— Eu não sei onde eu estava com a cabeça pra te ouvir — Will reclamou enquanto abraçava seus braços — Tá muito frio.
— Para de reclamar, parece um velho desse jeito. Vem logo.
— Não vai me matar e vender meus órgãos né? Por que esse caminho tá muito estranho.
— Cala a boca! Nós primeiros dias que eu cheguei aqui eu saia toda a noite....
— Toda a noite? — interrompeu bruscamente.
— É, toda noite. Eu não conseguia dormir, você já sabe sobre o meu sequestro e por noites eu não dormia com receio do Grabber entrar no porão bem na hora. Demorou um pouco para que eu voltasse a dormir pelo menos duas horas por noite.
— Como você fazia em Denver?
— Não dormia, apesar de meus amigos acharem que sim. Então quando vim pra Hawkins e ficava acordado eu saia pela janela e ia conhecer a cidade.
— Ah, isso explica você conhecer tão bem o caminho pras lanchonetes da cidade.
Vance revirou os olhos e seguiu falando.
— Até que eu achei um lugar dentre todos os outros. Entra aí.
Will olhou para o buraco na cerca de um lugar onde não conhecia e arqueou as sobrancelhas.
— É sério?
— Anda logo.
O Byers suspirou é fez o que lhe foi mandado, quando passou pela fresta, a surpresa foi nítida.
— Mas o que...?
A vista de uma noite estrelada entrou em seu campo de visão, o lugar era um terreno aberto com um gramado verdinho e árvores grandes. Não tinha nenhuma construção ou algo do tipo, Vance tirou de dentro de uma árvore um pano consideravelmente grande.
— Isso é... incrível! Como você achou esse lugar antes de mim? Eu moro aqui desde que nasci...
— Você não tem cara de quem sai se enfiando em frestas em cercas, já eu tenho uma grande experiência nisso, sabe como é né... já fui preso.
O Byers se sentou ao lado de Vance que parecia muito bem acomodado na toalha.
— E como é?
— Como é o que?
— Ficar preso, eu nunca nem fui em uma delegacia.
— Ah... normal eu acho, eu ainda sou de menor então só fiquei um dia. Mas pelo o que eu vi, a pessoa mais forte e durona comanda tudo. Agradeça por nunca ter ido parar lá.
— Minha mãe sempre foi superprotetora, e depois do lance com o mundo invertido ficou pior, se ela ao menos souber que eu não estou dormindo a essa hora, eu ganho guarda costas.
Vance riu achando que era exagero do Byers, mas ao ver que ele manteve sua expressão seria, parou imediatamente.
— É sério?
— É... obrigado Vance.
— Hum? Pelo o que?
— Por me trazer aqui, nenhum dos meus amigos me tirou de casa no meio da noite, na verdade todo mundo tem hora de dormir até.
— Vocês são tão certinhos — revirou os olhos — De qualquer forma, é melhor nós irmos, já são três e meia da manhã.
Hopper se levantou e estendeu uma das mãos para Will que prontamente a pegou.
— Obrigado.
Enquanto caminhavam pelas ruas escuras de Hawkins, Will e Vance andavam próximos demais do que Byers já tinha ficado com qualquer outro amigo. Lentamente suas mãos foram se aproximando até se encostarem e por fim se entrelaçarem.
Will abaixou a cabeça, seu rosto ficando em uma coloração vermelha. Enquanto Vance sorria de lado.
🎮
No outro dia, Will desceu as escadas com o cansaço bem aparente. Mas quase caiu para trás quando viu todos os seus amigos reunidos na sala.
— Mas o que vocês...
— Achamos um jeito Will — Nancy falou feliz — Achamos um jeito de matar ele!
Will empalideceu na hora.
— C-como...?
— Lembra da história sobre a família do Henry Creel? Sobre ele ter matado toda sua família? Descobrimos que a irmã dele sobreviveu e ele ainda está viva, Robin e Steve já a localizaram, vamos falar com ela.
— A irmã? Mas ela não tinha morrido e ficado sem olhos?
Max olhou para Will que parecia cada vez mais nervoso e franziu as sobrancelhas. Ela o conhecia o suficiente para saber que algo estava errado.
— Bem... sim! Ela está permanentemente cega, mas ainda podemos pedir ajuda. Quem melhor pra dizer as franquezas dele, do que sua própria irmã?
— Ah, tudo bem... e quando vocês vão?
— Quando vamos você quis dizer, você foi muito afetado pelo o mundo invertido, pode ser uma boa dizer mais detalhado tudo o que aconteceu.
— Eu não sei se é uma boa ir-
— Claro que é — Mike interrompeu — Não tem nada planejado hoje, certo?
Will olhou de um para o outro e suspirou.
— Certo...
🎮
— Tem certeza que é aqui?
A pequena casinha tinha um jardim bem cuidado, e algumas decorações na grama. Quando bateram na porta, uma garota de aproximadamente uns 17 anos abriu a porta.
— O que querem?
— Viemos falar com Alice Creel.
— O que querem com minha mãe?
— Falar sobre o irmão dela — Max disparou.
A garota os olhos desconfiada, mas liberou a passagem.
— Mamãe!
Uma mulher entrou na sala batendo uma bengala pelo chão, ela sorria de forma gentil e se sentou em uma poltrona forrada por um paninho cor de rosa.
— Quem são?
— Um grupo de pessoas estranhas querendo falar sobre seu irmão.
A expressão de Alice mudou de feliz para preocupada, e em seguida para triste.
— Alexa, suba para o seu quarto.
— Mas mãe...
— Agora!
A garota mesmo contrariada subiu as escadas batendo os pés.
— Por que querem falar de Henry?
— Seu irmão não morreu Alice — Nancy falou — Ele se tornou algo ruim, algo que...
Alice pareceu entender o que a Wheeler queria dizer, seus olhos cobertos por uma venda saíram lágrimas de sangue.
— Eu sabia, eu sabia que tinha algo errado com ele. Mas eu achei que era normal... achei que com o tempo isso passaria, até o dia que ele tentou me matar. O incidente com a mamãe foi surpreendente, não sabíamos o que tinha acontecido, mas quando ele tentou me matar eu soube que tinha sido sua culpa.
— Alice...
— Eu não sei o que aconteceu com ele, mas eu gostaria de saber, porque mesmo que ele tenha tentado me matar, Henry ainda é meu irmão. Eu o amava...
Nancy se dispôs a explicar o que havia acontecido e o que estava acontecendo, no meio da conversa Will também explicou algumas coisas, mesmo que tivesse se embolado em algumas partes.
No fim, a vestido azul claro de Alice estava manchado com sangue das lágrimas que caiam de seus olhos.
— O que meu irmão se tornou? Eu queria poder estar com ele novamente, nossas conversas eram legais enquanto crianças.
— Seu irmão não é mais o mesmo Alice, tudo mudou, tanto sua personalidade quando sua aparência. Você não o reconheceria mais, viemos pedir ajuda para achar uma fraqueza dele.
— Fraqueza? Eu não vou ajudar vocês a matar meu irmão...
— Seu irmão causou muita coisa ruim— Mike falou — Ele matou alguns dos nossos amigos, possuiu outros, e tá tentando destruir a cidade. Me desculpe ser indelicado, eu sei que é difícil pra você, mas também é difícil pra nós... até quando vamos perder nossos amigos e família?
Alice abaixou a cabeça, e se levantou caminhando até uma estante bem enfeitada. Ela tirou um pingente de aranha de uma pequena caixinha e entregou para o Wheeler.
— Era o favorito dele, não sei se vai ser o suficiente mas posso garantir que ele vai pelo menos ficar surpreso. Presente de nossa mãe.
— Obrigado Alice, de verdade.
— Não me agradeça, não poderia permitir que mais gente morresse — sorriu.
Os amigos se despediram de Alice e seguiram seu caminho.
Eles estariam prontos para o que quer que vão encontrar lá, a tarde passou rápido e no jantar Will e Jane decidiram compartilhar toda a história.
Joyce e Hopper ficaram surpresos pelos adolescentes estarem fazendo tudo aquilo e eles nem desconfiaram de nada, até Vance tinha dado atenção para a conversa. Depois de uma longa conversa e de terem arrumado a bagunça na cozinha, todos foram se deitar.
Mas naquela noite, Will Byers não dormiu em casa.