Julles
Sempre fico curiosa de como o quarto dela consegue captar seu cheiro dessa forma, baunilha suave, nada enjoativo, muito acolhedor. Estava preocupada com ela e fiquei surpresa com seu convite para dormir aqui, mas aceitei de cara, na esperança de que ela estivesse pronta para falar sobre o que quer que esteja a atormentando esses dias.
Embora parte de mim esteja pensando no que o moreno está fazendo agora e em como nós poderíamos estar embolados na cama, sinto que precisava estar aqui.
Deitamos na cama, lado a lado, quando ela começa a contar de sua conversa com Johna e que agora eles estão numa vibe melhor. Mesmo que não estejam mais "juntos", não se afastaram brigados, ainda são amigos, é um pouco doloroso pra mim ouvir ela falando os motivos pelos quais os dois não deram certo, e imagino que ela tenha sofrido quando ouviu ele falar tudo aquilo também. Entrelaço nossos dedos suavemente e ela parece ficar confortável com isso.
Falamos sobre a família dela e aparentemente ela e o pai estão bem mais próximos depois de tudo que houve, e isso me deixa feliz. Ela está com um brilho diferente nos olhos enquanto conversamos e mesmo sem entender de onde veio, prefiro vê-la assim, com vida, com ânimo.
Ela fala sobre a "briga" no restaurante e eu me acabo de rir, não consigo imaginar ela dando uma surra nos dois. Ela e o pai tem almoçado juntos, conversado e mantido uma relação harmoniosa, como a que eu comentei com ela nas nossas primeiras ideias, a harmonia que um dia eles haviam de encontrar.
Ela se apoia nos cotovelos, me encarando com atenção. Infelizmente não tenho nada demais para contar, minha vida está pacata, tenho treinado as vezes a canção que Nathan me mostrou no piano e posso dizer que já a aprendi.
O rosto dele surge na minha cabeça de novo, ele pareceu tentar se comunicar comigo a noite toda. Encaro a pulseira em meu pulso e um sorriso pequeno se forma em meus lábios. Me pergunto se ele pensou em mim quando estava em NY. Se parte dele também tava uma batalha sentimental.
Ao mesmo tempo sinto um aperto no peito, me dizendo que ele não se apega a ninguém. Ele mesmo disse. Não somos um casal. E eu disse isso também. E de fato, não somos..
Na tentativa de sumir com esses pensamentos, conto a Anne sobre assunto da campanha da empresa, que vai começar em um mês. Ainda me querem para ser o rosto, mas me sinto desconfortável com isso, prefiro meu rosto sendo visto pessoalmente e por pessoas de quem eu gosto e que conheço.
Anne: Não combina com você, acho que não devia fazer - concordo suavemente pensando sobre - sabe, ter um monte de estranhos babando por você em um outdoor não é agradável de se imaginar.
Ela ri suave e me permito notar como ela parece atenta a cada detalhe do que eu falo, o que me deixa um pouco intrigada, não que ela nunca tenha prestado atenção no que eu digo, mas ela parece excepcionalmente atenta hoje, a cada movimento meu.
Ela solta a respiração pesada e sinto que tem algo de errado, toco o rosto dela com as costas da mão, fazendo um movimento suave, que faz ela rir sem mostrar os dentes.
Anne: Eu chamei você hoje porque queria contar algo - engulo seco, mas me controlo, mantendo a respiração tranquila, dando sinal para que ela continue - me afastei esses dias porque precisava pensar. Os meninos me aconselharam e até meu pai resolveu me dar dicas de vida - ignoro a maior parte das informações. Meninos? Ela recorreu ao Nate? -
Anne: Julles, quando a gente teve o beijo eu fiquei tão atordoada que reprimi qualquer tipo de atração ou afeto que poderia estar sentindo naquele momento. Fiquei em pânico porque nunca tive nada parecido. Fiquei tempos depois com o Johna porque gostava do que ele me proporcionava, mas precisei desse nosso afastamento para ver as coisas com clareza.
Anne: Julieta, você é minha melhor amiga, a pessoa em quem eu confio e que esteve comigo em todos os momentos, fossem eles bons ou ruins. Você é o alvo do meu interesse, da minha admiração e do meu afeto. Com nossa distância senti tanto a sua falta que mal podia pensar direito, vi você em todos os lugares e em todas as situações.
Anne: Nunca vou poder me relacionar com alguém, porque você é a pessoa perfeita para mim, com quem eu quero estar. Eu só queria ter percebido isso antes, e sinto muito por ter deixado o tempo passar dessa forma, eu só não podia tomar outra decisão precipitada e estragar tudo. Mas é você, Julles, você é minha alma gêmea, é você quem me completa.
Sinto o ar dos meus pulmões sumirem aos poucos, não sei como reagir a isso. Minha boca seca e sinto ondas de calor passarem pelo meu corpo, e é justamente quando me dou conta de quão próximas nós estamos.
Posso sentir o calor dela próximo ao meu corpo, o cheiro dela invade meu nariz e sinto sua respiração bater contra os meus lábios. Nossos narizes estão suavemente se tocando e ela pousa a mão gentilmente em meu rosto, fazendo um carinho. Ela se aproxima, investindo contra os meus lábios, quando a paro, colocando a mão em seu ombro.
Ela se afasta devagar, quase num reflexo. Se senta na cama e me encara, como se sentisse culpa pelo que quase acabou de acontecer, ela abre e fecha a boca várias vezes, tentando falar algo, mas me adianto
Julles: Ei, está tudo bem - digo levando as mãos até a lateral de seu rosto, pousando uma de cada lado - eu só fiquei surpresa. Não fique chateada comigo, por favor, eu definitivamente não imaginei que você tivesse se afastado por estar pensando no que sente por mim, e ouvir isso de você é muito bom mesmo. Sinto muito por não saber reagir direito, é que passou tanto tempo desde o nosso beijo, eu me convenci por tanto tempo de que eu havia apressado as coisas e que meus sentimentos colaboraram para que você se afastasse, que pensar nesses sentimentos de novo me deixam confusa. Você precisa me dar um tempinho...
Ela me olha atenta, mas quando finalizo ela se desvencilha do meu toque, andando pelo quarto. Fecho os olhos frustrada, soltando o ar devagar pelo nariz, eu a magoei. Mas não posso simplesmente a corresponder quando não sinto o mesmo, ou pelo menos acho que não sinto - Acho melhor eu ir embora - digo e ela me encara chocada - Não, não é por você, prometo, só preciso fazer uma coisa agora e preciso pôr as ideias em ordem
Digo de imediato, quase numa súplica. Ela concorda devagar com a cabeça e me levanto, deixando um beijo em sua testa, a abraço apertado e sinto ela relaxar, de certa forma.
Pego minha bolsa de cima da cama e ela me acompanha até o andar de baixo, nos despedimos e logo estou na rua. Sinto o vento gelado bater contra o meu rosto, mas não sinto frio, pelo contrário, estou morrendo de calor.
Minhas pernas se movem sozinhas, rapidamente, está escuro e já passam das 23, não é bom eu ficar andando sozinha a uma hora dessa. Caminho por um tempinho até estar na porta da casa dele. Toco a campainha, ignorando o bom senso, rezando para que ele esteja acordado e para não acordar ninguém.
Vejo o trinco se abrindo devagar e a porta ficar semiaberta. Ele aparece sem camisa, apenas com uma calça de moletom, está descalço e seu cabelo está bagunçado, é definitivamente a visão do paraíso. Ele não parece com sono, então dou graças a Deus de não tê-lo acordado.
Nathan: Julieta, o que faz aqui? Está tudo bem?
Ignoro a pergunta e corto o espaço que há entre nós, passando pela porta e enrolando meus braços ao redor de seu pescoço, grudo nossas bocas em um beijo urgente, mais intenso do que posso explicar, o beijo que não dei no karaokê e que desejei desde o princípio da noite.
Ele sequer protesta, apenas me envolve pela cintura, me girando, fecha a porta e me encosta na mesma, aprofundando o beijo. Sinto sua língua tocar na minha e vou ao céu quando sinto gosto de menta. Ele agarra minha cintura com brutalidade e usa a outra mão para enrolar meus cabelos na nuca, dando ferocidade ao beijo.
Puxo de leve seus fios, me permitindo sentir cada centímetro de seu peito exposto. Pausamos o beijo pela falta de ar, mas mantemos os lábios próximos, roçando um no outro, enquanto ele me encara profundamente, pousando uma das mãos ao lado da minha cabeça.
Julles: Me leva pra sua cama - ele me olha sem entender, mas logo sua expressão muda para uma safada, com aquele enorme sorriso de lado. Sou pega pelas pernas, entrelaço-as em suas costas e ele sobe comigo para o 2° andar. Não faço ideia de como ele enxerga os degraus a sua frente, mas sequer tropeça.