O grito de socorro
Enquanto na fazenda Terra Prometida as emoções afloravam, na delegacia de Palmas o desespero predominava.
Depois de muito procurar por sua filha Graziele recorreu as autoridades para abrir um boletim de ocorrência comunicando o desaparecimento da menina.
A delegada Ana Rosa, responsável pela caso lhe fazia diversas perguntas querendo saber a rotina da menina, indagava sobre seus parentes e amigos até que perguntou:
_E o pai dela?
_O pai dela?! - Grazi levou um susto com a pergunta, não se lembrava dele.
_Sim. Você já procurou o pai da Sofia para saber se não está com ele? - a delegada questionou.
_A Sofia não está com ele. - Graziele respondeu sem jeito.
_ E como você sabe? Você procurou o pai da menina para saber?
Desconcertada, sem saber como contar essa história Graziele falou:
_ Doutora, a Sofia não nunca conheceu o pai dela nem sabe quem ele é!
_ Por que ela não conheceu o pai? Qual o problema com o pai da menina? Ele não reconheceu a filha?
Cabisbaixa e envergonhada Graziele respondeu:
_ Eu nunca contei para ela quem era seu pai. A Sofia é fruto de uma relação que deu errado.
_Tudo bem, mas e ele? Ele sabe da existência da filha? - a delegada insistia nos questionamentos.
_Não senhora. Ele nunca soube que eu estava grávida, eu não quis contar. Quando terminamos eu estava grávida e decidi que criaria minha filha sozinha, e assim eu fiz doutora. - surpresa a delegada arregalou os olhos.
_ Graziele, e quem te garante que o pai não sabe sobre ela? A partir disso nós temos uma nova linha de investigação.
_Não! Eu tenho certeza que ele não sabe! Eu não quero que ele sabia da Sofia! Por favor.
_Graziele, nesse caso você não tem querer. Estamos lidando com desaparecimento de uma criança, e se existe a possibilidade dela estar com o pai nesse momento eu sou obrigada a procurá-lo. - enfatizou.
_Não doutora, por favor. Eu tenho certeza que ela não está com ele! - falava aflita.
_ Qual o seu problema com o pai da menina? Porque escondeu a filha dele Graziele? Ele te batia? Te fez algum tipo violência ou ameaça?
_Não! Nunca!
_Então me ajuda a entender isso para que eu possa te ajudar! - disse nervosa.
_A senhora é mãe? - perguntou a delegada.
_Sim! Sou mãe de um casal de adolescentes e sou separada do pai deles desde quando ainda eram pequenos.
_Então eu tenho certeza que a senhora vai poder me entender...
_E eu quero entender... Explique-se.
Morrendo de vergonha Graziele começou dizendo:
_Eu tinha 19 anos quando conheci o pai da Sofia, eu era uma menina pobre, vendia doces na rua. Ele é um rapaz bonito, tinha uma boa vida, vaidoso, eu achava que ele me amava, mas tinha vergonha de quem eu era. - ela chorou.
_Calma Graziele... Continue por favor.
_Me perdi com ele, foi meu primeiro homem. Ele precisou se mudar de cidade por causa do trabalho, eu acho que se iludiu com dinheiro, com fama e escolheu essa vida e me deixou um mês e pouco depois da nossa primeira noite juntos.
_Mas ele sabia da gravidez?
_Não, nem eu sabia! Ele me confessou que tinha vergonha de mim, do que eu fazia para sobreviver e isso me machucou demais! Eu confiei nele! E na primeira oportunidade ele me deixou. - contava chorando envergonhada.
_Isso fez você se sentir usada e rejeitada... Entendo. - disse Ana Rosa.
_Mas não foi só isso! Eu era jovem, sofria violência doméstica, minha mãe agredia e explorava a mim e minhas irmãs. - ela chorava muito e deixou a delegada emocionada.
_Eu não tinha ninguém pra me orientar, ele era tudo que eu tinha! Daí do nada ele disse que não me queria mais depois de tanto dizer que me amava! Escolheu a vida de luxo e regalias e não pensou em como eu ficaria! Procurei por ele várias vezes, mas ele me rejeitava, dizia que não queria mais até que parou de me responder, me ignorou como se eu fosse uma menina qualquer, que ele havia achado por aí, sem valor nenhum! - desabafou.
_Eu senti ódio dele! Apesar de amá-lo eu queria sentir ódio! Era a única maneira de parar de sentir o amor que eu tinha por ele.
_E esconder a gravidez foi a forma que você achou de dar o troco ao que ele te fez?
_Não! Eu não queria dar o troco! Eu só queria ser feliz, criar a minha filha do melhor jeito possível!
_É isso seria longe do pai? - a delegada questionou.
_Sim! Doutora, quando ele era anônimo sentia vergonha de mim, não me quis porque eu era pobre. Ele se tornou uma figura pública, ficou rico e famoso. A senhora acha que ele ia querer falar para as pessoas que tinha uma filha de uma vendedora de rua?! - a delegada ficou curiosa.
_Eu não quis correr o risco de ser rejeitada novamente, ou pior, que ele rejeitasse a minha filha. Então eu fui embora para Araguaína, para bem longe dele. Eu criei a Sofia com pouco, mas ela tinha de tudo e era feliz. A mãe dele não gostava de mim porque eu era pobre e trabalhava na rua, como você acha que ela trataria minha filha?! Ela ia dizer que eu engravidei de propósito para prender o filho dela porque ele estava começando a fazer sucesso, estava ganhando dinheiro. Mas eu não precisava do dinheiro deles! Eu sempre trabalhei e fiz tudo pra minha filha! - ela chorava.
A delegada tinha um olhar diferente, ela estava de fora da situação e fez sua análise.
Assim, carinhosamente Ana Rosa falou com Graziele:
_Tudo bem Graziele. Eu sinto muito por tudo que você passou e entendo porque tomou essa decisão. Mas eu vejo tudo isso como uma mágoa, uma ferida não curada. Eu não te julgo, imagino a sua dor e compreendo a sua atitude, mas não posso concordar e dizer que você agiu da maneira certa. Os filhos nunca podem pagar pelo erros de seus pais. Você criou sua filha sozinha, privou ela do convívio com o pai, e também tirou isso dele. O fato de você dizer que ele sentia vergonha de quem você era não muda isso. Não quer dizer que ele amaria menos a filha ou que teria vergonha dela. Foram suas suposições querida! Suposição de uma menina jovem, sem uma orientação ou um apoio familiar que agiu de forma imprudente, é super compreensível. Mas nunca é tarde pra mudar certas coisas. Isso não vem ao nosso caso, mas como uma mãe que cria seus filhos separada do pai eu tomo a liberdade pra falar com você...
Repense, um pai faz muita falta na vida da criança, mesmo que ela tenha a melhor mãe do mundo, ela precisa do pai. _Grazi chorava ouvindo a mulher.
_Agora, eu sei que você não quer que chegue ao conhecimento dele, mas como Delegada eu preciso investigar se a Sofia pode estar com o pai.
Pode ser que ele tenha ficado sabendo dela, com raiva pode ter sequestrado a menina, ou até algo pior. Eu sinto em dizer isso, mas eu vejo coisas inacreditáveis todos os dias.
_Ele não faria isso, mesmo que soubesse... - Grazi falava aflita.
_Como você sabe?
_Eu sei...
_Graziele, eu preciso saber quem é o pai da Sofia. Por favor, quem é ele?
Grazi começou a chorar e disse baixinho:
_O pai dela é o Henrique... - chorava cobrindo o rosto.
_Henrique? Você sabe o sobrenome dele ou o endereço onde mora? Ele é aqui de Palmas?
Então chorando muito Graziele falou:
_Sim senhora. O nome dele é Ricelly Henrique Tavares Reis, ele mora na fazenda Terra Prometida. - a delegada arregalou os olhos e boquiaberta ela ficou sem silêncio.
Todo mundo naquela cidade conhecia aquele nome.
_Graziele, o pai da Sofia é o Henrique? O filho do Edson?! O cantor?! - Ana Rosa perguntava chocada.
_Sim doutora, é ele! - Grazi caiu em prantos.
_Meu Deus do céu! Graziele! - a mulher se levantou nervosa.
_O que foi doutora?!
_Eu sou amiga da família! Eu conheço todos eles, compro gado na fazenda, eles frequentam o mesmo clube de tiro que eu frequento!
A delegada ficou sem saber o que fazer.
E mesmo sendo seu trabalho, Ana Rosa ficou sem jeito pois teria que investigar a vida da família de amigos.
Ela pediu que Grazi esperasse na recepção e foi conversar com colega.
Enquanto isso na fazenda Henrique ainda estava chocado com a situação.
Ele olhava para Sofia sem saber o que fazer enquanto Juliano o explicava:
_É isso Henrique. A Sofia chegou aqui dizendo que é sua filha, contou a história dela e nos mostrou essa foto.
A Mohana disse que essa é a mesma foto que você deu a Grazi naquela época.
_Sim! Eu lembro! Eu dei essa foto pra ela junto com um celular. Essa letra é a minha! - dizia nervoso.
_Mas se ela é filha da Grazi... Quem falou que ela é minha filha?! Sua mãe te falou isso Sofia?! - ele questionava confuso.
_Não! Minha não conta quem é o meu pai! - a menina disse insegura.
_Porque será? - Mariana falou num tom de deboche.
Percebendo o quanto seu irmão estava confuso Juliano fez um pedido a Sofia:
_Sofia, conta para o Henrique tudo que você contou pra mim e para Mohana. Pode ser?
_Sim! - ela sorriu.
A Menina sentiu medo, ela esperava que Henrique receberia a notícia e ficaria contente, mas não foi assim. Sofia notou que ele estava apavorado com o que havia acabado de descobrir.
Como aquilo era um assunto de família, Juliano pediu aos amigos que fosse embora, incluindo Mariana, mas ela não aceitou:
_Eu ir embora?! Claro que não! Eu sou a noiva dele! - falou com raiva.
_Tudo bem maninho, ela está certa. Mariana é minha noiva e se tudo isso for verdade ela tem que saber. - dizia Henrique.
Ele se sentou no sofá da área externa, pediu que a menina se sentasse ao seu lado e disse a ela:
_Sofia, eu não sei o que está acontecendo. Eu nunca soube que tinha uma filha!
_Eu sei pai! A minha mãe não te contou. Ela também nunca me contou que você era o meu pai. - ela sorriu.
_E como você sabe que eu sou o seu pai? Me conta tudo desde o início? Eu quero saber toda a sua história.
E a partir daí Sofia fez muitas revelações:
_Então pai... Eu sempre perguntei pra minha mãe quem era meu pai, mas ela não contava! Ela só dizia que meu pai não era uma pessoa legal e que a gente não precisava de você! - Henrique levantou as sobrancellhas surpreso e olhou para Juliano como quem diz: "Que isso?! "
E a menina continuou:
_Eu sempre quiz muito saber quem era o meu pai! Na escola todas as minhas amigas tinham pai, menos eu! Isso me deixava muito triste, mas mesmo assim a minha mãe não me contava quem era o meu pai! - disse chorosa.
_Eu já perguntei para o meu avô, para as minhas tias, mas ninguém me conta! Todas às vezes que tinha festinha dos dias dos pais na minha escola era o meu avô que ia, mas eu queria o meu pai! - ela chorou e isso partiu o coração de todos.
Emocionado Henrique continha as lágrimas, tentava se manter firme, mas por dentro ele estava despedaçado!
_ Eu cresci sem saber quem era o meu pai, mas na semana passada eu acordei a noite e ouvi a minha mãe conversando com a Tia Gabi na cozinha e falaram seu nome.
_Meu nome?
_Sim! Eu ouvi a mamãe dizendo que você morava aqui em Palmas e que ela tinha medo de você descobrir sobre mim. Ela também falava para Tia Gabi que não queria que eu descobrisse quem era você. A mamãe não queria vir para Palmas, ela não queria morar aqui com medo que você descobrisse que eu era sua filha. Mas quando a Tia Gabi chamou para a gente vir morar em Palmas eu queria muito vir! Eu pensava que talvez você morasse aqui já que a minha mãe quando ficou grávida também morava em Palmas. - ela chorava e ele se continha pra não chorar perto dela.
_ Então você quis vir morar em Palmas porque achava que podia encontrar seu pai? - perguntou emocionado.
_Sim!
_E onde você nasceu? Onde vocês moravam Sofia?
_ Eu nasci em Araguaína. Nós morávamos na chácara do vovô Gilmar. Você conhece ele? Ele é muito legal! - ela sorriu falando do avô.
_Não meu amor, eu não conheço seu avô. - dizia carinhoso limpando as lágrimas no rostinho dela.
_ Mas Sofia, eu ainda não entendi. Como você descobriu que eu era o seu pai? Já entendi que você escutou sua mãe falar meu nome. Mas como você sabia que o Henrique que ela falava era eu?
_ Porque quando elas conversavam eu ouvi a Tia Gabi falar que a mamãe tinha uma caixa vermelha onde guardava muitas coisas suas!
_ Uma caixa vermelha?! - Ele perguntou confuso, se lembrou da caixa que deu a Graziele com presentes no dia que passaram a primeira noite juntos.
_ Sim! Era uma caixa vermelha com laços dourados, muito bonita!
_Eu sei que caixa é essa! - sem perceber ele sorriu saudoso, Mariana notou e ficou ainda mais insegura.
_Daí, quando a mamãe e as minhas tias saíram para trabalhar eu fui procurar a caixa no guarda-roupa dela e achei. - todos riram, menos Mariana.
_ E o que tinha na caixa? - Henrique perguntou curioso para saber o que Grazi ainda guardava sobre ele.
_ Ah pai, tinha um monte de coisa! Tinham foto sua com a mamãe, CDs e DVDs, recorde de jornal e de revistas que aparecia você e o tio Juliano ali. - sorrindo ela apontou pra Juliano.
_Foi naquela caixa que peguei essa foto que eu trouxe hoje! - ela ria travessa.
Ao ouvir que Graziele ainda guardava lembranças suas Henrique sentiu um coisa gostosa, um sentimento bom que não daria pra explicar.
_Então foi assim que você teve certeza que era eu? - ele disse emocionado. Naquela altura até ele já tinha certeza de que era o pai de Sofia.
_Sim! Eu procurei seu nome na internet, achei a localização da sua casa e vim. - todos riram da esperteza dela, mas Mariana séria estava, séria continuou.
_Maninho, a Sofia apareceu aqui de bicicleta! A Mohana achou ela dormindo debaixo da árvore lá perto da porteira! Olha que danada! - Juliano ria.
_Você veio de Palmas de bicicleta Sofia?! - Henrique ficou assustado.
_Sim! Eu vim seguindo o GPS! - eles gargalharam.
_Menina! Que perigo! - Henrique ria.
_Essa é sua filha maninho! Nem precisa de DNA! Espírito aventureiro da família! - eles riam.
_E por isso que ela está toda queimada! Veio de lá aqui no sol! - Mohana dizia preocupada.
_Eu estou toda ardida pai! E com dor de cabeça. - ela reclamou.
_Sofia, quem sabe que você veio aqui? Sua mãe sabe? - Henrique perguntou.
_Não papai! Se ela souber vai me colocar de castigo! - disse assustada.
_Vocês acham mesmo que a mãe dela não sabe que ela está aqui? - disse Mariana.
_ Até agora eu escutei tudo isso quieta, mas não vou mais me calar. Tudo que está acontecendo é muito estranho! Na semana passada nós fomos a confeitaria dela e hoje a menina parece aqui dizendo que é sua filha?! Você não está achando isso muito estranho amor?! - Mariana falava irritada.
_Eu não sei Mariana... - disse Henrique.
_Sofia, eu não posso dizer que está certa, que você é mesmo minha filha. Eu preciso conversar com a sua mãe!
_Mas papai ela vai brigar comigo! - dizia com medo.
_Eu sei princesa, mas eu preciso tirar essa dúvida com ela. Entende?
_Sim...
_Eu adoraria que você fosse minha filha! Mas preciso confirmar tudo isso. - dizia emocionado.
_Você gostou de mim?! - ela perguntou insegura.
_Claro! Eu adorei te conhecer! - ele abraçou a menina e lhe deu vários beijos.
_Se você realmente for minha filha eu vou ficar muito feliz!!!! Mas também vou ficar triste porque passei todos esses anos sem saber de você. - emocionado ele quase chorou.
_Mas não briga com minha mãe não papai! Ela cuidou de mim direitinho! Eu amo muito ela! - dizia nervosa.
Enquanto Henrique ainda conversava com Sofia, na delegacia o telefone de Graziele tocou:
_Alô! - nervosa ela atendeu no primeiro toque.
_Grazi?
_Oi! Quem tá falando?
_Grazi, é a Mohana, esposa do Juliano. Ainda se lembra de mim?
_Quem?! - ela estava nervosa e não conseguiu assimilar. Mas depois de Mohana explicar Grazi se lembrou.
_Mohana? Oi! - disse confusa, não sabia porque depois de tanto anos Mohana ligaria para ela.
_Grazi, estou te ligando porque imagino que você esteja muito preocupada com a sua filha.
_Você viu a Sofia?! - Grazi deu um pulo da cadeira. Suas irmãs correram para perto quando ouviram o nome da menina.
_Sim Grazi. Encontrei a Sofia lá no portão da Fazenda.
_Que fazenda Mohana?! Cadê a minha filha?! - chorava aflita.
_Calma Grazi, ela está bem. A Sofia apareceu aqui na fazenda onde eu moro procurando pelo Henrique...
_O que?! - surpresa Grazi deu um grito.
_Sim. Grazi, ela chegou aqui dizendo que é filha do Henrique e que queria falar com ele.
_Meu Deus do céu! - nervosa Graziele perdeu as forças das pernas e caiu sentada na cadeira.
_Ela está bem Grazi. Estou te ligando porque ela me disse que veio escondida e eu imaginei que você deveria estar preocupada.
_Eu tô quase tento um infarto! Cadê a minha filha Mohana? - ela chorava.
_Grazi, ela está com Henrique, estamos aqui na casa dele.
_Não, não, não!!! Não pode ser!!! - ela gritou desesperada.
Grazi imaginou que aquela altura Sofia já deveria ter contado tudo para ele.
_Grazi, ela é mesmo filha dele?? - Mohana perguntou mas ela não respondia. Do outro lado da linha a moça ouvia Graziele chorar.
_Mohana onde fica a fazenda? Estou indo agora buscar a minha filha! - dizia chorando pegando sua bolsa na cadeira.
Mohana mandou a localização para Graziele e quando ela saía da delegacia a Ana Rosa disse:
_Que bom que ela apareceu! Viu o que te falei? Segredos nunca duram para sempre Graziele. Do que adiantou esconder dela quem era o pai? Ela cresceu e foi atrás dele sozinha. Sinto muito por tudo isso. - Grazi chorava.
_Entra na viatura que nós vamos com vocês até a fazenda para buscar a Sofia. - dizia Ana Rosa.
_Não! Não precisa! - Grazi ficou nervosa.
_ Querida, precisa sim. Você abriu um boletim de ocorrência e agora preciso ir com isso até o final. Nós vamos buscar a Sofia e todos vocês terão que prestar depoimento sobre o que aconteceu.
_Doutora ele não vai gostar disso...- dizia com medo.
_Sinto muito Graziele. Entra na viatura por favor.
Na fazenda sem saber de nada Henrique ainda conversava com a menina quando ela disse:
_Pai, não estou me sentindo bem... - Sofia parecia cansada e fraca de repente.
_O que você tem?
_Estou com dor de cabeça e vontade de vomitar. - dizia nauseada.
_Eu vou tomar banho e te levar para casa. Sua mãe deve estar muito preocupada com você Sofia. Eu não posso te dar remédio sem falar com ela.
_ Não precisa leva-la Henrique. Eu liguei para Grazi e avisei que a Sofia estava aqui. Ela está a caminho, está vindo buscar a filha. - disse Mohana.
_A mamãe vai me bater... - a menina chorou.
_Não Sofia, ela não vai. Eu vou conversar com ela... - Henrique afirmava e enquanto ele falava do nada a menina se virou para o lado e vomitou no chão:
_Que isso?! - Mariana gritou. Sofia vomitou pertinho do pé dela.
_Sofia olha pra mim... O que foi? - nervoso Henrique tentava ajudar a menina mas ela continuou vomitando.
_Gente o que eu faço?! - ele dizia nervoso.
_Deixa ela vomitar Henrique! A mãe já não está vindo?! - disse Mariana em tom de desdenho.
Henrique deitou Sofia no sofá, percebeu que a menina estava muito quente! O corpinho dela estava todo vermelho pois havia tomado muito sol no caminho até a fazenda. Ela vomitou mais algumas vezes, estava indisposta e cansada.
Edson ainda não sabia o que estava acontecendo na casa do seu filho. Ele saía de um dos currais com um funcionário e viu carros da polícia civil passando pela estrada principal da fazenda. Na hora o homem ficou preocupado, pensou que algo muito grave pudesse estar acontecendo na casa de seus filhos, então ele entrou na caminhonete e correu para lá.
Na casa de Henrique todos estavam as voltas com a menina e não perceberam quando a delegada entrou acompanhada de outros agentes:
_Com licença! Polícia! Boa noite! - ela disse ao entrar na casa dele.
_É a polícia? - Juliano disse surpreso.
De primeira ninguém entendeu que a delegada estava fazendo ali, até aqui atrás dela Graziele entrava correndo:
_Sofia! Filha! Graças a Deus! - chorando correu para abraçar a menina.
Ao ver Graziele entrar correndo Henrique ficou estático, imóvel. Fazia anos que ele não a via e estava muito diferente!
A Graziele que ele conheceu era só uma menina, aquela que ele estava vendo era uma linda mulher:
_Filha! O que você fez?! Você quer me matar Sofia?! Eu te procurei o dia todo! Eu pensei que nunca mais ia te ver filha! - ela chorava muito abraçada com a filha.
_Eu estou bem mãe! - disse estafada, cansada, ela não estava bem.
_O que você tem?! Tá ardendo de febre Sofia?! - dizia nervosa, ao abraçar a menina ela percebeu a temperatura do corpo elevada.
_Mãe eu tô doente... - disse triste.
_O que aconteceu com ela?! - nervosa Grazi perguntou a Henrique.
Henrique olhava para Graziele de um jeito tão ruim que ela podia perceber o ódio nos olhos dele.
Henrique não respondeu a pergunta, mas fez outra:
_Porque você fez isso comigo Graziele?! - disse sério, com raiva, seus olhos estavam cheios de lágrimas.
_O que?! - nervosa ela respondeu desentendida.
_Ela é minha filha Graziele?! - falou sério e zangado.
_ Henrique agora não! Eu quero saber o que aconteceu com a minha filha! - dizia nervosa, todos olhavam para ela.
_ Sua filha? ! Ela é só sua filha ou ela é minha filha também? ! Eu quero saber caralho! - ele deu um grito.
_Maninho, fala baixo! - Juliano chamou a atenção dele. O irmão de Henrique percebeu que a delegada e os policiais ficaram em alerta quando ele deu aquele grito.
_ Henrique nós vamos conversar sobre isso outra hora. Eu preciso levar minha filha para casa, ela não está bem. O que aconteceu aqui?
_Nós vamos conversar agora Graziele!! ! - ele deu outro grito.
_Para pai! Eu pedi para você não brigar com a minha mãe! - Sofia disse chorosa.
_ Gente, agora não é hora de briga. Se a menina não está bem nós vamos leva-la para o hospital.- a delegada Ana Rosa interferiu.
_ Graças a Deus a Sofia estava aqui e tudo ficou bem. Vocês dois vão ter tempo para conversar depois, longe dela. Entendeu Henrique! - dizia a delegada.
Então depois de tanto se segurar, nervoso Henrique começou a chorar, como um ato de desabafo e desespero:
_ Ana Rosa, a questão aqui é a seguinte. Essa mulher escondeu de mim por nove anos que eu tinha uma filha! - ele gritava chorando.
_ Então eu quero! Eu tenho direito de saber se ela é minha filha!!!! - ele gritou com força. Colocou para fora toda dor e ressentimento que sentia!
E a dor dele era tão grande que era nítida, e fez com que Mariana, seu irmão e Mohana e até as irmãs de Grazi se emocionassem com pena de vê-lo assim.
_Calma Henrique! Vamos resolver tudo com Calma! - dizia a delegada.
Grazi chorava abraçada com Sofia, envergonhada e com medo ela não olha a pra ninguém.
Mais calmo e chorando muito ele falou com a delegada:
_Ana Rosa, eu só quero saber se ela é minha filha...
Ana Rosa olhou para Graziele como quem dizia: " Conte para ele!". Mas Grazi não conseguia dizer nada, ela não tinha coragem, só sabia chorar.
Então chorando Henrique deu o último grito como se fosse um pedido de socorro:
_Responde Graziele!!!! Ela é minha filha ou não é?!!!
_Ela ééé!!! Ela é sua filha Henrique!!!! - Grazi gritou como se tivesse levado uma facada no peito!
Foi um grito de dor, mas também de alívio por enfim aquele segredo ter chegado ao fim.