"Pensei: Nem os céus podem me ajudar agora
Nada dura para sempre
Mas isso vai acabar comigo" - Wildest Dreams (Taylor Swift)
4 anos depois...
Felicite
Formigine, Itália
Qual foi a última vez que você acreditou em contos de fadas?
Provavelmente quando ainda era criança e os filmes da Disney ainda poderiam ser os seus favoritos. Uma época que você tinha aquela fantasia sobre como seria a vida com um príncipe encantado, um vestido branco, um cavalo alado que te levaria para um castelo deslumbrante no alto da colina.
Uma época que você se deitava na cama à noite e fechava os olhos e acreditava fielmente naquilo. Como se fosse uma verdade única e absoluta.
Mas, eventualmente, você cresce.
Um dia você abriria os olhos e perceberia que o conto de fadas simplesmente desapareceu, e a vida real...
Ela era bem diferente de tudo aquilo que você um dia imaginou.
Era exatamente quando deixávamos de acreditar nos contos de fadas que as mudanças da vida começavam. E ou nós nos adaptávamos a essas mudanças, por mais difíceis que elas fossem, ou ficaríamos para trás.
Mas, aqui vai uma verdade: às vezes, quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam as mesmas. Porque de alguma forma a nossa essência ainda permanecia intocada, mesmo que aquela garotinha que acreditava em contos de fadas não existisse mais.
Se a Felicite de anos atrás, a que acreditava em finais felizes e contos de fadas, pudesse ver a Felicite de hoje, o que ela acharia?
Provavelmente, ela odiaria o que eu me transformara.
Uma pessoa de poucas palavras, poucos sentimentos, como se fosse completamente oca por dentro...
Pelo menos, era isso que as pessoas ao meu redor achavam e era o que eu gostaria que elas achassem.
Era mais fácil não ter que lidar com os sentimentos daquela maneira...
Porque os sentimentos poderiam ser coisas muito perigosas: eles poderiam nos queimar como fogo, e às vezes, nos consumir completamente.
E eu aprendera isso da maneira mais profunda e dolorosa.
— Não. mil vezes não. — Falei incisiva.
— Felicite, pensa melhor. — Disse Piero Ferrari II, o autor daquela proposta absurda.
O neto mais novo dos Ferrari, que crescera comigo pela ligação entre as nossas famílias e o papel importante que o meu avô exercia na empresa da sua família, sabia quais eram as minhas condições para permanecer naquele trabalho. A proposta dele era completamente contra qualquer uma delas.
— Eu já pensei e... Não. — Disse irredutível. — Pepe, você sabe das minhas condições.
— E você sabe o quanto essas condições te limitam. — Retrucou ele. — O que você faz na Ferrari poderia ser muito melhor explorado se você estivesse de fato lá.
— Eu não vejo nenhuma vantagem nisso. — Cruzei os braços, recebendo um olhar inquisidor do mais novo. — O que? É verdade. O que eu faria lá que eu não posso fazer aqui?
— Estar à frente do projeto do carro deste ano, é uma boa resposta. — Disse Pepe. — Mostrar o quão boa você é naquilo que faz também é uma ótima opção... Ah, e mostrar o quanto os genes de Miguel Vezzini passaram para você.
Revirei os olhos.
Pepe sabia que era golpe baixo usar o nome do meu avô para tentar me convencer daquilo, principalmente porque Miguel Vezzini não estava mais ali há cerca de três anos para se defender.
Mas se o meu avô estivesse, eu tinha certeza que ele teria puxado a orelha do Ferrari mais novo apenas por usar aquilo como um tipo de chantagem emocional.
— Por que vocês precisariam de mim agora? A temporada já começou, nós tivemos três resultados positivos até agora. — Lembrei-o.
Era um fato, a Ferrari, naquele ano, era a grande favorita para o título mundial.
Com a dobradinha no Bahrein, um segundo lugar na Arábia Saudita e mais uma vitória na Austrália, a escuderia se mostrava o time a ser batido naquele ano.
— Justamente pela falta do nosso quarto resultado positivo no ano em Imola, no último final de semana. — Expôs Pepe. — Tem algo errado com o projeto deste ano, e o meu avô tem a apreensão de que algo possa acontecer se não descobrirmos o que é há tempo.
— Por isso vocês precisam de mim no paddock? — Constatei e fazia sentido.
— Você é um dos nomes do projeto, e por mais que tenhamos Enrico Cardile à frente, ele não pode estar presente em todas as etapas. — Explicou. — Estamos sem muitas opções eficientes, e você conhece o projeto como a palma da sua mão, Felicite.
— Isso não significa que eu seja capaz de arrumar alguma coisa. — Impliquei.
— Meu avô confia em você, eu também e...
— O meu avô também confiaria. — O interrompi, fazendo-o assentir.
— Não se sinta pressionada. — Disse Pepe. — Mas, você seria um grande acréscimo para o time... — Abri a boca para responder, mas ele acrescentou: — Veja Miami como um teste. Se você não se adaptar, tudo bem, não precisará ir a mais nenhuma corrida. Mas, se você se adaptar bem e sentir que pode fazer parte da sua rotina, vamos ficar felizes em ter Felicite Vezzini conosco.
— Tudo bem. — Concordei. — Eu posso responder até amanhã? — Perguntei, pegando a minha bolsa.
Era melhor dar aquela conversa por encerrada, antes que Pepe viesse com outra ideia absurda.
— Até amanhã na hora do almoço. — Pediu Pepe. — É o tempo que eu preciso para avisar Silvia que você irá conosco.
— Você estará em todas as etapas? — Quis ter certeza.
— Meu avô acha que está na hora de eu aprender mais sobre outras áreas da empresa da família, como Enzo fez nos últimos anos, e... — Ele abriu um sorriso amplo ao acrescentar: — Eu não deixaria a minha melhor amiga sozinha em uma ambiente onde todos estão curiosos para saber mais sobre você... Não é sempre que temos uma Vezzini legítima no time, sabia?
— E é por isso que eu prefiro trabalhar longe de todos os holofotes, sabia? — Devolvi não apenas a fala, mas o sorriso também.
Piero Ferrari II não era apenas o segundo neto dos Ferrari, um dos herdeiros de tudo o que significava a equipe mais histórica da Fórmula 1, ele era o meu melhor amigo desde que eu me entendia por gente.
Não existia uma lembrança da minha infância que Pepe não estivesse, isso se dava justamente por meu avô e seu avô, Piero, serem melhores amigos desde que Miguel Vezzini começou a trabalhar na Ferrari muitos anos atrás.
Miguel era o "Garoto dos Olhos" de Enzo Ferrari e não demorou muito para fazer o seu nome dentro da companhia. Meu avô se tornou o projetista lendário dos anos de ouro da Ferrari e carregar esse legado era...
Um peso enorme.
Principalmente, quando todos diziam que eu, sua única neta, tinha herdado o seu talento para as projeções, números e detalhes.
Eu ainda não acreditava muito nessa última parte.
Sempre tentava fazer o meu trabalho da forma mais silenciosa possível. Poucas pessoas sabiam que uma Vezzini legítima trabalhava na Ferrari atualmente. E menos pessoas ainda sabiam que projeto do carro daquele ano, o carro que poderia nos dar o campeonato, tinha minhas mãos nele.
Era melhor daquela maneira.
Quanto menos pessoas soubessem, melhor seria e menos olhares curiosos eu receberia. Além dos cochichos das regalias que achavam que eu tinha dentro da Ferrari, só que ninguém sabia que eu tinha traçado o meu caminho sozinha dentro da companhia, e fazia isso sozinha há cerca de três anos.
Pois, era o tempo que eu me via completamente sozinha.
Então, o trabalho parecia ser uma ótima forma de concentrar todos os meus pensamentos e a minha disposição...
Além de me trancar em minha sala na Ferrari ou na garagem de meu avô, era melhor do que ficar sozinha na casa enorme da minha família. O local era tão grande que os passos ecoavam pelo espaço, e era apenas um lembrete do quão sozinha eu poderia me sentir no mundo.
Eu ainda tinha os Ferrari, e era grata por tudo o que eles fizeram e ainda faziam por mim, principalmente pelo Pepe. Mas nem sempre Pepe estava disponível, ele tinha a vida dele e as obrigações dele.
Já considerava uma vantagem ele estar presente naquele projeto na Ferrari... Se eu aceitasse, claro.
— O mundo precisa conhecer Felicite Vezzini. — Disse o meu melhor amigo. — E se não for o mundo inteiro, que seja aquele que verá você trazer o campeonato da Ferrari este ano, Fizzy.
Sacudi a cabeça, o abraçando em despida.
— Se nós ganharmos o campeonato, ninguém irá sonhar que eu fiz parte disso. — Pontuei, sentindo seus braços retribuírem o meu gesto, em um abraço reconfortante e fraternal, que apenas Pepe Ferrari conseguia dar.
— É o que veremos, Vezzini. — Desafiou ele.
— Você é muito confiante, pirralho. — Baguncei os seus cabelos, recebendo um 'ei' inconformado. — E nem adianta retrucar, eu ainda sou dois meses mais velha que você. Tenho o direito de te chamar de pirralho.
Pepe era aquele tipo de peça rara, boa demais para aquele mundo, porque ele sempre tentava ver as melhores facetas em todas as situações. E eu era grata por ter alguém assim em minha vida, justamente por não conseguir mais enxergar as coisas daquela maneira.
Com Pepe, ainda era fácil me lembrar que a vida não era tão cinzenta como parecia há tantos anos.
Foi assim, em uma noite há um pouco mais de quatro anos, quando eu perdi algo que nem sabia que tinha. Meses depois, também tive esse mesmo sentimento quando o meu coração quebrou em pequenos caquinhos... Tão pequenos que foi impossível colar todos, ainda existiam partes despedaçadas que nunca seriam regeneradas.
A terceira e última vez que eu senti algo daquela maneira novamente foi em uma noite também, há três anos, quando eu perdi a pessoa mais importante da minha vida. Quando o meu avô deixou o plano material depois de muito lutar... Eu não me lembrava que aquele vazio era tão doloroso.
A pior parte era que o vazio nunca mais foi preenchido desde então, e parecia que havia uma parte faltando bem do lado esquerdo do meu peito.
Respirei fundo, adentrando a minha casa que ficava a apenas algumas propriedades de onde Pepe morava, me preparando para encontrar o local mais silencioso possível e mais gelado que o lado de fora. Aquela sensação era justamente pelo lugar não parecer mais como um lar.
Senti aquela sensação sufocante acometer os meus pulmões, e eu sabia que aquela seria uma noite que eu não conseguiria ficar ali.
Era simplesmente demais para mim.
Virei-me em meus calcanhares, pegando as chaves do local que eu sabia que poderia ser um pouco mais reconfortante, ao fechar a porta da casa principal em minhas costas.
Desci as escadas da varanda, passando os braços ao redor do meu corpo ao sentir uma brisa mais gelada soprar, caminhando para a parte de trás da casa. Meus olhos focaram na instalação menor vermelha mais à frente.
Apressei os meus passos, girando a chave na fechadura e puxando a porta de metal para cima.
Assim que a porta abaixou, eu senti o peso em meu peito amenizar e a sensação sufocante desaparecer aos poucos.
Passei os olhos ao redor da garagem do meu avô, aquele lugar era onde Miguel Vezzini mais ficava em casa. E havia se tornado o meu favorito desde que ele partira. Parecia mais fácil encarar o fato que ele não voltaria ou a realidade agridoce quando eu estava naquele lugar.
Ali eu poderia ser a verdadeira Felicite Grace Vezzini.
A Felicite que não precisava ser perfeita o tempo inteiro.
A Felicite que não era oca por dentro.
A Felicite que sofrera perdas irreparáveis.
Suspirei, apoiando a minha bolsa em cima da mesa grande, presa com cavaletes no centro do local, que estava repleta de papéis e documentos sobre o projeto daquele ano.
Eu sabia que aquele seria um dia complicado para dormir, assim como todos os outros.
Decidi que o melhor era tentar analisar os cálculos do carro daquela temporada da escuderia e tentar pegar qualquer erro que tivesse passado pelo time, quando estávamos projetando-o, tantos meses depois.
O que Pepe dissera sobre haver uma falha, em algo que deveria ser perfeito, acendera um sinal de alerta em minha cabeça. E mesmo que os carros não tivessem apresentado qualquer tipo de problemas até então, se realmente houvesse um problema era apenas questão de tempo para tudo sair dos trilhos na Ferrari.
O que seria frustrante e um balde de água frio no que deveria ser a nossa temporada perfeita depois de tantos anos sofrendo com um carro que não era tão bom e que não tinha todo o desempenho para ganhar um campeonato.
O toque do meu celular ecoou pela garagem, antes que eu pudesse me debruçar sobre as minhas anotações.
— Em qual do mundo está vindo essa ligação de Tessa Vezzini? — Atendi ao constatar um número bem diferente na tela do meu celular e apenas havia uma pessoa que me ligava daquela maneira.
— Em algum lugar entre a Somália e o Quênia. — Respondeu minha mãe.
A ligação era ruim e continha um chiado, isso se dava pela transmissão via rádio que a minha mãe usava quando tinha um sinal nos lugares que a missão humanitária da equipe de médicos dela estava. Theresa Vezzini era cirurgiã pediátrica e eu poderia dizer que era uma das melhores no ramo. Foi uma das vocações que levaram ela a ser médica humanitária.
Como consequência, minha mãe passava muito tempo longe de casa, mas eu já estava acostumada. Nós vivíamos assim desde que eu tinha 10 anos. Antes, eu tinha o meu avô ao meu lado sempre que precisasse. Agora, eu já era independente o suficiente para me virar bem sozinha.
Vinha sendo apenas eu há cerca de três anos e com o passar do tempo, a solidão se tornava... Bem-vinda.
— Por que não me surpreende você não saber exatamente onde você está? — Perguntei, achando graça da falta de norteamento de minha mãe.
— Porque que eu raramente sei. — Disse ela no mesmo tom de voz que eu. — Mas, nós finalmente conseguimos um pouco de sinal, e eu decidi usar dessa raridade para checar como você está.
— Dona Theresa. — Disse de um jeito que eu sabia que ela não gostava. Se a minha mãe estivesse na minha frente, ela teria revirado os olhos. — Nem faz tanto tempo assim desde a última vez que nos falamos. — Acrescentei, tentando recordar de nossa última conversa.
— Na verdade, já faz um pouco mais de um mês. — Citou minha mãe, fazendo-me franzir a testa.
— Devo ficar muito assustada por o tempo ter passado tão rápido assim ou por não ter percebido ele passar?
— Isso apenas quer dizer uma coisa. — Minha mãe fez uma pausa. — Que você está trabalhando demais.
— Isso é apenas um fato. — Disse sem hesitar. — Mas, é o motivo. Eu sempre trabalhei muito, isso não mudou no último mês.
— Então, você está distraída. — Apontou. — Algum motivo de tanta distração, Fizzy? — Instigou, fazendo-me revirar os olhos.
— Mesmo que tivesse, eu não te contaria, dona Tessa.
— Injustiça demais com a sua mãe, Felicite Grace. — Ri da sua inconformidade.
— Eu estou guardando as informações para quando você estiver na Itália. — Expus. — Quem sabe a sua curiosidade não te faz voltar mais rápido.
— Até parece que você leu a minha mente, filha...
— Não fale. — A interrompi. Minha mãe soltou um som sem compreender. — A noite está bonita demais em Formigine hoje, se você dizer que vai voltar para Itália em breve é capaz de chover... Ou melhor, nevar.
— Então, espere pela mudança do clima, pois eu estou resolvendo tudo aqui para ir à Itália no seu aniversário.
— Ainda faltam muitos meses para o meu aniversário, mãe. — Lembrei-a. — Você não precisava mudar toda a sua vida aí e da sua equipe para vir aqui para isso. Meu aniversário é apenas uma data normal. — Dei de ombros como se não fosse nada. Para mim, realmente não era.
— Sem discussões sobre esse assunto, Fizzy. Eu vou estar na Itália no seu aniversário, você querendo ou não. — Intimou minha mãe, fazendo-me sacudir a cabeça porque se havia uma coisa que nós duas tínhamos em comum era a teimosia dos Vezzini.
— Tudo bem. — Cedi. — Mas, tente me avisar antes para eu estar em Formigine.
— Existe a chance de você não estar? — Minha mãe quis saber.
— Você sabe que as coisas aqui na Ferrari mudam rápido.
— E você sabe que o seu aniversário é em agosto. Até onde eu me lembro dos anos que o seu avô trabalhava aí, agosto é o mês de férias da sua equipe.
— Da equipe que trabalha no paddock, sim... O que pode ser importante você me avisar. — Lembrei da proposta do Pepe. — Talvez eu esteja disponível. Tudo irá depender de uma decisão que eu preciso tomar.
— Que decisão é essa?
Suspirei. Não era o ideal falar aquilo com a minha mãe, porque ela diria para eu aceitar. Mas Tessa não sabia dos meus motivos para querer recusar, apenas Pepe sabia.
— Pepe me disse hoje que a equipe estava querendo que eu fosse nas corridas com o time principal, por causa do projeto do carro. — Perdi a minha batalha interna comigo mesma. — Eu estaria à frente do projeto enquanto estivesse lá, por não ter mais ninguém para fazê-lo.
— Filha, isso é incrível! — Minha mãe teve exatamente a reação que eu esperava. Soltei apenas um ruído, que não queria dizer muita coisa. — A sua reação não pareceu boa.
— É só que... Eu não sei. — Me interrompi. — Eu não acho que eu seja a pessoa certa para isso, eu nem sou tão boa assim, mãe. — Decidi jogar o meu outro receio sobre ir para a equipe do paddock. Outro que era tão pertinente quanto a hesitação principal.
— Felicite Grace Vezzini, retire agora o que você disse. — Apontou. — A filha que eu conheço jamais acharia que isso é verdade.
"Só que a filha que você conhece já não é mais a mesma, e você saberia disso se tivesse voltado para casa nos últimos três anos", pensei, mas não disse aquilo em voz alta. Minha mãe não precisava se sentir mais culpada por todo o tempo que passara e ainda passava longe de casa...
E eu estava bem com aquilo. Eu estava bem sozinha.
— Eu sei, é só uma insegurança. — Dei de ombros. — Eu não sei se quero aceitar, para ser sincera.
— O que o seu avô diria se estivesse aqui?
— Para eu arriscar, mesmo que seja uma única vez e se não der certo, ou se eu não me adaptar...
— Então, você fala para o Pepe e qualquer pessoa importante dentro da Ferrari que essa parte do trabalho não é para você. — Completou.
Quando minha mãe falava daquela maneira parecia muito algo que meu avô me diria. Se eu fechasse os olhos, poderia escutá-lo me dizer exatamente aquelas palavras.
Meu avô havia me criado para ser uma pessoa que arriscava e que não tinha medo. Mas fazia muito tempo que aquela Felicite, menos temerosa e insegura, tinha deixado de existir.
— Tudo bem. Eu vou seguir o conselho dos Vezzini. — Cedi, ouvindo minha mãe comemorar do outro lado da linha. — Não esqueça de me avisar se irá conseguir vir para casa. — Pedi, antes que pudéssemos falar mais sobre aquele outro assunto.
— Você receberá um contato meu de alguma maneira. — Assegurou.
Nós sabíamos o quanto o sinal dos locais mais isolados que a minha mãe ia em suas missões eram quase nulos, mas quando Tessa Vezzini queria alguma coisa, ela tentava até conseguir. Outro traço que tínhamos em comum.
— Nem que for por sinal de fumaça? — Brinquei, repetindo algo que ela me dizia quando eu era pequena e nos falávamos esporadicamente quando ela conseguia me ligar para saber como meu avô e eu estávamos.
— Nem que for por sinal de fumaça. — Prometeu, fazendo-me sorrir e um sentimento melancólico se apossou em meu peito — Vou deixar você voltar para o seu trabalho, porque eu preciso resolver algumas coisas do meu. — Anunciei.
— Você vai ficar bem, Fizzy? — Minha mãe quis assegurar como sempre fazia.
— Eu sempre fico, mãe. — Garanti. — Vou te deixar salvar mais uma vida agora, eu tenho dados para analisar.
— Cada uma com a sua especialidade. — Brincou ela, nos fazendo rir. Não demoramos muito mais tempo para nos despedirmos após isso.
Minha mãe era uma boa mãe, mas o trabalho dela a fazia ficar tempo demais longe de casa. Tessa tentava compensar com as ligações esporádicas e as cartas frequentes, mas não era a mesma coisa que tê-la ali. Antes, eu não ligava tanto, porque tinha o meu avô e ele sempre supriu a falta que a minha mãe fazia. Só que desde que meu avô havia nos deixado, era Felicite com apenas... A Felicite.
Suspirei, ao focar os olhos na tela do celular. Procurei pelo contato recente, antes de levar o aparelho para a orelha mais uma vez.
— Fizzy! — Exclamou Pepe animado do outro lado da linha, como se pudesse supor porque eu estava o ligando pouco tempo depois de sair da sua casa.
— Eu topo. — Disse com firmeza, ouvindo uma interjeição do meu melhor melhor. — Mas eu tenho duas condições.
— Sou todos ouvidos. — Disse Pepe com certa animação.
— Que eu não tenha que ficar perambulando pelos paddocks. Em Miami, eu vou chegar, me trancar em minha sala e trabalhar, ninguém além das pessoas importantes precisam saber que eu estarei lá. — Apontei. — Eu quero analisar tudo antes de mexer em qualquer coisa.
Pepe não hesitou em concordar.
— E a sua segunda condição?
Respirei fundo, tentando encontrar a voz que parecia ter sumido, ao sentir as minhas cordas vocais secarem.
— Eu não quero vê-lo.
Eita, eita, eita...
Conhecemos melhor a Fizzy aqui, e ela é muito importante para a Ferrari, tem um sobrenome de peso e esse peso é enorme, e pode ser um problema.
Ela topou ir para o paddock... E ela não quer ver uma pessoa.
Eu apenas digo: amem o Pepe, porque ele é maravilhoso e lindo.
Enquanto aos outros personagens e aos principais... Bom...
Espero que tenham gostado e nos vemos no próximo!!