranças me ajudou a entrar enquanto Josh resolvia algumas coisas.
Sentei-me em uma das poltronas e já coloquei meu cinto, eu estava decidida a dormir talvez o voo inteiro.
Josh entrou alguns minutos depois mas não se sentou ao meu lado, foi conversar com o piloto e logo após, sentou-se do outro lado, deixando o espaço ao meu lado vago.
Pelo menos eu teria mais espaço para dormir tranquilamente.
Acordei horas mais tarde, faltava algum tempo para chegarmos ainda, mas pelo menos eu havia conseguido descansar.
Josh estava dormindo e eu me levantei, na expectativa de esticar meu corpo e talvez achar alguma coisa para comer.
Não achei nada que me agradasse, então apenas peguei um refrigerante e voltei a me sentar.
Mal podia acreditar que estava prestes a pousar em Paris, a cidade onde eu mais sonhei em vir e conhecer.
Essa cidade sempre foi um sonho para mim. Assisti a vídeos de algumas modelos que vinham para cá e até mesmo alguns tours pela cidade com dicas de restaurantes e pontos turísticos.
Agora, eu estava a pouco tempo de andar em solo parisiense, com um noivo falso.
O fato de Josh ter mudado de repente me deixou incomodada. Eu havia feito algo que o incomodou?
Mas acho que a possibilidade dele ter aberto os olhos e percebido que não deveria fazer tudo o que estávamos fazendo me pareceu mais certo.
Eu também deveria abrir meus olhos.
Mas ao contrário disso, eu sentia falta dos toques dele, de dormir com ele e dos nossos momentos sem discussões ou diferenças.
Ele acordou pouco antes de pousarmos, olhou brevemente para mim e foi para o banheiro antes do piloto nos avisar sobre o pouso.
Assim que pisamos oficialmente em Paris, sorri com meu corpo absorvendo a brisa do local.
Queria aproveitar muito esses dias aqui, independente se tenho um rabugento ao meu lado.
O motorista responsável por nos levar até o hotel já nos esperava, então esperamos que guardassem nossas malas e então saímos pelas ruas da cidade.
Eram por volta das onze da noite aqui, minha cabeça já havia entrando em uma pequena confusão pelo fuso horário.
(Perdoem a autora se isso estiver errado, juro que fiz os cálculos do fuso horário kk)
Não sei se foi muito certo eu ter dormido o voo todo, afinal provavelmente estaria sem sono agora.
Mas eu sentia meu corpo cansado, então seria bom descansar essa noite e talvez tentar me acostumar com o fuso para começar bem o dia amanhã.
Meus olhos brilharam quando passamos pelo Arco do Triunfo. Eu precisava vir aqui para tirar uma foto.
Josh parecia mesmo um velho rabugento ao meu lado, pois não olhava para nada sem ser o celular em sua mão.
Revirei os olhos e voltei a admirar como uma criança a cidade toda.
Paramos em frente a um grande hotel, onde ficaríamos hospedados durante esse tempo.
Eu estava apaixonada por tudo, inclusive por ele.
Desta vez eu não me referi a Josh.
Após toda a burocracia do check-in, conseguimos ir para nosso quarto e eu fiquei ainda mais encantada quando fui até a janela e nossa vista era para a Torre Eiffel.
- Tudo aqui é tão... Inexplicável! - pensei alto.
- Espero que não tenhamos que lidar com os ratos que muitas pessoas dizem que tem por aqui! - Josh disse sem muito humor e eu mais uma vez revirei os olhos.
Um chato.
Deixaram nossas malas no quarto e, por sorte, ele era muito espaçoso, então consegui arrumar um espaço para deixar minhas maquiagens e meus produtos sem ser no banheiro.
Josh tomou um banho e não demorou para ir para a cama, reclamando estar dolorido do vôo.
Eu fiquei em silêncio, respeitando que ele talvez quisesse dormir.
Quando deu por volta de meia noite e meia, senti o cansaço me consumir também.
Então fui para um banho rápido e também me deitei.
Josh abriu os olhos quando me ajeitei ao lado dele e então suspirou, virando-se para o lado, pegando o celular.
- Amanhã pela manhã teremos um tour pela empresa de Sebastian e um almoço com a família dele em seguida. Por favor, não vamos ficar com esse clima estranho.
- Clima que foi você quem estabeleceu. - Rebati e ele deixou o celular de lado, me olhando.
- Qual o seu problema?
- Qual é o seu problema? - dei ênfase na palavra que se referia a ele - Eu juro que não entendo você Josh!
- Não podemos deixar que as coisas saiam do controle! - ele virou de barriga para cima, olhando para o teto. - Estavamos deixando o contrato de lado e nossa emoções estavam dominando.
- Você quem disse para deixarmos o contrato de lado por um tempo... - pontuei.
- E foi errado! Tomou um rumo fora do meu controle.
- Por que você tem que ter tudo no seu controle?
- Tudo tem que ser do meu jeito, apenas.
- E para isso, você não se importa com os sentimentos de ninguém... - sentia uma aperto em meu peito.
- Não era para ter sentimento entre nós Any! - ele dizia tudo sem demonstrar sentimento algum.
- Qual é o seu problema comigo?
- Eu não tenho problema algum com você!
- Parece que tem! - éramos dois covardes, não conseguíamos olhar nos olhos um do outro - Aquela mulher ontem, você estava feliz com ela. Sorrindo e conversando abertamente. Vocês já tiveram algo, é nítido.
- Não quero falar sobre Irina.
- Você percebeu que ainda tem sentimentos por ela... - Algo em minha cabeça pareceu clarear.
Ele não sentia nada por mim, ele ainda sentia algo pela mulher que estava com ele ontem.
- Irina não é nada para mim Any! - disse sério.
- E eu Josh? Eu sou o que para você? - olhei para ele, esperando uma resposta, mas ele não disse nada, sequer me olhou.
Covarde.
- Any...- suspirou.
- Desde a nossa primeira vez eu luto todos os dias pra esquecer um sentimento que floresceu por sua culpa dentro de mim. Desde que eu me entreguei pra você aquela noite, todas as lembranças de tudo o que você me disse passam em minha cabeça toda vez que estou perto de você. A forma que eu achei para evitar isso, foi me afastando, parando de estar frequentemente no mesmo lugar que você. Mas do nada, você me aparece com essa proposta de contrato e revive em mim tudo outra vez. O mesmo sentimento que a Any de dezoito anos tinha floresceu e cresceu mais ainda quando eu pensei que estivéssemos bem, quando você me deixou acreditar que finalmente teríamos algo realmente sério! - confessei.
- Não era para você ter se apaixonado por mim!
- Eu amei você Josh! - disse um pouco mais alterada.
Ele me olhou assustado, sem palavras.
As lágrimas já rolavam em meu rosto.
Eu havia finalmente exposto a intensidade do que eu sentia.
Isso não assustou somente a ele, mas a mim também.
- Any...
- Me desculpe por ter lhe amado! Garanto que isso não acontecerá novamente, Querido! - tentei soar forte. - Vamos seguir até o final com esse contrato e eu não quero mais ter vínculo algum com você. Quando isso tudo acabar, eu vou me afastar e eu não quero mais saber de nada relacionado a você!
Ele não disse nada, seus olhos me encaravam tristes, confusos.
Eu havia dito quase tudo o que estava preso dentro de mim. Seria melhor assim.
Cansada de ficar emergida nas íris azuis, virei-me de costas para ele e fechei os olhos com força.
Eu só quero que isso acabe logo.
Meu subconsciente não me ajudava nem um pouco para isso, afinal eu passei a noite toda tendo sonhos em que eu e Josh estávamos juntos.
Me dei por vencida quando ouvi o alarme dele tocar, já eram oito da manhã, teríamos que tomar nosso café e ir para a empresa logo.
Quando me levantei, Josh já estava pronto. Saiu do banheiro com seu terno de sempre e um ar arrogante.
Preferi não falar nada, mas vi ele olhar para mim da mesma forma que me olhou antes de eu dormir.
Triste e confuso.
Pelo menos ele sabia que estava errado.
Podia ao menos assumir isso.
Me troquei, um vestido midi de saia lápis na cor branca, que tinha uma pequena fenda.
Uma meia calça da cor de minha pele e um salto da cor do vestido.
Devido ao clima não muito quente, peguei um casaco por garantia.
Consegui fazer uma maquiagem e arrumar meu cabelo em tempo recorde, quando saí do banheiro Josh me analisou por inteiro antes de se levantar e ir em direção a porta.
Peguei minha bolsa e o segui, torcendo para não ter esquecido nada.
- Não se esqueça, somos um casal apaixonado diante de todos aqui! No quarto pode dizer o quanto me odeia e o quão idiota eu sou, mas na frente de todos preciso que haja como se me amasse! - acabei rindo ironicamente pelo que ele acabou de dizer.
Quando seus olhos encontraram os meus ele percebeu o que havia feito.
Estúpido.
Entramos no elevador de mãos dadas e assim seguimos até o restaurante do hotel.
Nícolas e sua esposa também estavam ali, os cumprimentamos e nos servimos.
Josh conversava com Nicolas e eu com Aline, sua esposa.
Quando terminamos o café, Nicolas informou que Sebastian já havia enviado um carro para nos buscar e nos esperava em sua empresa.
Saímos do hotel e eu agradeci por ser prevenida, estava realmente frio.
Josh passou seu braço por meu ombro enquanto seguimos até o carro, provavelmente notando que eu estava com frio.
Quando entramos, ele permaneceu com seus dedos entrelaçados nos meus.
Isso demonstrava que ele estava nervoso, ansioso.
E de alguma forma eu tinha que lhe passar segurança.
Por mais que eu quisesse o jogar para fora desse carro, eu compreendia seu nervosismo.
Eu iria o ajudar. E se depender de nós, esse contrato com Sebastian será assinado.
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Notas da autora: nossa viagem começou, preparados para as emoções que esses próximos capítulos trarão???
Lembrando que terão interações todos os dias nos perfis dos personagens no twitter e Instagram, serão muitos spoilers!!!!
Comentem se estiverem gostando e não se esqueçam de votar!
Até logo<3