Os dias que se sucederam foram marcados de muitas emoções. Levi teve uma rápida melhora nos sintomas, contudo permanecia internado. Alguns dias depois sofreu duas paradas cardíacas que, se não tivesse sendo assistido por uma equipe médica por 24h, poderia ter sido fatal.
Nesse ínterim, a família Cabello se empenhava em angariar fundos para o tratamento do menino e tentava equilibrar essas atividades com as visitas ao hospital.
Camila não sabia o que era dormir em sua cama há mais de uma semana e, já era possível notar em sua aparência, estava extremamente esgotada, inclusive havia emagrecido alguns quilos.
Sua mãe, Dona Sinu, tirou uns dias de férias para ajudar no que fosse preciso.
Os parentes e conhecidos estavam fazendo uma vaquinha para arrecadar dinheiro em prol da operação do garoto.
Suas irmãs haviam juntado todas as suas economias e oferecido para completar o valor.
Apesar de tudo isso, Camila não tinha ainda nem o suficiente para colocar o nome na lista para que Levi pudesse ser um candidato a receptor de órgãos.
Levi estava completando seu décimo primeiro dia internado naquele hospital e Camila não saia do seu lado nem por uma hora.
Observava uma enfermeira realizar os procedimentos corriqueiros quando um outro funcionário do hospital lhe avisou que estava sendo chamada no setor administrativo.
O coração dela disparou. O que eles poderiam querer com ela? Tinha medo que o hospital desse alta ao seu filho por ela ainda não ter recursos para realizar a tal cirurgia.
Mesmo com medo, seguiu o rapaz até a sala da administração. Assim que chegou foi recebida pela mulher, aquela mesma que estava na sala de reuniões no dia em que seu filho deu entrada no hospital.
Camila analisou discretamente o ambiente. A sala era ampla, tinha as paredes pintadas num tom de azul claro, uma mesa de madeira centralizada próxima à imensa janela que dava um bom vislumbre da cidade com poltronas acolchoadas, um sofá em L num outro canto da sala e alguns quadros decorativos. Simplesmente impecável.
- Por favor, sente-se. - a mulher apontou para a cadeira à sua frente.
Camila caminhou até lá e sentou-se. Era nítido na sua postura o quanto estava tensa.
- A senhora aceita algo? Uma água, café...? - a mulher notou a tensão dela e quis tornar o clima mais ameno.
- Não, obrigada! Eu estou bem.
- Tudo bem. Então vamos ao que interessa... Bom, Sra Cabello, quero dizer primeiramente que admiro muito o esforço que você e sua família estão fazendo para conseguir realizar a operação do seu filho. Sei que estão numa corrida frenética para conseguir o valor em tempo hábil, até porque tempo é uma coisa que seu filho não tem.
- Obrigada, por sua admiração. Eu estou ciente da situação do meu filho, não precisa me lembrar que ele está morrendo.
- Me desculpe, não quis ser indelicada.
- Tudo bem. Será que podemos ir direto ao assunto?
- Claro. Bom, quero dizer que Levi Cabello já consta na lista de receptores de um coração e que o nome dele é o primeiro da lista.
- O que? Como assim? Como isso é possível? Eu ainda não pude pagar os trinta por cento que vocês solicitaram, embora falte muito pouco para chegarmos ao valor.
- Sim, é verdade. Mas um doador anônimo fez o pagamento de cento e cinquenta mil dólares e isso já foi suficiente para iniciarmos a preparação dele para receber o novo coração. Além disso, doutora Lauren abriu mão dos seus honorários, portanto o tratamento do seu filho caiu para esse valor aqui. - entregou a Camila um papel com o novo valor do tratamento do garoto. Agora o valor total cairia para 220 mil dólares.
Camila ficou pasma com o que acabara de ouvir. Ela estava certa de que um milagre acabara de acontecer. Um doador anônimo liquidou mais da metade do tratamento, mais os honorários médicos que reduziram mais oitenta mil, agora Camila só precisava conseguir setenta mil e o tratamento do seu filho estava garantido.
Foi impossível controlar as lágrimas, parecia que estava sonhando, ou será um milagre? Quis dar a volta na mesa e abraçar Ariana, mas lembrou-se de que não simpatizava com ela, então apenas ofereceu a mão em um cumprimento. Camila sacudiu a mão da mulher com tanta empolgação que a fez ficar meio despenteada.
- Obrigada, obrigada, muito obrigada! Não sei como agradecer.
Ariana riu do estado eufórico em que Camila se encontra. Nunca tinha visto alguém tão contente em sua vida.
- Vai lá dar a notícia para seu filho e para seus parentes.
Camila passou as mãos no rosto enxugando as lágrimas que deixara cair no calor da emoção e apenas assentiu, concordando.
Deu mais uma olhada para a mulher e uniu as mãos em sinal de agradecimento e depois saiu da sala.
Ela estava tão eufórica que não conseguiu andar até o quarto onde seu filho estava, então se encostou em uma parede no corredor e deslizou suas costas nela até que estivesse sentada no chão, onde chorou mais um pouco.
Era um choro de alegria, mas as pessoas que passavam por ali por perto imaginavam que algo ruim tivesse acontecido àquela jovem mulher, porque ela chorava copiosamente.
Depois que sentiu que havia extravasado toda aquela emoção, Camila apanhou seu celular no bolso e ligou para sua mãe, pedindo que fosse até o hospital juntamente com suas irmãs o quanto antes, pois ela tinha notícias.
Levantou-se do chão e, literalmente, correu pelos corredores. Queria chegar o mais depressa possível para poder dar a notícia ao seu filho, mas ao chegar no quarto não encontrou o garoto em sua maca.
Ficou agitada, foi até o banheiro que havia no quarto, mas não o encontrou. Então saiu do quarto e parou o primeiro profissional que encontrou.
- Para onde levaram o meu filho? Ele estava aqui agora a pouco. Onde ele está? - perguntou sacudindo o homem pelos ombros.
- Calma, senhora! Vou verificar a informação para você. Aguarde aqui só um minuto. - ele foi até o computador mais próximo e buscou as informações. - Aqui está... ele foi levado para fazer novos exames para prepará-lo para a futura cirurgia, logo ele estará de volta.
Camila, que não havia percebido que segurava o ar, relaxou.
- Aproveite esse tempo e vai comer algo, esticar as pernas um pouco. Ele vai demorar um tempinho ainda.
Camila apenas sacudiu a cabeça afirmativamente e decidiu seguir o conselho do rapaz.
- Obrigada!