Sentimentos escondidos...
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Avisos: crise de ansiedade/raiva, pico de raiva, objetos afiados, tentativa de lesão corporal.
O ambiente em que se encontrava era pacífico. O salão da base da ordem tinha tal característica. Talvez seja por isso que gostava. Devido ao fator da falta de agentes no horário, o local era o mais silencioso.
Era necessário, no momento, a devida concentração nos documentos encontrados por Dante, Arthur e outros. Você anotava cada detalhe, cada palavra, cada vírgula suspeita nos escritos. Em um dos ápices da sua concentração, na sala ao lado, foi ouvido um estouro, o que cessou a calmaria do ambiente. Um turbilhão de sussurros abruptos em diversos idiomas preencheram o local, todos comentando sobre o recém barulho.
"De novo?", "Che cazzo era quello?!", "Foi a Agatha, relaxa." eram os sussurros escutados ao redor, todos indignados ou com a intenção de acalmar as poucas pessoas, porém barulhentas, ao redor.
Não era de hoje as 'explosões' da morena. Ela tinha a habilidade de fazer qualquer mínima ação se tornar um furacão. E isso irritava.
Você se considerava o único ser pensante na ordem. Por que diabos as pessoas simplesmente ignoravam o fato de que ela atrapalha todos os desenvolvimentos da plenitude naquele local?! Agatha Volkomenn poderia ser descrita como a confusão em pessoa e, sendo alguém minimamente racional, era perceptível que o gênio dela não batia com o seu.
Bateu na mesa e bufou irritadiça. Se ninguém iria resolver Agatha Volkomenn, você iria!
Estava determinada. Estufou o peito para parecer mais ameaçadora e marchou em direção a sala da garota. Alguns olhares e burburinhos queimaram até você: "Lá vem...", "De hoje a Agatha não passa", "Haha! Questo è amore!".
Todos ao redor sabia da intriga e do ódio — ao menos pela sua parte– esclarecido pela morena. Você gostava dos comentários que levantavam sua moral e te colocavam acima dela, porém, repudiava os que diziam que o que sentiam era amor e que isso provavelmente "daria namoro". O último estava fora de cogitação.
Ao se deparar com a sala de artefatos ocultistas, que estava com a porta fechada, adentrou sem nem bater. Um rock pesado preencheu seus ouvidos e seus olhos foram atraídos até uma figura musculosa que, agachada, dançava, diga-se de passagem, conforme a música. Ela não parecia ligar muito para o caos que estava a sala: cinzas da recente explosão por todo lado, objetos espalhados sobre a mesa de forma totalmente desorganizada e principalmente, documentos que você mesma estava procurando mais cedo espalhados de forma desleixada pelo chão.
Aquilo foi a gota d'água. Não importa quem era ela: mesmo que ela fosse duas vezes o seu tamanho, não a dava o direito de remexer os arquivos que você pessoalmente guardou para ninguém, nem mesmo Veríssimo, mexessem. Já havia tido a mesma conversa milhares de vezes com Agatha mas ela não entendia! Ela mexia com a parte prática e você com a parte racional, tendo em vista que raciocínio não era o maior atributo da morena.
Bateu a porta atrás de você com a maior força que pôde, como consequência, a garota que estava de costas se virou para você. Andou em passos rápidos em direção dela, e, ao passar pela mesa, pegou o primeiro objeto afiado que viu e partiu para cima dela.
"Sua sanguinária desgraçada eu vou matar você!" por fim, quando chegou próxima a ela, sentiu seus pulsos serem segurados pelas mãos dela, que ainda estava sentada. Era nítido que, na questão física, Volkomenn era muito mais forte que você, porém, ainda assim se debatia para que ela soltasse seus pulsos.
"Ei, ei, ei! Calma, [Nome]!"
"Me solta sua brutamonte!" quanto mais se remexia contra o aperto, mais forte ela apertava, tentando te controlar.
Chegou um ponto que Agatha simplesmente cansou de te segurar somente com as mãos, estava começando a ficar difícil. Como uma pessoa tão pequenininha podia ter tanta força? Ela faria essa pergunta depois que você se acalmasse. Por enquanto, o foco dela era te derrubar no chão e usar o próprio corpo como uma forma de te segurar e acalmar. E foi o que ela fez.
Sentiu um impacto nas costas e um choque percorrer seus músculos ao atrito do chão gelado e do seu corpo quente. Sentia também o corpo pesando devido ao ser sobre você. Ela segurava seus pulsos firmemente, aplicando a força do corpo. Mesmo assim você se debatia, querendo se desvincular do contato.
Com todas as tentativas de afastar a morena, ela não te soltou. Muito pelo contrário, ela parecia aprofundar ainda mais o toque abrupto.
Ao passar do tempo, você foi se acalmando. Não sabia porquê, mas sentiu suas bochechas molharem. Chorar, em frente a Agatha e principalmente em uma situação tão distinta, não parecia... certo. Demonstraria fraqueza na frente da pessoa que mais odiava mas não conseguiu evitar. De repente, milhares de pensamentos vagaram pela sua cabeça: o que será do futuro? Com Kian de volta, era improvável que alguém tão fraca como você sobreviva a essa luta. Porra, você ao menos ganhou uma briguinha besta com uma garota da própria equipe!
O medo abrigou seu coração por instantes. Se você não conseguiria ao menos se proteger, quem dirá proteger os outros? E se Kian fosse atrás de sua família? De seus amigos? Como protegeria eles? Nem percebeu quando o choro "bobo" se tornou lágrimas sinceras de desespero.
Agatha não acreditou no que estava presenciando. A pessoa mais fria e inteligente da Ordem chorando. Ela acreditava fielmente que [Nome] [Sobrenome] era o único ser humano da face da Terra que não sentia emoções e, de repente, ela se encontra chorando em sua frente?! Era inacreditável!
Ela mesma pensou, durante alguns segundos, em tirar sarro de você por conta da situação mas ela reconhecia esse choro. Era uma atitude que até mesmo a morena já havia feito diversas vezes. E de repente, ela se viu em você: alguém que precisava de um consolo, de um ombro amigo em um momento de tanta fragilidade. Agatha já passou pela mesma coisa e não deseja isso para ninguém, nem mesmo para você. Então, ela fez o impensável.
A morena puxou os seus pulsos e os colocou ao redor da própria cintura e rodeou os braços em seu pescoço, te envolvendo em uma espécie de abraço desajeitado, devido as posições que se encontravam.
Você nem contestou o afeto, simplesmente se permitiu sentir após muito tempo e, de qualquer forma, o abraço que Agatha te envolveu era muito aconchegante.
Com a respiração acalmando aos poucos, porém ainda acelerada, você se aprofundava ainda mais no abraço. "Talvez, ela não seja tão ruim assim" pensou, mas logo espantou a ideia. Um abraço não resolveria a questão 'furacão'.
Você estava meio envergonhada por ter chorado a frente dela, tinha certeza que a mais alta te zoaria até a eternidade.
Sua cabeça está a encostada no peito dela, de forma em que as batidas do coração dela estivesse ressoando em seus ouvidos. Não sabia o que tinha acontecido, se ela se assustou ao te ver com um objeto afiado na mão e partir para cima dela ou sei-lá-o-que mas as batidas estavam aceleradas. Talvez ela estivesse com medo? A verdade é que, assim como o de Agatha, o seu coração batia na mesma velocidade.
"Agatha?" você sussurrou, o que pareceu ainda mais um resmungo devido aos braços dela te apertarem.
"Hm?" ela também sussurrava. Era como se, imperceptívelmente, vocês estivessem presas em uma bolha, um mundinho, só de vocês.
"'Cê tá me esmagando..."
"Oh." ela te soltou e saiu de cima de você, meio envergonhada. Ela se sentou ao seu lado com as pernas cruzadas, as bochechas vermelhas e o coração ainda acelerado, apoiando as mãos nos pés calçados com os all-star pretos.
Você se sentou adequadamente, com postura e tudo, também cruzando as pernas. Sentia também as bochechas arderem e o coração em sintonia com o da morena. O silêncio era desconfortável e o único som presente eram o das batidas.
Ficou um bom tempo naquela posição, ainda processando o que tinha acabado de ocorrer: primeiro, tentou atacar Agtaha, segundo, você chorou na frente dela e terceiro, ela te abraçou e o pior de tudo, você não a afastou! Céus, esse dia não poderia te surpreender mais!
Foi quando um olhar queimou em sua direção. Quando se virou para analisar a morena, os olhos dela já estavam vidrados em ti.
Nunca parou e reparou nos olhos dela. Especificamente hoje e agora que sim. Eram tão lindos. Tão sombrios. Um arrepio percorreu todo seu corpo. Na mesma proporção, começou a reparar também na figura musculosa: Agatha Volkomenn podia ser um furacão, mas era o furacão mais lindo que já havia visto.
Um desejo e algumas dúvidas passaram a queimar no seu coração. Queria sentir o toque dela novamente, o calor do corpo dela em choque ao seu. Como seria beijá-la? Os lábios dela eram tão aconchegantes como o abraço dela? Sentiu o seu rosto inteiro pegar fogo com tais pensamentos e rapidamente chacoalhou a cabeça para espantá-los.
Mal sabia você que, na cabeça da Volkomenn, se passavam pensamentos semelhantes.
Limpou a garganta e se levantou, o que despertou Agatha dos delírios sobre você e realizou a mesma ação. Você direcionou os passos até a porta e ela te acompanhou. Antes que você saísse, ela proclamou:
"[Nome] err... hmm.." ela estava claramente nervosa e dava o melhor de si para pronunciar uma fala minimamente decente "sobre hoje, se precisar conversar eu... err... 'tô aqui, viu?''
Naturalmente, faria uma piada sobre a gagueira dela, ou até mesmo pela tentativa de ajuda. Mas não faria. Ela foi gentil, você faria o mesmo. Era o mínimo após o apoio que ela proporcionou a você em um ápice dos seus sentimentos.
Você embolou os dedos, envergonhada. Abaixou a cabeça tentando esconder a vermelhidão que começava a se alastrar novamente.
"Eu vou. Obrigada, Agatha."
"Perdão?" ela havia escutado perfeitamente, mas de alguma forma, o nome dela soado pelos sua voz pareceu... diferente. Ela caminhou alguns passos mais perto de ti, com um sorriso ladino, prestes a lançar uma provocação "Eu acabei de escutar um 'obrigada' saindo de você?''
"Não fode, Volkomenn, eu 'tô tentando ser gentil!" levantou a cabeça com raiva. Todos os pensamentos que estava começando a reconsiderar o comportamento da morena de esvaíram.
Mesmo com a sua resposta, ela soltou uma gargalhada. Ela adorava a dinâmica 'gato e rato' que vocês tinham, principalmente por ela sempre lançar as provocações. Por fim, ao chegar mais próxima a você ela aceitou o seu triunfo: "De nada."
A sua carranca mal-humorada se transformou em uma feição mais suave. Querendo ou não, Agatha conseguia ser legal quando queria.
Seus olhos se encontraram novamente e seus pelos se arrepiaram. Diferente da primeira vez, os olhos de Agatha também apresentavam desejo. Ela queria você, assim como você queria ela. Queria senti-la novamente então em um impulso, a abraçou, envolvendo os braços na cintura da maior.
Ela não hesitou, rodeando os braços em seu pescoço, escondendo seu rosto na curvatura do dela. Novamente, escutou as batidas aceleradas da morena que a cada segundo se descontrola ainda mais. Você soltou uma risadinha discreta.
"Ae, Volkomenn, por que toda vez que eu chego perto, seu coração faz 'tum 'tum bem rápido?" você a provocou, o que tirou um riso envergonhado dela.
"Não fode, [Sobrenome]. Eu 'tô tentando ser gentil... "