NO DIA SEGUINTE, a primeira coisa que Melina fez foi dirigir diretamente para o galpão de Dorian. Na noite anterior, quando o deixara lá, ele rapidamente iniciou seu trabalho. Não sem deixar uma garrafa de café ao seu lado antes, ela até se prontificou a ficar ali e ajudá-lo, mas ele a dispensou, alegando que trabalharia melhor sozinho.
Eram oito da manhã quando ela adentrou o galpão, esperando encontrar Dorian tomando café ou talvez se levantando, mas estava tudo vazio. Soube que ele ainda estava ali apenas por causa do som que vinha de baixo. Não imaginava que ele começaria tão cedo.
Adentrou o elevador e desceu para a garagem, esperando encontrar qualquer coisa, menos aquela cena.
Toda a garagem estava tomada pelo pó branco que saía do grande bloco de gesso, Dorian estava de pé na escada, também coberto inteiramente pela poeira. Um rádio tocava um rock alto demais, mas parecia fazer Dorian trabalhar melhor. Mas não era aquilo que de fato chamara sua atenção. Na verdade, a imagem do próprio Dorian a surpreendeu, nunca imaginara que o veria daquela maneira, tão sério e concentrado no que fazia.
As marteladas no cinzel eram precisas e esculpiam perfeitamente o gesso, o respirador cobria metade do rosto e junto dos óculos de proteção não deixavam muito de sua feição à mostra. O que só colaborava para chamar a atenção para seu físico. A calça de moletom cinza moldava perfeitamente as pernas e pela primeira vez Melina reparou como Dorian tinha glúteos muito bem torneados. A regata branca estava grudada ao tronco por conta do suor que escorria e a molhava, e Melina não deixou de surpreender com um detalhe que antes ela nunca tinha visto em Dorian. Uma tatuagem. Se iniciava em seu ombro direito e descia até o braço, parando um pouco acima do cotovelo. Ela não saberia dizer exatamente seu formato, sequer tinha um, parecia mais um tribal, com desenhos que formavam aspirais em alguns pontos e retas em outros, parando para observar melhor, parecia até uma tatuagem maori.
Notou que estava observando demais quando viu até mesmo uma gota de suor escorrer e pingar de seu rosto. Tentou voltar a si, mas ficou sem fala novamente quando os olhos dele se voltaram para ela e pareceram muito mais penetrantes do que antes. O sorriso que ele abriu foi a única coisa capaz de fazê-la voltar a seus pensamentos.
— Há quanto tempo está aí? – Perguntou ele, descendo da escada.
— Hã? Ah... acabei de chegar, na verdade. Não imaginei que estaria de pé já tão cedo.
Dorian limpou a mão em uma toalha que havia ali perto e caminhando em direção à garrafa de café, deixou um rápido riso escapar.
— Eu sequer me deitei, para falar a verdade.
— Passou a noite toda esculpindo?
— Como Charles reduziu o tempo tive que me apressar, não posso dar chances para que ele desconfie que é falso.
— E acha que vai conseguir isso passando essas noites em claro? As chances de cometer algum deslize são bem maiores se estiver cansado.
Dorian encheu sua xícara de café e pegando outra a estendeu para Melina depois de enchê-la. Caminhou em direção ao rádio e o desligou, antes de se sentar em um banco ali perto e inspirar profundamente.
— Já fiz isso milhares de vezes, agente. No último trabalho grande que tive, dormi cerca de cinco horas em uma semana. Então três dias acordado não serão nada. – Erguendo a xícara, completou – A cafeína vai me ajudar.
— Tudo isso porque está com o orgulho ferido por Charles tê-lo subestimado.
— E fazer aquele filho da puta calar a boca e não tentar me manipular novamente. Quem ele pensa que é?
Melina até diria que aquela atitude de Dorian não a surpreendia, mas o tom usado a deixou temerosa, ele não usara a mesma entonação que usava em suas brincadeiras e deboches. Daquela vez ele realmente parecia com o orgulho ferido e disposto a fazer com que Charles realmente pagasse. O ego de Dorian era algo perigoso de se mexer, nunca se podia saber qual seria a resposta dele.
— Bom – Disse ela, deixando a xícara de lado depois de beber o café – nesse caso, eu irei te ajudar.
O queixo de Dorian caiu, enquanto ele se emudecia e ficava alguns segundos encarando Melina fixamente. O olhar fixo dele até mesmo a estava assustando.
Ele precisou até mesmo coçar os olhos e tomar mais uma xícara de café antes de ter qualquer reação.
— Acho que tanto café está me fazendo delirar. Perdão, você disse que irá me ajudar?
— Disse. O que tem?
— Você. Uma agente federal. Vai falsificar uma escultura?
— Não estou falsificando, estou armando uma emboscada.
— Não... você está falsificando.
— Não tente colocar ideias em minha mente, Delyon, é apenas um plano para chamar a atenção de um criminoso.
— Melina, aquela estátua não é a verdadeira, você está falsificando. – Rebateu ele, cruzando os braços.
Jogando os braços para cima, em sinal de cansaço, Melina lhe deu as costas e cruzou os braços.
— Que seja, Dorian, tudo pelo meu trabalho.
Um sorriso lento se formou no rosto dele. Se aproximando vagarosamente por trás, Dorian pegou um de seus martelos e um cinzel.
— Deus, eu estou corrompendo uma agente do governo. – Debochou ele.
Quando Melina se virou rapidamente para contestá-lo, se deparou com ele parado rente demais a ela. Talvez aquela fosse a menor distância que já tiveram um do outro, o nariz dela quase tocava o queixo dele, enquanto sentia a respiração de Dorian bater em seu próprio rosto. Para dispersar o sentimento estranho que surgiu, Dorian ergueu os instrumentos que havia pegado e os entregou para Melina.
Ainda sem jeito, ela os pegou e antes mesmo de perguntar como usá-los, sentiu os dedos de Dorian tocarem seus punhos enquanto a arrastava para perto do bloco de gesso. Sem dizer uma palavra, ele se posicionou atrás dela e tomou sua mão esquerda, que segurava o cinzel, e a alocou no exato local que deveria quebrar o gesso, com a mão direita, tomou a mão direita dela e a fez bater o martelo no cinzel, a ensinando vagarosamente o que deveria fazer.
— Deixe inclinado em um ângulo de 45°. – Disse próximo ao ouvido dela – Não aplique muita pressão, deixe o cinzel deslizar levemente sobre o gesso, use o martelo apenas para ajudá-la a moldar. Mas segure firme o cinzel, se sentir que escapará de sua mão use farinha, ajuda na aderência.
Melina apenas balançou a cabeça concordando, não se atreveu a mexer um músculo sequer, temia que sua respiração a delatasse e estava começando a detestar a forma como se sentia nervosa. Não fazia o menor sentido. Se sentiu aliviada quando as mãos de Dorian saíram de cima de si, mas o coração voltou a falhar quando o sentiu puxar seu blaser e os dedos dele roçarem em seu braço.
— Tire isso, para que seus movimentos não sejam tão limitados.
Assim que se libertou da roupa Melina pensou que talvez pudesse continuar sem nenhuma outra aproximação de Dorian, mas estava enganada, ele parecia estar adorando fazer aquele joguinho. Novamente ele se aproximou por detrás dela, e estendeu uma vasilha cheia de farinha, que ela espalhou nas mãos. E Melina desejava ver qualquer tipo de expressão no rosto de Dorian, até mesmo seu sarcasmo natural, mas ao contrário do que ela esperava, ele permanecia sério, com os olhos cravados nos dela, parecendo enxergar até mesmo o fundo de sua alma. O rosto estava próximo, parecendo se aproximar cada vez mais, e o pior de tudo, era que ela não conseguia se afastar. Não queria se afastar.
O barulho do elevador abrindo suas portas quebrou o transe que se encontravam e fez Dorian se afastar rapidamente, praticamente parando do outro lado da garagem, como se até mesmo ele estivesse surpreso com seu comportamento.
Max, que atravessava a porta do elevador carregando três caixas de rosquinhas, não pareceu ter notado o clima estabelecido ali. E se havia notado, não disse nada.
— Começaram cedo hoje. – Disse ela, deixando as caixas em cima da mesa, e encarando Melina, franziu o cenho e meneou o dedo entre eles – Você vai... ajudá-lo?
— Charles e seu cliente diminuíram o prazo, virão aqui dentro de três dias.
— Agora dois. – Corrigiu Dorian – Odeio admitir, mas precisarei de ajuda.
— Então tá. Eu irei para a agência e avisei que você ficará aqui hoje, Melina.
— Obrigada.
Max até estranhou a voz baixa de Melina, mas decidiu não questionar, principalmente porque ela e Dorian pareciam estar se evitando naquele momento e cada um se concentrava em uma parte do grande bloco. Não querendo atrapalhá-los e atrasar o serviço, ela logo se despediu e partiu dali.
Diferente do esperado, Dorian e Melina não trocaram mais nenhuma palavra, exceto quando ela precisava de ajuda e pedia a ele. Passaram o resto daquele dia e o dia seguinte daquela forma, evitando contato e conversas. Não saberiam explicar o porquê, mas estavam constrangidos demais para retomar qualquer assunto.
O dia combinado para a visita de Charles e seu cliente havia chegado mais rápido do imaginavam, Dorian ainda terminava de dar os últimos retoques na estátua, que já havia sido transportada para o meio de sua sala. Melina e os outros agentes se posicionavam em pontos estratégicos caso precisassem interferir. Internamente Dorian duvidava muito que tudo sairia conforme haviam planejado, ele conhecia Charles muito bem, sabia o quanto o homem era astuto, mas Dorian já havia sido conhecido como "Renard"¹ por um motivo. Ele era muito mais astuto. A princípio era apenas um sobrenome de mais uma de suas identidades falsas, mas ele acabou gostando do duplo sentido daquela palavra. No fundo, se identificava de fato com uma raposa.
Tentou parecer o mais despreocupado possível quando ouviu a batida na porta, caminhou lentamente até ela e assim que a abriu não fez questão de saudar os convidados de forma agradável, simplesmente virou as costas e caminhou de volta em direção à estátua coberta por um tecido preto.
— Estão atrasados. – Disse.
— Estávamos apenas tomando precauções. – Se adiantou Charles – Meu cliente e eu queríamos verificar as redondezas para saber se não havia ninguém vigiando.
— Hum... e seu cliente não sabe falar?
— Como? – Disse o homem, pela primeira vez.
— Ah, então fala! Pensei que a raposa tivesse comido sua língua.
Charles revirou os olhos com o trocadilho, enquanto o homem a seu lado apenas abria um sorriso enigmático e com os braços cruzados para trás, se aproximava de Dorian, dizendo:
— Não sou um homem de muitas palavras, senhor Delyon.
— Jura? Nem mesmo percebi, nem ao menos sei seu nome.
— E não precisa saber. Eu sou um homem objetivo, gosto de ir direto ao ponto, sem enrolações nas negociações, depois daqui não nos veremos mais.
Dorian ainda encarou aquele homem arrogante por alguns segundos, antes de voltar os olhos para Charles, que sequer fazia questão de esconder o sorriso que se abria em seu rosto. Ele parecia estar adorando ver Dorian ser desafiado daquela forma.
— Vamos, Renard. Mostre a ele a escultura.
Se não estivesse no meio de um plano Dorian teria esmagado o rosto de Charles, iria fazer aquele sorrisinho desaparecer em segundos. Era impressionante o quanto aquele homem o tirava do eixo.
Contrariado, ele arrancou o tecido de cima da estátua revelando o belo trabalho que havia feito. Por alguns segundos os outros dois homens ficaram calados, encantados com o que viam. A mulher esculpida levava um cálice rente ao seio, enquanto os cabelos enrolados cobriam quase totalmente o rosto delicado, os detalhes eram tão precisos que até mesmo o vestido possuía dobras, fazendo parecer de fato um tecido leve. A impressão que tinham era de que se algum vento entrasse pela janela, o vestido se movimentaria com a brisa.
Balançando a cabeça em aprovação, o cliente de Charles se aproximou mais, parecendo analisar cada detalhe, corria os dedos pelo gesso e até mesmo pediu uma cadeira para analisar as partes mais altas. Quando voltou ao solo, parou alguns segundos, aproximando mais o rosto de um determinado ponto.
O coração de Dorian começou a martelar dentro do peito ao imaginar o que aquele homem havia visto, pois naquele momento ele também vira. Ele analisava atentamente o ponto em que Melina trabalhara, e se de fato fosse bom conhecedor das obras de Cristina Daher ele perceberia aquela pequena saliência que não deveria estar ali.
Dorian tentou não transparecer sua insegurança e disfarçadamente secou o suor das mãos na calça, se afastando lentamente de onde aquele homem estava. Paralisou assim que ouviu a voz grave dele reverberar:
— Tem muito talento, senhor Delyon. – Se virando lentamente ele colocou a mão dentro do paletó e puxou o revólver que havia ali, apontando diretamente para Dorian – Mas odeio que mintam para mim.
Por sorte Dorian foi rápido o suficiente para se esquivar antes do tiro acertá-lo, até tentou correr em direção à porta e sair, porém, foi impedido por Charles, que adentrou em seu caminho. Sequer conseguiu encontrar outro caminho, sentiu o homem encostar a arma em suas costas e a voz dele soar em seu ouvido:
— Foi uma bela tentativa.
Pensou que talvez aquele fosse seu fim, mas sentiu certo alívio quando a porta se abriu, revelando Melina e Max empunhando as armas, enquanto alguns outros agentes surgiam pelas janelas e os cercavam. Seu alívio, no entanto, durou pouco tempo, o homem atrás de si passou o braço por seu pescoço o puxando para trás, o cano da arma encostou em sua têmpora, fazendo todos pararem exatamente onde estavam. Charles havia se escondido atrás deles, fugindo da mira dos federais.
Quando Melina firmou os dedos envolta de sua arma, com o dedo já posicionado no gatilho, Dorian ergueu as mãos em rendição, não saberia dizer se era força do hábito, mas pensava que era o mais certo a se fazer.
— Solte-o e se afaste dele agora, Roman. – Ordenou Melina para o homem, que agora Dorian sabia o nome.
— Eu acho que não está em posição de exigir nada, bonitinha. Mais um passo e eu estouro a cabeça dele, irá ter que recolher seus miolos no chão.
— Está em menor número, quem não tem direito de exigir nada é você. Agora abaixe essa arma e se afaste dele.
— Tem certeza de que quer me desafiar? Os únicos que têm algo a perder são vocês. Querem salvar seu amigo aqui, não é mesmo?
Roman tinha razão, mas não imaginava que ao subestimar Melina apenas a incentivava mais ainda a capturá-lo. Quanto mais aquele sorriso confiante surgia no rosto dele, mais Melina se sentia compelida a acabar com sua felicidade. Encarou Dorian, que permanecia paralisado, mas sua expressão denotava certo medo, ainda assim, encarou Melina de volta, depositando toda sua confiança nela apenas com seu olhar. Acenou brevemente com a cabeça, a encorajando a seguir com seu plano.
E se havia algo que Melina havia aprendido com ele era a arte do blefe, sabia que enquanto permanecesse naquela posição, Roman estaria tenso e pronto para atirar em Dorian, precisava acalmá-lo, fazê-lo relaxar e então encontrar uma brecha. Pedindo aos céus que seu blefe funcionasse, ela abaixou a arma e sinalizou para que os outros agentes também abaixassem, Max a encarou confusa, mas ainda assim acatou à sua ideia. Mesmo que fosse mais velha e tivesse um cargo mais alto que Melina, ela confiava na boa intuição de sua amiga.
— Tudo bem, Roman. – Retomou Melina – Vamos negociar então.
Abrindo um sorriso, ele encarou Dorian e depois voltou os olhos para a agente.
— Não sabia que esse bastardo valia tanto. Acho que vou pedir algo à altura, principalmente porque ele tentou me enganar com aquela coisa horrorosa.
— Horrorosa? – Bradou Dorian, indignado tentando se virar.
Roman apertou mais a arma contra sua têmpora, parecendo irritado com sua interferência.
— Cale a boca!
— Estou ouvindo, Roman. – Interveio Melina, antes que o pior acontecesse – Converse comigo.
Melina não escutou sequer uma exigência de Roman, encarava Dorian diretamente, sinalizando apenas com os olhos que ele se jogasse para a direita, e esperava seriamente que ele entendesse. Max se comunicava por códigos com os outros agentes e quando Melina apertou mais a arma soube que ela estava pronta. Com um movimento rápido demais para Dorian acompanhar, ela elevou a pistola e atirou em sua direção, ele podia jurar que sentiu até mesmo algo passar zunindo por seu ouvido antes de acertar o braço de Roman.
Foi tudo tão rápido que Dorian só soube que tinha se libertado quando notou que estava no chão e Roman gritava de dor, enquanto era imobilizado. Charles igualmente foi atirado no chão, enquanto um agente estava por cima dele o algemando.
Dorian notou certa ardência em sua orelha esquerda e quando a tocou sentiu algo viscoso escorrer por ela, recolhendo a mão de volta viu sangue manchar seus dedos e demorou para entender o que havia acontecido, talvez estivesse atordoado demais, sequer ouvia o que acontecia ao redor.
Só voltou a si quando Melina entrou em seu campo de visão, se abaixando em frente a ele, o chamando.
— Está me entendendo?
Erguendo os olhos lentamente, ele balbuciou:
— Atirou na minha orelha!
— E disse para se inclinar, achei que tivesse entendido.
— Hum... acabou?
— Sim, acabou.
Melina se levantou e estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar também. A situação já estava sob controle, exceto por Roman que gritava irado, ao ser escoltado para fora. Charles, pelo contrário, estava calado, apenas acompanhava o agente, sem resistência, embora seus olhos se fixassem em Dorian, com um olhar quase assassino.
— Vai pagar caro por isso, Delyon. Você se vendeu. Se tornou um deles, traidor.
Dorian não iria perder aquela oportunidade de finalmente se vingar de Charles, esperara tempo demais por aquilo. Ignorando a dor que sentia, caminhou na direção dele abrindo o melhor sorriso que tinha e se inclinou em sua direção, cochichando apenas para que ele pudesse ouvir:
— Não é ótimo esse gostinho? Agora vai sentir o que eu senti há três anos. Ou pensa que não sei que foi de você que partiu a dica anônima para que me capturassem? – Quando Charles arregalou os olhos parecendo surpreso, Dorian completou – Entenda, uma coisa, Charles, se eu fosse um deles, talvez eu não conseguisse tornar a sua vida um inferno como eu vou tornar.
— E desde quando tem poder para isso, Delyon? Não pode fazer nada.
— Não mesmo? Bom, nesse caso deixarei você acreditar nisso e ter uma surpresinha. Não se esqueça que os federais adoram dicas, e eu conheço alguém que está preso que está ansioso para te encontrar novamente. Talvez eu diga que seria uma boa ideia te colocar junto dele.
Novamente Charles arregalou os olhos, não precisou de nomes para saber de quem Dorian falava, começou a se debater e tentar escapar, porém, o agente que o segurava era mais forte e odiou aquela atitude de Charles, o segurou com força, enquanto Dorian se afastava, caminhando como se nada tivesse acontecido.
— O que disse para ele? – Perguntou Melina, assim que tudo se acalmou.
— Ah, foi apenas uma conversa entre velhos conhecidos. Ele que é estressadinho.
— Sei. Precisa fazer um curativo nessa orelha, está sangrando demais.
Novamente Dorian tocou a própria orelha, limpando o sangue e deu de ombros, como se pouco se importasse.
— Foi só de raspão, logo para. O que quero saber é se vou poder ficar com ela.
Melina já desconfiava que Dorian iria querer ficar com a escultura, e vendo todo o carinho que ele tinha com ela soube que o ego dele falara mais alto, ele não desistiria dela.
— Posso ver com a agência se poderá ficar com ela. É uma evidência.
— Evidência de quê? Ela foi fabricada!
— Ainda assim uma evidência.
Dorian simplesmente forçou um bico nada contente com aquilo. Foi em direção à escultura e a abraçou, encostando o rosto nela e fechando os olhos. Era de fato um criador sendo carinhoso com sua criação, por mais estranho que aquilo fosse.
— Eu a fiz é justo que fique comigo. Ainda mais depois do que aquele arrogante disse sobre ela. Não ligue para o que aquele feioso disse, querida, você é linda!
Melina pensou já ter visto de tudo, principalmente vindo de Dorian, mas era a primeira vez que o via falar com uma estátua como se ela fosse algo vivo e tivesse sentimentos. Inclinando a cabeça para o lado, ela franziu o cenho em estranheza, ainda o observando conversar com a escultura.
— Você não é horrorosa, é a coisa mais bem feita que já fiz. O papai não vai deixar ninguém te levar embora. – Até mesmo finalizou a frase com um beijinho.
— Dorian... você bateu a cabeça quando caiu?
— Eu não posso admirar minha criação? Ou pensa que outros artistas não conversavam com suas obras?
Deixando de tentar entendê-lo, ela deu de ombros e se aproximou.
— Longe de mim julgá-lo. Mas se ela ficou tão perfeita assim, como ele descobriu?
Dorian ainda deliberou alguns segundos para responder, incerto se deveria dizer a verdade. Não queria magoar Melina, tampouco deixar ela pensando que tudo foi arruinado por causa dela, e a conhecendo como conhecia, sabia que ela se culparia.
— Bom. Ele... ele. Desconfiou quando viu a parte que você havia trabalhado.
As sobrancelhas dela se arquearam brevemente, mas não parecia de fato surpresa, abriu a boca algumas vezes para responder, mas nada saiu, apenas anuiu com a cabeça e sorriu brevemente.
— Imaginei. Acabei arruinando a operação.
— Não! – Se apressou ele em dizer – Você não arruinou nada, aos olhos de um leigo passaria despercebido, foi um detalhe muito pequeno. Não se culpe por isso.
— Ah, acho que não deveria ter me intrometido. O trabalho que você faz não é para mim.
— Não tem como começar fazendo tudo perfeito, agente. Errei muito antes de aprender e o erro que você cometeu não chega nem perto dos que cometi. Me atrevo a dizer que tem muito talento, só precisa trabalhá-lo mais.
Melina não quis argumentar mais, apenas concordou com um sorriso, não adiantava insistir, Dorian não concordaria que foi um erro dela, e no fundo ela se sentia feliz com aquela opinião dele. Não saberia explicar o porquê, mas era importante para ela.
— Bom, eu vou para a agência agora. Vou precisar preencher uns relatórios, você pode ficar aqui.
— Tudo bem. Passa aqui depois?
— Na verdade, eu pretendia ir direto para casa.
— Antes venha para cá, por favor. – Ele pareceu ansioso ao pedir isso.
— Dorian, eu não posso...
— Por favor. Só... passe aqui.
Melina não entendeu o motivo de Dorian parecer tão ansioso e talvez até angustiado, os olhos dele praticamente suplicavam e de repente ela não soube dizer não. A forma como se evitaram durante aquela semana a incomodou profundamente, ainda assim não queria deixar nenhuma brecha para que conversassem sobre aquilo. E, na verdade, nem mesmo entendia o motivo daquele sentimento, não sabia porque deviam conversar se nada havia acontecido.
Suspirandoderrotada, ela acabou concordando antes de sair apressadamente do galpão.
¹ Renard
Tradução do Francês: Raposa.
"Olá, meus amores! Como vão? Espero que estejam gostando da história, hoje paramos por aqui, pois esse caso ficou um pouquinho grande, precisarei dividir em quatro ou cinco partes. Mas garanto que valerá a pena. Me contem aqui: Por que acham que Dorian pediu para Melina voltar ao galpão? O que esperam desse encontro? Deixarei vocês curiosos para semana que vem!
Obrigada pela leitura e não se esqueçam dos votos! Beijinhos
Rafa."