Doce Salvação

By LLdeAlmeida

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Farah tinha a vida perfeita, boa família, boa aluna, boa amiga. Conforto, festas, colégio caro, pais exemplar... More

Aviso
Prólogo
Apresentações
Dedicatória
Capítulo 1 - Farah
Capítulo 2 - Farah
capítulo 3 - Leon
capítulo 4 - Farah
Capítulo 5 - Farah
capítulo 6 - Leon e Farah
Capítulo 7 - Farah
Capítulo 8 - Farah
Capítulo 10 - Farah
capítulo 11 - Farah
capítulo 12 - Farah e Leon
Capítulo 13 - Farah
Capítulo 14 - Farah e Leon
Capítulo 15 - Farah
Capítulo 16 - Leon
capítulo 17 - Farah
Capítulo 18 - Leon
Capítulo 19 - Farah
Capítulo- 20 - Leon
Capítulo 21 - Farah

Capítulo 9 - Farah

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By LLdeAlmeida

Dezembro

Dia nove é aniversário da Lucy e cairá no sábado.

Nate está planejando uma festa para ela na casa do Adam, já foi convidado metade do campus e ele promete que será uma festa de 21 anos inesquecível.

Depois de repassar alguns detalhes da festa no fim da aula, me despeço e vou em direção aos dormitórios para pegar o material e ir para a casa do Leon.

Ele não apareceu hoje e também não deu notícias, eu só espero que ele não esteja doente, mas mesmo assim antes de ir mando uma mensagem só para avisá-lo que teremos a aula normalmente.

Dois passos depois de subir os últimos degraus sua porta se abre e uma mulata muito bonita sai de dentro do seu apartamento com um sorriso escancarado no rosto.

Ele surge logo em seguida segurando a porta enquanto a garota se despede melosamente passando a não pelo seu tórax despido e molhado.

Depois de alisar cada centímetro do peitoral dele ela se vira e passa pro mim, me olhando de cima a baixo antes de descer.

Sem acreditar, olho para Leon parado ainda segurando a porta com um olhar curioso para mim, entro e jogo as coisas no centro enquanto ele fecha a porta.

A sala está um caos, tem garrafas de cervejas pelo chão e roupas espalhadas pelo sofá e por cima da cadeira.

Acho que identifico algumas peças femininas no meio das dele.

Ele vai até a geladeira de pés no chão e vestindo sua calça de moletom e nada mais.

- Quer um água anjo?

- Não.

- Ok.

- Você faltou a aula hoje? - pergunto.

- Fiquei meio ocupado.

Ele volta e senta no lugar de costume aos pés do sofá enquanto vou para o outro lado.

Mas não consigo me concentrar em nada com todas essas peças de roupas espalhadas pelo cômodo e Leon hoje está fazendo um esforço maior que o normal para ser tremendamente irritante.

- Não consigo me concentrar. - digo fechando o livro.

- Meu corpo te desconcentra, anjo?

- Não é lá grande coisa.

- Então o que é? - sua voz tem um leve tom de provocação que me deixa ainda mais irritada.

- Eu não sei estudar na bagunça. - retruco.

- Ah, me desculpe, não consegui organizar a casa para te receber.

Reviro os olhos e me levanto para ir embora, mas antes de chegar na porta ele segura o meu pulso.

E com apensa um movimento me vira e me encosta contra ela, se colocando perigosamente perto de mim.

A mão que segura meu pulso permanece leve, mas firme e a outra ele põe apoiada na madeira na altura do meu rosto.

- O que foi, Farah, por que você quer fugir de mim?

- Não estou fugindo de você. Não sei estudar na bagunça, é só isso.

Ele inclina seu corpo contra o meu, o suficiente para que seu peito me faça olhar para cima se eu não quiser que meu nariz seja enterrado nele.

Seu olhar escuro encara o meu por uma eternidade até que seu nariz roça de leve a pele na lateral do meu rosto e minhas pernas tremem.

- Tem certeza de que é só isso, anjo?

Meu coração soca violentamente dentro do meu peito e o ar some dos meus pulmões.

Luto contra a necessidade do impulso de abraçar seu pescoço e me perder em seus braços, reviver aquele beijo que ele não se lembra da noite do karaokê e morar num abraço amoroso que a muito tempo eu não tenho.

- O que você está fazendo, Leon? - Minha voz falha.

- Estou te perguntando se está tudo bem com você.

Ele sussurra no meu ouvido me esmagando contra a porta com seu peito duro como uma pedra.

Com o coração agitado e uma bola na garganta me impedindo de engolir, o empurro com a mão que está livre e ele não se opõe, se deixando afastar com um sorriso maldoso nos lábios.

Abro a porta e saio o mais rápido que dê pra andar sem correr.

Já no estacionamento eu o escuto chamar e viro para olha-lo debruçado no parapeito de grade do corredor.

- Prometo que amanhã estará tudo limpo para você. Amiga.

Ele diz, enfatizando a última palavra e me fazendo querer correr para longe.

Eu não sei o que tá acontecendo comigo, não consigo sequer pensar direito se ele estiver por perto, mas eu juro por Deus que se esse for mais um dos seus joguinhos, vou me certificar de que ele sinta a mesma coisa que eu sentir depois do fim.

• Mais um noite atormentada. Agora como se não bastassem as imagens do acidente, me veem também imagens do Leon. Se continuar nesse ritmo estarei numa camisa de forças antes mesmo dos 20. •

No dia seguinte não consigo me concentrar nas aulas e no refeitório estou tão esgotada que não percebo o embate do Scott com o Leon até que Lucy me cutuque com o cotovelo.

Leon está ao meu lado e Scott mais uma vez reclama seu lugar.

Esses dois precisam urgentemente crescer.

- Aqui Scott, fica com o meu lugar. - digo pegando minha bandeja e saindo da mesa.

A deixando no dispenser antes de sair em direção ao corredor.

*** L *** L *** L *** L *** L *** L *** L ***


A semana passou voando. Entre as aulas e o reforço com o Leon eu não tive muito tempo para pensar em mais nada, amanhã é a festa de aniversário da Lucy e eu ainda preciso ir até o centro para comprar um presente.

Scott se ofereceu para ir comigo, mas o dispensei com a desculpa que seria algo feminino e que eu não me sentiria confortável com sua presença.

O clima com o Leon voltou a ser leve ao nível quase normal, ele se empenhou durante todos os dias e teve alguma evolução.

Acho que até o fim do ano letivo já teremos terminado esse trabalho de mentoria.

Depois de deixar as coisas no quarto, e trocar de roupa, pego minha bolsa e casaco e saio.

Mas enquanto caminho distraída pensando no que posso comprar para Lucy esbarro em algum que está na minha frente.

- Nossa, vocês não tem lugar melhor pra conversar que no meio da passagem não?

Falo, e quando levanto a cabeça para olhar quem está na minha frente não fico surpresa.

- Oi, anjo, está tentando matar alguém hoje?

- Você já pensou em conversar no gramado ao invés de no meio da calçada? - falo revirando os olhos.

Ele abre seu sorriso divertido deixando em evidência as covinhas.

A garota que está agora nas suas costas parece irritada com a interrupção.

- Bem, se me dão licença. - digo.

- Ei, espere. Onde você está indo? - ele pergunta.

- Preciso comprar o presente da Lucy.

- Oh! Verdade, o aniversário dela é amanhã, eu vou com você.

- O quê? - pergunto surpresa.

- O quê? - exclama a garota.

- Ainda não comprei nada, vocês são amigas, dividem o quarto, eu vou com você e fazemos compras juntos.

E sem nenhuma cerimônia ele dispensa a garota com um aceno de mão enquanto caminha comigo até o ponto.

- Você sabe que podíamos ir de carro, não é?

- Eu gosto dos ônibus.

- E isso te torna uma garota estranha, anjo, mas a essa altura você já deve saber disso.

O caminho é tranquilo, caminhamos pelo centro e compramos nossos presentes antes de fazermos o percurso de volta.

Escolhi uma pulseira com um pingente em forma de estrela de zircônia. Leon comprou uma cesta de bombons com uma pelúcia e um diário dentro.

Eu confirmei se ele sabia que ela está completando 21, ele me respondeu que toda garota gosta de pelúcias, bombons e escrevem em diários independente da idade, e talvez ele tenha razão.

O dia da festa chega deixando Lucy eufórica.

Nate trouxe um lindo buquê e uma bandeja de café da manhã realmente exagerada para ela aqui no dormitório.

A felicidade e ansiedade faz a minha colega de quarto tagarelar mais do que o normal se é que isso é possível e só depois que Nate sai eu a entrego meu presente fazendo-a gritar e esperneiar eufórica berrando que amou já o colocando no pulso.

Durante todo o dia a movimentação de pessoas a parabenizando e abraçando-a foi imensa enquanto estávamos conversando em um dos banquinhos da calçada.

Ela é realmente muito querida, temos sorte.

No decorrer do dia, Lucy não se aguenta então começamos a nos arrumarmos antes do sol começar a descer no horizonte.

Ela veste um tubinho vermelho brilhante que parece um manto estrelado com seu contorno, e eu opto por um vestido mulet de busto preto e saia com folhas rosé e nos pés, meu ALL star branco.

Enquanto pegamos nossos casacos ela avisa aos garotos que nos veremos lá, pois ela irá andando comigo.

Por todo o caminho ela vem saltitando e me assegurando que disse ao Nate maneirar nas bebidas e que se eu não estivesse confortável falasse com ela, e eu a assegurei que estava tudo bem.

Apesar de termos chegado relativamente cedo a casa já está bem cheia.

Em um canto da sala tem uma montanha de presentes em cima de uma mesa, a música alta preenche todo o ambiente e as pessoas se dividem entre as que estão bebendo e jogando, e as que estão bebendo e dançando, mas aparentemente não tem ninguém que não esteja bebendo.

Pego uma garrafa de água e me encosto no balcão, observando toda a movimentação.

Como durante todo o dia, Lucy está eufórica, ela dança e bebe e se agarra ao Nate que a gira pelo ar.

Adam e Scott estão jogando uma bola de ping pong na mesa para acerta-la nos copos e beberem.

Assim que as meninas começam a se assanhar ainda mais eu sei que o Leon acabou de chegar, e ele está incrivelmente lindo, com os cabelos ainda úmidos e aquele ar fresco de pós banho.

Vestindo um jeans justo claro rasgado, que evidenciam suas pernas musculosas e aquela bunda redonda linda de morrer, com uma camisa preta de gola larga, deixando parte do seu torso e da sua tatuagem a mostra, e arrancando suspiros pelo caminho.

Algumas dançam escandalosamente depois que o vêem, outras até se arriscam a ir até ele tentar a sorte.

Visto daqui, ele parece um pavão desfilando entre uma revoada de galinhas assanhadas.

Mas ele sorri e cumprimenta todos que vão até ele, varrendo com os olhos o ambiente até chegarem aos meus e seu sorriso encantador que deixa as covinhas na sua bochecha em evidência aparece enquanto ele acena vindo até mim ignorando todas as garotas que tentam chamar sua atenção.

Ele se aproxima sem desviar os olhos nem deixar de sorrir, chegando em mim e dando um beijo no meu rosto antes de se debruçar sobre o balcão para pegar uma cerveja e se encostar ali ao meu lado.

- Uau anjo, você está um arraso.

- Obrigada, você também não está nada mal. - respondo o empurrando de leve com o ombro.

Nós conversamos enquanto ele bebe algumas cervejas e eu permaneço com a minha água, depois ele me convida para dançar.

Dançamos juntos algumas músicas e mesmo sem ter bebido eu me sinto feliz.

Leon está leve e confortável, divertido ele me gira e rodopia pelo meio da sala me fazendo soltar algumas risadas.

É muito fácil lidar com o temperamento dele na verdade, e eu me sinto incrivelmente a vontade.

Quando a música muda para uma batida mais serena Scott se aproxima e me puxa com uma força incomum para perto de si.

- Essa é a música para se dançar com a minha garota. - ele diz ignorando Leon.

Lanço a ele um olhar de desculpas e ele revira os olhos balançando a cabeça de um lado para o outro enquanto se retira.

Assim que a música chega ao fim e troca Scott ainda permanece me segurando próximo a si, e tenho que afasta-lo com um certo esforço.

- Estou cansada, preciso de uma pausa. - digo.

Ele da de ombros e continua lá no meio da multidão, o cheiro do álcool nele é tanto que eu poderia ter ficado embriagada apensa com essa música.

Vou até o balcão onde Leon me estende uma garrafa de água depois de abri-la para mim, bebo e permaneço ali vendo a festa acontecer enquanto ele vai até o grupo onde seu time está mais adiante.

Juro que eu caminho entre as pessoas e até tento socializo o máximo que consigo mas a medida que a noite vai se estendendo, vai ficando cada vez mais difícil.

Não sei que horas eram quando a música começou a parecer ainda mais alta e as pessoas cada vez mais bêbadas, Lucy se afastou já a algum tempo com o Nate para os fundos da casa, o calor começa a incomodar e a medida que a confusão aumenta, me sinto cada vez mais sufocada.

Meu coração se agita e começo a sentir o nó crescer e subir pela minha garganta me forçando a tomar água para tentar conseguir respirar.

Sem sucesso.

Em algum momento, Scott vem até mim aos tropeços e me beija desengonçado, eu o afasto mas ele continua cambaleando e tropeçando para cima de mim.

De repente um jogo de luzes coloridas começa a voar pela sala e o barulho das pessoas dançando aumenta na mesma proporção que o meu peito sufoca, flashes passam pela minha cabeça e consigo empurrar Scott para longe, correndo para a porta sentindo que estou prestes a vomitar.

Passo pela porta sem realmente enxergar nada na minha frente e corro, eu corro o máximo que consigo até estar longe o suficiente para que o barulho da festa seja apenas um ruído junto ao dos meus ouvidos, só aí consigo puxar o ar e respirar novamente.

Minhas mãos estão tremendo e meu coração esmagado dentro do meu peito, as lágrimas descem como cachoeira pelo meu rosto e meu corpo soluça me chacoalhando para frente quando duas mãos fortes e quentes seguram meus ombros e me giram para si me apertando contra seu peito assim que seus olhos me veem.

- Eii, anjo, o que houve?

Seu tom doce, o calor do seu abraço e seu coração acelerado só servem agora para me fazer fraquejar e as lágrimas ganharem ainda mais força.

Meus joelhos cedem, mas ele me mantém firme de pé, apertada contra seu peito.

- Shiii, está tudo bem, eu estou aqui com você. - repete incansavelmente enquanto alisa as minhas costas. - Só respira, Farah. Por favor, respira.

Apenas quando os soluços diminuem ele afrouxa um pouco o seus braços, não mais que o necessário para olhar para o meu rosto enquanto seca algumas lágrimas que ainda teimam em cair.

- Vem cá, veste isso antes que você congele.

Só então percebo que ele está com meu casaco que segura aberto enquanto visto e o fecho.

- Obrigada. - sibilo.

Permaneço parada, com lágrimas ainda escorrendo pelo meu rosto, tentando acalmar tudo que está acontecendo dentro de mim e sem saber exatamente o que fazer.

Sem me perguntar nem esperar que eu explique ele passa seu braço pelo meu ombro e começa a caminhar em silêncio me lavando com ele em direção a área dos alojamentos.

Aproveito e encosto minha cabeça em seu ombro deixando que as lágrimas façam seu percurso pelo tempo necessário.

Por todo o caminho sua mão acariciou o meu braço e quando as lágrimas ganharam nova força, seu braço me apertou um pouco mais contra si.

Fizemos todo o trajeto em silêncio, até chegarmos na porta do meu quarto, onde ele ainda não me largou mesmo quando abro a porta e ele entra comigo, só aí tirando sua mão do meu ombro e fechando a porta atrás de nós.

Retiro o casaco o jogando na armação aos pés da minha cama depois me sento levando as mãos ao rosto.

Sinto quando Leon se aproxima lentamente, já sem seu casaco e se agacha na minha frente, segurando delicadamente meus pulsos ele afasta minhas mãos do rosto e limpa-o com o polegar. O fato dele estar tão disponível e disposto aqui na minha frente suavemente me acalma.

- Você quer me contar o que te deixou assim? Foi o babaca do Madison? Eu o vi cambaleando pra cima de você, mas antes que eu tivesse a chance de chegar perto e joga-lo pra longe você saiu correndo da festa. - fala culpado.

- Não. - digo entre um suspiro - Scott só está bêbado, mas não foi esse o motivo de eu ter saído da festa.

Ele me olha compreensivo enquanto aguarda que eu continue.

Desde que saí de casa para vir pra cá, não falo sobre o que aconteceu com ninguém, mas agora, sinceramente acho que isso não está ajudando muito.

Eu preciso falar com alguém antes que eu enlouqueça, então eu começo a contar a ele sobre o dia da minha formatura e como nós festejávamos loucamente até o momento do acidente e então como sinto que a minha vida também se foi naquele momento.

Quando termino, espero que ele me diga que isso é bobagem ou as coisas que todos disseram depois do que aconteceu do tipo "você precisa viver..." ou "era o que ele gostaria que você fizesse..." mas ele não o faz, ao invés disso ele seca minhas lágrimas com seus polegares enquanto se ergue do chão e beija o meu rosto, exatamente pelo menos caminho que as lágrimas fizeram.

Depois de beijar delicadamente o segundo olho, ele se inclina sobre mim, me fazendo deitar e se joga por cima, caindo deitado ao meu lado, me puxa para seu peito e me mantém ali, segura, no silencio da sua paz.

- Então é por isso que você não anda de carro, nem bebe? - ele reflete.

Aceno com a cabeça enquanto me aninho em seu colo, que é exatamente como me lembro, e recebo o calor do seu corpo como um abraço na minha alma, fechando meus olhos me sentindo grata pela calma que pela primeira vez me embala.

"Aaah anjo, você não precisa carregar isso sozinha, não mais..." é o sussurro que ouço antes de cair na escuridão.

Abro os olhos que ainda estão pesados e me estico percebendo então o corpo ao meu lado.

Seu rosto está levemente inclinado, sua mão direita descansa sobre seu abdômen, seu outro braço está por baixo do meu pescoço, mas ele dorme tranquilamente sobre as cobertas que me envolvem.

Suspiro e olho pela janela, o dia já está bem claro lá fora e procirando em volta vejo o relógio de cima da escrivaninha marcando 14hs.

Preciso piscar algumas vezes para ter certeza que estou vendo direito e ainda não convencida procuro meu celular confirmando o horário.

São de fato 14hs, o que significa que eu dormir por mais de 10 horas seguidas.

Olho novamente para Leon adormecido ao meu lado, tão calmo e sereno e percebo que essa foi a primeira noite que dormi de verdade desde o acidente, a primeira noite que os pesadelos não me atormentaram, a primeira noite em um sono tranquilo.

As batidas da porta quase me fazem cair da cama, eu arrumo minha roupa e cambaleio desajeitada até ela para abri-la antes de seja lá quem for derrube-a.

Do outro lado Scott está bem apresentável, com cheiro de banho e cabelos bem penteados, mas com uma cara de cansaço e olheiras que entregam sua noite mal dormida.

Ele olha para mim e nota as mesmas roupas de ontem, então ele suspira.

- Oi... - fala envergonhado.

- Oi.

- Nós podemos conversar?

- Agora não é uma boa hora, Scott.

Ele olha para dentro por cima do meu ombro e vê a cama da Lucy feita e vazia, depois se volta pra mim.

- Bela, sei que ontem fiz besteira... Eu bebi... E eu não sei o que estava fazendo... Eu...

- Você agiu como um idiota, Scott, mas depois a gente fala sobre ontem. - digo tentando acabar logo com esse papo.

- Como você está? - pergunta meio culpado.

- Melhor do que estava quando você caia bêbado por cima dela, agora vocês podem, por favor, fazer silêncio? Minha cabeça vai explodir.

Como um raio, Scott empurra a porta e entra no quarto esbarrando em mim pelo caminho quase me jogando no chão.

Ele olha da minha cama e Leon deitado para mim diversas vezes, vejo sua mandíbula contrair e seu maxilar serrar.

- Então, você me deixou lá na festa para vir dormir com ele?

- Não seja estupido, Scott. - falo aborrecida.

- Aah, anjo, aí você já está pedindo um esforço absurdo para ele, creio que isso não seja possível. - Leon rebate.

Posso ver o rosto sempre tão tranquilo do Scott ser tomado por um tom avermelhado enquanto ele se vira diretamente pra mim.

- Você foi pra cama, com, ele? Jura, Farah? Mesmo depois de tudo que eu te falei, ainda assim você caiu nas garras dele? E pra quê? Pra ser mais uma na sua lista incontável de calouras? Eu realmente achei que você fosse inteligente.

- Você não pode estar falando sério. - digo incrédula - Leon me acompanhou até aqui, quando você estava bêbado demais para se importar. Nós conversamos e caímos no sono. Foi só isso, agora por favor, saia do meu quarto.

- Eu sabia que você queria a todo custo levá-la pra cama, mas esperei que ela não caísse nesse seu joguinho.

Scott fala olhando diretamente para Leon que estava calçando seu sapato.

Ele suspira pesadamente e se levanta, dando passos firmes até estar cara a cara um com o outro.

Leon é alguns centímetros mais alto que Scott e incontestavelmente mais forte o que o faz parecer um leão diante de um coelho acuado.

- Parece que você é mais burro do que parece e não consegue compreender o que ela diz, então ouça bem Madison, porque eu só falarei isso uma vez. Se você continuar falando com ela, como você costumava falar com a Penny, é, ninguém além de você esqueceu seu vexame do ano passado, eu mesmo me encarregarei de arrancar a sua língua e a enfiar onde o sol não bate para que você não seja mais capaz de pronunciar um A, e não tenha dúvidas de que viver o resto da vida sem ouvir o som desagradável da sua voz, será um eterno alívio para os meus ouvidos.

Vejo Scott engolir com dificuldade, mas ele permanece no mesmo lugar encarando Leon que vira para mim assim que termina de dar seu recado ao colega.

- Você precisa de ajuda para tirá-lo daqui, anjo? - me pergunta passando seu polegar na lateral do meu rosto.

- Não, tenho certeza que Scott vai te acompanhar até lá fora.

- Mas Farah, precisamos conversar.

- Podemos fazer isso lá embaixo, depois que eu trocar de roupa, por favor. - falo indicando a porta para os dois.

Eles se olham esperando que o outro passe primeiro enquanto bato o pé impaciente.

- Depois de você, Madison. - Leon fala indicando a porta.

Scott sai irritado seguido por ele que me dá um aceno de cabeça antes de passar pela porta a fechando.

Suspiro irritada e me jogo de volta na cama que ainda tem o calor dele e antes que eu perceba estou com o rosto enterrado no travesseiro com o seu perfume.

Eu só queria que isso não tivesse acabado.

Depois de aproveitar mais um tempo, tomo um banho e me troco antes de finalmente descer.

Quando estava no banho recebi uma mensagem do Leon, falando que qualquer problema o ligue.

Voltando para o quarto, guardo meu celular no bolso da calça e desço para encontra o Scott, sentado no banquinho em frente ao estacionamento.

- O que quer conversar? - digo impaciente.

- Você pode imaginar como eu me sinto, Farah?

- Não. Nem você a mim, Scott e é por isso que existe a confiança.

Ele suspira.

- Ouça, Farah, nós estamos juntos, eu sei que não fiz um pedido oficial ou algo assim porque realmente achei que isso não era preciso, que você não era ligada nessas coisas, mas se você quiser pedido oficial, com anel, de joelhos e na frente de todos, eu farei. Só que... É extremamente cansativo ficar correndo atrás de você só pra tentar evitar que o Leon te leve para a cama.

- O Leon e eu somos apenas amigos, por que todo mundo insiste em insinuar o contrário?

- Porque todos vêem como ele te cerca, você e uma garota boa e não consegue enxergar que ele só está fazendo joguinhos com você pra te fazer dormir com ele.

- Eu não vou dormir com ele, Scott.

- No final todas dormem.

- Eu não sou todas.

Ele parece cada vez mais impaciente e eu irritada com a sua atitude.

- Vocês dormiram juntos essa noite, na sua cama, depois de uma festa. Você quer continuar insistindo que não aconteceu nada?

- Porque não aconteceu nada.

- Farah, não somos crianças, por favor.

Me levanto irritada e fico de pé na frente dele.

- Não aconteceu nada entre o Leon e eu Scott, não aconteceu nada porque eu sou virgem.

Falo irritada e saio em direção ao dormitório novamente, porém antes de chegar aos degraus da entrada Scott me alcança, me segurando pelo braço.

- Espera. - fala ofegante.

Me viro e cruzo os braços.

- Você está falando sério? - pergunta.

Quando não respondo ele segura meu rosto entre suas mãos e me beija.

Me beija de uma forma diferente do que tinha beijado até agora, é um beijo quase superficial.

- Você não imagina como você é especial para mim, Bela. Por favor, vamos esquecer tudo e tentar novamente. Por favor...

Suspiro cansada e confirmo com a cabeça, ele abre um sorriso e me beija novamente.

- Eu vou te fazer a garota mais feliz desse campus, não, da cidade, do município, do país, Farah. Você não vai se arrepender, eu prometo. Serei o melhor namorado do mundo.

Não tenho tempo de responder e agradeço internamente por Lucy ter se aproximado de nós e nos abraçar sorrindo. Ela ainda usa as roupas da festa de ontem, mas tem um sorriso que vai de um lado a outro do rosto.

- Ei, meus pombinhos, não me deixem muito melosa. - ela diz.

Nate se aproxima com um sorriso encantado nos lábios e passo o braço pela cintura dela a dando um beijo no pescoço que a faz soltar gritinhos histéricos.

Ela estende a mão na nossa direção e chacoalha os dedos em frente ao meu rosto para que eu veja o delicado anel que brilha no seu dedo anelar.

Sgarro sua mão e o olho mais de perto vibrando com ela enquanto ela continua com seus gritinhos entre os "eu sei" que ela responde a caba elogio que faço.

Estou muito feliz pela minha amiga, Nate é um garoto incrível e ninguém tem dúvidas do quanto ele a ama, mesmo depois de todo esse tempo que ela o manteve em banho-Maria.

Depois de cumprimentar os dois pela novidade, pedimos pizza e comemos no gramado enquanto conversamos e ela conta, incansáveis vezes como o pedido foi feito.

Já está escuro a algum tempo quando Scott passa o braço pelo meu ombro e me beija de forma exagerada, depois ele me olha sorridente e fala olhando para o Nate estendendo a minha mão.

- Logo mais seremos nós. Pode apostar. - diz piscando pra o amigo.

Nesse momento Lucy me olha curiosa e eu dou de ombros, depois desvio o olhar e vejo Leon mais adiante.

Ele está seguindo na direção oposta com os ombros caídos como se seu corpo estivesse pesado.

Quando alguém o para no meio do caminho ele se vira para falar com a pessoa e seus olhos vêem até mim.

Mas não estão brilhantes e vivos como de costume, e eu não gosto da névoa que vejo neles.

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