Os cochichos seguiam Harry onde quer que ele fosse.
"É aquele ali, do lado do garoto loiro."
"Como é possível que ele esteja na Sonserina?"
"Será que ele derrotou Você-sabe-quem porque era um bruxo das trevas mais poderoso?"
Draco, que tinha percebido o desconforto de Harry, tentava distraí-lo falando sobre aulas e quadribol sem parar sempre que começavam a cochichar. Harry era grato a ele, não só por aquilo, mas também por ajudá-lo a se adaptar. Se não fosse por Draco, Harry já teria se perdido umas cem vezes no castelo e ficado completamente confuso em relação às falas de alguns alunos.
Tirando os burburinhos, as primeiras aulas de Harry foram ótimas, muito melhores do que ele esperava.
As aulas de feitiços, herbologia e defesa contra as artes das trevas foram teóricas. Já em transfiguração, aula dividida com os grifinórios, a Professora McGonagall os instruiu a transformar um palito de fósforo em uma agulha. Apenas Harry, Draco e Hermione conseguiram produzir algum efeito, sendo que somente a garota conseguiu transfigurar com perfeição.
Finalmente, chegara o dia que ele teria poções com o Professor Snape. Ele ainda não sabia o que pensar do professor, mas estava ansioso para sua aula.
Snape entrou na sala com uma expressão fria, sua capa preta balançando conforme ele andava. Ele fez a chamada e começou a dar uma introdução sobre o assunto:
"Vocês estão aqui para aprender a ciência sutil e a arte exata do preparo de poções." Disse ele. Falava baixo, mas seu tom firme mantinha a atenção de todos na sala. "Como aqui não fazemos gestos tolos, muitos de vocês podem pensar que isto não é magia. Não espero que vocês realmente entendam a beleza de um caldeirão cozinhando em fogo lento, com a fumaça a tremeluzir, o delicado poder dos líquidos que fluem pelas veias humanas e enfeitiçam a mente, confundem os sentidos... Posso ensinar-lhes a engarrafar fama, a cozinhar glória, até a zumbificar, se não forem o bando de imbecis que geralmente me mandam ensinar."
Todos olharam apreensivos ou ansiosos para o professor.
"Potter!" Ele chamou. "O que eu obteria se adicionasse raiz de asfódelo em pó a uma infusão de losna?"
Harry tentou se lembrar do livro que tinha lido, mas teve dificuldade. Ele se lembrava vagamente disso, era alguma poção de sono, algo muito forte…
"A poção do morto-vivo, senhor." Respondeu, se lembrando de repente.
Como Snape poderia esperar que alguém soubesse aquilo no primeiro dia de aula? Fora pura sorte que Harry se lembrara do que tinha lido. Talvez seja por esse motivo que o professor lhe enviara um olhar levemente impressionado.
"Weasley!" Snape chamou. "Se eu lhe pedisse, onde você iria buscar bezoar?"
No estômago de uma cabra, Harry pensou. Essa não era tão difícil, mas ele ainda não achava necessário cobrar na primeira aula.
"Não sei, senhor." Respondeu Weasley, enquanto Hermione parecia ansiosa para dar a resposta certa.
Snape franziu os lábios e chamou outro aluno.
"Longbottom! Qual é a diferença entre acônito licoctono e acônito lapelo?"
"N-não há diferença, senhor. São do mesmo gênero botânico." Respondeu o menino, tremendo de nervosismo.
O resto da aula correu bem, comparado ao início. Snape os instruiu a preparar uma poção simples para curar furúnculos e, tirando Longbottom que explodiu o próprio caldeirão, todos foram bem ou razoáveis. Claro que isso não impediu Snape de criticar a quase todos, exceto Harry e Draco, elogiando-os pelo preparo.
No fim da semana, Harry recebeu uma carta de Hagrid, que o chamava para uma visita. Após as aulas do dia acabarem, ele foi em direção à cabana do homem. No caminho, encontrou Hermione sentada na grama e lendo um livro.
"Boa tarde, Harry." Disse ela, se levantando.
"Boa tarde."
"Onde você vai? Já é tarde."
"Vou visitar Hagrid, o guarda-caça."
"Sozinho?" Perguntou Hermione, desconfiada. Ela achava que Hagrid era um assassino em série ou algo do tipo?
"Quer vir comigo?" Perguntou Harry.
Hermione pensou por um segundo e assentiu, ainda receosa.
"Sim, é melhor do que você ir sozinho para a casa de alguém que você mal conhece."
Harry pensou que a garota era muito desconfiada, mas não disse nada, apenas deixou que ela o acompanhasse.
Quando os dois chegaram à cabana de Hagrid, bateram na porta, provocando latidos ruidosos de algum cachorro. Quando o homem abriu a porta, Harry viu que o cachorro em questão era quase do tamanho de um pónei.
"Oi, Harry. Vejo que trouxe uma amiga." Disse Hagrid com um sorriso amigável.
"Essa é Hermione."
"Prazer em conhecê-lo." Disse Hermione, erguendo o queixo.
"É bom que faça amizades com pessoas de outras casas." Disse Hagrid, servindo uma xícara de chá aos dois. "Ainda mais por você estar no meio de um bando de sonserinos."
"Estou no meio de um bando de sonserinos porque sou um sonserino, Hagrid." Disse Harry. Pelo visto, Hagrid era um daqueles que enxergavam sonserinos como vilões.
"Bem, talvez nem todos os sonserinos sejam tão ruins." Admitiu Hagrid. "Veja o professor Snape, pode ser um pouco ranzinza, mas é um bom homem. Dumbledore confia nele de olhos fechados."
"Um pouco ranzinza?" Bufou Harry, ignorando o óbvio preconceito de Hagrid. Além disso, ele não tinha certeza se Snape poderia ser usado como exemplo de um bom sonserino.
"Ele é um professor, Harry. Não use esse tom para falar sobre ele." Advertiu Hermione.
"Você tem que superar essa devoção cega à autoridades." Disse Harry.
Hagrid também, ele supôs. Desde o dia em que conhecera o homem, ele falava de Dumbledore como se fosse um deus. Talvez fosse por gratidão ou admiração, mas Harry não achava legal que Hagrid encarasse a palavra do diretor como lei.
Harry olhou para cima da mesa e o Profeta Diário chamou sua atenção, uma matéria em específico.
O CASO GRINGOTES
Prosseguem as investigações sobre o arrombamento de Gringotes, ocorrido em 31 de julho, que se acredita ter sido trabalho de bruxos e bruxas das Trevas desconhecidos.
Os duendes de Gringotes insistiam hoje que nada foi roubado. O cofre aberto na realidade fora esvaziado mais cedo naquele dia.
“Mas não vamos dizer o que havia dentro, para que ninguém se meta, se tiver juízo”, disse um porta-voz esta tarde.
"Hagrid! Esse arrombamento aconteceu no dia que fomos lá." Disse Harry.
Hagrid balbuciou alguma coisa, evitando responder. Se Harry estava desconfiado antes, ficou ainda mais depois daquilo. O cofre arrombado teria sido aquele que Hagrid esvaziou mais cedo?
Depois de terminarem o chá, Harry e Hermione saíram da cabana. No caminho de volta para o castelo, encontraram Draco, que estava procurando por Harry.
Enquanto caminhavam, o moreno contou aos outros dois de suas suspeitas sobre o arrombamento em Gringotes.
"É melhor não se meter nisso." Advertiu Hermione.
"É melhor se meter sim." Disse Draco. "Aposto que Dumbledore está escondendo algo cabuloso."
"Talvez seja algo útil de sabermos." Disse Harry. Não que ele quisesse prejudicar o diretor, como Draco obviamente queria. Harry só queria saber o que estava acontecendo, queria a informação completa.
"Vocês são como um bando de urubus." Murmurou Hermione.
"Mas você gosta da gente, ou então não estaria aqui." Disse Draco.
"Acredite, eu ainda não sei ao certo porque estou andando com vocês." Disse Hermione, lançando a Draco um olhar de desgosto.
"Porque nós somos bonitos, ricos e brilhantes." Disse o loiro com um sorriso arrogante.
"Brilhantes?" Hermione bufou uma risada.
"Snape elogiou nossa poção, disse que estava exemplar."
"Não precisa se gabar por isso."
"Snape não dá elogios a qualquer um, é óbvio que eu vou me gabar."
Harry, que apenas observava a troca dos dois, balançou a cabeça. Talvez um dia aprendessem a gostar um do outro e parassem com essas discussões.