Assim que acabamos de organizar a sala de teatro para tal abertura no qual Beatrice como representante, iria apresentar.
Estava prestes a sair do colégio quando Catarina, a garota ruiva e irmã de Carson, entra pelo porta do corredor principal, sua presença é imediatamente perceptível. Ela exibe um estilo único, com uma calça cargo vermelha de cintura baixa que realça sua figura, combinada com um top de renda vermelho que acrescenta um toque de ousadia ao seu visual. As orelhas de diabinha, os múltiplos brincos, piercings e o óculos vermelho completam sua aparência marcante.
Tento escapar despercebida, mas meus planos são frustrados quando Catarina me vê e grita meu nome com entusiasmo.
— Elyn!!! — ela exclama, se aproximando rapidamente.
— Elyn? Eu me chamo Eliana! — Faço cara de doida, mas Catarina ri e me abraça de lado.
— Engraçadinha — A mesma me leva de volta para o ginásio — Meu irmãozinho está lá dentro, ele vai ficar feliz de te ver.
— Ah....claro. — Abro um sorriso forçado
Assim que voltamos ao ginásio, onde Carson estava ocupado servindo alguns aperitivos em um balcão improvisado. Catarina, com um sorriso enorme, avista Carson, que estava totalmente envolvido em suas tarefas. Ele não apenas servia e preparava os lanches com habilidade, mas também interagia de forma descontraída com os alunos, trocando ideias e fazendo piadas que arrancavam risadas genuínas, conquistando a simpatia de todos ali.
— Ele não está um gato? — Catarina segura meus ombros com um sorriso enorme no rosto
É quando percebo que Carson não estava apenas vestindo um avental e luvas como de costume. Seu rosto estava habilmente caracterizado com uma maquiagem improvisada de gato, destacando seus olhos contornados com delineador preto e os pequenos detalhes, como pontos estrategicamente colocados nas bochechas para simular as bochechas de um felino, sem contar as orelhas de pelúcia.
— Literalmente...— murmuro, olhando para Catarina, que piscou para mim.
No mesmo momento, Delilah e Amara entram no ginásio, ambas notavelmente com as fantasias parecidas.
E Ao ver Amara, não evito de lembrar do que houve mais cedo e oque poderia ter acontecido.
— Chegou a minha deixa — diz Catarina me tirando dos meus pensamentos, e saindo e se misturando com a multidão.
Estranho sua reação repentina e vou andando até o balcão de Carson.
— Alguma coisa com Álcool? — pergunto, me esticando um pouco sobre o balcão.
— Pensei que não gostasse de festas. — comenta ele, aproximando-se e limpando as mãos com um pano.
— Longa história...— respondo, bufando levemente.
Carson sorri e me serve um copo de algo.
— Refrigerante, sério? — Faço uma careta descontente
— Proibido o uso de álcool para menores, ordens da diretoria. — Ele diz, abrindo um sorriso convencido
No entanto, para minha surpresa, Carson retira uma garrafinha do bolso de seu avental e despeja o líquido em um copo separado, tomando um gole.
Estreito os olhos, observando-o desconfiada enquanto ele fecha a pequena garrafa e olha cautelosamente ao redor.
Quando ele ergue o copo, tento pegá-lo, mas ele desvia habilmente, provocando-me com um sorriso travesso.
— Seje oque for aí, não é testado em animais. — Digo brincando ironicamente.
— Dons de Catarina Rousseau. —Ele balança suas orelhas de gato — E inclusive ela não cansa nunca de tentar chamar atenção — ele continua, apoiando-se no balcão enquanto observa o movimento no ginásio.
Curiosa, olho para trás e vejo Catarina dançando de maneira sensual no meio do ginásio, atraindo a atenção dos garotos ao seu redor. No entanto, noto que ela se afasta deles enquanto dança.
Mas minha atenção é repentinamente desviada para trás de Catarina, onde avisto Amara passando de mãos dadas com alguém vestido todo de preto.
Parece que já vi aquela pessoa...
Carson grunhi me fazendo voltar e observo Catarina novamente.
— Ah... Ela não me parece estar chamando deles. — comento, saindo da minha distração momentânea.
— É porque é eles, não elas. — Carson responde, dando mais um gole em sua bebida.
Frunzo a testa, compreendendo a referência de Carson enquanto bebo mais um pouco do meu refrigerante.
Mas de repente, a expressão de Catarina se transforma em uma careta de dor, sua mão indo direto para a cabeça como se estivesse sentindo uma agonia intensa.
— Oque está acontecendo com ela? — pergunto alarmada, mas Carson não hesita em largar tudo, pulando o balcão e correndo até ela.
Eu o sigo rapidamente, aproximando-me de Catarina, que agora está de joelhos no chão, gemendo de dor enquanto mantém a mão na cabeça.
— Ei! Olha pra mim Arina, o que foi? — Carson a segura com preocupação evidente em seu rosto.
— Vamos tira-la daqui. — Falei ajudando a levanta-la
Caminhamos juntos até o balcão, onde ela gradualmente parece se sentir um pouco melhor, respirando de forma ofegante enquanto recupera o fôlego
Seu rosto ainda reflete o desconforto que acabou de passar, mas a intensidade da tal dor parece ter diminuído. Ainda perplexa e Carson preocupado, observamos atentamente Catarina, esperando que ela se recupere completamente.
— Oque você bebeu ? — ele pergunta, de forma preocupada, enquanto lhe entrega uma garrafa de água.
— Refrigerante — responde, dando um gole na água
Carson observa-a com as sobrancelhas arqueadas, claramente desconfiado de suas palavras.
— Eu só bebi um pouquinho de álcool, mas quase nada. — ela bufa, dando de ombros
— Ah claro — Carson responde de forma irônica, como se já esperasse por essa resposta.
— Mas não foi isso Carson! — Catarina insiste, sua expressão mostrando confusão e frustração.
— Então oque foi?? — Ele pergunta, cruzando os braços e esperando por uma explicação convincente.
— Eu... Eu não sei...Pareciam Flashes de alguma coisa ... — Ela parece perder-se em pensamentos por um momento, antes de responder baixinho e de forma confusa
— Está bêbada! — Carson a interrompe e a mesma bufa irritada
— Argg, da pra parar de bancar o adulto chato ? Nós temos quase a mesma idade, eu não preciso de babá — ela resmunga, incomodada com a abordagem de Carson.
— Não precisa de babá? Não é o que você demonstra todos os dias. — Carson retruca, sua voz carregada de frustração diante da situação.
— Cara, vai a merda! — Catarina diz com raiva, esbarrando em Carson e passando por nós com um misto de indignação.
— Ér...Eu acho que estou no meio de uma briga familiar, então é melhor eu ir agora — digo, em meia a tensão que se formou.
— Elyn...— Carson começa a dizer algo, mas é interrompido pelo som dos alto-falantes espalhados pelo ginásio, que ecoa por todo o ambiente.
"Todos para a sala de teatro, a abertura acontecerá em poucos minutos " a voz anunciadora soa, cortando a música do ginásio.
— Elyn!!! Ainda bem que ainda está aqui, preciso de você rápido! — Beatrice aparece desesperadamente e me puxa
— E eu tenho escolha? — Faço uma careta cansada — agrrrr porque eu aceitei vir? Me arrependo internamente.
[...]
— Tudo pronto. — Digo após ligar os fios do equipamento de iluminação
— Ok agora fica aí — Ela diz acenando de longe
— Auau. — murmuro sarcasticamente, respirando fundo antes de me encostar na parede com os braços cruzados.
Beatrice já se preparava para dar início à abertura no palco, enquanto os alunos já ocupam suas posições nas poltronas.
Mas de repente, escuto vozes e gargalhadas vindas do corredor, mais próximas do que deveriam estar. Curiosa, olho para Beatrice, que já acabará de entrar no palco começando seu discurso.
— Boa noite, veteranos e novatos. Sou Beatrice e tenho o prazer de apresentar o time de teatro do colégio nesta abertura do novo semestre — escuto sua voz ecoar pelos bastidores.
Sendo assim, saio rapidamente do meu posto para investigar as vozes. Adentro o corredor vazio e silencioso, seguindo na direção dos ruídos que se intensificam à frente. E ao me aproximar lentamente, escondida pelo canto da parede, avisto Amara e o homem misterioso em uma conversa séria.
Observo-os atentamente, notando os olhos sombrios do homem, tão parecidos com os do indivíduo que cruzou meu caminho e da Beatrice a caminho do colégio. Uma sensação de inquietação se instala enquanto tento decifrar o que estão discutindo e qual é a verdadeira relação entre eles, já que pareciam tão íntimos. A tensão no ar é palpável, e a curiosidade sobre o que está acontecendo só aumenta conforme os observo interagir em meio ao silêncio do corredor.
— Não sabia que o Bibliotecário prestava tanta atenção assim em mim... — disse Amara, um sorriso tímido brincando em seus lábios.
— Você é bem mais do que imagina, minha flor — respondeu o Bibliotecário, sua voz ressoando grave, mas com um toque de mistério.
— É que ninguém nunca me viu desse jeito, sempre é a Delilah, por mais que ela seja minha melhor amiga. — Amara abaixou a cabeça, revelando sua modéstia.
— Eu a vejo com qualidades que nenhuma outra garota possui. — Ele disse, e no mesmo momento, retirou o capuz.
Seus cabelos longos e dourados caíam sobre os ombros, sua pele clara e pálida destacava a intensidade de seus olhos, repletos de escuridão. Ele obviamente não é um aluno, então como conseguiu entrar numa festa como essa?
— Por isso, quero lhe dar algo... quero que fique com isso. — O Bibliotecário retirou um colar em formato de estrela, como se fosse uma pedra lapidada.
— Não, eu não posso aceitar — Amara insistiu, mas ele segurou sua mão com firmeza.
— Fique. — Ele a olhou nos olhos com determinação, e Amara não hesitou em pegar o colar.
Assim que o colar estava em suas mãos, a estrela brilhou com uma luz de cor esmeralda.
Os olhos do Bibliotecário se arregalaram, observando a luz com admiração e surpresa.
— É lindo, obrigada! — Amara pulou em seus braços, expressando sua gratidão.
Enquanto ele a abraçava, seu olhar se encontrou inesperadamente com o meu, mas ele não demonstrou surpresa ou incômodo com minha presença. Um sorriso sutil surgiu em seus lábios, o que fez um frio percorrer minha espinha.
— De nada, querida... — Ele disse, ainda olhando para mim.
E de repente gritos de fogo ecooam pelos corredores, vindo da sala de teatro . Meus olhos se arregalaram em choque, e sem hesitar, começo a correr em direção a sala. No meio do corredor, esbarro em alguém que também corria desesperadamente.
O indivíduo estava envolto em um casaco escuro, o qual, ao nosso choque, fez com que seu capuz deslizasse de sua cabeça, revelando uma cabeleira longa e desgrenhada. Nossos olhares se encontraram por um breve instante, em um encontro fugaz de surpresa e urgência. Fios rebeldes de seu cabelo caíram sobre seu rosto, emoldurando uma expressão de determinação que contrastava com a urgência estampada em seus olhos que é de uma cor imensurável, como o tom de esmeralda que eu acabara de presenciar, brilhando com uma intensidade enigmática.
Mas apesar do breve encontro visual, a adrenalina que nos impulsionava era mais forte. Ele se levantou rapidamente e continuou correndo, desaparecendo na escuridão do corredor. E assim foco minha atenção à minha frente e recomponho meus passos, mantendo a velocidade enquanto sigo em direção à sala de teatro.
Ao adentrar a sala, me deparo com os fios que eu tinha conectado faiscando e alimentando o fogo que se alastrava rapidamente. Num impulso desesperado, agarro um pano próximo para tentar conter as chamas, mas já é tarde demais. O fogo se espalhava vorazmente, bloqueando a passagem para o palco.
Pego um pano para tentar apagar o fogo mas ele já se alastrava pela sala bloqueando a passagem para o palco.
— SOCORRO!!! — A voz angustiada de Beatrice ecoou pela sala, misturando-se ao crepitar das chamas e aos sons de objetos caindo.
Por cima do fogo consigo vê-la encurralada, a mesma grita desesperadamente enquanto tossia freneticamente.
— Merda, merda, merda! — Exclamo, olhando freneticamente ao redor em busca de uma solução.
A cortina, antes imponente e elegante, agora se desprendia de um lado, transformando-se em uma gigantesca língua de fogo que se estendia pelo alto, tornando ainda mais difícil qualquer tentativa de acesso ao palco.
Corro em direção à porta de saída, lutando para passar pela multidão em pânico que se aglomerava. Atravessando o tumulto, finalmente consigo alcançar outra entrada da sala. Mas no mesmo instante, a cortina em chamas cedeu por completo, desabando sobre o palco com um estrondo ensurdecedor. Beatrice, sufocada pela fumaça, foi derrubada pelo impacto, seu corpo sendo engolido pela escuridão e pelo fogo voraz que consumia o ambiente.
Meus olhos se arregalaram em horror quando coloquei a mão sobre a boca, tentando conter um grito sufocado pela cena diante de mim. O palco, antes um local de luzes e música, agora estava tomado por um mar de chamas vorazes, cujo crepitar alto ecoava pela sala. O silêncio perturbador substituiu os gritos desesperados de Beatrice, indicando que a tragédia já havia se consumado.
O brilho alaranjado das chamas dançava nas paredes, projetando sombras distorcidas que pareciam se contorcer em agonia. O calor intenso se fazia sentir mesmo à distância, como se o próprio ambiente estivesse exalando uma aura de perigo iminente. O odor acre da fumaça penetrava minhas narinas, tornando cada respiração um desafio.
O palco, agora irreconhecível sob as chamas devoradoras, era uma visão de destruição que contrastava violentamente com a serenidade que costumava habitar aquele espaço. A sensação de impotência e desespero se misturava ao choque enquanto eu observava a cena, tentando processar a magnitude da tragédia que se desenrolava diante dos meus olhos.
— Elyn! Temos que sair daqui rápido — Os passos apressados de Carson ecoaram pelo corredor, acompanhados pelos olhares arregalados e assustados de Catarina, que observava a cena com uma mistura de horror e preocupação.
— A Beatrice... -—Minha voz saiu em um grito desesperado ao apontar para o palco em chamas, onde Beatrice estava presa em meio ao caos.
O ar quente e impregnado de fumaça dificultava cada respiração, tornando cada inspiração um esforço árduo. Carson, mesmo com a determinação estampada em seu rosto, não pôde conter a sensação de desamparo ao encarar o palco agora transformado em um inferno ardente.
— Meu Deus...— A voz de Catarina soou abafada, sua mão instintivamente cobrindo a boca em choque diante da cena catastrófica. Seus olhos, antes arregalados pela surpresa e pelo terror, refletiam agora uma profunda tristeza e impotência diante da perda iminente.
— Temos que sair aqui — Disse Carson, tampando o nariz com a camisa.
A situação se tornava mais claustrofóbica e desesperadora, envolvendo todos em um cenário de caos e desespero.
Com o coração acelerado e a respiração ofegante, meus olhos permaneceram fixos no palco envolto em chamas. Cada inspiração era uma batalha contra o ar pesado e impregnado de fumaça que inundava o colégio, turvando nossas visões e tornando até mesmo o ato de respirar uma luta árdua.
Apoiando-nos um no outro para encontrar alguma forma de conforto e força, tentamos correr pelo corredor o mais rápido possível. Cada passo era uma tentativa de escapar do ambiente tóxico que parecia fechar-se ao nosso redor, sufocando nossos sentidos e minando nossas energias.
— AMARA!!!! AMARA!!! — De repente, gritos ecoaram carregados de pânico e urgência, reverberando pelas paredes do colégio.
— É a Delilah — Diz Catarina olhando para trás, seus olhos refletindo preocupação. — Temos que voltar! — A mesma soa ofegante e trêmula, implorando.
Olho para o corredor atrás de nós, onde a escuridão e a fumaça se misturavam em um cenário assustador, contrastando com a visão da saída quase ao alcance à nossa frente. Uma mistura de frustração e determinação tomou conta de mim.
— Eu sabia que deveria ter ficado me casa! — Resmungo, minha expressão refletindo a hesitação entre seguir em frente ou voltar para ajudar.
— Delilah! — Catarina gritou, sua voz ecoando pelo corredor vazio enquanto a incerteza pairava no ar, misturada ao som dos gritos distantes de Delilah.
— Vão! Eu procuro por ela — Diz Carson, com sua expressão séria e decidida.
— Eu não vou sem você Carson — Catarina respondeu, sua preocupação evidente em cada palavra.
Senti a tensão no ar atingir o auge quando uma mistura de emoções transbordou em palavras carregadas de frustração.
— Olha aqui, nós vamos morrer se ficarmos parados aqui! — Exclamo, tentando enfatizar a urgência da situação.
— Volta Catarina, eu não posso deixar que você volte lá! — Carson implora
— Aí, sério que vão fazer isso agora? — Minhas palavras saíram em um misto de incredulidade e determinação. — O que mais vão confessar, que deixaram a escova de dentes um do outro cair na privada sem querer? Já que não vamos sair daqui sem a Barbie, então vamos agir rápido porque eu juro que se eu morrer aqui eu vou matar aquela garota. — Meu tom era carregado de determinação e impaciência, enquanto tomava a decisão de voltar para trás, determinada a encontrar Amara.
Os gritos de Catarina uniram-se aos meus, preenchendo o ar com uma urgência palpável enquanto buscávamos desesperadamente por Delilah. O som abafado dos gritos da barbie chegava da da sala de teatro, instigando-nos a avançar ainda mais rápido.
Entramos na sala de teatro em um frenesi de gritos e chamados, nossas vozes ecoando pelas paredes enquanto procurávamos por ela. E finalmente, nossos olhos encontraram a cena de Delilah ajoelhada entre os bancos, seu rosto marcado pela maquiagem borrada e pelos soluços, revelando seu desespero.
— Eu não encontro a minha amiga por isso voltei — ela explica entre soluços com a voz embargada.
— Delilah! Levanta — Catarina interveio, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar da posição ajoelhada entre os bancos.
— Meu pé...eu acho que torci o pé — Delilah murmurou, mancando devido à dor. — E é claro, que tudo isso tinha que ser culpa da novata suburbana. — Ela resmunga
— Como é que é? Eu acabei de voltar pra salvar sua vida! — Minha resposta veio carregada de indignação
— Não é hora de brigar agora, não acham? Temos que sair daqui! Rápido — Carson interrompeu o embate, sua voz carregada de urgência e determinação.
Ô Hipocresia...
E assim corremos em direção à porta de saída, mas o destino parece conspirar contra nós quando o fogo se alastra rapidamente, bloqueando a única rota de fuga que tínhamos.
— NÃO!!! NÃO!!! Era a única saída que tínhamos, nós vamos morrer! — Delilah grita desesperadamente.
Nossos olhares se encontraram em meio à situação , nossas respirações ofegantes e nossos corpos fracos pela fumaça tóxica que enchia o ambiente. Estamos presos, encurralados em uma sala onde o fogo se alastra vorazmente, engolindo tudo em seu caminho.
As meninas, já sem forças e com a visão turva devido à fumaça, se ajoelharam no chão, rendendo-se à exaustão e ao desespero crescente. O ar estava carregado e a sensação de claustrofobia se intensificava a cada segundo que passava.
Ajoelhei-me no chão, minha garganta apertando-se a cada segundo à medida que a fumaça tóxica enchia meus pulmões. Uma sensação sufocante se instala, tornando cada respiração um desafio doloroso.
Então, uma dor aguda e incessante começou a pulsar em minha cabeça, como se algo estivesse mexendo em meu cérebro, criando uma tormenta de desconforto e agonia. A dor é avassaladora, incontrolável, dominando meus sentidos e turvando minha capacidade de raciocínio.
— Elyn...—Carson tentou se aproximar, sua voz falhando em meio à exaustão e à dificuldade de respirar.
— Minha cabeça... — Eu mal consigo articular as palavras, minha voz abafada pela dor e pela confusão que se instalava em minha mente.
É como se um coro de vozes desconhecidas estivesse sussurrando, conversando dentro da minha cabeça. A visão embaçada pelo fogo e pela fumaça torna tudo um borrão de faíscas e sombras indistintas, me impedindo de ver claramente o que está ao meu redor.
— Parem de falar....Parem de falar — Repito, colocando as mãos na cabeça numa tentativa desesperada de acalmar a cacofonia que ecoa dentro de mim.
— Não...tem...ninguém falando...E....Elyn — Carson tenta explicar, sua própria voz lutando para encontrar clareza em meio ao ambiente caótico.
— MAS MINHA CABEÇA ESTÁ EXPLODINDO! — Grito, a dor lancinante tornando-se insuportável, cada batida do meu coração parecendo amplificar a agonia que eu enfrentava.
Então, de repente, uma energia indescritível irrompeu de dentro de mim, irradiando em todas as direções e extinguindo o fogo instantaneamente.
Ofegante, permaneço no chão enquanto observava os outros se levantando com dificuldade, surpresos com o que acabara de acontecer. A marca do fogo, agora extinto, forma um círculo ao meu redor, testemunhando o evento inexplicável.
— Oque aconteceu... — Catarina murmurou, seus olhos percorrendo o cenário ao nosso redor.
A marca do fogo que havia cessado estava ao meu redor, em um círculo.
— O que você fez?! — Delilah questiona, ainda tossindo e olhando para mim com uma mistura de incredulidade e temor.
O fogo, que momentos antes ameaçava engolfar-nos por completo, agora era apenas uma memória fugaz. No lugar do inferno que consumia tudo, restava apenas o vazio, uma ausência perturbadora onde antes havia chamas vorazes.
A sala está mergulhada em silêncio, interrompido apenas pelo som da chuva lá fora e pelas nossas respirações ofegantes. O ambiente estava transformado, a marca escura do queimado das chamas espalhava-se como uma tapeçaria destruída, cobrindo cada centímetro da sala.
O som dos bombeiros ecoa ao lado de fora. Carson, ainda um pouco cambaleante devido à exaustão, aproximou-se da porta com suas mãos ágeis movendo-se para retirar os destroços que bloqueavam a passagem. Cada movimento era feito em completo silêncio, um silêncio tenso que permeava o ambiente, carregado com a gravidade dos eventos recentes.
Finalmente, a passagem estava livre, e um a um, saímos da sala, caminhando pelo corredor até conseguirmos sair do colégio, sob a chuva torrencial que caía, as luzes dos veículos de emergência ofuscando nossa visão. Ergo meu rosto para o céu, sentindo as gotas geladas da chuva baterem em minha pele, uma sensação revigorante e purificadora.
Os bombeiros e paramédicos prontamente nos atenderam, fornecendo cobertores para nos aquecermos.
— Tem mais alguém lá dentro?? — Em meio a sinfonia caótica da chuva e do barulho das sirenes, um dos bombeiros grita.
Minha mente rapidamente se volta para Beatrice, uma imagem de seu desespero surgindo em minha cabeça, mas nego sua pergunta com um aceno silencioso.
Enquanto nós quatro permanecemos juntos em silêncio, observando o colégio à distância, com nossas mentes ainda tentando processar tudo.
— Achamos mais uma! — Um bombeiro exclama, ecoando através do corredor do Colégio.
No mesmo instante, um homem emerge da escuridão, trazendo consigo Beatrice, cuja presença trouxe um misto de emoções para todos nós que se entre olhamos surpresos.
Ela está viva! Como?...
Até que os outros paramédicos chegam e nos separam, cada um de nós sendo guiado por um profissional de resgate, cada um indo para um lado.
•••
Observo o reino de Meridian do alto do castelo imponente que antes, neste lugar era um vibrante símbolo de vida e prosperidade. Agora, está sob o domínio da escuridão que eu mesmo trouxe. Uma nuvem negra paira sobre tudo, testemunha silenciosa da destruição que se espalha como chamas vorazes.
Não posso conter o sorriso cruel que se forma em meus lábios ao ver o caos que criei. É um espetáculo de desolação que me traz um prazer indescritível. Cada grito de desespero, cada sinal de desesperança, é uma nota em minha sinfonia do mal.
Meridian é meu domínio agora, e cada sombra, cada suspiro de medo, é uma homenagem ao meu poder absoluto. Nada é mais gratificante do que ver o mundo se curvar diante da minha vontade.
Enquanto admiro a vista do reino em ruínas, sinto a presença de Cedrik, meu servo fiel e sucessor. Se aproxima silenciosamente por trás a fim de me dar a notícia que tanto espero...
E com um movimento suave, a carcaça humana e inútil que ele habitava se transformou, revelando sua verdadeira forma e sua essência pura do mal. Seus olhos brilhavam com a malícia de um ser que conhece os segredos mais profundos e as artimanhas mais terríveis. Ele era o meu braço direito, a encarnação da minha vontade mais obscura, pronto para seguir adiante com os planos que eu havia traçado.
— Cedrik... — minha voz grave e rouca ecoa, carregada de expectativa e uma ponta de impaciência. — Me diga que a estrela de threbe funcionou. — Meus dedos finos e longos se firmam fortemente sob o parapeito.
— Não só funcionou, como também brilhou tão intensamente que poderia competir com a própria luz do sol. — A resposta veio de Cedrik, cujo tom de voz era como o rugido distante de um trovão, carregado de autoridade e reverência.
Um sorriso sádico se formou em meus lábios enquanto eu contemplava a confirmação das minhas expectativas.
— É ela mesma, senhor. Encontramos a garota... — Cedrik continuou, sua voz vibrando com um misto de excitação e temor pelo que estava por vir.
— E logo logo todo o poder de Meridian, será meu! — minha voz ressoou pelo ambiente, carregada de uma ambição desenfreada e um desejo insaciável de domínio absoluto. A presença imponente de Cedrik ao meu lado apenas reforçava a certeza de que o destino do reino estava selado nas sombras da nossa conspiração
Continua...