Os dias não eram fáceis, assim como nenhum outro foi na vida da Shin depois de ela ter perdido sua fortaleza e ter entrado naquela vida de ilegalidades. Mas ela tentava e sempre conseguiu parecer com que estivesse tudo bem e que ela sempre estava dando conta, quando na verdade, um pouco mais abaixo daquela camada fictícia criada, tudo era mais complexo e inevitável. E por isso que em situações como aquela em que Haeri se encontrava em um abismo com suas emoções colapsando, situações como tal aconteciam, e ela conhecia bem e sabia o que estava sentindo.
Ela sofria de ansiedade. Desde os seus dez anos ela apresentava dos mais simples sintomas, e conforme foi crescendo, gradativamente os sintomas se tornaram mais fortes até levarem à sua primeira crise, e a última, que a garota se livrava ali no banheiro. E para conseguir sair dali e esconder sua fragilidade, mesmo que eventualmente ela acabasse contando a verdade para seus amigos, em frente ao espelho lavou o rosto, passou a mão no cabelo algumas vezes e fez uma expressão que menos entregasse-a, para então abrir a porta e certamente dar de cara com alguns.
Seus amigos jamais eram invasivos, até porquê essa era uma regra básica de vivência para todos desde o começo. Por isso ela não se preocuparia em ouvir mil perguntas sobre o que havia ocorrido, mas eles não deixavam de se preocupar. Os dois que estavam ali desde antes, Hyunjin e Jae Hwan, e permaneceram até que a porta fosse aberta por Haeri, foram bons como sempre eram em dar força para ela e não fazer da situação um evento.
Porém não eram só os dois que sabiam da situação, Minho também sabia e mais do que isso foi o primeiro a ver, e a Shin tinha certeza de que os meninos foram avisados por ele, até porquê eles simplesmente não adivinhariam. E era intrigante para a garota, afinal ela conhecia pouco do caráter do Lee, mas só naquela situação ela preferiu acreditar que ele não falaria nenhuma bobagem à ninguém e diminuiria um porcento da sua parcela de raiva pelo outro.
Todo a situação se fez assim, a vida de Haeri não pararia apenas por sua mente ter colapsado, então depois de se reestabelecer ela já tinha que estar pronta para a próxima e ser forte como sempre, visto que o dia estava mais próximo do que nunca.
- Haeri P.O.V -
*Dois dias para o primeiro passo .*
Faltando apenas um dia para darmos início ao plano, dada a hora voltamos a falar sobre ele, e era preferível fazer um dia antes da véspera, pois nesta era um dia de descanso absoluto para estar cem porcento entregue à missão. E depois de tanto tempo nesse meio de crimes, não era como se fossemos esquecer de tudo o que foi falado um dia antes, isso não era uma opção, todos e até mesmo os que não conhecíamos, estávamos fadados a lembrar meticulosamente de cada passo, sem erros.
Seguíamos este ritual desde sempre, e mais do que uma estratégia para a hora exata do agir, era para principalmente nos ajudar na ansiedade. Quando parado para pensar, no momento em que falamos e repetimos o plano um pouco antes de executá-lo toda vez, o sentimento de não poder esquecer e auto-repeat de todos os movimentos se tornam constantes, ajudando a todos os comandos se colidirem entre si, e logo dando espaço a uma mega ansiedade.
– Certo, presumo que todos saibamos o que deve ser feito? – perguntei para me certificar à todos que estavam ali na sala, depois de explicarmos e falarmos sobre cada um a sua função no dia da execução do plano, e como esperado todos concordaram
– Vale ressaltar mais uma vez que a intenção neste primeiro momento não é ser algo violento, nós vamos dar o nosso máximo para que não seja preciso usarmos da força bruta – Minho fez um adendo e que de fato era importante ressaltar, se infringissemos a regra de não usar força brutal perderíamos uma enorme vantagem para o sucesso do nosso plano
– Isso é extremamente importante – concordei com a fala do Lee – Lembrem-se disso na hora e apenas se a situação ficar difícil usaremos algum armamento pesado
– Sim, é por isso que vamos ter a Yeji no ponto estratégico observando tudo e Hyunjin no outro, também ajudando a supervisionar – Minho acrescentou
Ali iria começar um exemplo de interação entre membros de nossos grupos. Nossos dois Snipers teriam que trabalhar juntos se comunicando entre si, e pelo o que eu já havia ouvido de Hyunjin, eles conseguiam ter uma boa comunicação sem uma enorme tensão entre os dois, mas não era como se não existisse, Yeji, além de uma ótima atiradora mantinha uma postura bem centrada, pelo menos na nossa frente, e eu já conseguia perceber seu foco com sua função. Mesmo assim, eu achava que iria dar certo, de modo geral ela era amigável e eu acreditava que Hyunjin conseguiria ser com ela.
– A Ryujin será a única com um armamento mais pesado caso necessário, e a única que deve fazer isso, ainda sim com nosso comando – referi-me à Minho e eu que estaríamos no comando de tudo – Jae Hwan você estará sempre atrás dela a dando cobertura e nos dando também, certo?
– Certo! – ele respondeu de imediato – Qualquer som de passo atrás de mim é sinal de perigo, não?
– Levando em consideração que Jeongin e Felix não devem estar exatamente atrás de você, então sim – o respondi – Mas não é como se você não soubesse o que fazer 'né?
– Claro, eu só queria ter certeza absoluta
– Bom, é para isso que usamos Walkie Talks e o ponto no ouvido. Qualquer um que ver algo diferente independente da sua posição vai nos comunicar, e isso é regra e clara, não é? – Minho perguntou mais uma vez a todos uma regra crucial para certificar-se, e como o esperado todos concordaram
– Isso já deu muito certo – Jisung soltou seu comentário animado
– Se fizermos tudo direito e seguirmos o plano a risca já deu sim muito certo! – concordei com o garoto que parecia ser um poço de otimismo, e eu diria que sim já que foi o que transpassou durante os dias
– Com toda essa confiança acho que você deve estar fazendo um ótimo trabalho – Yeji falou ao Han descontraída
– Sim estou, como adivinhou? – disse com deboche rindo ao final – Ainda mais que não estou sozinho nessa – referiu-se a Seungmin que hackeava junto a ele
Apesar de não trabalharem necessariamente juntos, em algumas ocasiões era necessário se comunicarem para no final obterem sucesso, e os dois foram outros que conseguiram se entender bem, pelo menos foi o que ouvi Seungmin relatar durante os dias e também de Jisung naquele momento.
Eu não podia deixar de ficar de certo modo feliz por todos não estarmos nos odiando feito loucos. Embora estivéssemos longe de sermos amigos, a relação profissional que estava sendo imposta naquele início estava acontecendo de forma não tão ácida, e era importante para nosso plano dar certo, por isso me sentia um pouco aliviada.
O clima de divisão da casa ainda existia, era óbvio, uma semana e uns dias não seria suficiente e se possível para a barreira ser quebrada. No entanto simplesmente não ultrapassávamos as linhas impostas e isso já bastava.
– Antes de 01:00 da manhã esperamos estar dentro das vãs e logo em casa comemorando nosso sucesso, então até lá fighting – Minho ergueu seu punho em força quando terminou sua última fala, e na sequência, em resposta praticamente todos lhe devolveram a força também erguendo seus punhos.
Eu não me daria o trabalho de falar aquilo alto, mas em certo respeito ao todo, não deixei de desejar mesmo que baixo também. Tudo que envolvia o de cabelos laranja era muito difícil.
Por fim, não precisou de mais nenhuma palavra para se entender que por ora o assunto estava encerrado e só nos restava aguardar o dia e a boa execução do plano. Então finalizado, todo mundo foi se retirando da sala e procurando alguma coisa para fazer fora dali, até mesmo os meninos.
Eu permaneci ali sentada em um dos sofás, não me restava nada a fazer naquele momento ao não ser deixar que minha mente se ocupasse com minhas inevitáveis preocupações com o plano. Nem eram muitas e eu nem deveria me preocupar com o que já estava pronto e organizado, na realidade eu só queria que desse certo, pois eu estava depositando todas as minhas energias naquilo mesmo que inicialmente nem precisasse de muitas. A minha vida inteira foi destinada àquilo então eu me agarrei mais uma vez na chance.
Dessa vez ali sentada não deixei a ansiedade tomar conta, eu apenas me deixei pensar sem ir tão longe. E era impressionante o fato de que sempre que todos iam embora, restava Minho e eu, eu quase nem tinha notado sua presença e só me lembrei quando escutei sua voz.
– Você se sente pronta? Sei lá, no outra dia você não se sentia bem – De repente ele iniciou aquele assunto e quase achei que ele não falava comigo, mas era
– Claro, afinal eu que escolhi o dia, correto? – respondi tentando não ser tão rude e nem mentir, passando a olhá-lo sentado um pouco mais longe no outro sofá e vi ele concordar com a cabeça – E o que é toda essa preocupação comigo? – não pude deixar de questionar já que aquilo me incomodava
– Não é nada, pode abaixar sua guarda – respondeu sério – Eu só não queria deixar de perguntar, sequer entendi o que estava acontecendo com você aquele dia e querendo ou não vamos estar juntos nessa, e eu só queria saber se viria a acontecer de novo, emergências acontecem – ele não usava um tom sensibilizado que o deixava parecer preocupado, mas ainda demonstrava o seu interesse em se certificar se eu estava ok, e aquilo continuava me intrigando
– É porque você não precisa entender o que aconteceu comigo, pode ficar tranquilo que aquilo não é frequente e não vai acontecer no dia do plano se é isso que te preocupa – fui direta com minha resposta esperando que não ficasse nenhuma dúvida
Eu não estava pensando que ele se preocupava comigo porque isso era impossível, mas sim o porquê de tamanha importância com algo de dias atrás, isso me intrigava, esse interesse repentino na minha vida não me deixava comovida, porém aparentemente Minho estava tendo e eu ainda não entendia o que era aquilo.
– Não é como se você fosse mais importante que o plano, mas também não é como se eu fosse surtar se algo desse errado por sua causa, eu não sou tão insensível assim
– E então, eu já não respondi sua pergunta? Eu estou pronta, mas não espere que eu te explique o que aconteceu porque não vai acontecer – fui bem clara ao explicar a última parte
De fato, não iria ser naquele dia e sabe-se lá quando que eu iria contar à ele meus problemas piscicológicos. Entretanto, eu também não tinha controle do que ele pensava ou pensou quando me viu em meio a uma crise, e é claro que eu não admitiria isso.
– Tudo bem, longe de mim insistir na sua vida – ergueu as mãos em rendição – Estou tentando ser o mínimo inconveniente possível, desculpa ter demostrado um pingo de interesse em você, não vou tentar de novo, fica tranquila – falou suas últimas palavras sério desfazendo sua feição com um sorriso forçado quando terminou, e logo se levantou
Só podia ser uma piada, ele queria um muito obrigado pela preocupação que eu sequer pedi? Eu era sim muito arrogante com ele, mas ele forçava essa reação sempre, Minho vinha sempre junto com um gatilho e eu sempre estava na defensiva.
Que irritante!
– Babaca – falei soprado só podendo rir com deboche da situação ridícula
– Garota arrogante do caralh… – devolveu a ofensa se retirando da sala
Até reclienei minhas costas do sofá para olhá-lo melhor e ver se eu tinha ouvido certo. E era bom que ele já estivesse longe subindo as escadas, porque se estivesse perto eu nem conseguiria dizer o que falaria.
– Que situação de merda! – resmunguei irritada, suspirando longo voltando a me encostar nas costas do sofá com força
Aquilo me cansava mais do que todas as outras coisas, conviver com Minho era estressante para mim e não era um dia ou outro, e sim todos os dias que eu pensava e ainda estava em negação com o fato de que eu estava morando no mesmo ambiente que ele. Nós nem nos falávamos direito durante os dias, era o básico de uma convivência como "com licença" ou "ei você", as únicas vezes que conversávamos decentemente eram quando estávamos organizando o plano e era necessário que nos falassemos por estarmos comandando tudo. Fora isso, todas as vezes que ele tentava iniciar um diálogo comigo não dava certo e situações como aquela que acabava de acontecer, iniciavam.
Eu acho que para Minho não ficou claro que eu o odiava e odiava qualquer interação entre nós, porque aquilo era incômodo, eu simplesmente não me sentia bem estando com ele e sendo exagero ou não da minha parte, todas as vezes que eu pudesse evitar qualquer assunto, eu evitaria.
Eu nem precisaria estar ali se não fosse por ele, então por que ele não se esforçava para lembrar do que ele mesmo causou?
- Narrator P.O.V -
Minho subiu aqueles degraus com a mais pura força do ódio e foi para o seu escritório procurar um pouco de paz sozinho.
Fechou a porta do cômodo com força e sentou-se na cadeira confortável suspirando pesado por tamanha frustração. Era isso que ele ganhava se importando o mínimo com a Shin? Uma grosseria sem tamanho como se ele fosse qualquer coisa? Aquilo o intrigou e ele estava irritado.
O Lee nunca quis invadir o espaço de Haeri e sua vida pessoal, e reconhecia que não era da sua conta o porquê que ela se sentia mal, no entanto ele só quis mostrar um pouco de sensibilidade porque ele não achou divertido como a garota estava naquele dia, mas para a Shin era impossível tal ato.
Ele ouviu a porta ser aberta e ali estava seu amigo Jisung, que ou adivinhou que Minho não estava dos melhores ou simplesmente viu algo acontecer.
– Ah Jisung, é você... Entra aí – falou assim que viu o outro na porta
– Estou entrando – disse fazendo como anunciado e fechando a porta em seguida.
O Han logo percebeu que Minho parecia meio irritado pela cara fechada que estava, e logo se fez confuso.
– Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa? – o loiro perguntou curioso
– Claro que aconteceu, ultimamente é só o que anda acontecendo – respondeu direto o que estava praticamente escrito na sua testa
– Me conta, o que te aborrece, meu amigo? – Jisung disse enquanto se sentava na frente de Minho no outro lado da mesa
– A Haeri, aquela estúpida – respondeu pronunciando o nome da citada com tanto desgosto
– Hm? – o outro juntou as sombrancelhas – Vocês brigaram de novo? Ela parecia tão tranquila hoje...
– Pois é, mas só parecia mesmo, comigo ela se transforma, inacreditável – riu sem humor pensando no fato
– Vocês só sabem discutir, o que foi dessa vez?
– Ela só sabe discutir – fez questão de enfatizar o ela – Eu não começo nenhuma discussão, é só simplesmente que toda vez que eu tento falar algo mínimo para ela, ela é grossa e estúpida comigo! – reclamou totalmente irritado
– Por que você tenta se sabe que ela vai te tratar mal? O que foi dessa vez? – perguntou pela segunda vez
– Porque não me custava nada tentar ver se aquele clima de bosta tinha diminuído, nem que fosse um pouco, mas não e agora me custa muito!
– Sinceramente Hyung, é difícil de entender qual é o problema entre vocês – Jisung falou o que não era só ele que não compreendia
– Sim, muito difícil. E o que aconteceu hoje foi que eu fui perguntar pra ela como ela estava se sentindo, e só estou te dizendo isso porque você é meu melhor amigo – diminuiu um pouco seu tom de voz para então continuar – Mas outro dia ela estava meio mal e sem querer acabei presenciando a cena, e então só quis me certificar de que ela estava bem para o plano, mas só faltou ela mandar eu me fud-
Minho sabia que a situação que havia presenciado no quarto da garota era para ser um segredo, porém ele só queria deixar claro à Jisung que as suas intenções foram as melhores.
– Nossa – o Han tinha um "o" em seus lábios por tamanha surpresa – Eu não fazia ideia disso...
– Ninguém sabe fora eu e alguns dos amigos dela, era para ficar entre nós então por favor não fala pra ninguém – pediu ao amigo
– Claro, eu não vou, mas que garota escrota, por que ela age assim?
– Eu não sei, eu juro que não sei – foi sincero quando disse – Eu não acho que só por nossas gangues serem rivais ela tenha um ódio tão grande de mim, então por que, por que? – tornou a se perguntar a dúvida que ele não conseguia obter uma resposta
– Eu não faço ideia... – Jisung negou com a cabeça sem saber exatamente o que dizer
– E eu não perguntei porque me importo muito com ela, até porquê eu nem a conheço, mas ela parece me conhecer há uma vida para me odiar tanto assim...
– Pois é... Existe alguma coisa que só a gente não sabe, e você nem pode ter a oportunidade de tentar descobrir
– Nunca mesmo, prefiro ficar na dúvida do que começar mais uma discussão com aquela desconhecida
A verdade era que existia uma linha tênue entre os dois. Onde de um lado Minho tentava procurar motivos para ser odiado, e do outro Haeri tinha seus motivos cravados na sua memória e ponta da língua. Mas quem dos dois iria ser o mais corajoso e abrir o jogo primeiro, aquilo era falar sobre o quão humilhados queriam estar. Por isso era mais fácil deixar ali a dúvida e a razão.
E sinceramente, nenhum dos dois estava fadado a se preocupar com essa situação naquele momento. A relação de trabalho e vida pessoal dos dois, mesmo que muito próxima uma da outra estava bem divida, e eles tinham um plano a executar bem perto dali, então as suas rixas ficariam para depois, mesmo que em cantos diferentes da casa naquele momento só conseguiam pensar um no outro.
{...}
*30 minutos para o primeiro passo .*