Depois de prestar o depoimento, Íris tentou recuperar seu apartamento que estava à sua espera, suas coisas e seu emprego. No entanto, a escola não foi tão gentil como ela imaginou que seria. Mesmo sabendo da situação de Íris, disseram que, no momento, não teriam onde colocá-la.
A terapia, recomendada pelos membros do Ministério Público, havia ajudado em parte, mas ultimamente, estava sendo mais difícil lidar com suas emoções. Ver Oliver às vezes provocava uma crise de ansiedade intensa.
Era estranho para Íris. Fazia uma semana que Oliver tinha voltado ao trabalho, e ela ficava em casa, sem fazer nada, olhando para o teto e para o tempo. No entanto, algo surpreendeu Íris: um convite tão inesperado que fez seu coração saltar. Era exatamente o que ela precisava naquele momento, embora não soubesse como contar para Oliver.
A ideia de fazer uma especialização fora do país parecia ser o escape perfeito. Seria apenas um ano longe de tudo, uma chance de se afastar das ideias que circulavam em sua mente, aquilo que a afligia constantemente.
Depois de planejar cuidadosamente como contar tudo para Oliver, Íris o esperou sentada no sofá, com o coração acelerado. Talvez fosse melhor assim. Naquele momento, ela não estava 100% comprometida com Oliver, nem consigo mesma. Sentia-se perdida e confusa, buscando um caminho para se reencontrar.
Ao vê-lo chegar, ela respirou fundo e reuniu coragem para compartilhar sua decisão. Era difícil, mas era necessário. Ela precisava desse tempo para se redescobrir, para encontrar a paz interior e voltar a sentir-se inteira.
— Querida cheguei — Ele dizia com uma voz engraçada remetendo ao dino de família dinossauro.
— Oi, estou aqui. — Mente de Íris vibrou sobre a situação, ela havia até conversando com o terapeuta e ele disse que distancia não muda amor.
— Tudo bem? — Oliver se aproximou, ela estava com uma cara séria, depois do depoimento na polícia Íris havia ficado reclusa, não conversava mais direito com ele, apenas o básico, estava tão distante. Pensou ser algo comum do trauma então fazia tudo para Íris se animar.
— Oliver, precisamos conversar — disse ela com a voz trêmula. — Recebi um convite para fazer uma especialização fora do país. Seria uma oportunidade única, e acho que é o que eu preciso neste momento. Preciso me afastar por um tempo, me reconectar comigo mesma. Não é sobre nós, mas sobre mim, sobre encontrar meu caminho.
— Como? — Oliver estava totalmente incrédulo, ele queria falar que legal mas pensar nela esta longe doía sua alma.
— É isso, foi passar algum tempo fora daqui.
Oliver encarou Íris, suas emoções em turbilhão. Não era uma pergunta, ela estava simplesmente informando sua decisão. Ele tentava processar tudo aquilo, mas as palavras dela ecoavam em sua mente, trazendo uma mistura de surpresa, incerteza e um aperto no coração.
— Vai pra onde? — murmurou ele, sentindo sua voz falhar.
— Para a Alemanha. — respondeu Íris com um suspiro, seus olhos transmitindo uma mistura de determinação e tristeza.
— Você não precisa ir, logo logo você volta para a escola — tentou argumentar Oliver, ainda lutando para aceitar a notícia.
— Oliver, não é esse o ponto — explicou Íris com calma, buscando encontrar as palavras certas para explicar o que estava sentindo.
— Então qual é o ponto? — indagou ele, desesperado para entender suas razões.
— Não tem como explicar completamente. Eu só sinto que preciso ir — confessou Íris, lutando para conter as emoções que ameaçavam transbordar.
— Você vai deixar sua vida aqui — disse Oliver, magoado pela ideia de perdê-la.
— Eu não tenho nada aqui — respondeu Íris, alterando o tom de voz, o peso da decisão pesando em suas palavras.
— Eu sou nada pra você? — questionou Oliver, sentindo-se abandonado.
— Não foi isso que eu quis dizer — apressou-se Íris em esclarecer, mas as palavras já haviam sido ditas e o estrago estava feito.
Oliver puxou sua mão bruscamente, sentindo-se ferido e desamparado. — Você vai embora e como eu fico? Como a gente fica?
— Como está — respondeu Íris, mantendo-se firme em sua decisão, mesmo que doesse.
Oliver deu uma gargalhada assustadora, sentindo-se perdido em meio à tempestade de emoções. — Não mesmo — rebateu ele com desespero. Íris sabia que aquela conversa não chegaria a lugar nenhum, por isso apenas ficou calada, permitindo que o silêncio tomasse conta da sala e de suas almas.
Ele se aproximou dela e beijou seu rosto com carinho, tentando demonstrar seu amor e medo de perdê-la. — Eu te amo, você não pode me deixar — sussurrou com a voz embargada.
Íris segurou seu rosto entre as mãos e olhou nos olhos dele com intensidade. — Eu não vou te deixar, Oliver. Isso não é um adeus definitivo, é apenas uma jornada que preciso fazer.
— Meu amor, não faça isso — suplicou ele, buscando qualquer forma de fazê-la mudar de ideia.
— Oliver, eu vou voltar — garantiu Íris, sentindo o coração apertado diante da dor que sua decisão causava a ambos.
— Mas eu não vou te esperar — disse ele com pesar. — Você entende? Eu não quero ficar longe de você.
O silêncio voltou a se instalar entre eles, carregado de sentimentos não ditos e despedidas não completas. Íris sabia que suas palavras já haviam sido ditas, e não havia nada que a fizesse mudar de ideia. Da mesma forma, Oliver sabia que suas súplicas não seriam suficientes para fazê-la ficar. As circunstâncias da vida os levavam por caminhos diferentes, e ambos teriam que enfrentar a dor da separação e as incertezas do futuro.