35
Meus joelhos deslizam no piso liso e meus braços movem a katana para o lado, em um movimento ágil a lâmina faz um corte pequeno no tecido do boneco. Deslizo novamente sobre os joelhos na direção contrária, movendo a katana e fazendo um corte no segundo boneco ao lado. Me levanto e viro na direção dos bonecos, vendo os vários cortes que deixei no tecido do boneco. Uso meu antebraço para secar o suor que escorria entre as minhas sobrancelhas, resultado de uma hora e meia de movimentos bruscos com a katana.
– Atrapalho? – me virei em direção a voz e encontrei Jessy parada na porta, encostada no batente e sorrindo, como sempre.
– Você nunca atrapalha. – respondo indo até a mesa para pegar uma garrafa com água. Faço uma pausa para perguntar. – O que te traz aqui, ruivinha?
– Você não apareceu para tomar café, sabendo disso vim te procurar para almoçarmos juntas, a menos que queira desmaiar de fraqueza nesse chão frio e não, não é uma opção. – Jessy pontuou sem me dar escolha. Enchi a boca com água. – Avril.
– Meu Deus, você soa como a minha mãe. – bufei fechando a garrafa e peguei a proteção da lâmina da katana, guardando a mesa. – Tudo bem. Já que não tenho escolha mesmo.
– Isso mesmo. – ela sorriu vitoriosa quando passei ao seu lado. – Você faz parecer que comer é um pesadelo, Avril.
– Meio que se torna quando se está no meio de um treino. – murmurei me arrastando ao seu lado pelo corredor.
– Você é tão dramática, Avril. – Jessy soltou um suspiro arrastado. – Sabia que pra ter energia o suficiente para lutar e treinar é necessário comer?
– Essa parte de aprendizado eu pulei. – respondi ironicamente e Jessy esbarrou no meu ombro, resmungando. – O que tem para o almoço?
– Vamos saber assim que chegarmos ao refeitório se você parar de fazer corpo mole! – ela me beliscou de leve depois de passarmos pela passagem, que se fechou atrás de nós.
Estava preste a revidar o belisco, mas fui interrompida quando o som de um choro familiar soou perto da curva do corredor, em direção as paredes de vidros. Eu reconheceria aquele choro a quilômetros de distância, passei sete anos o escutando com frequência.
– Você ouviu isso? – perguntei para Jessy mesmo tendo total certeza do que ouvi. – Acho que é o Peter.
– Pode ser qualquer outra criança, Avril. – o choro volta a ecoar a pouca distância de nós.
Não, esse é o choro do meu irmão. Ajeito a katana na mão começando a caminhar em passos largos e apressados até o som do choro, que ficava mais estridente e dramático a cada passo meu. Meu coração bombeava mais forte sempre que a distância diminuía, eu mal conseguia ouvir a minha respiração, apenas os meus batimentos cardíacos. Quando fiz a curva do corredor e cheguei até a fonte do barulho algo dentro de mim explodiu. Jenny está segurando Peter pelo braço esquerdo, gritando enquanto o meu está chorando, se inclinando para trás e pedindo que ela o solte. Jenny ignora as súplicas dele e firmou o aperto de sua mão no braço dele.
Eu não posso e nem poderia explicar o que estava sentindo, era raiva, desgosto e algum tipo de enjoou tudo ao mesmo tempo. Eu fiquei furiosa como nunca havia ficado. Ver Jenny mantendo Peter daquela forma enquanto ele lhe pedia para o deixasse foi o suficiente para que todos os meus músculos ficassem rígidos, os punhos cerrados, o peito ardendo e a garganta seca. Caminhei até ela com toda a raiva que inundava o meu corpo.
– O que você está fazendo?! – praticamente grito ao me aproximar. – Ele pediu pra você soltar! Você está o machucando, Jenny!
– Ele estava mexendo nas minhas armas. – a mulher exclamou apertando o braço de Peter e ele chorou mais ainda.
– Ele é uma criança, porra! – eu a empurro para longe dele e Peter corre para trás do meu corpo, escondendo-se.
– Bom, então você deveria cuidar mais da sua criança, Avril! – ela empurrou minha mão que nos separava para longe.
Olhei para Peter sobre o meu ombro e Jessy estava o amparando, o deixando mais calmo. Eu não queria fazer isso na frente dele, mas Jenny está testando os meus limites a muito tempo e acontece que agora ela realmente conseguiu. Não dei tempo para que ela dissesse qualquer outra coisa, a pressionei contra a parede, usando a katana entre seu queixo e o pescoço. Ela arregalou os olhos pelo ato repentino, surpresa e até mesmo assustada com a katana pressionada em sua garganta. Jenny tem muita sorte de eu ter colocado a katana na proteção.
– Eu não sei qual é a porra do seu problema comigo, mas você não vai colocar o meu irmão no meio disso! – a pressiono mais ainda na parede. Jenny afega, suas mãos tentam me afastar. – Você entendeu, Jenny? Ele não tem nada a ver com isso.
– Você é uma maluca descontrolada! – ela rosnou entre dentes, furiosa.
– Avril! – duas mãos firmes agarraram meus braços, me puxando para longe da mulher. – Pelo amor de Deus, vocês endoidaram?!
– Se você tocar, gritar ou chegar perto do meu irmão desse jeito mais uma vez eu acabo com você! – Phil me olhou indignado, mas cada célula do meu corpo fervia e eu só conseguia olhar para Jenny do outro lado. – E você não sabe o quanto eu quero isso.
– O seu irmão não tem controle e eu sou a errada?! – ela riu com escárnio. Um zumbido consumiu os meus ouvidos. – Ameaças não me assutam em nada, Avril!
Puxo a katana da proteção por instinto, mas é o suficiente para Phil arregalar os olhos e vir na minha direção, com as mãos levantadas.
– Avril, guarda isso agora! – não era um pedido ou uma sugestão.
Preciso recolher todo o autocontrole e respeito que me sobrou para tomar a iniciativa de guardar a katana novamente. Meus dedos se pressionavam com tanta força contra a palma da minha mão que pequenas meia luas se formaram na pele por causa das unhas curtas. Eu sentia meu corpo inteiro formigar, queimar e vibrar em ódio. O que eu realmente queria era fazer Jenny pedir desculpas miseravelmente pelas coisas que disse e pelo o que fez, eu queria que ela pedisse desculpas para Peter e teria colocado ela de joelhos se não fosse pelo barulho de soluço pós choro que vinha de trás de mim.
Phil colocou as mãos na cintura e me olhou com a expressão tomada pelo choque, mas cheia de repreendimento. Eu o olhei de volta e espero que tenha sido o suficiente para ele entender que não estava disposta a me sentir errada por qualquer atitude que tive. Jenny pegou suas armas e caminhou na direção contrária, evitando passar ao meu lado e eu realmente acho que foi melhor ter evitado mesmo.
– Não me olha como se eu fosse a sem noção. – digo olhando diretamente para o homem.
– Era você quem estava com a porra de uma katana no pescoço dela, Avril! – Phil indagou passando a mão pelo rosto.
– E teria feito pior. – pontuou sem remorso algum, amarga e ácida. – E com certeza vou se ela ousar em fazer qualquer coisa assim de novo.
Dei as costas para Phil, me virando para Peter, que ainda estava escondido nos braços de Jessy. Me agachei para ficar da sua altura, baixa o bastante para ele conseguir me ver através da pequena brecha entre o rosto e o braço da ruiva. Tentei esboçar um sorriso corajoso para ele, mas foi tão fraco que não pode ser chamado de sorriso. Peter não se importou, ele se soltou dos braços de Jessy e correu para os meus, me abraçando com uma força surpreendente, eu o abraço de volta com o dobro de força. Enterro meus dedos em seu cabelo, afagando as madeixas macias e longas entre meus dedos, sentindo Peter se acomodar mais ainda entre os meus braços.
– Av, eu não estava mexendo, apenas olhando. – ele sussurrou contra a curva do meu pescoço e logo em seguida fungou, me fazendo estremecer. – Eu juro...
– Tudo bem. Eu acredito em você. – e eu acredito mesmo. Peter poderia ser uma criança muito curiosa, mas ele não mexia em nada em que não fosse seu ou que não tenha permissão. – Você está bem?
– Sim. – ele se afastou e imediatamente olhou para o braço avermelhado. – Não está doendo mais. Obrigada por me ajudar, Av.
– Você não precisa me agradecer por nada, Peter. – acaricio sua bochecha com o polegar, o confortando. – Peter, se Jenny ou qualquer outra pessoa te machucar dessa forma de novo quero que me conte imediatamente, sem exitar. Certo?
Ele assentiu com a mão massageando seu braço. Ergui meus olhos até encontrar os de Jessy. A mulher me olhou de volta e balançou a cabeça positivamente, esboçando um sorriso de canto.
– Eu sei que você não mexeu nas armas, mas vamos combinar que em possibilidade alguma você vá fazer isso em algum momento. – o seguirei pelos ombros, olhando diretamente nos olhos do garoto, para que ele entendesse que eu estou falando sério. – Ok?
– Ok. – ele resmungou cabisbaixo.
– Tudo bem então. – segurei seu queixo, erguendo o seu rosto o suficiente para beijar sua bochecha. – Amo você, mimadinho.
Peter soltou uma risadinha travessa e eu sorri só por vê-lo bem. Me levantei encontrando o olhar pesado e suave de Phil, retribui o olhar para deixar claro que não estava nem um pouco comovida pela forma que estava me olhando. Não demorou muito para que Peter decidisse que preferia estar brincando do que no meio do clima tenso que ficou no corredor e assim ficou durante um minuto inteiro após o garoto nos deixar sozinhos.
– Por que você ainda está me olhando desse jeito?! – indago fazendo um movimento brusco com a katana. Os olhos de Phil desceram até a katana e depois subiram para o meu rosto novamente.
– Porque eu sabia que você era capaz disso mas nunca pensei que fosse presenciar, ainda mais com alguém de dentro da base. – ele cruzou os braços, se demonstrando firme em sua posição. Uma posição que eu não estava gostando.
– Phil, a Avril apenas defendeu o irmão dela! – Jessy interveu, ficando de frente para nós dois, intercalando seu olhar sem querer tomar um lado. – Jenny estava o machucando quando chegamos.
– Eu sei, Jessy. – Phil olhou rapidamente para a irmã. – E também entendo, mas essa é o tipo de atitude que não toleramos aqui dentro. As duas sabem disso.
– Ah, certo. – soltei uma risada irônica passando a alça do suporte da katana sobre os ombros. – Então tudo bem ela machucar e gritar com uma criança?
– Eu não disse isso. – Phil suspirou descruzando os braços. – Só acho que foi uma decisão precipitada. O que Jenny fez não foi certo e ela com certeza vai ouvir algumas mais tarde, mas eu estou falando com você agora, Avril.
– Tudo bem por mim você não concordar com o que eu fiz e entendo, mas eu não ia deixá-la tocar no meu irmão e sair ilesa. – confesso sem hesitação alguma. – Sei que não pode ter sido uma das melhores decisões, entretanto, não me arrependo. E se você está assim porque existe alguma regra contra o que eu fiz mais cedo, não se preocupa, eu me resolvo com o líder mais tarde.
– Aposto que sim. – Phil murmurou baixo, mas eu consegui ouvir claramente.
– Nos falamos mais tarde, Philip. – pronunciei o nome com arrogância e Phil ergueu os olhos, ofendido. – Sua irmã gentil estava me levando para almoçar. Podemos ir? Eu meio que não quero olhar pra cara feia do seu irmão agora.
– Avril, eu estou aqui. Posso te ouvir em alto e bom som. – ele me olhou.
– Que ótimo! – passei por ele acompanhada de Jessy, que sorriu negando com a cabeça, levando a discussão na esportiva. – Então você sabe que a sua voz não é um dos meus maiores desejos agora.
– Bom, quando você quiser conversar como os verdadeiros adultos e amigos que somos estarei de braços abertos esperando as suas desculpas. – eu o olhei por cima do ombro, mas apenas fechei os olhos e voltei a caminhar, ignorando a provocação.
– Eu o odeio às vezes. – digo quando estamos longe o suficiente do homem.
– Eu também. – Jessy agarrou o meu braço, me puxando para perto. – Não fique brava com ele e eu não acho que você estava errada em agir.
Eu olhei para Jessy e me senti compreendida mesmo sabendo que ela jamais agiria de tal forma, a menos que em caso de urgência e não posso afirmar com certeza absoluta, mas ela tem um irmão, dessa parte ela realmente me entende.
[...]
Jessy e eu almoçamos juntas, na maior parte do tempo ficamos em silêncio, mas às vezes uma ou outra puxava um assunto para quebrar o gelo. Não posso dizer que aproveitei ao máximo a minha refeição, ainda sentia o enjoou na boca do estômago, ainda estava brava e amarga toda vez que me lembrava da cena no corredor. Devo ter mordido da língua três vezes enquanto mastigava com força. Toda pessoa que entrava no refeitório eu torcia que não fosse ela, porque se Jenny passasse pela minha mesa ou olhasse na minha direção, alguns garfos iriam voar por ali.
Estava terminando de secar o meu cabelo após um banho longo quando uma moça me avisou que Jake queria me ver na sala dele, como se o dia não pudesse ficar pior. O que ele queria? Phil já tinha ido contar sobre o que aconteceu? Eu realmente ia até lá para ouvir aquele homem me dizer que quebrei mais uma regra e que tive uma ação monstruosa? Acho que se Jake realmente me disse aquelas coisas eu provavelmente não iria suportar.
Pensei por vários minutos antes de me forçar ir até a sala dele. Pensei em todas as justificativas que poderia dar e em todas as respostas que terei de responder caso ele diga algo desagradável, porque nós dois temos talento para isso quando quisemos. Não bati na porta quando entrei na sala, fazendo Jake saltar da própria cadeira e ficar em pé após o breve susto.
– Acho que não ia te matar bater na porta, Lesson. – ele alfinetou do outro lado da mesa.
– Você provavelmente já sabe que não é um bom dia para as suas gracinhas, Jake. – parei poucos centímetros da porta, pronta para sair a qualquer momento. – O que quer, afinal?
– Fiquei sabendo do que aconteceu entre você, Jenny e Peter. – Jake deu a volta na mesa. Eu me incomodei com a preocupação em sua voz. – Como ele está?
– Bem. – respondi brevemente ao cruzar os braços e ergui os ombros. – Estava da última vez que conversamos.
Jake moveu as sobrancelhas em concordância. Ele me olhou de baixo para cima, parecendo estar procurando por alguma coisa. Inquinei o rosto levemente para o lado, o deixando saber que eu notei a forma que estava me olhando. Jake deu alguns passos em minha direção, diminuindo a distância segura entre nós.
– Vou falar com a Jenny. – Jake disse assim que parou de andar. Estava apenas a cinco passos de mim. – O que ela fez não foi certo e quero que ela saiba que não concordo com isso.
– Você não precisa fazer nada! – ergui a mão. Jake me olhou confuso. – Eu já falei com ela.
– Falou? – ele quase solta uma risada sorrateira. – Você chama colocar uma katana no pescoço dela de falar? Hum.
– Foi exatamente isso que eu fiz e acho que nós duas ficamos conversadas. – pontuei teimosa, recusando sua ajuda. Jake mordeu levemente o lábio inferior, prendendo um suspiro e me pegando de surpresa.
– Mesmo assim, Avril. – Jake insistiu. Nós dividimos a teimosia, mas eu não vou dar o braço a torcer. Realmente não preciso que ele faça isso. – Eu me preocupo com o Peter e não quero que isso se repita em sentido algum.
– Se preocupa? – é mais uma indagação do que uma pergunta, como se fosse cômico ele se preocupar com Peter.
– Você quer ver o quanto? – ele quebra o restante da distância, indo até a porta e toca a maçaneta, pronto para abrir. – Eu pedi que Jenny viesse até aqui mais tarde para conversarmos, mas posso fazer isso agora mesmo se você deseja ver o quanto me preocupo com aquele garoto, Avril.
– Meu Deus, você é ridículo, Jake. – segurei seu braço, fiquei entre ele e a porta. – Você não vai fazer isso. Não precisa fazer.
– Então você precisa parar de fingir que não nota o quanto eu me importo com o seu irmão! – os olhos azuis analisam todo o meu rosto e Jake puxa o ar. – E com você. Por mais que nenhum de nós dois goste disso, continuo me importando com você, Avril. Às vezes mais do que deveria.
Ele diz o meu nome como uma súplica, como se implorasse para que eu entendesse que realmente se importa. Sinto uma leve pontada no estômago pela sua confissão e de alguma forma ainda tento culpar o enjoo de mais cedo, mesmo sabendo que era uma coisa totalmente diferente. Jake realmente se importa, está disposto a se desentender com Jenny pra mostrar isso, bem aqui na minha frente, embora não precise me provar nada. Sei que essa preocupação não deve passar nada além da preocupação normal que ele tem com qualquer pessoa da base, mas a sinceridade e a inquietação em sua voz me comovem de uma maneira intensa, assustadora.
Percebo que ainda estou segurando seu braço e sua mão está bem longe da maçaneta, congelada no ar logo atrás das minhas costas. Nossos olhares se encontram, se atraem e se conectam como acontece frequentemente, mas está tão intenso que é tonteante a intensidade. Observo seu peito subir e descer, inquieto, ansioso e ofegante como se ele tivesse saído de uma maratona de exercícios, quando na verdade só está me encarando com a minha mão em volta de seu braço. Me pergunto se estou do mesmo jeito, se demonstro a mesma ansiedade e o nervosismo que estou sentindo por dentro. Será que Jake vê que uma mera ação dele me deixou em transe? Em combustão?!
Eu não sei o que está acontecendo, mas não impeço ou interrompo como sempre. Consegui resistir ontem, mas agora parece impossível. Parece impossível não ceder depois de conhecer um pedaço da história do passado desse homem a minha frente e agora saber que ele se importa com a pessoa mais importante da minha vida, comigo. Meu Deus, tinha alguma coisa naquele almoço? A água do chuveiro estava tão quente que derreteu meus neurônios?
Mal me dou conta que dei um passo em sua direção, tocando nossos pés. Vejo seus olhos aumentarem suavemente de tamanho, surpreso pelo ato ter partido de mim. Eu também estou muito surpresa com alguns atos meu nesse momento, mas não paro. Olho para sua garganta no tempo perfeito de ver o pomo de Adão se mexer, indicando que Jake engoliu a saliva ou um seco completo. Abro os lábios para deixar o ar sair enquanto minhas mãos tomam vida própria e começam a subir pelos antebraços fortes até os bíceps malhados, escondidos embaixo da camisa de manga longa que não faz juz algum ao que tem escondido ali. Elas sobem até os ombros largos dele e eu o sinto tenso, estremecendo sobre o meu toque, a pele ardendo por baixo do tecido.
Sinto a mão de Jake pousar na minha lombar suavemente, ele não me aperta ou acaricia, apenas me sente e eu o sinto de volta. Com um pouco de esforço fico na ponta dos pés o suficiente para complementar a pouca diferença de altura, ficando de frente para seu rosto, sentindo a respiração pesada e quente soprando contra o meu rosto, o hálito fresco de menta escapando entre os lábios carnudos a poucos centímetros dos meus. À aquela altura eu já não tinha controle sobre mim mesma, então aproveitei. Eu apenas aproveitei o momento antes que acabasse.
Colei gentilmente meus lábios nos dele, sentindo seu gemido de satisfação vibrar contra a minha boca e só não gemi de volta porque guardei para o momento que ele colou nossos corpos, possessivo. Sua mão que estava na minha lombar subiu pela minha espinha até ficar no centro das costas entre os ombros, me empurrando contra seu peitoral firme. A outra mão grande e forte pousou do outro lado da minha cintura quando seu braço me rodeou. As minhas subiram até a lateral de seu rosto, o segurando e deixando meus dedos pressionarem a sua pele, sentindo o pinicar dos pelos curtos da sua barba.
Nossas bocas se encaixaram perfeitamente como duas engrenagens feitas sobre medida. Nossos corpos se grudaram como cola, totalmente satisfeito com a falta do espaço entre nós. Seus lábios pressionaram o meu com doçura, mas um desejo embriagante, me dominando. A maciez da sua boca na minha deixou o beijo com um toque suave, mesmo que estivéssemos guerreando para matar o que estava nos matando. Senti sua língua deslizar entre os meus lábios e encontrar a minha no caminho, as duas estavam sedentas uma pela outra, juntando nossos gostos em um só.
Jake subiu a mão o suficiente para alcançar os cabelos da minha nuca, senti seus dedos adentrarem em meio aos fios antes de se emaranharem neles, me puxando contra sua boca. O beijo dócil e suave deu lugar ao beijo urgentemente, caloroso, necessitado e muito gostoso. Arfei sobre sua boca ao sentir sua língua na minha, me fazendo derreter feito manteiga em seu braço na minha cintura, meu único apoio. Levo uma das minhas mãos até a parte de trás de seu pescoço e aprofundo mais ainda o beijo, sentindo Jake me apertar nele, contra o corpo febril e musculoso. Céus, tão confortável.
Sua sala de repente se tornou pequena e quente. Minha mente estava dando voltas enquanto suas mãos me agarraram e sua boca me devorava com uma determinação excitante. Se Jake me pedisse por qualquer coisa naquele momento, dentro daquela sala, eu provavelmente faria e ele sabe disso, acho que foi por isso que não pediu, que não me prensou contra seu corpo e a parede, porque ele poderia e eu deixaria.
O ar me faltou ao mesmo tempo que faltou para Jake. Nossos lábios se deixaram com relutância e nenhum de nós ousou abrir os olhos enquanto tomávamos fôlego, não queríamos encarar aquilo. Não ainda. Deslizei meu polegar contra seu queixo e sua mão apertou minha nuca antes de seus lábios pousarem sobre os meus, em um beijo parado, mas intenso mesmo assim. Jake apenas deixou a boca sobre a minha e meu corpo inteiro vibrou com o contato íntimo. Mordisquei com suavidade seu lábio inferior e depois Jake o prendeu entre os próprios dentes. Firmei os dedos em seu rosto com a visão dos lábios avermelhados e macios.
Jake deitou a testa na minha respirando rápido. Eu sentia o meu coração no meu corpo inteiro, ecoando para todos os lados em uma vibração confusa.
– Tá vendo por que eu não entendo, Avril? Por que eu nunca sei de nada quando se trata de você? – sua voz saiu trêmula, baixa e muito ofegante. – Porque uma hora você me odeia e me olha de um jeito que me dá arrepios ao mesmo tempo, na outra diz que nós fomos um erro e agora você me beija desse jeito que vai me consumir horas de sono e desconcentração nos meus afazeres! Eu não entendo você.
– Sou eu quem não entendo você, Jake. – afasto nossas testas para poder olhar em seus olhos e me arrependo. Estão mais claros dos que o de costume, brilhando feito águas reluzentes. – Você me diz essas coisas tocantes, me olha de uma maneira mais tocante ainda, depois age como não tivesse acontecido nada. Você dança comigo, diz que me acha fascinante e transa comigo. Pra que? Pra na manhã seguinte me dispensar como se eu fosse a mulher que você pagou pra comer?!
– Não, Avril. Eu nunca disse isso. – ele me puxou para mais perto e eu não sabia se queria me aconchegar à ele ou me afastar, porque Jake sempre me deixa confusa em momentos assim. – Eu nunca quis fazer você se sentir assim.
Mas você fez, Jake. Abro a boca para responder mas o som da maçaneta da porta se mexendo me interrompe. A minha reação mais rápida é empurrar Jake para longe e me afastar, virando de costas para a porta e para quem quer se fosse a pessoa que entrou. Passo os dedos sobre os lábios e depois as mãos no rosto, me certificando de que não pareça que eu estava aos amassos com Jake, apesar de ser exatamente isso que estava acontecendo. Quando me viro para a porta desejo realmente parecer que estava aos amassos com ele, pior, que estávamos no meio de uma transa.
Jenny está parada na porta, a mão segurando a maçaneta com força excessiva. Com certeza não estava esperando me ver aqui. Olho para Jake, que estava com os dedos sobre a boca, seus olhos vagaram até a minha direção e eu vi o quão constrangedor estava a situação.
– Por que não estou surpresa que você já esteja aqui? – Jenny fechou a porta. Ela pergunta como se realmente não parecesse tão surpresa.
– Surpresa estou eu em saber que você precisa de um sermão para aprender a tratar uma criança. – retruquei voltando a sentir o corpo ficar tenso. Deus, eu preciso sair dessa sala.
– Parem de fazer isso. – Jake pediu apoiando as mãos no quadril, farto da encrenca. – Jenny, a chamei aqui para que possamos conversar sobre alguns eventos recentes e Avril, você pode ficar, se desejar. Isso te envolve.
– Não, valeu. – caminhei até a porta e Jenny se esquivou do meu caminho, me poupando de ter que tira-la de lá. – Já atingi a minha cota por hoje.
Abro a porta, saio da sala e a fecho, os deixando sozinhos para conversarem. Me encosto na porta, conseguindo ouvir somente algumas falas abafadas pelas paredes. Eu queria saber o que Jake diria a ela, mas no entanto a minha maior preocupação era como meus lábios formigavam ainda sentindo a pressão dos de Jake neles. Levo os dedos até os lábios e fecho os olhos com força ao imaginar a boca dele contra a minha novamente. Sim, de fato havia algo de errado no meu almoço ou com a minha cabeça. Em plena consciência eu não pensaria desse jeito. Pelo menos acho que não.
[...]
Eu não esbarrei com Jake dentro das últimas horas, encontrei algumas vezes com Jenny e fui recebida com uma bela careta, mas ela acabou desperdiçando seus dons para caretas porque a única coisa que eu estava preocupada foi com a determinação que tive em beijar Jake mais cedo. "e agora você me beija desse jeito que vai me consumir horas de sono e desconcentração nos meus afazeres!" Suas palavras ecoam pela a minha cabeça, martelando de todos os lados, o mais engraçado é que sou eu quem está desconcentrada dos meus afazeres.
– Por que você está com essa cara de quem fez algo e se arrependeu? – viro o rosto rapidamente para o lado, vendo Phil se aproximar. – Não me diga que foi pelo que fez pra Jenny.
– Disso eu nunca vou me arrepender. – volto a olhar para frente. – E não é arrependimento, é confusão. Eu acho.
– Sobre o que? – ele perguntou quando se apoiou no parapeito, ficando ao meu lado.
– O que você quer aqui mesmo? – ignorei sua pergunta, me recusando a conversar com Phil sobre Jake e eu.
– Conversar com uma certa bobona que me deu um gelo o dia inteiro. – Phil me olhou cínico enquanto brincava com os próprios dedos.
– Viagem perdida. – não olhei para ele. – Ainda não quero conversar com você, Phil.
– Que pena, porque você vai. – inspirei fundo dobrando os braços sobre o parapeito. – Escuta, eu não quis dizer que você não podia proteger e defender o seu irmão, apenas que achei a sua escolha de lidar com a situação precipitada, emotiva. Talvez isso até te faça sair mais errada do que ela na situação.
– Você acha que quando vi a Jenny segurando o Peter pelo braço com força enquanto ele chorava e pedia pra ser solto, a minha primeira preocupação foi com como as pessoas iam ver a situação?! – indaguei me virando abruptamente para o homem. – Phil, eu não dou a mínima para o que essas pessoas acham ou vão achar de mim, o Peter é a minha prioridade e eu vou fazer o que for pra manter ele bem, seguro e feliz. Não me importa as consequências.
– E eu acho isso lindo, Avril. Acho que todo mundo tem que ter uma irmã tão determinada como você, mas o que eu estou dizendo é que aqui nós não resolvemos as coisas desse jeito. – Phil explicou-se com uma paciência admirável.
– Certo. – me dei por vencida sabendo que nenhum dos dois iria desistir do próprio ponto de vista e iríamos discutir em vão. – Tanto faz.
– Eu aceito as suas desculpas. – ele sorriu de canto como de costume.
– Eu não pedi desculpas. – pontuei virando o rosto na direção contrária, me focando em observar a floresta escura.
– Não, mas de qualquer forma você nunca pede desculpas de maneira explícita. Se você jogou a toalha eu considero um belo pedido de desculpas. – Phil esbarrou o ombro no meu ao se acomodar do meu lado. – Então, agora que somos amigos de novo você vai me contar o que te deixou confusa?
– Não. – respondi balançando a cabeça de maneira negativa.
– Sabe, você deveria confiar um pouco mais em mim. Somos amigos desde que você colocou seus lindos pezinhos nessa base. – Phil argumentou e eu o olhei, as sobrancelhas franzidas no centro da testa e um meio sorriso nos lábios.
– Quando você parar de ser fofoqueiro eu penso no seu caso. – Phil suspirou.
– Eu não sou fofoqueiro, sou informante. – ele se defende. Eu solto uma risada nasal. – Eu transporto informações de um ponto para o outro.
– Que eu saiba isso é fofoca. – provoco lhe lançando um olhar de soslaio.
– É que o seu vocabulário ainda está com o software antigo, o meu está afiado, fofo. – Phil diz com convicção.
– Estou vendo. – resmungo entrelaçando os meus dedos uns nos outros.
– Mas falando sério. – ele mudou a postura relaxada. – Se você precisa falar com alguém sobre o que está te incomodando, saiba que eu sou um ótimo ouvinte e eu até que gosto um pouquinho de você. Então eu separaria alguns minutos do meu dia pra ouvir seus resmungos e reclamações. Eu aproveitaria, são poucos com essa honra.
– É mesmo? Que sorte a minha então. – Phil apenas semicerrou os olhos. – Agradeço, mas eu realmente não quero falar sobre isso. Prometo que assim que eu quiser conversar, você será o primeiro a saber.
– Eu duvido, mas te darei esse voto de confiança. – Phil se voltou para o parapeito.
O silêncio durou apenas cinco minutos contados antes de Phil começar a tagarelar sobre todos os acontecimentos do dia. Eu queria ter passado mais algum tempo em silêncio, mas confesso que ficar ouvindo Phil falar sem parar é melhor do que ficar me condenando por ter beijado o Jake.
Olá :)
Como estão os meus queridos fiéis que não desistem mesmo quando eu demoro semanas pra atualizar? Espero que estejam todos muito bem e que mais uma vez perdoem a demora.
Começamos aqui com a Jessy bancando a mãe da Avril levando a cria dela pra almoçar após um treininho de katana, porque sinto que a Avril e a katana andaram bem afastadas nos últimos tempos.
Avril com a audição de irmã e mãe ao mesmo tempo. Faz qualquer coisa com ela, mas não mexe com o Peter. Pela criança ela é capaz de cometer loucuras absurdas!
A Jenny não aparece, mas quando aparece trás o caos com ela. Algo me diz que essa vai dar muito trabalho futuramente.
A Avril toda preocupada com o irmão e ele grudado nela. É a melhor dupla de irmãos que fala, né? Conhecendo a fúria da irmã mais velha...
O Phil preocupado com as consequências pra Avril mas se esqueceu que se tratava da quebradora de regras da base. E pode deixar que ela mesma se resolve com o líder! Rs
Ela foi ver o Jake esperando um sermão e acabou derretida! Como se pudéssemos julgar a pobre.
Avril toda tocada pela preocupação do Jake pelo Peter. Meu Deus, o homem conquistando a mulher através do irmão dela. Ele joga com as armas que tem e joga muito bem!
Que climão! Que química! Que tensão! QUE CASAL!! Esse beijão desmontou a mulher horrores e ela nem conseguiu negar, nem resistir, pelo visto.
Os dois só soltando as confissões, né.
O que um beijo bem dado não faz com os hormônios.
Nossa duplinha de amigos se resolvendo porque sabemos bem que um nem outro vivem sem as brincadeiras e alfinetadas pod muito tempo.
A Avril deixando o Phil na curiosidade. Já imaginou ele descobrir que o Jake e a Avril já foram aos finalmentes e a Jessy é a única que sabe? Ele surta!
Gostaria de pedir que vocês comentassem e votassem nos capítulos. Isso é tão importante pra mim tanto quanto pra história. Além de me ajudar a saber o que vocês estão achando da história até agora.
Só pra avisar pra vocês que no próximo capítulo a paz tá declarada morta! Chega dessa moleza. Queremos ação 👀
Eu vou ficando por aqui. Espero que tenham gostado do capítulo e te vejo no próximo ;)