— Já chega Maria Luíza! Você não é mais criança! Sabes muito bem que suas ações tem consequências! Já passou da hora de você agir como adulta — Meu pai grita.
Sinto lágrimas pinicarem meus olhos. Eu sempre soube que meu pai não gosta da forma como aproveito minha vida. Mas a forma que ele gritou comigo agora fez eu me sentir o pior ser humano do mundo. Porém Maria Luíza Ferreira não chora em discussões. Maria Luíza grita ainda mais alto.
— Pai, você não pode me impedir de viver minha vida! Eu não tenho mais dez anos. Eu tenho vinte e cinco. Moro sozinha e me banco. Sou livre para fazer o que eu bem entender com a minha vida e o meu corpo. E isso incluí me relacionar com que eu quiser. Seja esse alguem um jogador do Palmeiras ou a porra de um cantor babaca! — levanto do sofá e cruzo os braços parando a frente dele.
— Maria Luíza! Abaixa esse tom pra falar comigo! — fala em tom de aviso.
— Se não o que? Você vai me bater por querer tomar minhas próprias decisões? — levanto as sobrancelhas.
— Vamos manter a calma gente, por favor — Raphael tenta me afastar do meu pai me puxando pela cintura.
Basta um olhar irritado de meu pai para o camisa vinte e três me soltar.
— Você tá falando sério, Raphael? Meu pai simplesmente entra na minha casa sem nenhum aviso. Vê algo que não gosta. Tenta me dizer o que eu posso ou não fazer. E eu tenho que ficar calma? — olho indignada para ele.
— Ele é seu pai Malu. Ele só quer o melhor para você! — afirma calmo.
As vezes a calmaria de Raphael me faz querer socar a cara dele. Como alguém pode ser tão calmo e pé no chão?
— Já que não quer me ouvir, ouve ele! — meu pai aponta para o jogador.
Reviro os olhos.
— Que inferno pai! Você que não está me ouvindo!
— Você por um acaso já parou para pensar o que significa ter um relacionamento com um jogador famoso? Já sabes como lidar com o hater das fãs obcecadas por ele? Estás preparada para ter pessoas vigiando cada passo que você dá? Fora o tempo que ele vai passar fora da cidade quando tiver jogos fora de São Paulo — gesticula enquanto fala.
Não lembro de ver meu pai tão irritado quanto agora. O tom de voz firme. A recusa em ceder mesmo que seja apenas um pouco. A forma como seu olhar fuzila Raphael.
— Você me conhece o suficiente para saber que eu não me importo com o que pode ou não acontecer. Tudo que importa para mim é viver o agora, pai. Sem ficar cogitando as inúmeras possibilidades que podem acontecer — passo as mãos pelo rosto — Mas eu já pensei sobre isso. Não tanto quanto você gostaria que eu pensasse. Mas o bastante para saber que gosto do Raphael o suficiente para ainda querer manter esse relacionamento.
Meu pai me olha indignado. Raphael não parece surpreso, um pouco culpado talvez. Nós sempre tentamos ser o mais claros possível em relação aos nossos sentimentos um pelo outro. Então ele sabe a intensidade do que sinto por ele. E eu sei a intensidade do que ele sente por mim.
— Já que não tem como conversar sobre um assunto sério com Maria Luiza vou falar diretamente com você, Raphael — meu pai se aproxima dele ignorando totalmente minha presença.
— Estou te ouvindo, professor! — Raphael engole em seco.
E com essa afirmação eu tive certeza do que essa conversa causaria. Nem mesmo os sentimentos de Raphael por mim vão superar sua admiração pelo meu pai. Ele vai fazer cada maldita coisa que meu pai pedir. Doa a quem doer. Mesmo que ele próprio sofra com isso. Tudo que meu pai precisa é dizer que será melhor para mim. Raphael sempre coloca a necessidade dos outros na frente das dele.
— Você sabe que ela nunca teve um relacionamento real. E ela não precisa que seu primeiro relacionamento seja com uma figura pública, não é? — olha nos olhos dele.
Vejo meu jogador ficar tenso. Minha vontade é de gritar para ele que meu pai está errado. Mas sei que não vai adiantar.
— Pai, por favor... — susurro cansada.
— Malu tem um futuro imenso pela frente. Vai conhecer muitos caras ainda. Caras tão bons quanto você. Caras que não tem uma vida tão pública quanto você — põe a mão no ombro dele.
Aí está o lado do meu pai que eu detesto. O lado manipulador. O lado que ele só usa quando sua família está em jogo. Lado esse que vem muito a tona quando o assunto são seus filhos. Afinal superprotetor é apelido quando o assunto é o português Abel Ferreira.
— Rapha, por favor... Não deixa ele te manipular. É de você quem eu gosto. É com você que eu quero ficar — seguro seu braço e ele olha para mim.
Seus olhos transmitem uma imensa confusão. Sei que parte dele quer concordar com meu pai e ir embora daqui. Mas também sei que parte dele quer gritar para o meu pai ir embora porque nós fomos feitos um para o outro. E que nós podemos lidar com tudo isso juntos. Mas só medo de me machucar fala mais alto.
— Desculpa amor! — susurra desviando seu olhar do meu.
Suspiro e abaixo a cabeça. Meus olhos enchem de lágrimas. Pela primeira vez na minha vida, estar perto do meu pai e do cara que eu amo me sufoca. Mordo o lábio tentando evitar o choro. Sei que não vou segurar por muito tempo. Levanto a cabeça levemente para olhar para os dois.
— Vão embora daqui! Agora! — falo mais alto que o normal. Os dois nem se mechem — Se vocês não forem eu vou!
Eles trocam um olhar rápido antes de ir até a porta. Meu pai me dá um leve beijo na testa antes de seguir Raphael.
— Vocês sabem que vão se arrepender disso, não é? — pergunto antes deles fecharem a porta.
Raphael apenas para onde está. Sem se dar ao trabalho de olhar para mim. Sei que está sendo difícil para ele também. Mas não consigo deixar de sentir raiva.
— Descansa Malu. Amanhã você irá acordar mais calma — meu pai me olha sério.
Quando ele finalmente fecho a porta me permito chorar. Meus joelhos fraquejam e não consigo ficar em pé. Choro como uma maldita criança que teve seu brinquedo favorito roubado. Pela primeira vez na minha vida eu me apaixonei de verdade por alguém. Mas meu pai fez o favor de destruir isso para mim. Porém, ele esqueceu que eu nunca saio por baixo em alguma situação. E não será agora que isso vai acontecer.