Capítulo 3: A troca
ANY GABRIELLY
Eu olhei para o meu reflexo no espelho, me sentindo irritada.
- Essa merda de cabelo não me obedece! E que droga a Sabina ficar doente e me fazer isso, logo agora! Isso é horrível! Eu não posso dormir com o meu cabelo molhado!
Eu pego a escova para tentar domar meu cabelo, para que pareça ao menos decente. Eu olho a Sabina deitada na cama, com vários lenços jogados debaixo dela.
Sabina é a minha colega de quarto e, dentre todos os dias, ela ficou doente logo hoje. Ela é repórter. E ele é muito bem sucedida na sua profissão.
Ela trabalha para um famoso jornal sensacionalista e não poderá ir na entrevista que tem marcada com uma magnata empresário, totalmente desconhecido para mim. Então, eu me ofereci para ir no lugar dela.
- Obrigada, Any. Eu nunca vou me esquecer disso!
- Eu também não. Como se eu não tivesse preocupações o suficiente, eu pego as suas também.
- Você já falou com o Ethan, desde que voltaram de Vegas?
- Não.
- Por que não?
- Nós decidimos que precisamos de um tempo.
- Um tempo? Mas vocês só estão namorando há alguns meses…
- Nós tivemos um problema, ok? Por favor, Sabina. Eu não posso falar sobre isso agora.
- Ok! Eu vou respeitar o seu espaço, mas até eu posso ver que tem algo errado.
- Sabina, se você continuar metendo o seu nariz onde não foi chamada, você pode esquecer essa entrevista!
- Não, não! Você sabe que é da minha natureza me intrometer, eu sou muito curiosa. Me perdoa. Eu quero muito que você vá nessa entrevista com ele! Me levou quase um ano para fazê-lo ter essa entrevista comigo! Eu não posso perder essa oportunidade!
- Para de falar, você está toda rouca! E você já está me dando nos nervos! Esse meu cabelo não me obedece, e eu ainda tenho que dirigir por cem quilómetros! Ele vai ficar todo desarrumado!
- Você é maravilhosa, para de se enganar! Olha para mim! Eu pareço um espantalho! Eu estou doente, mal levanto um dedo. Você sabe que isso é um grande sucesso. O Sr. Urrea não concorda com entrevistas com qualquer um.
Eu me pergunto como ela consegue fazer isso! Mesmo doente ela parece atraente e linda.
- Mas, é claro que eu vou, Sabina! Você precisa de alguma coisa? Paracetamol, e um pouco de sopa?
- Não. Pega o meu questionário e o meu gravador digital. Você sabe onde fica o botão de gravar?
- É claro que eu sei, mas eu não sei nada sobre ELE!
- Eu já te contei, ele é um jovem empresário, existem rumores de que ele é mafioso, e se esconde por trás de suas diversas doações. Eu preparei tudo para você. Só siga as minhas instruções e vai ficar tudo bem. Você vai ficar bem. Só se arrume, por favor. Não se esqueça que você está interpretando uma repórter de sucesso.
- Tá bom! – resolvo colocar uma camisa branca com decote e uma saia verde musgo. No cabelo, eu resolvi deixar ele solto mesmo.
- É isso! Você está estonteante! Você salvou a minha vida, como de costume! Obrigada!
- Eu nunca faria isso para mias ninguém, Sabina! – eu pego a minha bolsa e coloco o gravador e o questionário dentro dela. Eu dou a ela um sorriso atrevido e vou para o meu carro.
[…]
Eu estou de frente para o meu carro e eu não consigo acreditar na minha burrice.
- Você esqueceu as suas chaves, de novo, não foi?
- Ethan… Oi! O que você está fazendo aqui?
- Você não esperava que eu voltasse tão cedo?
- Eu achei que você estivesse zangado comigo.
- Eu não estou – e então, de repente, nada mais importa. A entrevista pode esperar. Ele finalmente está aqui. Ele veio me ver e eu quero falar com ele.
- Como você se sente?
- Como se um caminhão de merda tivesse passado por cima de mim. E você?
- Um pouco pior que você. Você recebeu o dinheiro na sua conta?
- Um milhão inteiro! Eu vim aqui fazer um acordo com você. Eu não quero dividir. Você deveria ficar com tudo. Eu não quero nenhum centavo.
- Como assim? Você deveria ficar com tudo. Você tem uma dívida para acertar!
- Não, eu não quero tudo. Esse dinheiro é amaldiçoado! Eu não quero!
- Ethan, qual é o problema? As coisas entre nós vão ficar normais, em algum momento?
- Eu não sei. Eu preciso de mais tempo.
- Mais tempo para quê? PARA QUÊ? Eu te amo!
- Any, você dormiu com ele! Eu não consigo suportar isso agora. Eu não consigo dormir, eu não consigo comer, eu mal funciono! Eu vim aqui para dizer que você pode ficar com todo o dinheiro. Eu me sinto culpado por tudo e por ter deixado você ir com ele naquela noite. Eu não vou sumir do mapa – ele se vira e sai.
- O que eu devo fazer? Eu não quero perdê-lo! Ethan, por favor! Não vá!
- Eu sei que também está difícil para você. Me desculpa por agir assim, mas eu não sou mais o mesmo. Por favor. Espera mais alguns dias e eu te ligo. Eu só preciso me acalmar.
- Ok – ele beija a minha testa e vai embora. Eu observo ele ir embora. Eu não consigo encontrar as minhas chaves – Porra! Eu tenho que voltar lá para cima – e então, eu olho o capô do meu carro – A chave reserva… ele devolveu a chave do meu carro – desapontada, eu destravo o carro e saio.
[…]
Depois de menos de uma hora de uma direção perigosa, eu chego no escritório de Noah Urrea.
- Boa tarde! Como posso te ajudar?
- Eu tenho hora marcada com o Sr. Urrea.
- Sabina Hidalgo?
- Isso mesmo.
- Só um segundo – eu estou mentindo, sem pestanejar.
Tem uma garota jovem e loira na minha frente. Ela está incrível, tão nutrida, o cabelo dela é perfeito, e ela está usando o blazer rosa mais lindo que eu já vi. Ela levanta a sobrancelha fina, enquanto digita o nome da Sabina.
- Pegue o elevador do meio, na direção esquerda e vá para o vigésimo quinto andar. Você precisa de ajuda, ou está bem sozinha?
- Não, obrigada!
Eu estou lentamente andando no corredor interminável e olhando para o elevador do meio. Eu noto um segurança andando atrás de mim. Ele parece muito sério de terno preto. Eu noto uma arma do lado esquerdo de sua cintura e eu escuta na orelha. Ele não parece com os guardas comuns que ficam em bancos.
Eu entro no elevador e o homem continua me seguindo. Eu aperto o número 25 e o elevador me leva, em um piscar de olhos.
[…]
A porta abre e eu me encontro em um salão, como um museu.
- Uau! O dono desse edifício só pode ser… Isso é fascinante! Uma pessoa honesta não pode fazer dinheiro o suficiente para um edifício destes, nem em três vidas!
Eu me pergunto como ele deve ser, e qual é a idade dele. Eu odeio que a Sabina não tenha me contado mais nada sobre ele! Eu estou completamente despreparada!
- Que droga, Sabina! Que droga, Ethan! Droga em dobro!
- Do que você está falando? Senhorita Hidalgo? Eu jurava que você tinha me dito que o seu sobrenome era Gabrielly…?
- Eu…
- Você está bem? Você quer se sentar?
- Você é o Noah Urrea?
- Eu não havia me apresentado a você? Como isso é possível? – os seus olhos verdes claros estavam em observando, com intensidade. Eu preciso de um momento para me recuperar.
- Ahn… Na verdade… - ele me estende sua mão para me ajudar a sentar e, como se eu estivesse intoxicada pelo seu toque, eu puxo minha mão de volta, envergonhada. Uma sensação estranha corre pelo meu corpo – Eu sou Any Gabrielly. Sabina Hidalgo é minha colega de quarto. Ela deveria estar aqui, mas ela ficou debilitada com alguma coisa.
- Ah… compreendo… e você veio aqui para ajudá-la – ele está me olhando com muito interesse.
- Eu não sabia que seria você.
- E se você soubesse que seria eu? Você concordaria em vir, mesmo assim?
- Mas, é claro que eu concordaria. Eu faria qualquer coisa pela minha melhor amiga – eu estou corando, sem nem mesmo saber o porquê.
Como uma garotinha, eu pego o gravador. Eu estou olhando para baixo e para cima, de vez em quando, e noto que ele está me observando.
- Eu não estou acostumada com isso.
- Leve o tempo que quiser – eu me lembro do quão gentil e paciente ele foi. Isso é possível? Isso está mesmo acontecendo comigo? Eu franzo a testa para esconder os meus pensamentos pecaminosos, e foco no dever em minhas mãos.
- Ok. Eu tenho algumas perguntas para você.
- Achei que teria – ele está rindo de mim. Eu ligo o gravador de voz e tento parecer profissional.
- Você criou um império, embora seja muito jovem. Como você adquiriu tanto, em tão curto espaço de tempo?
- Ha ha… você está sendo bem formal comigo…
- Eu estou lendo as perguntas dela.
- Vamos começar do início. Eu começo. Você ainda está com o seu namorado?
- Perdão?
- Vocês ainda estão juntos?
- Nós estamos. Posso continuar?
- Mas, é claro… nos negócios, tudo é sobre as pessoas. E eu sou muito bom em julgar o caráter. se você possuir as pessoas certas ao seu redor, vai ter sucesso. Se você não tiver, eles vão te trair e te vender, em um piscar de olhos. E então, quando se cria um império como o meu, parece que tudo é muito suave. Embora, sejam esses os momentos em que você deve se policiar e observar as pessoas ao seu redor. Minha vez. Você tem pensado em mim?
- Desculpa? – ele parece sério, embora esteja sorrindo.
Ele olha para mim, impaciente. O meu coração começa a bater mais rápido, eu estou corando de novo. Por que seus olhos estão em chamas quando olha para mim? Por que ele passa o dedo pelo lábio inferior? Eu queria que ele parasse de fazer isso!
- Me responda. Você esteve pensando em mim?
- Eu estive.
- A sua memória sobre mim é boa?
- Qual é a memória que você tem sobre mim?
- É a mais linda memória que eu tenho!
- Eu vim aqui para te entrevistar, ou é o contrário?
- Me desculpe… você está certa – por que ele me deixa tão confusa? Talvez, porque ele seja incrivelmente gostoso?!
- Talvez você só tenha tido sorte…? – essa pergunta não estava na lista da Sabina.
- Eu não dependo de sorte, senhorita Gabrielly. Eu nunca aposto alto. A minha empresa possui mais de trinta mil empregados. Isso não é nenhuma coincidência. Eu não devo satisfações a ninguém e eu tenho um certo tipo de poder.
- Poder?
- Sim. Eu possuo diversos interesses. Muito diversos.
- Uma excelente introdução para minha próxima pergunta. Você diz que possui interesses diversos. Qual deles é o mais intrigante?
- O trabalho de caridade, definitivamente.
- Você gosta de crianças? Parece que você está falando com o coração.
- Embora algumas pessoas possam dizer que eu não tenho um, sim, eu amo crianças. Elas trazem propósito às nossas vidas. Você quer ter filhos? – ele está me interrompendo, novamente. Os seus olhos estão queimando com pensamentos maliciosos.
- Você está fazendo de novo, me interrompendo.
- Ok, eu prometo que essa será a última pergunta para você. Você quer ter filhos? E, está pronta para deixá-lo para sempre?
- Eu acho que isso não tem nada a ver com… - a minha resposta mais sincera de todas é interrompida por Lamar, que bate na porta e entra.
- Chefe… - ele está, agradavelmente, feliz em me ver – Any…?
- Olá, Lamar!
- Como você está?
- Eu estou ótima, e você?
- Eu estou bem, sem reclamações – ele me dá um sorriso honesto e então se vira para o chefe. Ele não quer interrompê-lo. Ele sussurra para ele, mas eu não consigo escutar nada. E então, o Lamar sai do escritório – Foi bom rever você – eu sorrio para ele e ele sai.
- Infelizmente, nós temos que interromper o nosso encontro.
- Mas, eu ainda não terminei a entrevista. A Sabina vai me matar. Essa entrevista significa muito para ela. Ela pode perder o emprego dela por conta disso.
- Por minha causa?
- Ela vai me culpar por isso.
- Bom, não podemos deixar que isso aconteça. VocE tem cinco minutos…
- Ok… - a minha lista de perguntas cai no chão. Eu fico completamente confusa. Ele pega a minha lista do chão e olha diretamente nos meus olhos.
- Aqui está, Any – ele me chamou pelo nome, pela primeira vez. O meu coração está a mil e as minhas bochechas em chamas.
- Onde estávamos?
- Na pergunta: “Você gostaria de ter filhos comigo”?
- Desculpe? – eu coloco o meu cabelo para trás da orelha, nervosamente. E sorrio, descontroladamente – Essa não era a pergunta.
- Eu a refiz. O tempo está passando, Any. A minha pergunta é a condição para continuarmos essa entrevista – ele é tão cheio de si. Eu o quero! – Você gostaria de ser a mãe dos meus filhos?
- Sim! Feliz?
- Estou nas nuvens! – ele pega o seu casaco, pronto para sair – Bom, vamos continuar essa entrevista em outro local. Tudo bem?
Ele me estende a sua mão e espera pela minha aprovação. A minha voz está fraca. Os meus olhos brilham de curiosidade. Onde ele quer me levar, dessa vez?
Continua