Lótus Venenoso [ABO]

By vjklove_

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Wei Wuxian é um curandeiro reconhecido por sua grande habilidade em desenvolver remédios e até mesmo venenos... More

01. Finalmente, Gusu.
02. A mais desagradável entre as mais desagradáveis companhias.
03. O ignore, Wei Wuxian! Apenas o ignore!
04. Ele quem me enlouqueceu.
05. Manto bordado.
06. Festival de Inverno.
07. Acerto de contas.
09. Desgraça. (Arco 1 Passado - parte 2)
10. Decisão. (Arco 1 Passado - parte 3)

08. Doçura. (Arco 1: Passado - parte 1)

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By vjklove_

Já faz 84 anos... E olha só quem resolveu aparecer! Cara, eu tô muito feliz por ter conseguido terminar esse capítulo, foi muito difícil enfrentar meu último bloqueio criativo mas eu finalmente saí por cima e estou de volta. Hoje mais que especialmente, estamos comemorando 1 ano de Lótus Venenoso! Muito obrigado a todos vocês que continuam aqui desde nosso primeiro capítulo, e também aos que chegaram depois, eu devo tudo a vocês, muito obrigado!

Começaremos hoje uma nova história, o começo do primeiro arco de Lótus Venenoso: Passado. Lembrem-se que, tudo e absolutamente tudo nesse e nos próximos capítulos desse arco, são parte de um importantíssimo flashback de 10 anos atrás. Vamos conhecer também, novos personagens que vão rechear o enredo. Tudo certo? Então sem mais delongas, fiquem agora com o...

oitavo capítulo de:

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Lótus Venenoso.
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Era manhã de primavera, o sol resplandecia com sua luz aquecida que cobria o vasto campo de flores e grama verdejante e brilhante. Flores de diversas as cores, amarelas, brancas e outras pequenas roxas que se destacavam em sua delicadeza, no entanto, nem mesmo sua cor chamativa, poderia ofuscar a beleza de um diferente entre todas aquelas flores.

Vestido de índigo, ele que tinha uma longa e bela trança bagunçada que caía sobre seu ombro, a franja despenteada que ia para onde o vento queria, o rosto coberto de adoráveis pontinhas, a pele pálida já avermelhada pelo sol enquanto montava um lindo arranjo de flores coloridas, cantarolando uma melodia qualquer ficando sentado sobre os próprios joelhos adoravelmente.

Se aparência inocente e encantador, Wei Wuxian arrancava as flores e juntava todas elas em seus braços, distraído, ele não queria fazer outra coisa que não fosse ficar ali e deitar entre a grama daquele chão coberto de flores recém-desabrochadas, sentindo o perfume delas e o vento agradável soprar em seu rosto. Ele estava verdadeiramente em paz.

Foi quando a doce e gentil voz de alguém entrou por seus ouvidos, a voz de alguém conhecido que o chamava por um apelido especial.

— A-Xian! A-Xian! — A voz chamava repetidas vezes esperando por sua atenção.

Então Wei Wuxian ergueu seu torso do chão e olhou para trás na direção de quem o chamava cheio de fervor, e ao ver quem era o autor daqueles gritos, não pode evitar que um sorriso crescesse em seu rosto.

— Feng-Ge! O que faz aqui? — Era Feng Zhiqing, talvez a pessoa que Wei Wuxian mais gostava no mundo todo, um jovem gentil e de boa família com quem Wei Wuxian conviveu desde sempre. Eles eram como unha e carne.

Feng Zhiqing se aproximou correndo e se sentou ao lado de Wei Wuxian, caindo desajeitadamente sobre a grama num baque abafado, mas que não doeu.

Ele começou a falar. — Estava procurando por você, sabia que poderia te encontrar aqui. E para quem são todas essas flores? — Feng Zhiqing apontou para o arranjo nos braços de Wei Wuxian, que segurava satisfeito seu belo monte de flores.

— Eu queria levá-las para casa colocá-las num vaso. São todas tão bonitas que gostaria de ter todas para mim! — Seu rosto que brilhava sob a luz do sol deixava ainda mais meigo, falando daquela forma sobre seu fascínio pelas flores.

— Você já tem tantas delas... Talvez mais uma não fosse ser mais tão importante... — Feng Zhiqing desviou seu olhar para longe, deixando um confuso Wei Wuxian a sua frente.

— Do quê está falando? — Só aí ele mostrou o que escondia na mão por trás de suas costas. Uma rosa vermelha escarlate.

— Para você. Peguei de uma das roseiras da minha mãe, espero que ela não note. — Suas sobrancelhas se contraíram e Wei Wuxian sorriu.

— Feng-Ge é tão atencioso... — Ele gentilmente pegou a rosa e a aproximou de seu nariz para apreciar o aroma da flor tão romântica.

— Você gostou dela? — Perguntou com olhos ansiosos, pronto para a resposta que precisava tanto ouvir.

— Claro que sim! Eu vou guardar para sempre já que Feng-Ge me deu. — Wei Wuxian pôs os montes de flores delicadamente no chão, exceto pela rosa, e se inclinou para abraçar Feng Zhiqing, envolvendo seus braços carinhosos aos ombros suaves dele.

Feng Zhiqing retribuí o abraço, instantaneamente o tomando pela volta de sua cintura fina enquanto acaricia as costas do mesmo. — Ótimo! Oh, é verdade... A-Xian, acabo de lembrar, ontem meus pais e eu arrancamos algumas melancias, e como tem estado tão quente pensei que você poderia gostar de comer algumas. Você vem comigo? — Ele o convidou cheio de espectativa ainda tendo Wei Wuxian entre os braços.

— Parece ótimo Feng-Ge, mas eu ainda tenho que levar as flores em casa e... — Wei Wuxian segurou sua mão para afastá-lo um pouco e se soltar, mas Feng Zhiqing não parecia disposto a querer largá-lo tão facilmente assim. — Feng-Ge, Está me apertando...

Feng Zhiqing o interrompeu e ignorou aquela declaração, continuando a apertá-lo. — Ouça, podemos deixar suas flores em casa e depois vamos às melancias! O que me diz? Não tem mais desculpas para recusar agora.

— Mas e... — Wei Wuxian soltou um longo suspiro. — Tudo bem, tudo bem, você venceu. Vou com você. — O outro abriu um sorriso largo, e então folgou seus braços, deixando Wei Wuxian enfim respirar. Docemente, ele repousou a cabeça sobre o peito magro de seu querido A-Xian, que já não parecia mais incomodado com o aperto. — Mas... Feng-Ge?

Wei Wuxian recomeçou enquanto afacava os cabelos dele.

Feng Zhiqing ergueu seu rosto para ver o outro, então soou sua voz suave e gentil. — O que é?

O olhar de Wei Wuxian caiu para os lados, evitando o contato visual alheio ao máximo. — Mn... Por acaso mais alguém irá conosco?

— Não? Eu só chamei você, mas temos que ser rápidos, se Ye Meilin nos encontrar... Ele vai fazer de tudo para ir junto a nós, e você sabe como ele é. — Soltou um dos braços que atava Wei Wuxian e bateu com a mão na própria testa, bufando um pouco irritado por mencionar aquela pessoa desagradável.

— Ye Meilin... Ele me odeia tanto, Feng-Ge. — Wei Wuxian, catou uma das flores e logo então se abraçou confortavelmente a Feng Zhiqing, começando a arrancar as pétalas brancas da flor enquanto falava sem tirar os olhos dela. — Eu não sei o que fiz para ele ser sempre tão amargo comigo...

— Hahahahaha! Não seja tão ingênuo, A-Xian. — Feng Zhiqing gargalhou deixando um Wei Wuxian confuso a sua destra. — Ye Meilin não te suporta por morrer de inveja de você. E tudo por quê? Porque você é um ômega mais bonito do que ele. Não o julgo mal, quem não gostaria ser agraciado com um rosto como o seu?

— Não seja exagerado... Além disso também, Feng-Ge, sabe que ainda não me tornei ômega. — Wei Wuxian sentiu suas bochechas queimarem com tal comentário chamativo. Ele não se achava feio, nem era, Feng Zhiqing tinha razão quando o colocava no topo ao exaltar sua beleza exuberante, entretanto Wei Wuxian não conseguia se ver com tamanha graça quanto a que seus ouvidos sempre ouviam dizer que possuía.

— Eu sei mas, já tem dezesseis anos, muito em breve você será... — Com uma das mãos, Feng Zhiqing acariciou seu queixo, o olhando intensamente. — Enfim, o mais belo dos ômegas.

— Não dá para saber, eu posso ser apenas uma pessoa comum, você sabe... — Segurando a mão alheia, ele o afastou e virou o rosto na direção oposta a dele.

— A-Xian, olhe para si mesmo, você é claramente ômega. — Feng Zhiqing deu um sorriso preguiçoso, despojando-se na grama verde, dobrando os braços atrás da cabeça como um travesseiro.

— Me pergunto caso eu não fosse, se Feng-Ge ainda gostaria de mim.

— Hahahaha! Não diga besteiras, eu gosto de você. — O jovem alfa se desmonta em risadas, puxando Wei Wuxian pelo braço, o fazendo cair sob a grama ao seu lado. — Ouça, lembra quando seu Gege ainda não tinha se tornado um alfa? Sabe, qualquer um já via me via como tal. E com você não é diferente, até já tem a aparência perfeita!

Feng Zhiqing havia recentemente chegado a idade de se tornar um alfa, diferente de ômegas aos dezesseis, ele com enfim dezoito anos pôde gloriosamente desfrutar do que era seu verdadeiro corpo bem formado! Sim, é claro que ele logicamente ainda tinha muito a crescer, mas não era nada que seu ego gigantesco não pudesse inflar para ele antes desse dia chegar. Já tinha um bom corpo e um rosto que parecia o de um príncipe, uma aparência viril mesmo sendo tão jovem. Nada além do esperado de alfas sadios e de boa família, o famigerado tipo perfeito que geraria os futuros frutos perfeitos!

O alfa que era o sonho de qualquer ômega solteiro, e o motivo da inveja dos adversários que tinham uma aparência tão medíocre quanto a de um porco.

Wei Wuxian suspirou.

— Você... Acha mesmo? Pensa que tenho uma aparência perfeita? — Seus olhos brilhavam em castanho flavo ao refulgir a luz do sol como um espelho onde Feng Zhiqing podia ver o próprio reflexo. Ele se sentia tão abraçado por seus sentimentos naquele instante que mal podia segurar um sorriso meigo que decidiu estampar seu rosto.

— Claro! Você é o mais bonito de todos, por isso os outros ômegas simples e sem graça tem inveja de você, e claro, os outros alfas de mim por você ser só meu... — Feng Zhiqing se aproxima à uma distância perigosamente próxima dos lábios de Wei Wuxian, mas ao tentar beijá-lo, o mesmo vira seu belo rosto na direção oposta a dele, cobrindo gentil e habilmente os lábios deste com a rosa que ele mesmo lhe deu.

— Feng-Ge, para! Já disse milhões vezes para não me beijar... — Sem jeito, Wei Wuxian o afastou imediatamente porém sem muito alarde. Não queria ser rude ao empurrá-lo nem também acabar ficando laçado a ele daquela forma. De tão envergonhado, seu rosto queimava em vermelho.

Feng Zhiqing rolou os olhos para trás e urrou dramaticamente, demonstrando o quão injustiçado se sentia ao ter um beijo novamente negado pelo o que seria, de acordo com Wei Wuxian, a milionésima vez. — Hah! Quanto tempo mais eu vou esperar para poder beijar você? Eu não aguento mais, A-Xian!

— Seja um pouco mais cortês! — Wei Wuxian cruzou os braços, emburrado, dando as costas para ele ao se sentar virado para o lado de onde as flores eram mais bonitas. — Será que você pode não falar mais sobre isso? Está me deixando tão sem jeito... Você é tão ruim! Já estou me irritando com você!

— A-Xian não seja sempre assim tão tímido! Você não me deixa te dar nem um simples beijo! Nos conhecemos há tanto tempo... — Feng Zhiqing balançou as duas mãos clamando por um pouco da compreensão de Wei Wuxian para que ele cedesse pelo menos uma vez.

Quando olhou para ele, Wei Wuxian estalou a língua. Ele era sempre um doce de rapaz, mas as vezes Feng Zhiqing o tirava do sério principalmente quando começava a agir estranho consigo.

— Sim, nós nos conhecemos desde que éramos criança mas isso não tem nada a ver. Você esquece que ainda não somos um casal legítimo? Ainda somos muito jovens e... — Sua fala foi partida ao meio quando o outro de um grito enfadonho por já não suportar ouvir aquele mesmo discurso.

— Ayia! Eu gosto de você! Você também gosta de mim, não gosta? Além disso, por que isso é tão importante? Não há nenhuma problema em nos beijarmos de vez em quando se estamos apaixonados. Que mal pode haver em tocarmos nossos lábios por alguns segundos?! Era só o que eu queria! — Ele insistiu miseravelmente enquanto suas palavras davam a Wei Wuxian mais da sensação do constrangimentos.

Wei Wuxian tentou balbuciar algumas palavras, no entanto acabou gaguejando vergonhosamente. Tentando de algum modo explicar sobre aquele assunto que parecia simples mas o causava tanto embaraço que mal podia respirar.

O que acontece com ele não era muito diferente da realidade de muitos outros garotos e garotas. Wei Wuxian nunca conheceu o próprio pai, um homem sem coração que nunca passou de um canalha qualquer.

Um alfa sem virtudes que teve a capacidade de enganar uma jovem mulher inocente e apaixonada, a convencendo de que a amava apenas para que ela se entregasse para ele. No entanto, ao momento que sua mãe, Cangse Sanren, descobriu carregar um bebê em seu ventre, correu alegre para dar a feliz notícia ao homem que amava, mas este homem a desprezou e disse que jamais aceitaria aquela criança. A julgando como uma qualquer, afirmou que não era possível que aquele filho fosse seu, afinal, ele e Cangse Sanren não eram casados.

Mesmo entregando a ele sua virgindade por sua própria vontade, o alfa ainda duvidou de sua paternidade para com o futuro filho que nasceria nos próximos meses. E assim, ele foi embora sem deixar rastros para nunca mais ser visto.

Cangse Sanren enfrentou uma gestação sozinha, deu a luz e criou seu filho a quem nomeou Wei Ying. Completamente sozinha. Trabalhando duro para criá-lo dando a ele o amor de um pai que nunca precisou ou sequer sentiu falta. Sua mãe era o suficiente para ele, e ela o amava tanto quanto ele a amava.

Dessa forma, Wei Wuxian sabia que não poderia cometer os mesmos erros cometidos por ela no passado, por orientação de sua própria mãe, ele não se entregaria a qualquer alfa antes de conhecer suas reais intenções.

Nem se fosse apenas um único beijo.

Feng Zhiqing poderia ser um bom garoto, ele com certeza não pensava em coisas tão carnais, Wei Wuxian confiava nele como alguém doce e bom ainda que fosse do tipo que brinca demais até com assuntos que não lhe convém. Tinha certeza de que se casaria com ele um dia, mas enquanto este dia não chegava, nada aconteceria. Não importa quantas vezes ele insista.

— E-Eu gosto de você. Eu sei que gosto, mas é que... É q-que... — E ele gaguejava. — Só não estou pronto para te beijar ainda! Você sabe... Um simples beijo pode levar aos caminhos mais diversos... São poucos segundos até que um beijo se torne outro e logo então mais outro... E-E depois algo muito... M-Muito... Muito mais constrangedor! B-Bem, n-nós dois... V-Você! Você não pode passar dos limites comigo! — Wei Wuxian apontou o dedo na direção dele e Feng Zhiqing bufou antes de voltar a se esticar na sua direção com uma expressão preguiçosa e voz arrastada, o olhando profundamente com seu belo par de olhos, tão escuros quanto um lago noturno.

— Tudo bem, tudo bem, eu vou suportar isso. Mas você é tão irresistível, eu não sei como conseguirei aguentar isso! A-Xian tem lábios que parecem tão macios, são tão bonitos... — Habilmente ele segurou Wei Wuxian pelos ombros, o derrubando no chão, de modo que o prendeu sem deitar seu torso sobre ele.

Wei Wuxian arregalou seus olhos e usou toda força que tinha o empurrando para o lado, fazendo Feng Zhiqing cair, então rapidamente se levantou batendo a terra das roupas ainda atordoado e com uma expressão nada amigável.

Ele ralhou cheio de fúria.

— Feng Zhiqing?! Você de repente enlouqueceu, não foi?! Eu disse, já disse pra você parar com isso! Sabe perfeitamente que eu não gosto nada quando você faz isso! Está me deixando irritado outra vez, odeio suas brincadeiras! Não vou mais com você, se quiser companhia chame outra pessoa, prefiro cuidar das minhas flores! — Wei Wuxian catou seu arranjo de flores do chão e jogou sua longa trança para trás com a outra mão, batendo os pés ao ir embora à passos pesados que amassavam a grama agressivamente.

Sem nem dar chance para Feng Zhiqing sequer pensar ou tentar seguí-lo, o jovem alfa só percebeu que Wei Wuxian estava partindo alguns segundos depois de levantar do chão graças ao belo empurrão que levou. E, Feng Zhiqing nem ao menos prestou atenção numa só palavra dita por ele antes de sair.

— A-Xian, você precisa aprender a ser um pouco mais delicado... Ei? A-Xian?! A-Xian, não fique zangado! Eu só estava brincando, volte, volte! Nossas melancias...! — Wei Wuxian não deu atenção a ele, nem mesmo olhou para trás, Feng Zhiqing riu e desistiu ali. Wei Wuxian definitivamente não iria.

No caminho de volta, Feng Zhiqing acabou encontrando quem no começo temia encontrar, Ye Meilin, mas agora sozinho, sem Wei Wuxian ou outras opções, era melhor um Ye Meilin do que nada.

Quando Wei Wuxian chegou em sua casa com o enorme arranjo de flores ao redor de seus braços, foi recebido carinhosamente por sua mãe que limpava a fornalha. Sorriso meigo e olhos castanhos semelhantes aos seus, Wei Wuxian tinha muito da aparência dela.

— Meu bem, catando flores outra vez? — Ela riu para o filho que a retribui fazendo o mesmo enquanto se aproximou para colocar as ditas sobre uma mesa, para depois separá-las, dividí-las, e então preencher seus vasos.

— Eu não pude evitar, viu como são bonitas?

— Eu vejo, e quanto a essa rosa? — A tal rosa especial que Wei Wuxian carregava separadamente, longe das demais flores, a qual ele levou até o nariz e sentiu seu aroma perfumado antes de responder aos suspiros.

— Feng-Ge quem me deu. — Um sorriso desenhou seus lábios e amoleceu seu coração, Wei Wuxian poderia derreter ali mesmo.

— É claro! Estava com Xiao-Feng[1], como eu imaginava. Ele é um rapazinho tão gentil, sempre tentando agradar. — Com a fornalha limpa, ela começou a recolocar a lenha nova que foi recém cortada para preparar uma nova refeição.

— Feng-Ge é gentil, mas... As vezes ele age estranho. — Wei Wuxian levou a rosa até a altura de seu peito e a repousou sobre si.

— Como assim, age estranho? — Wei Wuxian desviou os olhos confusos de volta as flores.

— Eu não sei... Bobagem a minha, talvez. Sabe de uma coisa, mãe? Ele está sempre comigo durante toda a minha vida e adora me presentear com flores bonitas, mas nunca acerta a minha flor favorita. — Colocando a rosa sobre a mesa, Wei Wuxian buscou um jarro ao qual encheu com água e começou a separar as flores uma a uma e colocá-las no recipiente.

— E você já contou a ele qual a sua flor favorita? — Se aproximando de Wei Wuxian, Cangse Sanren colocou uma mão sobre suas costas onde depositou um carinho, logo então afastando uma mecha do cabelo longo e despendeado de seu filho, a colocando para trás de sua orelha.

— Hmm... Não! E nem vou. Ele precisa descobrir sozinho. — Com o primeiro vaso cheio, Wei Wuxian riu satisfeito, indo buscar o segundo cujo havia varios talos secos das últimas flores que catou, estes que seriam jogadas fora e substituídos por novas bem vivas. — Feng-Ge é inteligente, se ele se esforçar um pouco mais, vai descobrir.

— Você é um garoto adorável. — Cangse Sanren o olhava com ternura quando veio e gentilmente afastou a franja do filho onde depositou um beijo em sua testa. — A-Ying, já organizou as suas coisas? Partiremos amanhã pela manhã, não esqueça.

— Não esqueci, quero muito ir! Estou tão feliz que vai me levar à Yunmeng com você dessa vez! Mãe, quando chegarmos lá, me deixa ver o lago de lótus?!

— Claro que sim, você terá muito com o que se divertir. — Ela se afastou alguns passos na direção de um cesto grande que estava no chão da cozinha, pegou alguns legumes e os levou até uma bacia com água, começando a lavar enquanto conversava com Wei Wuxian, que ao ver a mãe trabalhando, logo se sujeitou a ir até ela.

— Mas também quero ajudar com o comércio, mãe, sabe que eu posso fazer isso. — Pegando uma faca, Wei Wuxian ofereceu sua mão a qual lhe foi entrege uma batata. Começou a descascá-la enquanto tentava convencer sua mãe a deixá-lo ajudar com as vendas de vinho.

— Você vai, mas não precisa se preocupar com essas coisas. Além disso, lá terão muitos outros garotos da sua idade com quem você pode brincar e fazer amizade enquanto eu estiver ocupada. — Cangse Sanren o entregou novas batatas lavadas para que Wei Wuxian descascasse; ele continuou seu trabalho normalmente. — No entanto, não quero que fique até tarde sozinho perambulando por lá.

— Eu sei bem como me cuidar, não vou me encrencar. Você sabe que não.

— Você é um bom garoto, mas não significa que todos tenham um bom coração como o seu. Seja cuidadoso e me obedeça, uma coisa é você passear a noite em Yiling, que é a nossa casa, e outra completamente diferente é fazer isso numa cidade desconhecida e sem a menor necessidade, huh? — Secando a mão num pano próximo a ela, Cangse Sanren levou a mesma até a bochecha do filho, onde fez um carinho com a ponta de seu polegar.

— Entendi, minha mãe. — Ela riu.

— Você é um rapazinho inteligente. Vou alugar um quarto na pousada para nós dois e quero você de volta dos seus passeios ao anoitecer enquanto ainda tiverem muitas pessoas na rua, entendido?

— Mn! Não se preocupe, mãe! — Wei Wuxian assentiu com a cabeça e sorriu, e ela repetiu seu gesto.

— E quanto a suas flores? Vão murchar se deixá-las secando sobre a mesa. — Wei Wuxian largou a faca e foi em passos ligeiros na direção de suas flores. Ele as recolheu imediatamente, se apressando em colocá-las o mais rapidamente possível em seus destinados vasos. Arrancando boas risadas de sua adorada mãe que apenas se virou e voltou a descascar o resto das batatas que seu filho havia abandonado sobre a tábua de cortes.

Cada flor em seu determinado vaso, uma certa rosa porém, ganhou abrigo por entre as páginas de um livro. Em seu quarto, após fazer uma deliciosa refeição feita pelas mãos habilidosas de sua mãe, estava Wei Wuxian, enfim desembaraçando seu cabelo que antes mais cedo, parecia indomável.

Alguns toques na janela foram ouvidos, quando Wei Wuxian se levantou da cama onde estava sentado. — Quem está aí? — Perguntou num tom pouco assustado.

— Adivinhe quem é! — Com uma voz tão familiar, quem mais poderia ser?

— Feng-Ge... — Wei Wuxian sussurrou e não conseguiu conter seu riso. Correndo para destrancar a janela, ele rapidamente mudou de expressão para recebê-lo. Ao finalmente ver aquele rosto, Wei Wuxian solto um seco e frio "humph!". — O que veio fazer aqui? Nem pense que ainda não estou zangado com você.

— XianXian... Me desculpe, não vou mais fazer aquilo. — Com seu grande e brilhante par de olhos negros, Feng Zhiqing o olhou por cima das sobrancelhas, forçando uma expressão que se assemelhava a de um cão implorando pelo perdão de seu dono. — Seu Gege estava errado.

— Eu não sei se deveria perdoar você. — De braços cruzados, Wei Wuxian se obrigou a não olhar para ele. — Não adianta tentar jogar sujo comigo usando essa sua cara. Não vou te olhar!

— Hahahaha, A-Xian! Vamos, só dê uma olhadinha! — Foi quando Wei Wuxian deu as costas completamente para ele. Feng Zhiqing aproveitou dessa situação para pular a janela, e dentro de um segundo seus pés já estavam dentro do quarto de Wei Wuxian.

Ao som de suas botas se chocando com o piso de madeira, Wei Wuxian se virou para trás instantaneamente, e a única coisa que viu foi Feng Zhiqing indo em sua direção. Não houve tempo para correr e antes que ele pudesse ao menos pensar em gritar, foi surpreendido por um abraço tão forte que quase foi capaz de sufocá-lo. — Já que A-Xian não quer me olhar, eu vou abraçar você até você me perdoar!

— Feng-Ge! Está me apertando! Acha que que eu vou te perdoar mesmo quando você insiste em me provocar?! — Wei Wuxian disse com sua voz abafada contra o peito alheio. Feng Zhiqing folgou os braços mas o bastante para deixar que o outro escapasse. — Você é louco! Não vou te perdoar! Não vou, não vou!

— Oh, não! Por favor! XianXian, eu imploro! Como vou viver sem você? — Wei Wuxian não respondeu nada. — Huh? — Sem resposta. — XianXian... — Wei Wuxian desviou seu olhar num novo e ainda mais amargo "humph!". - E se eu fizer você rir?

— Não.

— Eu não ouvi direito...!

— Para! Você é mau comigo!

— Ora, vamos lá, A-Xian, sabe bem que isso não é verdade.

— ...

— Não vai aceitar o meu pedido de desculpas? Não seja assim, eu só estava brincando, desculpe, desculpe!

— Tudo bem. — Wei Wuxian foi novamente acolhimento dentro daquele abraço sufocante enquanto ainda murmurava. — Se você fizer de novo vou te cortar em pedacinhos e dar aos porcos!

— Entendido! Não farei, eu juro! A propósito, por quê todas essas coisas? — Feng Zhiqing apontou para um cesto cheio com roupas e outras coisas espalhadas sobre a cama de Wei Wuxian.

— Amanhã viajarei com minha mãe! Vamos para Yunmeng, e é a minha primeira vez lá. Estou tão empolgado Feng-Ge! — Wei Wuxian foi até sua cama e pegou um lindo robe de cor violeta detalhado em preto, havia sido recém costurado e foi comprado para Wei Wuxian, que mal podia esperar para vestí-lo. De acordo com sua mãe, a cor ornava perfeitamente com seus fios de cabelo escuros como carvão, e essa era a mais pura verdade. — Vou vestir isso, você não achou bonito?

— Oh! É mesmo muito refinado! Você caprichou. Com tanta imponência, não se assuste caso você venha a ser confundido com um jovem rei ou imperador. Um príncipe! — Wei Wuxian riu enquanto dobrava as peças de roupa e as colocou de volta no mesmo lugar.

— Não precisa exagerar, quem chamaria uma pessoa como eu de majestade ou coisa assim? Bom, você deveria ir embora, eu vou sair amanhã bem cedo então preciso descansar. — Feng Zhiqing não se opôs dessa vez e caminhou na direção da janela, onde ficou sentado esperando que Wei Wuxian viesse até ele.

— A-Xian, amanhã, quando você estiver lá, seja cauteloso. Você nunca esteve lá antes, ande com cuidado.

— Eu sei me cuidar, e além disso, nem vou tão longe. Só quero ver o lago. - Feng Zhiqing soprou um sorriso e deu uns tapinhas no topo de sua cabeça antes de colocar os dois pés para fora da janela.

— Se é assim então tudo bem. Aliás! Quando estiver lá, lembre-se que você é um ômega compromissado! Não quero nem pensar em você caindo nos encantos de outro. — Feng Zhiqing não podia esconder sua expressão azeda depois de ter tomado umas boas xícaras de vinagre [2] na frente de Wei Wuxian.

— Hahahaha! Você é um tolo por pensar que eu olharia para qualquer um que não fosse você. — Wei Wuxian o abraçou, aconchegando seu rosto à curva do pescoço dele, acariciando suas costas. Ele se afastou um pouco apenas para depositar um beijo casto sobre a superfície da bochecha de Feng Zhiqing, que corou imediatamente.

— Você me beijou. — Feng Zhiqing tocou o local do beijo com a ponta dos dedos, atônito. Seu rosto macio tão rosado quanto um pêssego.

— Beijei. Você queria um beijo então eu te dei. Mas já não vai ter mais nenhum! Agora vá. Vá, vá embora, Feng-Ge! — Feng Zhiqing foi empurrado para fora e entre risos ele finalmente foi embora. Wei Wuxian apagou as velas e foi até a cama, onde deitou a cabeça no travesseiro, e fechou seus olhos enquanto um sorriso meigo ainda curvava seus lábios para cima. Pouco tempo depois, ele tranquilamente, adormeceu.

Na manhã do dia seguinte, Wei Wuxian ajudava sua mãe a colocar na carroça todas as jarras pesadas cheias com o vinho perfumado feito pela própria Cangse Sanren. Wei Wuxian estava tão reluzente quanto o sol, radiante e encantador, sua alegria era perceptível.

— A-Ying, suba na carroça, eu vou buscar as últimas mantas. — Ele olhou para sua mãe e logo em seguida fez o que lhe foi pedido, sentando na carroça e balançando os alegres pés para frente e para trás com um sorriso que nunca se desfazia.

As mantas eram costuradas também por sua mãe, usando a lã recolhida de seu pequeno rebanho de ovelhas. Ela costurava belas mantas que eram perfeitas para o inverno, e por ser primavera, quando Wei Wuxian a viu chegar novamente, olhou confuso em sua direção. — Mãe, acha mesmo que podemos vender tantas mantas ainda na primavera? Faz tanto calor! Eu não acho que alguém vá querer comprar ainda que elas estejam tão bonitas.

— Hahaha! Sim, faz realmente muito calor. O suficiente para ninguém em perfeito juízo querer comprá-las. No entanto, meu filho, essas mantas não são para Yunmeng. — Entrege as risadas que aquele doce menino sempre lhe dava, Cangse subiu na carroça.

— Se não é para Yunmeng, então para que a senhora quer levar isso conosco até lá? — Wei Wuxian pergunta sinceramente enquanto se estica para pegar uma das mantas com sua destra e colocar em seu colo apenas para ver, sem desmanchar as dobras perfeitas do tecido grosso de lã.

— Partiremos diretamente para Gusu quando acabarmos a venda de vinhos. Lá sim, faz frio o bastante para quererem comprar nossas mantas mesmo na primavera! — Os olhos de Wei Wuxian brilharam.

Gusu era uma região montanhosa, com picos altos que acumulavam neve. Lá ventava bastante naturalmente e era dona de noites gélidas e pessoas que adoravam ter sempre boas cobertas ao alcance da mão.

— Então além de Yunmeng também vai me levar até Gusu?! Eu não poderia estar mais animado! Gusu não é aquele lugar distante? Ficaremos bastante tempo fora, eu imagino... Em quantos dias acha que terminaremos tudo? — Com a carroça já em movimento, Wei Wuxian devolveu o manto para o seu devido lugar enquanto aguardava as respostas de sua mãe. Estas não que tardaram muito a vir.

— Sim, Gusu fica bastante longe, mas apenas se você for pelo caminho mais longo. Podemos chegar bem rápido à cidade se fomos por Yunmeng, que é a que nós vamos fazer. Um bom atalho, não acha? — Wei Wuxian acenou com a cabeça varias vezes. Seus pés balançando felizes de um lado para o outro.

— Mãe, a senhora é tão inteligente! Eu estou tão ansioso! Mal posso esperar para chegar lá...

Já quando o sol brilhava ao horizonte anunciando o fim daquele dia, no cruzar da grande ponte que ligava a estrada aos portões da cidade, Yunmeng enfim se apresentou aos olhos daquele que tanto ansiava pelo momento em que finalmente chegaria até lá. Wei Wuxian sorriu e gritou. — Nós chegamos?! Finalmente chegamos!

Yunmeng era uma lugar repleto de rios e lagos por toda parte, diferente de Yiling, era muito mais chamativa, tratando-se de ruas bonitas e enfeitadas, Yunmeng podia se considerar privilegiada.

Para um jovem rapazinho como ele, é uma vista realmente de encher os olhos.

Wei Wuxian estava tão empolgado que mal conseguia desmanchar o sorriso de seu rosto, conheceria enfim o tão popular lago de lótus de Yunmeng. Parece algo simples, e de fato é, mas é também o bastante para fazê-lo radiante de felicidade.

— Mãe, posso ver o lago de lótus hoje?!

— Sei que está eufórico meu bem, mas é melhor que você vá amanhã. Podemos passear juntos hoje, o que me diz? Ainda temos que procurar um alojamento com quartos disponíveis. — Ela disse.

— Eu já estou aqui, tudo bem esperar para ver amanhã quando estiver sol! Vamos mãe! — Wei Wuxian era compreensivo e tão doce quanto os favos do mais puro e doce mel.

Ao chegar numa determinada estalagem, Cangse Sanren alugou um quarto simples com duas camas separadas, o que julgou ser o bastante para uma curta estádia. E de fato era. Um ambiente agradável e com boas camas confortáveis, além de que o alojamento era de fato muito limpo e organizado.

Juntando-se a mãe, Wei Wuxian subiu as escadas até o segundo piso e entrou no quarto designado, onde deixou seus pertences e também mercadorias. Então desceu novamente, para agora, enfim, fazer o tão esperado passeio pela cidade de Yunmeng.

Wei Wuxian, ao lado da mãe, conheceu vários lugares bonitos; a cidade parecia até estar pronta para um festival, cheia de barracas de comidas variadas e música tocando nas praças, tudo cheio de luz e pessoas transitando para lá e para cá por todas as direções. Estava verdadeiramente encantado, tão encantado que deixou que seu eu distraído e avoado desse as caras, e num momento qualquer, Wei Wuxian notou ter se separado de sua mãe.

— Mãe você viu só aqueles...?! Mãe? Ah, não, essa não... Mãe?! — Começou a chamar por ela, mas seria muito difícil fazê-la ouvir sua voz em meio a tantas outras. Imagine se ver perdido numa cidade estranha?! Ele não poderia desanimar tão cedo. Wei Wuxian tinha uma vantagem, era um rapazinho inteligente, continuaria procurando.

Afinal, ela não poderia ter ido longe e, a essas alturas já estava procurando por ele também

Nem mesmo sozinho ele conseguiu ficar com medo. Estava buscando sua mãe, ainda que estivesse despreocupado; ele parecia mais estar se divertindo do que agindo como alguém que acabou de se perder.

Admirando a humilde barraca de uma senhora que vendia lindas lanternas de papel, Wei Wuxian se aproximou para ver os detalhes, agachando-se. — São tão bonitas, uma pena eu não estar carregando nenhum dinheiro comigo agora.

— Você pode voltar e comprar uma depois, jovenzinho. — Ela disse mostrando um adorável, caloroso e já um tanto banguelo, sorriso. Wei Wuxian só pode então retribuir o gesto antes de levantar e ir.

Seu sorriso meigo soou um "Mn!". Ao sair, Wei Wuxian acabou por esbarrar numa pessoa qualquer que estava no meio do caminho, um rapaz que não parecia muito mais velho que si. Tudo bem, isso não o é um evento nem um pouco raro tendo em vista a quantidade de pessoas rondado a cidade, mas esse rapaz era verdadeiramente singular.

— Perdão? — Se virou atordoado.

— Desculpe, eu não tinha o visto, já estou indo embora. — Wei Wuxian deu alguns passos para trás e se curvou algumas vezes e o outro repetiu sua atitude, curvando-se também.

— Não se preocupe comigo, está tudo bem. Na verdade a culpa foi minha, eu fui quem estava distraído aqui parado atoa, sinto muito. Eu machuquei você? — Ele disse cortês. Vestido de branco de cima até embaixo [3], o rapaz cujo os cabelos pareciam ter sido recém cortados (o que era algo de se estranhar), preso com uma fivela de prata num rabo de cavalo de fato, curto.

— Imagine, estou bem. — Wei Wuxian ficou realmente admirado, apesar de tão lindo, não tinha nada para olhar nele. Nem devia! Um completo estranho, só porquê lhe trocou palavras gentis. Além de tudo, ele ainda tinha Feng Zhiqing e não tinha planos de substituí-lo, afinal de contas, era ele de quem Wei Wuxian gostava. — O que fazia parado aí? No meio de tantas pessoas, pode terminar sendo arrastado entre a multidão.

— Sendo sincero, eu não sei. — Ele respondeu com um rosto frio olhando novamente na direção que outrora tomava sua atenção. Quando uma voz familiar chegou aos seus ouvidos; chamando incansavelmente: "Didi!" [4], Fazendo o dito estranho de olhar distante virar agora na direção de quem o chamava. — Eu preciso ir, realmente sinto muito pelo empecilho.

Ainda que ele tivesse um rosto tão melancólico, era bonito como uma peça de jade, e educado como um príncipe. Wei Wuxian se virou para o lado, examinou o que viu e desdenhou ainda que só um pouco. — Não passa de uma livraria, qual o problema daquele cara? Seja o que for, eu não tenho nada a ver com isso mesmo.

Quando estava prestes a ir, olhou para baixo onde encontrou uma borla caída no chão. Linhas azuis e detalhes prateados em torno de uma peça de jade branca esculpida em formato nuvem. O cordão que deveria estar em volta do cinto de alguém, estava agora rompido, o que certamente foi o que fez com que ela se soltasse e se perdesse.

— Que linda. Tão refinada... — Wei Wuxian segurou ela entre os dedos com delicadeza e olhou na direção que aquele rapaz havia ido, mas não conseguiu mais vê-lo entre a multidão. — Algo tão elegante só poderia pertencer a alguém elegante, estou certo que isso deve pertencê-lo.

Wei Wuxian deu algumas voltas e lamentou não conseguir encontrá-lo e devolver a borla que possivelmente o pertencia. Frustrado, ele apenas guardou em seu robe e decidiu que iria arrumar o cordão e guardá-la. Após isso continuou passeando até finalmente encontrar com sua mãe, já frente a pousada.

— Wei Ying! Onde você pensa que estava?! Está tudo bem?! — Ela gritou preocupada, dando voltas e mais voltas ao redor de Wei Wuxian, checando para ter certeza que estava tudo inteiro e no devido lugar.

— Estou bem! Estou bem, viu? Eu só me afastei por alguns minutos.

— Você quase me matou de susto! — Cangse Sanren puxou o filho para dentro de seus braços, o acolhendo e depositando varios beijos sobre o topo de sua cabeça. — Não pode sair se perto de mim, esqueceu o que nós conversamos?

— Não esqueci, tudo bem? Não fique tão preocupada, mãezinha, fiquei todo esse tempo sozinho e todos foram gentis. — Ele sorriu. Aquele sorriso angelical.

— Isso é porquê você é um doce, quem ousaria ser mau com alguém como você? Venha, já está quase na hora de jantar, vamos comer uma boa refeição.

Naquela noite na pousada, Wei Wuxian arrumou o cordão da tal borla e a deixou guardada num lugar seguro entre suas coisas, onde ela não fosse ser danificada outra vez. Quando acabou, exausto pelo longo dia, ele apenas deitou e adormeceu.

Assim, já havia se passado três dias desde a chegada de Wei Wuxian e Cangse Sanren até Yunmeng, e mesmo nesse curto tempo, ele já estava se divertindo a beça. Wei Wuxian ajudava sua mãe com o comércio, era um garoto muito prestativo e fez questão de dar uma mãozinha, mesmo quando ela dizia não ser necessário. Além disso, ele ia todos os dias ver o bonito lago de lótus que era uma das principais atrações da cidade.

Para ele, a mais bonita. A planta que significa pureza e renascimento, era também a sua favorita. Isso porque, embora crescesse na lama durante o inverno, na estação seguinte, tornava-se uma bela flor. Ele nunca falou sobre isso com ninguém, e ninguém além de sua mãe tinha conhecimento de sua adoração pela flor tão bonita. Era seu segredo mais colorido, um tanto bobo alguns poderiam dizer, mas para ele, tinha um significado valioso e especial.

Na sua curta estadia em Yunmeng, Wei Wuxian não tinha realmente conhecido ninguém. Isso claro, além daquele rapaz de vestes brancas, o mesmo que nunca mais reencontrou em lugar nenhum. Além dele, não trocou palavras com qualquer outra pessoa, pelo menos não uma pessoa jovem na qual estivesse interessado em fazer amizade, já que enquanto estava na cidade, uma das coisas que Wei Wuxian mais fez, foi falar com os vendedores de barracas de comida. E acredite ou não, ele se divertia muito apenas mastigando.

Wei Wuxian estava boiando num barquinho no lago, catando algumas das flores de lotus que já estavam desabrochando com a primavera.

Ele estava muito feliz, aquela noite quente chegava e o vento fresco o aconchegava. Hoje em especial, parecia que a cidade estava ainda mais bonita, mas ele e não sabia o motivo, apenas estava. Wei Wuxian deitou-se preguiçosamente no barco que ia para onde queria enquanto ele olhava para o céu repleto de estrelas. A visão era tão bonita, que ele até conseguia esquecer o incômodo irritante que começou a sentir atrás das orelhas desde a manhã daquele dia. Tinha alguma coisa errada com suas glândulas de feromônios, mas ele não sabia o quê. Nem estava preocupado de fato.

Com a mão, ele uma vez ou duas examinava as tais glândulas, que pareciam totalmente fechadas.

Wei Wuxian muito bem sabia que ainda não havia se tornado um ômega verdadeiramente. As listras finas e bem discretas que tinha atrás das orelhas, exatamente duas de cada lado, se abririam em fendas que seriam responsáveis por expelir seu perfume no dia que ele se tornasse aquilo que foi destinado a ser, um ômega. Essa natureza se aplicava a todos, nos jovens alfas, porém, se diferiam dos ômegas somente na quantidade de fendas a se abrir; totalizando seis, três em cada lado.

Mesmo sentindo-se incomodado com aquela dor, Wei Wuxian estava em tão perfeita paz que acabou adormecendo no lago e vindo a acordar um longo tempo depois quando sentiu uma pontada aguda no baixo frente, tão forte que o fez gritar.

— Ahh! O q-que...?! Que dor! O que está acontecendo?! — Se apressou em olhar ao redor, o barco não tinha ido muito longe e Wei Wuxian percebeu o pouco movimento na rua. Seu corpo suava frio como se estivesse com febre, podia sentir o calor cobrindo sua pele e enrubescendo seu rosto.

Ele pegou o remo as pressas e levou o barco de volta para o lugar de onde havia pegado. Ofegando, com aquela dor esquisita o atormentando desde cedo e agora essa cólica terrível. Ele saiu do barco, colocando-se de pé com dificuldade, pois os seus membros principais tremiam. A raiz de seu cabelo encharcada de suor, Wei Wuxian tentou afastar com a mão a franja que grudava em sua testa. Sua respiração tremeu, e ele andou pela rua pouco movimentada sem quase nenhuma casa com velas acesas, restaurante ou loja aberta.

— M-Mãe... Mãe, está tão tarde. Ela deve estar tão preocupada... Eu preciso voltar... Preciso chegar logo... — Wei Wuxian disse entre devaneios, sentindo-se tonto e fraco como se estivesse doente.

Caminhar estava sendo tão difícil, seus joelhos vacilavam o tempo todo e ele não conseguia mais aguentar-se de pé, então caiu. E ao cair, a pele de suas glândulas enfim se rasgou, liberando com todo vigor a essência cítricas e adocicada que incendiou todas as brechas ao redor daquele cantinho no beco vazio onde ele estava.

Aquele aroma...

— N-Não! Não pode ser... Aqui não...

O corpo de Wei Wuxian ardeu e ele sequer pôde contemplar a sensação de ter finalmente assumido a forma natural de sua raça. Naquele momento, tudo que ele sentiu foi desespero. Precisava de ajuda, precisava voltar para sua mãe! Ela sim saberia o que fazer. Mas estava tão débil, numa momento tão sensível e delicado, que nem conseguia nem falar, apenas gemer baixinho enquanto se contorcia encolhido, apertando a própria barriga, mal suportando a própria calidez.

Até que um tempo depois, Wei Wuxian olhou para cima quando viu o vislumbre escarlate num par de olhos caindo sobre si. Olhos felinos, famintos, carnais... Mas ele era ingênuo demais para ver, e da forma que se encontrava, como poderia distinguir qualquer coisa uma da outra?

A voz do homem então soou aos seus ouvidos. Grave e com notas de humor, sonoramente sarcástica.- Ora, ora, veja só o que temos aqui.

— Senhor... Por favor, preciso de ajuda, eu tenho que voltar para minha mãe... — O homem que era alto e viril, sorriu para ele e o estendeu a mão.

— Não se preocupe, jovenzinho, você vai. Venha, siga-me, sei exatamente como ajudar você.

Wei Wuxian olhou para ele com certa desconfiança, mas mesmo assim, deu-lhe a mão, e sem qualquer expectativa, foi com ele.

๑❃๑

[1] "Xiao-Feng": "Xiǎo → 小" que significa "pequeno", podendo ser usado antes do nome de alguém como diminutivo. Sendo assim, uma forma casual e carinhosa de tratar alguém próximo.

[2] "ter tomado umas boas xícaras de vinagre": Beber vinagre é uma expressão comum usada para se referir a uma pessoa que está com ciúmes.

(Essa eu acredito que todo mundo já conhece, mas adicionei aqui mesmo assim.)

[3] "Vestido de branco de cima até embaixo": Na China, diferente dos costumes ocidentais, as cores do luto são branco ao envés do nosso tradicional preto.

(A pessoa misteriosa — ou nem tão misteriosa assim (bons entendedores entenderão) — está trajada de luto. Hmm, será que isso foi um spoiler? Durmam de olhos abertos.)

[4] "Didi!": "DìDì → 弟弟" É um honorífico usado para se referir à um irmão caçula ou outro garoto mais jovem. O tal oposto de "GēGē → 哥哥" irmão mais velho ou qualquer garoto mais velho.

๑❃๑

╔═════ஓ๑❃๑ஓ═════╗
Lótus Venenoso
╚═════ஓ๑❃๑ஓ═════╝

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[Até o próximo capítulo!]

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