- Acho que entrei para algum tipo de caderno da morte dele - digo fechando os olhos e esfregando a lateral da cabeça - Estou no último período da faculdade e levei bronca de professor.
- Acontece com todo mundo - Tom diz rindo - Mas vamos falar de algo mais importante, a beleza dele.
- É literalmente um Deus - Maia diz se abanando - Aqueles olhos, o cabelo, hm... e aquele cheiro.
Balanço a cabeça negativamente e sorrio com os comentários dos meus amigos. Mas tinha que admitir, ele era muito bonito.
- Eu só queria enfiar a cabeça em um buraco bem fundo, ele chamou a minha atenção na frente da turma inteira - digo relembrando - Um cara tão bonito e gostoso, chamando a minha atenção como se eu fosse uma criança do jardim de infância.
- Não é ético você falar assim de seus professores senhorita Melissa - uma voz atrás de mim diz em tom firme.
Arregalo os olhos para meus amigos e prendo a respiração. Rebecca tentava segurar o riso, enquanto Maia e Tom encaravam o homem atrás de mim.
Eu não sabia o que fazer, os segundos passavam como se fossem horas, eu engolia a saliva e pareciam pedras descendo pela minha garganta.
- Senhorita?
Viro e encaro seu rosto, era possível notar um sorriso retraído, ele segurava livros embaixo do braço e um casaco de lã preto em seu ombro.
- Me desculpe, senhor.
- Deveria tomar cuidado com as coisas que diz.
- Eu não sabia que o senhor estava ouvindo, era para ser uma conversa entre amigos - digo encarando seus olhos.
Sebastian me observava como se tentasse desvendar todos os meus segredos, aquilo me intimida um pouco e tento de todas as formas manter uma postura firme. Falho quando ele passa a língua pelos lábios.
- Vocês não estão atrasados para outra aula?
Maia balança a cabeça negativamente e Sebastian arqueia uma de suas sobrancelhas.
- Ouvi dizer que o outro professor é mais rígido que eu - ele sorri - Portanto acho melhor não se atrasarem - agora ele me encara.
Ninguém disse nada, apenas afirmamos com a cabeça, vejo ele sumir em meio aos outros alunos e finalmente consigo respirar.
- Agora sim - Tomas diz me encarando - Depois disso, você com toda certeza está no death note dele.
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Para evitar outro constrangimento, sou uma das primeiras a entrar em sala, fico olhando qualquer besteira em meu celular enquanto espero o restante da turma. Olho no relógio e faltavam dez minutos para a próxima aula começar, eu tentava me distrair com um joguinho bobo, mas tudo o que eu conseguia pensar era na vergonha que passei mais cedo.
Deixei de tomar um café para evitar outro constrangimento.
"Ouvi dizer que o outro professor é mais rígido que eu" e isso era possível? De qualquer forma não queria colecionar mais uma bronca.
Aos poucos alguns alunos vão entrando em sala, é possível sentir o cheiro de um perfume amadeirado de longe, penso que poderia ser Sebastian, mas para minha surpresa um homem alto e loiro entra na sala. Observo seus movimentos e umedeço os lábios em um ato espontâneo. Tinha a sensação que havia ganhado na loteria.
Cacete. Que homem bonito.
Ele vestia uma gola alta preta, uma calça jeans também escura e sapatos sociais. Havia uma similaridade entre ele e Sebastian, não só a beleza imensurável, era algo a mais.
A cada aluno que entrava em sala ele sorria, arrumou alguns papéis em cima de sua mesa e percorreu o olhar pelo ambiente parecendo contar o número de carteiras.
Eu deveria parar de encarar, mas não conseguia, era viciante olhar para ele. Tipo uma droga.
Na verdade era igual a uma droga. Daquelas que você não consegue suportar segundos sem.
Ele para seu olhar em mim e sorri, mas o sorriso foi tão minimalista e escondido que se eu não estivesse tão vidrada em seu rosto não teria percebido.
- Bom dia turma - ele diz.
A sala responde em uníssono.
- Me chamo Christopher, mas não exijo tanta formalidade, então podem me chamar apenas de Chris. Vou ser o professor de psicologia do desenvolvimento humano de vocês e espero que possamos ter um bom relacionamento - ele sorri e escreve o nome de sua matéria na lousa - Eu tenho algumas regras, regras essas que serão essenciais para o nosso convívio.
A cada palavra que aquele homem dizia meu corpo tinha reações diferentes.
- Não tolero de forma alguma atrasos - ele diz sério - Se vocês chegarem aqui e a porta já estiver fechada, nem percam tempo batendo. Não tolero esquecimento de material, vocês já estão no último período da faculdade, se esquecerem material não fazem a minha aula. E por último, não menos importante, eu sou um excelente observador, se eu ver alguém usando celular mesmo que seja para ver as horas, perde cinco pontos e não assiste a minha aula.
Universidade ou ditadura?
- Perguntas?
Ninguém se atreve a responder, apenas negam com a cabeça. Inclusive eu.
- Perfeito - ele sorri novamente - Vamos dar início ao nosso semestre.
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- Me senti em uma prisão - Becca diz assim que saímos da última aula - Fiquei com medo dele ler meus pensamentos.
- Se ele pudesse fazer isso eu estava ferrada - digo.
Meus amigos se entreolham e sorriem.
- No que você estava pensando hein? - Maia sorri maliciosa.
- Nada demais - tento desconversar - Só sei que esse semestre vai ser puxado.
- Você sabe que pode falar que sentiu vontade de dar para ele, não sabe? Ninguém aqui é puritano - Tom diz rindo.
Reviro os olhos e dou um tapinha em seu braço.
- Deu a minha cota de dizer coisas em voz alta hoje - respondo.
Guardamos os materiais em nossos armários e partimos para os restaurantes que tinham na faculdade. O italiano era o nosso favorito, era uma orgia gastronômica o tanto de opções que tinha.
Faço um prato generoso de macarrão à bolonhesa e me sento na mesma mesa de sempre. Escuto vozes conhecidas, olho algumas mesas à frente e vejo os dois sentados almoçando. Sinto um estranho frio na barriga e uma sensação de ansiedade, me acho uma boba por isso, mas não pude controlar.
- É difícil parar de olhar, né? - Becca diz se sentando ao meu lado.
- Ele são surreais - digo - Como é possível alguém ser tão bonito?
- Também não sei - ela sorri enquanto os observava - Chega a ser injusto.
- Como assim?
- Duas pessoas tão bonitas e inacessíveis - ela come um pouco de sua comida - Deveria ser proibido as faculdades contratarem professores tão gostosos.
Dou risada do que Bex fala e sinto um desânimo, era injusto mesmo.
- Do que estão falando? -Tom e Maia se sentam nos lugares restantes e aproveitam seus pratos.
✰
Só eu e Rebecca tínhamos ficado para estudar, a biblioteca era enorme, várias fileiras com prateleiras gigantes de livros, diversas mesas espalhadas por todo lugar, alguns pufs no chão e computadores em outra ala.
Deixo minha mochila em cima de uma mesa e vou até a sessão de Psicologia pegar os livros que usaríamos. Todos os nomes estavam anotados em meu celular, abro o bloco de notas e começo a procurar entre as prateleiras.
- Você não consegue largar o celular, não é?
Olho para a voz grave que disse aquilo e sorrio internamente.
- Como é?
- Até mesmo em uma biblioteca você fica com a cara enfiada no celular - Sebastian diz.
Sorrio fraco e lhe encaro.
- Só estou lendo os nomes dos livros que anotei.
Ele não responde nada, apenas me observa. Fico com vergonha e desvio o olhar para as prateleiras em minha frente.
Pelo seu riso anasalado, presumo que ele tenha notado minha timidez.
- Aqui está o livro.
Outro homem diz vindo em nossa direção. Era Chris.
- Algum inconsequente riscou a capa com caneta marca texto - ele diz inconformado - Ultraje.
Sebastian pega o livro da mão do outro e olha para mim mais uma vez.
- Ah, então essa é a aluna que gosta de mexer no celular em lugares inoportunos - Christopher também me observa.
Então eu virei assunto entre eles?
- Sim, é ela.
Tento responder alguma coisa, até mesmo me defender, mas minha boca parecia ter sido colada com cimento.
- Se me dão licença - pego três livros quaisquer na prateleira e saio daquele corredor.
Não tinha acontecido nada demais, mas aquilo foi o suficiente para minha respiração falhar e meu estômago gritar em ansiedade e nervosismo.
Seus olhares em cima de mim, os sorrisos, os perfumes inebriantes, era demais para meu cérebro.
- A vida é muito injusta - digo para Rebecca assim que retorno a mesa.