𝐂𝐡𝐚𝐫𝐥𝐨𝐭𝐭𝐞
— Antes que eu continue, quero que você saiba que isso é um segredo muito importante. Ninguém pode saber a respeito do que eu vou te contar. Se descobrirem, as coisas podem ficar ainda piores... Posso confiar que você vai manter isso apenas entre nós dois?
— Pode confiar em mim. Eu não vou dizer isso a ninguém. Nem a Mione e nem mesmo ao Rony... Será nosso segredo. Eu juro!
Harry era uma pessoa confiável, e disso eu não tinha dúvidas. Por isso, fiquei bem menos tensa para contar o que viria a seguir.
— Me fale, Harry... O que você sabe sobre votos perpétuos?
— Bom... Nada! - ele deu de ombros. - O que eles são?
— Voto perpétuo é um feitiço muito perigoso... É um pacto feito por nós bruxos, que se por acaso for quebrado, a pessoa que o quebrou morre.
— Tudo bem, mas... O que isso tem a ver com todo o resto?
— Por mais que seja difícil acreditar, eu estou presa em um voto. - continuei, e ele ficava cada vez mais pálido conforme eu falava. - E como você já deve imaginar... O Draco também está.
— Mas como assim?
— Acontece que o pai de Draco, Lucius Malfoy, e o meu pai são grandes amigos há anos. Eu conheço Draco desde que eu era muito, muito pequena. E é claro que nós nunca nos demos bem.
— Não estou entendendo onde você quer chegar...
— Nossos pais temiam que Você-sabe-quem retornasse algum dia. Eles tinham medo do que poderia nos acontecer. E, por isso, eles fizeram um plano para que tanto eu quanto Draco ficássemos seguros.
— Que seria..?
— Eles nos fizeram jurar, em um voto perpétuo, que caso Você-sabe-quem retornasse para se vingar, eu e Draco... Bom... Nós nos casaríamos.
— QUE? Mas como assim?!
— O plano de Lucius era que Draco fugisse para longe, ao invés de enfrentar uma possível guerra bruxa. E meu pai insistiu que ele me levasse junto, para que eu também ficasse a salvo. E, no fim, que nós dois nos casássemos.
— Mas isso é... - Harry estava estupefato. Se levantara do chão e começara a caminhar de um lado para o outro. - Isso é loucura, Charlotte! Eles não podem te forçar a ficar com alguém! Como você pode aceitar isso?!
— Eu não tive escolha, Harry! - me levantei, indo até ele. - Nossos pais também fizeram o voto! Se não aceitássemos, eles morreriam!
— Isso é chantagem!
— Chame da forma que quiser! Eu não deixaria meu pai morrer!
— Você... Você não pode aceitar uma coisa como essa!
— Harry, acho que você ainda não entendeu. Eu fiz o pacto! A vida de todos nós está em jogo. Principalmente a minha! Eu não tenho para onde correr.
Harry estava transtornado, como se tudo aquilo fosse o fim do mundo. Para mim realmente era. Mas não havia escolha alguma...
— Temos que pensar numa forma de burlar esse voto! Desfazer esse pacto de algum jeito! - ele disse.
— Não existe forma alguma! - falei, num suspiro. - Eu já pensei em tudo... Uma vez feito, o voto perpétuo deve ser cumprido! Exatamente como foi combinado.
O silêncio de Harry era ensurdecedor, enquanto ele apenas encarava os próprios pés. Senti um alívio gigantesco por finalmente ter contado uma coisa que estava me corroendo por dentro. Era bom poder colocar aquilo tudo para fora.
— Charlotte, é... É muita coisa para digerir... - ele ergueu os olhos, me encarando. - Como foi que você escondeu isso por tanto tempo?
— Já disse... Era para ser um segredo.
— Por isso você fica sempre perto dele... Mesmo depois de tudo o que ele fez, você ainda tem que ficar perto daquele ser desprezível!
— Pois é...
— Eu... Eu realmente não sei o que dizer! - disse ele, frustrado. - Mesmo que agora eu saiba do que você está passando, eu me sinto tão impotente... Eu não sei o que fazer...
— Não há nada que possa ser feito, Harry. Infelizmente tudo o que me resta é torcer para que Você-sabe-quem não volte. Assim eu não vou precisar me casar com Draco...
— Eu não vou te deixar sozinha nessa, Lotte. - disse Harry, segurando minhas mãos. - Mesmo que demore muito, eu não vou desistir de procurar uma forma para te livrar dessa!
— Queria ser mais positiva, como você...
Harry me abraçou forte, e eu retribui. Era muito reconfortante saber que alguém não apenas se importava comigo, como também era capaz de fazer de tudo para me ver feliz. Diferente de meu pai e de Draco, Harry estava disposto a me ajudar e a me escutar.
Eu devia muito a ele.
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— Primeiro fim de semana em Hogsmeade... — disse Rony, depois do café da manhã - Estou tão animado.
Depois daquela conversa longa e sentimental que eu havia tido com Harry, eu me sentia bem melhor. Era como tirar um peso enorme dos ombros, e finalmente eu podia contar a ele os meus problemas e ele entenderiam. Por isso, eu também estava animada para visitar Hogsmead.
— Ótimo! — comentou Fred - Preciso visitar a Zonkos. Meus chumbinhos fedorentos estão quase no fim.
Eu encarei Harry, que não parecia nada animado. Sabia exatamente porquê.
— Harry tenho certeza de que você vai poder ir na próxima visita... - eu disse.
— Vão acabar pegando o Black logo. - disse Hermione. - Ele já foi avistado uma vez!
— Black não é louco de tentar alguma coisa em Hogsmeade! — argumentou Rony — Pergunte a McGonagall se você pode ir Harry, a próxima vez talvez demore um tempão para acontecer...
— Rony! — exclamou a Mione— Harry tem que ficar na escola...
— Ele não pode ser o único aluno de terceiro ano que vai ficar... — disse Rony — Pergunta a McGonagall, anda, Harry...
— É, acho que vou perguntar... — disse ele, ainda se decidindo.
Hermione abriu a boca para protestar, mas naquele instante Bichento pulou com leveza em seu colo. Trazia uma enorme aranha morta pendurada na boca.
— Ele tem que comer isso na frente da gente? — perguntou Rony aborrecido.
— Bichento inteligente, você apanhou a aranha sozinho? — perguntou Hermione.
Bichento mastigou a aranha vagarosamente, os olhos amarelos fixos insolentemente em Rony.
— Vê se ao menos segura ele aí... - disse Rony irritado — Perebas está dormindo na minha mochila.
A aula seguinte era Transfiguração. Harry tinha resolvido perguntar à McGonagall depois da aula se poderia ir a Hogsmeade conosco. Todos nós entramos na fila do lado de fora da sala, enquanto Harry parecia estar pensando que argumento usaria para convencer a professora.
— Um momento, por favor! — pediu Minerva quando a turma se preparava para sair — Devo lembrá-los que, sem formulário não há visita. Por isso, não se esqueçam.
Neville levantou a mão.
— Por favor, professora, eu... Eu acho que perdi...
— Sua avó mandou o seu diretamente a mim, Longbottom... — disse Minerva — Parece que ela achou mais seguro. Bem, é só isso, podem ir.
— Pergunta a ela agora... — sibilou Rony.
— Ah, mas... — começou Hermione.
— Manda ver... — eu disse.
Eu, Rony e Mione ficamos alguns minutos ali parados, esperando que Harry conversasse com Minerva. Mesmo de longe, eu conseguia ver a professora negando com a cabeça, enquanto Harry gesticulava tentando convencê-la.
Por fim, ele veio até nós.
— Foi mal pessoal... - disse ele, visivelmente chateado. - Esqueçam...
Rony xingou Minerva de uma porção de nomes, o que deixou Hermione muito aborrecida. Mione olhou para Harry como se dissesse "foi-melhor-assim", o que fez Rony ficar com mais raiva.
E então, os dois se despediram de Harry, indo com o resto da turma embora.
— Harry... - eu disse. - Olha, eu fico aqui se quiser... Podemos ficar no salão principal. Se ficar entediado podemos jogar xadrez de bruxo, ou sei lá...
— Você odeia xadrez de bruxo.
— Eu... Eu sei... Mas é que, sei lá... É que sem você lá não vai ser a mesma coisa.
Harry suspirou, tristemente.
— Tudo bem, Lotte. Não precisa ficar... Até mais tarde, nos vemos na festa.
— Tem certeza?
— Tenho, pode ir...
— Bom... Ok... Te vejo mais tarde!