Um incômodo na nuca começava a se alastrar pela cabeça de YoonGi, ele gemeu de desconforto enquanto começava a despertar. Suas mãos estavam presas atrás de suas costas, que doíam pelo tempo naquela posição e pela agressão que provavelmente tinha sofrido.
Tinha sido agredido? Não se lembrava bem.
Sentia uma dor em seu estômago, como se estivesse sendo corroído por ácido. E, enquanto sua consciência retornava pouco a pouco, reparou que sua boca estava amordaçada e que seus lábios estavam secos e rachados.
Ergueu sua cabeça, enxergando o ambiente ao redor, estava escuro, janelas e portas fechadas, caixas de madeira espalhadas e um computador sobre uma delas, uma não tão distante assim. Parecia uma simples sala. Na verdade... parecia a sala em que...
A porta na lateral foi aberta, revelando um homem alto de cabelos negros que andava a passos lentos até si.
- Olha quem já está acordado.
Ele tinha um sorriso contente no rosto, um sorriso que YoonGi já havia visto e sido a causa muitas vezes. Mas havia algo errado em seu olhar, e isso fez o Min se arrepiar em medo. Bem, isso e o revólver que o outro tinha na mão.
- Oi, amor. Sentiu saudade?
Os anos haviam feito bem e mal para o mais alto, havia novas perfurações, uma beleza mais madura, mais tatuagens que provavelmente haviam sido feitas com metal pesado e... mais cicatrizes, YoonGi tremeu.
Teve seu queixo segurado, seu rosto analisado detalhadamente enquanto a língua do mais alto serpenteava pelos lábios com certa malícia.
- Eu senti saudade.
Confessou.
- Até demais, estive ansiando esse reencontro por anos.
Buscou uma das cadeiras jogadas pelo lugar se sentando nela, começando a analisar a arma enquanto falava.
- Às vezes pensava em nós, no que fomos, no que era pra ter sido e, no que nos tornamos. E é tudo culpa sua, YoonGi.
Riu alto, repetindo o nome várias vezes, como se o saboreasse.
- Culpa sua YoonGi, você tirou TUDO de mim. Você e esse seu sorrisinho que me arrancou suspiros e seus lábios que me davam ideias tão, mas tão, erradas.
O Min observava assustado seu sequestrador jogar da arma de uma mão para a outra com certa maestria. Sorrindo sonhador, encarando o nada enquanto falava.
- Sua pele tão branca que ficava vermelha tão fácil, sua bunda que cabia na minha mão... meu deus eu era louco por você... eu sou, louco por você. Por sua causa, YoonGi. Meu YoonGi.
Fazia gestos, como se pudesse ver o que falava, finalmente virou para YoonGi o olhando nos olhos e apertando seu queixo.
- Eu amava seus gemidos, amava fazer café pra você, quando você me ajudava a estudar e eu te ajudava a compor, quando cantávamos juntos. Eu era seu Golden Maknae, se lembra? E eu amava quando me chamava assim, hyung. Meu hyung.
O sorriso nos lábios alheios parecia tão puro que atordoou o mais velho.
- Eu me lembro de cada um dos nossos momentos... de quando nos conhecemos,...
6 anos antes
JungKook caminhava a passos rápidos em direção a porta da sala. Seus óculos de grau escorregando por seu nariz enquanto obrigando o garoto a empurra-los. Quando enfim entraria na sala, percebeu estar atrasado: as apresentações que os membros do clube faziam uns para os outros haviam começado, tentou abrir a porta sorrateiramente, mas, estava travada por dentro. Se virava para ir embora quando porta foi aberta por um rapaz loiro, mais baixo que si e, com uma cara de bravo que deixou JungKook receoso.
A faculdade de Seul oferecia aos alunos um espaço para desenvolverem seus dons artísticos, mesmo que não possuísse relação alguma com o curso que faziam. Já era metade do semestre quando o descobriu.
- Vai entrar ou vai ficar aí fora?
Disse dando espaço para Jungkook passar e travando a porta em seguida.
Jung Hoseok, aluno de medicina veterinária, era um dançarino excelente, ele esbanjava talento na sua apresentação. Quando acabou, todos aplaudiram. Principalmente o loirinho que havia aberto a porta pra si.
- Foi incrível Hobi.
Hoseok respondeu com um sorriso ladino e uma piscada.
- Eu tento. Agora vai lá e arrasa Agust.
Andando a passos rápidos até a frente, Agust começou um rap sobre a cidade natal, sobre si, sobre suas ambições. Podem ter certeza, ele sonhava alto.
E puta merda, ele era bom pra caralho.
Os olhos do Jeon brilharam com aquela apresentação.
Alguns podem dizer que foi ali que JungKook se apaixonou, mas...
***
-... de quando decidi confiar totalmente em você...
5 anos e 1 mês antes
- Ei, Saeng.
Em plena semana de Provas, a vida de todos os universitários do campus estava caótica, incluindo os do clube de artes. Havia meses que o Jeon ingressou e, em algum momento, passada as devidas apresentações e a estranheza de alguém novo, ele se tornou amigos de todos os membros.
Incluindo o baixinho ranzinza que abriu a porta para si.
O mesmo que chegava agora em seu apartamento.
- Trouxe comida. já te conheço, sei que não almoçou.
Realmente o mais novo não havia almoçado, sempre pulava refeições quando estava estressado, tanto que perdia peso em épocas assim.
- Obrigada YoonGi-hyung.
Agradeceu com um sorriso no rosto, pegando a sacola que estava na mão do mais velho.
- Não precisa agradecer, pirralho. só coma direito, okay? Não quero te ver doente.
- YoonGi-hyung sempre cuida de mim, nem parece que anda com a cara amarrada e cheio de marra.
Disse debochado, tirando as marmitas da sacola.
- Como é que é? A gente cuida e recebe insultos como agradecimento?
Ele não falava sério, tinha o sarcasmo na ponta da língua e nunca hesitava em usa-lo. Algo que JungKook achava engraçado e ligeiramente sexy.
...todos sabem que foi ali que ele caiu,...
***
-... de quando me entreguei pela primeira vez...
4 anos e 11 meses antes
Risadas altas soavam no quarto do mais novo.
- Você é tão idiota!
- Não me trate assim, hyung~. Você sabe o que acontece se me trata mal.
As mãos grandes de JungKook atacaram a barriga de YoonGi com cócegas. Novamente, tudo o que se ouvia naquele lugar eram risos altos, distraídos pelas cócegas não notaram o quão próximo estavam até o nariz de JungKook estar próximo ao do Min.
Os olhares se cruzavam indo em direção aos lábios, ninguém sabe quem se moveu primeiro mas, logo estavam se beijando.
Não que isso fosse totalmente novidade, havia algumas semanas do primeiro selar, e o mesmo número de semana do primeiro beijo de verdade e agora? Agora eles estavam ali, na cama de casal do mais novo, se beijando profundamente, mãos passeando pelos corpos até ficarem quentes demais.
- Hyung?
- hm?
Beijos estalados eram deixados no pescoço de JungKook.
- T-tem algo que eu, que eu não te contei.
- Pode falar, meu príncipe.
- É que eu sou...eu nunca... sabe?
Os grandes olhos de jabuticaba estavam levemente arregalados enquanto o mais novo sinalizava, a ponta do indicador tocando a do polegar enquanto o indicador da outra mão atravessava o buraco feito.
JungKook era tão fofo que YoonGi quase teve vontade de rir, mas apenas sorriu.
- Tipo, nunca fez isso com um homem ou nunca fez isso?
- Tipo, nunca fiz isso hyung.
- E você quer?
JungKook corou e abaixou o rosto.
- Quer, Kookie? Sabe que se não quiser tudo bem, não é?
O Jeon levantou os olhos, ainda continuava envergonhado.
- Eu quero, hyung.
- Então o hyung vai cuidar de você.
...e caiu,...
***
4 anos e 5 meses antes
-... do quanto nos divertimos...
- Não acredito que me convenceu a viajar com você.
- O mundo é grande demais pra ficar enfurnado em casa, hyung.
Depois de horas de um voo longo, eles estavam agora em uma amostra de vinhos, mas depois da terceira taça, tudo já estava divertido demais.
- Vinho e cerveja no mesmo dia? Tô começando a achar que isso não vai dar certo.
O falar meio enrolado do mais velho trazia uma sabedoria que não foi escutada por nenhum dos dois.
E é claro, que em algum momento, depois de mais de um litro de cerveja e pelo menos meio de vinho, tudo foi ralo abaixo.
- Não acredito que sai da Coreia pra passar vexame em outro país.
Por meses, essa foi uma das piadas internas do casal, já que se recusavam a contar pra quem quer que fosse.
4 anos e 2 meses antes
- Eu vou cair.
JungKook gritou, mas estava rindo. Antes que se desequilibrasse totalmente foi amparado pelos braços do mais velho.
- Sem desespero, você é meu Golden Maknae, consegue aprender e lidar com qualquer coisa. Lembra?
YoonGi falava aquilo sempre que o Jeon estava estressado, com medo, ou ainda não tinha aprendido algo. Essa frase havia surgido no clube, quando JungKook começou a dançar, cantar, desenhar com muito talento. Ele podia fazer qualquer coisa.
- Respira fundo, olha pra frente. Vamos juntos primeiro. Okay, Kookie?
- Okay, hyung.
A verdade é que o Min estava sempre ali para apoia-lo seja no que fosse. E aquela noite patinando havia sido uma das preferidas do rapaz.
Em algum momento, o Min fez um malabarismo, rodopiando pela pista, até chegar ao mais novo.
- Sabe Kookie.
Tinha um sorriso pequeno e suspeito no rosto, e uma mão no bolso traseiro.
- Você é um garoto de ouro, pirralho. meu garoto de ouro e meu pirralho. Tudo que a gente tem vivido desde que se conheceu foi significativo pra mim. Gos...
JungKook sorriu.
- Pra mim também, hyung.
Até que YoonGi retirou uma pequena caixa de veludo de seu bolso traseiro.
- Gostaria que namorasse comigo, você aceita?
E ele aceitou.
Com pulos, rodopios e beijos na pista.
... até chegar...
***
- ...de quando conheci seus pais.
4 anos antes
- Ora ora, vejamos quem está aqui, meu filho com um belo rapaz.
O Sr. Min tinha uma aparência jovem e quase nenhum cabelo branco, mas falava como um velho.
- Meu filho trouxe alguém para o jantar! Isso é um milagre?
A Sra Min era tão parecida com YoonGi que, aparentemente, o único trabalho do espermatozóide foi fecundar o ovócito.
- Certamente, amor.
Os mais velhos trocaram um olhar antes de sorrirem amigavelmente enquanto YoonGi revirava os olhos, mesmo que mantivesse um sorriso pequeno e as mãos atadas as do Jeon.
- Mãe e Pai. Esse é JungKook, meu namorado.
- JungKook, é um belo nome.
- Vamos jantar! Abriremos um champanhe para comemorar que finalmente YoonGi desencalhou.
- Não fale assim mulher, vai deixa-los constrangidos.
E JungKook teve uma crise de riso, tanto pelo nervosismo que havia sentido (sem motivo), quanto pela dinâmica familiar dos Min.
O jantar havia sido esplêndido, como diria o Sr. Min. Regado a piadas da matriarca e sorrisos calorosos.
...ao fundo.
***
Sorria pensando em tudo que viveram, até que sua face se desmanchou em nojo quando voltou a falar.
- E então, você me traiu.