Anahi
Faz três semanas que eu voltei e a vida parece um pouco menos assustadora do que pensei que seria em princípio.
A essa altura, meu pai já foi extraditado para uma prisão em Nova Iorque, que é onde se concentram a maioria das acusações contra ele, mas Alfonso descobriu que há ações criminais também no Texas e na Califórnia.
Ele se recusou a nos ver, e meu irmão, mais do que eu, ficou arrasado. É triste que sejamos só nós três e mesmo assim, em uma situação tão difícil, papai continue agindo com a prepotência de sempre.
Na teoria, nosso acordo já acabou, mas mesmo com nossas brigas ocasionais, meu relacionamento com Alfonso está cada vez mais intenso.
Depois da discussão que tivemos nas ruas de Zarofu e do que eu lhe disse, ele se desdobrou para me agradar. Se fosse com qualquer outro homem, eu o mandaria para o inferno por ter me magoado, mas essa é a grande tristeza de se estar apaixonado: você não consegue ficar com raiva da pessoa por muito tempo, ainda mais quando ela se esforça para fazer tudo direito.
Hayden, graças a Deus, está muito bem no emprego e me disse que o miserável do Berat não ligou mais para infernizar. Sabendo que meu irmão está feliz, eu fico mais tranquila em aceitar dormir no apartamento do meu namorado quase toda a noite.
Não saímos em público ostensivamente ainda, mas uma revista me fotografou descendo do carro dele.
Como eu estava de cabeça baixa e com o cabelo solto, não descobriram que era eu, mas eu sei que em breve o farão.
Ontem, Alfonso falou enquanto jantávamos que me levaria no fim de semana para conhecer sua mãe no almoço familiar semanal.
Eu não soube o que dizer. Acho que é muito cedo ainda, mas o que entendo sobre relacionamentos?
— Vai sair de novo? — Hayden pergunta, chegando na hora em que já estou na porta.
Ele geralmente volta do trabalho às cinco.
— Vou, sim. Lembra da floricultura de que lhe falei? A dona me mandou passar lá para conversarmos. Acho que conseguirei o emprego.
Não é da minha natureza demonstrar entusiasmo porque aprendi a me conter a vida toda, mas dessa vez, eu não consigo disfarçar. Estou muito empolgada.
Quase aos vinte e um anos, vou conseguir meu primeiro emprego e logo fazendo algo que eu amo: vendendo flores.
Eu espero que seja um aprendizado para quando, no futuro, se Deus quiser, eu puder ter a minha própria loja.
Ele não fala nada e eu franzo a testa, estranhando.
— O que foi?
— Falou com Alfonso a respeito disso, Any?
— Não. Só o farei quando estiver empregada, por quê?
— Ele não vai gostar.
— Não sei se entendi, Hayden.
— Não fique brava com o que vou falar, mas um homem na posição dele, certamente não vai querer a namorada trabalhando em loja como vendedora de flores, irmã.
Eu já havia pensado sobre isso e também, tomado uma decisão a respeito.
— Não saí do controle do nosso pai para cair em outro, Hayden. Estou tentando uma oportunidade de mudar a minha vida. Sozinha. Com os meus próprios pés. De tudo o que o nosso pai me falou naquele dia na prisão, há algo em que ele tinha razão: não podemos ficar dependendo da ajuda dos Herrera para sempre. Somos jovens e inteligentes. Não é justo que fiquem pagando nossas despesas.
— Eu sei disso e estou juntando dinheiro para fazer uma poupança conjunta para nós. O salário na Herrera Steel Group é bom, mesmo para um iniciante como eu. Em breve, talvez consigamos sair dessa casa e pagar algo com o nosso próprio dinheiro.
Eu vou até onde está e o abraço.
— Sinto-me tão orgulhosa de você, Hayden.
— Eu não quis magoá-la quando falei sobre Alfonso não gostar do emprego na floricultura, é porque fico preocupado. Está na cara que se apaixonou por ele. Eu nunca acreditei naquela história de assistente — diz, sorrindo.
— Não se preocupe com isso. Agora, eu tenho que ir.
Eu já estava chegando na porta, quando me volto para encará-lo.
— Estou feliz por você, irmão. Aprendeu com seu erro e está se destacando no trabalho.
— Estou?
— Sim. Alfonso me disse que seus superiores o elogiaram.
Ele me dá um sorriso lindo.
— Não tem ideia de como fico satisfeito em ouvir isso. Por tanto tempo eu me senti desvalorizado pelo nosso pai.
— Eu sempre acreditei em você. — Ando até ele e lhe dou um beijo na testa. — Vai mesmo para aquela conferência na França?
— Vou, sim. Eu e mais dois funcionários acompanharemos nosso gerente de contas. Mesmo sendo um dos últimos a entrar na empresa, ele me escolheu para acompanhá-lo. Não é incrível?
— É, sim. Promete tomar cuidado? Eu ainda tenho medo que aquelas histórias do nosso pai com o narcotráfico sejam verdade.
— Prometo, sim. Vai direto daqui encontrar Alfonso, né?
— Aham.
— Avise-me se conseguir o emprego. Em caso positivo, teremos que comemorar.
Saio da casa e me preparo para andar um quilômetro até chegar à floricultura. Está fazendo um dia lindo e mesmo com um motorista à minha disposição, decido ir a pé.
Após alguns quarteirões, percebo que os dois guarda-costas me acompanham. Não pela primeira vez, me pergunto se eles relatam a Alfonso cada passo que dou.
Não gosto de pensar que sim. É como se eu fosse um bebê. No entanto, gosto menos ainda da possibilidade de esbarrar, propositadamente ou não, com Berat em uma rua deserta. Eu não acredito nessa história de que cão que ladra não morde.
Você consegue sentir o mal saindo de cada poro daquele homem.
Estou quase na porta da loja quando uma tontura súbita me atinge. Não é daquele tipo que nos acomete quando a pressão cai em um dia quente, mas uma tão forte que eu preciso me apoiar em uma mulher que está passando.
— Nasilsin? — a mulher, me olhando preocupada, pergunta em turco se está tudo bem.
— Evet. Afedersin. — respondo que sim, me desculpando em seguida.
Imediatamente, os homens de Alfonso me rodeiam.
— Senhorita Puente, o que há de errado?
— Nada. Foi só uma tontura. Está muito quente. Eu já melhorei.
Entro na loja antes que tenham chance de me impedir, pronta para dar início a uma nova fase da minha vida.